Questão
60: Dos Sacramentos
Art. 7 — Se os sacramentos
exigem palavras determinadas.
O
sétimo discute-se assim. — Parece que os sacramentos não exigem palavras
determinadas.
1.
— Pois, como diz o Filósofo as palavras não são as mesmas para todos. Ora, a
salvação que alcançamos por meio dos sacramentos, é a mesma para todos. Logo,
os sacramentos não exigem palavras determinadas.
2.
Demais. — Os sacramentos implicam a palavra, cuja principal função dela é ser
significativa, como se disse. Ora, diversas palavras podem significar a mesma
coisa. Logo, os sacramentos não exigem palavras determinadas.
3.
Demais. — A corrupção de um ser muda-lhe a espécie. Ora, ALGUNS proferem
corruptamente as palavras, mas nem por isso se crê que fica impedido o efeito
dos sacramentos; do contrário os iletrados e os gagos, que conferissem os
sacramentos, frequentemente introduziram defeitos neles. Logo, parece que os
sacramentos não requerem palavras determinadas.
Mas,
em contrário, o Senhor proferiu palavras determinadas na consagração do
sacramento da Eucaristia, dizendo: Este é
o meu corpo. Semelhantemente, também mandou aos discípulos batizarem sob
uma determinada forma de palavras, conforme está no Evangelho: Ide e ensinai a todas as gentes,
batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Como dissemos, nos sacramentos as palavras desempenham o papel de forma, e as
coisas sensíveis o de matéria. Ora, em todos os seres compostos de matéria e
forma, o princípio da determinação procede da forma, que é de certo modo o fim
e o termo da matéria. Por isso, um ser, na sua essência, implica mais
principalmente uma forma determinada, que uma determinada matéria; pois, a
matéria determinada é necessário seja proporcionada a uma determinada forma.
Ora como os sacramentos requerem determinadas coisas sensíveis, que neles
desempenham o papel de matéria, com muito maior razão exigem uma determinada
forma de palavras.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. Como diz Agostinho, a palavra opera nos sacramentos, não por serem proferidas, isto é, não
pelo som exterior da voz, mas por serem cridas, isto é, pelo sentido delas,
apreendido pela fé. Ora, esse sentido é o mesmo para todos, embora as palavras
não tenham o mesmo som. Donde, o sacramento se perfaz, uma vez existente o referido
sentido das palavras, qualquer que seja a língua.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Embora em qualquer língua palavras diversas possam significar a
mesma coisa, sempre, contudo. uma dessas palavras é a que mais principal e
comumente usam os que falam a língua, para significar tal coisa. E essa deve ser
a palavra empregada na significação do sacramento. Assim como também dentre as
coisas sensíveis tornamos aquela, para a significação do sacramento, cujo uso é
mais comum, para exprimir o acto pelo qual é significado o efeito do
sacramento. Tal a água, de que os homens usam mais comumente para lavar o
corpo, o que significa a ablução espiritual; por isso foi à água escolhida como
a matéria do batismo.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Quem profere corruptas as palavras sacramentais, se por indústria
o fizer, não intenciona fazer o que faz a Igreja e, portanto não consuma o
sacramento. Se o fizer, porém por erro ou lapso da língua e for a corruptela
tanta que prive totalmente de sentido a locução, não perfaz o sacramento. E
isto, sobretudo se dá quando a corruptela está no princípio da dicção; tal o
caso de quem em vez de dizer — em nome do Pai, dissesse — em nome da mãe. – Se,
porém, a referida corruptela não privar totalmente de sentido a locução, então
perfaz-se o sacramento. O que, sobretudo acontece quando a corruptela vem no
fim; por exemplo: se alguém dissesse pátrias
et filias. Pois, embora essas palavras assim proferidas nada signifiquem
quando empregadas, concede-se, porém que sejam significativas pela acomodação
do uso. Por isso, embora seja mudado o som sensível, permanece. contudo, o
mesmo sentido. Isso porém que fica dito, sobre a diferença da corruptela no
princípio ou no fim da dicção, se funda em que, para nós, o variar da dicção no
princípio muda o sentido, ao passo que a variação final não o muda, no mais das
vezes. Mas entre os gregos o sentido varia, mesmo no princípio da dicção, em
declinação das palavras. Mas sobretudo devemos atender à grandeza da
corruptela relativamente a dicção. Pois, tanto no fim como no principio pode
ela ser tão pequena que não tire o sentido às palavras; e tão grande que o
tire. Um desses defeitos, porém, mais facilmente resulta da corrupção no
princípio e o outro, na do fim.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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