Em seguida devemos tratar da
denominação dada a Cristo, de medianeiro entre Deus e os homens.
E nesta questão discutem-se dois artigos:
Art. 1 — Se é próprio de Cristo ser o
medianeiro entre Deus e os homens.
Art. 2 — Se Cristo enquanto homem é o
mediador entre Deus e os homens.
Art.
1 — Se é próprio de Cristo ser o medianeiro entre Deus e os homens.
O primeiro discute-se assim. — Parece
que não é próprio de Cristo ser o medianeiro entre Deus e os homens.
1. — Pois, assim como o sacerdote,
assim também o profeta é mediador entre Deus e os homens, segundo a Escritura: Eu fui o que intervim como mediador entre o
Senhor e vós, naquele tempo. Ora, ser sacerdote e profeta não convém a
Cristo. Logo, nem ser medianeiro.
2. Demais. — O que convém aos anjos
bons e maus não pode ser considerado próprio de Cristo. Ora, ser medianeiro
entre Deus e os homens convém aos anjos bons, como diz Dionísio. E convém também
aos anjos maus, isto é, aos demónios, que tem certa comunidade com Deus, pela
sua imortalidade; e alguma outra com os homens, a saber, um espírito passível
e, por consequência, sujeito à dor, como está claro em Agostinho. Logo, ser o
medianeiro entre Deus e os homens não é próprio de Cristo.
3. Demais. — Ao ofício do medianeiro
pertence aproximar aqueles entre os quais se interpõe. Ora, o Espírito Santo,
no dizer do Apóstolo, intercede por nós a Deus com gemidos inexplicáveis. Logo,
o Espírito Santo é o medianeiro entre Deus e os homens. O que, portanto, não é
próprio de Cristo.
Mas, em contrário, o Apóstolo: Só há um mediador entre Deus e os homens,
que é Jesus Cristo homem.
É ofício próprio do
mediador unir aqueles entre os quais se interpôs; pois os extremos unem-se no
meio. Ora, unir os homens a Deus, de modo perfeito, convém a Cristo, por meio
de quem os homens se reconciliaram com Deus, segundo o Apóstolo: Deus estava em Cristo reconciliando o mundo
consigo. Logo, só Cristo é o perfeito medianeiro entre Deus e os homens,
por ter reconciliado o género humano com Deus, pela sua morte. E por isso,
depois de o Apóstolo ter dito – Mediador
entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem – acrescenta: Que se deu a si mesmo para redenção de todos.
Mas nada impede alguns outros serem, de algum modo, considerados mediadores
entre Deus e os homens; isto é, se cooperam para a união dos homens com Deus,
por via de preparação ou de ministério.
DONDE A REPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
Os profetas e os sacerdotes da lei antiga foram chamados mediadores entre Deus
e os homens, por via de preparação e de ministério; isto é, enquanto prenunciavam
e prefiguravam o verdadeiro e perfeito mediador entre Deus e os homens. Ao
passo que os sacerdotes do Novo Testamento podem chamar-se mediadores entre
Deus e os homens, enquanto ministros do verdadeiro mediador, ministrando aos
homens, em nome dele, os sacramentos da salvação.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Os anjos bons,
como diz Agostinho, não podem chamar-se com propriedade mediadores entre Deus e
os homens. Pois, tendo de comum com Deus a beatitude e a imortalidade, mas não
as tendo em comum com os homens miseráveis e mortais, como não hão-de antes,
estar afastados dos homens e unidos com Deus, do que serem constituídos
medianeiros entre ambos? E Dionísio também diz que são medianeiros, porque,
segundo o grau da natureza, foram constituídos inferiores a Deus e superiores
aos homens, E exercem o ofício de mediador, não principal e perfeitamente, mas
ministerial e dispositivamente. Por isso, o Evangelho diz, que chegaram os anjos e o serviam isto é, a Cristo. — Quanto aos
demónios, eles têm de comum com Deus a imortalidade e, com os homens, a
miséria. E entre um ser imortal e outro sujeito a misérias, o demónio interpõe-se
como mediador, a fim de impedir o homem de chegar à imortalidade feliz, fazendo
cair na miséria imortal. Por isso, é um mau medianeiro, que separa os amigos.
Quanto a Cristo, tinha de comum com Deus a beatitude, e com os homens, a
mortalidade. Por isso, interpôs-se como mediador para que, depois de passada a
sua mortalidade, os fizesse, de mortos, imortais, o que demonstrou pela sua
ressurreição; e para que, de miseráveis, os tornasse felizes, nunca deixou de
ter a felicidade. Donde o ser ele o bom mediador, que reconcilia os inimigos.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O Espírito
Santo, sendo em tudo igual a Deus, não pode chamar-se mediador entre Deus e os
homens; mas só Cristo, que, embora pela divindade seja igual ao Pai, contudo,
pela humanidade é menor que o Pai, como se disse. Por isso, àquilo do Apóstolo
— Cristo é mediador — diz a Glosa: Não o
Pai nem o Espírito Santo. Mas dizemos que o Espírito Santo intercede por nós,
por nos fazer orar.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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