A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 18, 1-18
1 Tendo Jesus dito
estas palavras, saiu com os Seus discípulos para o outro lado da torrente do
Cédron, onde havia um horto, em que entrou com os Seus discípulos. 2 Ora Judas,
o traidor, conhecia bem este lugar, porque Jesus tinha ido lá muitas vezes com
os Seus discípulos. 3 Tendo, pois, Judas tomado a coorte e guardas fornecidos
pelos pontífices e fariseus, foi lá com lanternas, archotes e armas. 4 Jesus,
que sabia tudo que estava para Lhe acontecer, adiantou-Se e disse-lhes: «A quem
buscais?». 5 Responderam-Lhe: «A Jesus de Nazaré». Jesus disse-lhes: «Sou Eu».
Judas, que O entregava, estava lá com eles. 6 Quando, pois, Jesus lhes disse:
«Sou Eu», recuaram e caíram por terra. 7 Perguntou-lhes novamente: «A quem
buscais?». Eles disseram: «A Jesus de Nazaré». 8 Jesus respondeu: «Já vos disse
que sou Eu; se é, pois, a Mim que buscais, deixai ir estes». 9 Deste modo se
cumpriu a palavra que tinha dito: «Não perdi nenhum dos que Me deste». 10 Simão
Pedro, que tinha uma espada, puxou dela e feriu um servo do Sumo-sacerdote,
tendo-lhe cortado a orelha direita. Este servo chamava-se Malco. 11 Porém, Jesus
disse a Pedro: «Mete a tua espada na bainha. Não hei-de beber o cálice que o
Pai Me deu?». 12 Então, a coorte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam
Jesus e O manietaram. 13 Primeiramente levaram-n'O a casa de Anás, por ser
sogro de Caifás, que era o Sumo-sacerdote daquele ano. 14 Caifás era aquele que
tinha dado aos judeus este conselho: «Convém que um só homem morra pelo povo».
15 Simão Pedro e um outro discípulo seguiam Jesus. Este discípulo, que era
conhecido do pontífice, entrou com Jesus no pátio do pontífice. 16 Pedro ficou
de fora, à porta. Saiu então o outro discípulo que era conhecido do
Sumo-sacerdote, falou à porteira e fez entrar Pedro. 17 Então a porteira disse
a Pedro: «Não és tu também dos discípulos deste homem?». Ele respondeu: «Não
sou». 18 Os servos e os guardas acenderam uma fogueira e aqueciam-se ao lume,
porque estava frio. Pedro encontrava-se também entre eles e aquecia-se.
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO PRIMEIRO 3
CAPÍTULO XII
Ódio ao estudo
Nesta minha infância, na qual eu tinha menos que temer por mim do que na
minha adolescência, eu não gostava dos estudos, e odiava que a eles me
obrigassem. Contudo, era coagido, e faziam-me grande bem.
Quem não procedia bem era eu, que não estudava a não ser constrangido,
pois ninguém faz bem o que faz contra a vontade, mesmo que seja bom o que faz.
Tampouco os que me obrigavam a estudar agiam correctamente, antes, todo o
bem que eu recebia vinha de ti, meu Deus, porque eles não tinham outro fim ao obrigarem-me
a estudar senão saciar o apetite de abundante miséria e de glória ignominiosa.
Mas tu, Senhor, que tens contados os cabelos da nossa cabeça, usavas do erro de
todos os que me coagiam a estudar para minha utilidade, e usavas da minha falta
de vontade de estudar para meu castigo, de que certamente eu já era digno,
sendo ainda tão pequeno, e tão grande pecador.
Assim, convertias em bem o mal que eles me faziam, e dos meus pecados,
me davas justa retribuição, porque é teu desígnio, e assim acontece, que toda
alma desordenada seja castigo de si mesma.
CAPÍTULO XIII
Gosto pelo latim
Porque odiava eu as letras gregas, que me ensinavam quando eu era
criança?
Não o sei, e nem agora o posso explicar. Em compensação, as letras
latinas apaixonavam-me, não as ensinadas pelos professores primários, mas a que
são explicadas pelos chamados gramáticos, porque aquelas primeiras, com as
quais se aprende a ler, a escrever e a contar, não me foram menos pesadas e
insuportáveis que as gregas. Mas donde podia proceder essa aversão, senão do
pecado e da vaidade da vida, porque eu era carne e vento que caminha e não
volta?
Aquelas primeiras letras, pelas quais podia, como ainda faço, chegar e
ler tudo o que há escrito e a escrever tudo o que quero, eram melhores e mais
úteis que aquelas outras nas quais me obrigavam a decorar os erros de um tal
Eneias, esquecido dos meus, e a chorar a morte de Dido, que se suicidou por
amor, enquanto isso, eu, miserabilíssimo, suportava a minha própria morte com
olhos enxutos, morrendo para ti, ó meu Deus, minha vida!
Na verdade, que pode haver de mais miserável do que um infeliz que não
se compadece de si mesmo e que, chorando a morte de Dido por amor de Eneias,
não chora sua própria morte por falta de amor a ti, ó Deus, luz de meu coração,
pão interior de minha alma, virtude fecundante de meu pensamento?
Não te amava, prevaricava longe de ti, e ouvia de todas as partes:
“Muito bem! Muito bem!” – porque a amizade deste mundo é adultério contra ti, e
se aclamam a alguém dizendo: “Muito bem! Muito bem!” – é para que este não se
envergonhe de ser assim. Eu não chorava estas faltas, chorava a morte de Dido
“que se suicidou com a espada”, eu procurava as últimas das tuas criaturas,
abandonando-te a ti, como terra que eu era, atraída pela terra. Se então me
proibissem a leitura de tais coisas, afligir-me-iam por não ler aquilo que me
comovia até a dor.
Não obstante, semelhante loucura é considerada como coisa mais nobre e
proveitosa que as letras pelas quais aprendemos a ler e a escrever.
Mas agora, meu Deus, grite na minha alma tua verdade, e diga: Não é
assim, não é assim, antes, aquela primeira instrução é absolutamente superior,
pois eu preferiria esquecer todas as aventuras de Eneias, e outras histórias
semelhantes, do que o saber ler e escrever. Sei que nas escolas dos gramáticos
pendem cortinas às portas, porém, servem menos para velar o segredo que para
encobrir o erro.
Não gritem contra mim aqueles mestres a quem já não temo, enquanto
confesso a ti os desejos de minha alma, e aborreço os meus maus caminhos, a fim
de amar os teus. Não gritem contra mim os comerciantes da gramática, pois, se
eu os interrogar sobre se é verdade que Eneias veio uma vez a Cartago, como
afirma o poeta, os néscios responderão que não sabem, e os sábios negarão o facto.
Porém, se lhes perguntar como se escreve o nome de Eneias, todos os que
estudaram me responderão a mesma coisa, de acordo com a convenção com que os
homens fixaram o valor das letras do alfabeto.
Do mesmo modo, se lhes perguntar o que seria mais prejudicial para a
vida humana: esquecer o ler e o escrever, ou todas as ficções dos poetas, quem
não vê o que logo responderia aquele que não estivesse de tudo esquecido de ti?
Pequei, pois, na minha infância, ao preferir vãos aos proveitosos, ou
para dizer melhor, ao amar àqueles e ao odiar a estes, era para mim uma cantiga
odiosa aquele “um e um, dois, dois e dois, quatro”, enquanto considerava espectáculo
encantador a história do cavalo de madeira cheio de guerreiros e o incêndio de
Troia, “e até a sombra de Creuza”.
CAPÍTULO XIV
Aversão ao grego
Por que então aborrecia eu a literatura grega na qual se cantam tais
coisas?
Porque também Homero é muito habilidoso em tecer essas historietas,
dulcíssimo na sua frivolidade, embora para mim, menino, fosse bem amargo. Creio
que o mesmo ocorra com Virgílio para os meninos gregos obrigados a estudá-lo,
como a mim em relação a Homero. Era a dificuldade de ter de aprender totalmente
uma língua estranha que, como fel, aspergia de amargura todas as doçuras das
fábulas gregas.
Eu ainda não conhecia nenhuma palavra daquela língua, e já me obrigavam
com veemência, com crueldades e terríveis castigos, a aprendê-la. Na verdade,
eu, ainda criança, também não conhecia nenhuma palavra de latim, contudo, com
um pouco de atenção, aprendi-o entre o carinho das amas, os gracejos dos que se
riam e as alegrias dos que brincavam, sem medo algum nem tormento. Eu aprendi-o,
sem a pressão dos castigos, impelido unicamente pelo meu coração desejoso de
dar à luz os seus sentimentos, e o único caminho para isso era aprender algumas
palavras, não dos que as ensinavam, mas do que falavam, em cujos ouvidos ia eu depositando
quanto sentia.
Por aqui se evidencia claramente que, para instruir, tem mais eficácia e
curiosidade livre do que a necessidade inspirada pelo medo. Contudo, os
excessos da curiosidade encontram nessa violência um freio segundo as tuas
leis, ó Deus, que desde as palmatorias dos mestres até aos tormentos dos
mártires sabem dosar suas salutares amarguras, que nos reconduzem a ti do seio do
pernicioso deleite que de ti nos apartara.
CAPÍTULO XV
Oração
Ouvi, Senhor, a minha oração, para que não desfaleça a minha alma sob a
tua lei, nem me canse em confessar as tuas misericórdias, com as quais me
arrancaste dos meus perversos caminhos, que a tua doçura sobrepuje todas as
doçuras que segui, e assim te ame fortissimamente, e abrace a tua mão com toda
minha alma, e me livres de toda a tentação até o fim dos meus dias.
Pois é, Senhor, meu rei e meu Deus, e a ti consagro quanto falo,
escrevo, leio e conto, pois quando aprendia aquelas futilidades, tu eras o que
me davas a verdadeira disciplina, e já me perdoaste os pecados de deleite
cometidos naquelas vaidades. Aprendi nelas muitas palavras úteis, é verdade,
porém, estas também se podem aprender em estudos sérios, e este é o caminho
seguro pelo qual deveriam encaminhar as crianças.
CAPÍTULO XVI
O mal da mitologia
Ai de ti, torrente dos hábitos humanos!
Quem há que te resista?
Quando te secarás?
Até quando irás arrastar os filhos de Eva a esse mar imenso e tenebroso,
que apenas logram passar os que embarcam sobre o lenho da cruz?
Acaso não foi em ti que li a fábula de Júpiter que troveja e adultera? É
verdade que não podia fazer tais coisas ao mesmo tempo, mas assim se representou
para autorizar a imitação de um verdadeiro adultério com o encantamento de um falso
trovão. Contudo, qual é o professor de pénula capaz de ouvir com paciência um
homem nascido do mesmo pó que clama e diz: “Homero imaginava essas ficções e
atribuía aos deuses os vícios humanos, porém, eu preferiria que atribuísse a
nós as qualidades divinas”. Com mais verdade se diria que Homero imaginou tudo
isso, atribuindo qualidades divinas a homens corrompidos, para que os vícios
não fossem considerados como tais, e para que todo aquele que os cometesse
parecesse que imitava a deuses celestes, e não homens corrompidos.
E contudo, ó torrente infernal, em ti se precipitam os filhos dos
homens, com o dinheiro gasto para aprender tais coisas. E consideram
acontecimento importante representá-lo, publicamente no Foro, à vista das leis
que concedem aos mestres um prémio, além de seus salários particulares.
E ferindo os rochedos com as tuas margens, gritas dizendo: “Aqui se
aprendem as palavras, aqui se adquire a eloquência, tão necessária para
persuadir e explicar os pensamentos, não poderíamos pois aprender as palavras: chuva
de ouro, regaço, templo celeste, logro e outras mais, escritas em
determinada passagem, se Terêncio não nos apresentasse um jovem perdido que se
propõe a imitar a luxúria de Júpiter?
Contemplava ele uma pintura mural “na qual se representava o mesmo
Júpiter no momento em que, segundo dizem, descia como chuva de ouro sobre o
regaço de Danae, para lograr assim à pobre mulher”.
E vede como se excitava à luxúria a vista de tão celestial mestre:
- Mas que deus fez isto? – diz.
- Nada menos que aquele que faz retumbar a abóbada do céu com enorme
trovão!
- E eu, homenzinho, não haveria de fazer o mesmo?
- Fi-lo, sim, e com muito gosto.
De modo algum se aprendem com semelhante torpeza aquelas palavras,
antes, essas palavras levam mais atrevidamente a cometer a mesma devassidão.
Não incrimino as palavras, que são como vasos selectos e preciosos, mas condeno
o vinho do erro que mestres ébrios nos davam a beber nelas e, se não o
bebêssemos, éramos açoitados, sem que pudéssemos apelar para juiz mais sóbrio.
E, não obstante, meu Deus, cuja presença me protege desta lembrança,
confesso que aprendi estas coisas com gosto e que, miserável, nelas me
comprazi, sendo por isso chamado menino de grandes esperanças.
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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