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28/10/2016

Evangelho e comentário


Tempo Comum

São Simão, São Judas – Apóstolos

Evangelho: Lc 6, 12-19

12 Naqueles dias Jesus retirou-se para o monte a orar, e passou toda a noite em oração a Deus.13 Quando se fez dia, chamou os Seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos:14 Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro, seu irmão André, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu,15 Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Simão, chamado o Zelote,16 Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor. 17 Descendo com eles, parou numa planície. Estava lá um grande número dos Seus discípulos e uma grande multidão de povo de toda a Judeia, de Jerusalém, do litoral de Tiro e de Sidónia,18 que tinham vindo para O ouvir, e para ser curados das suas doenças. Os que eram atormentados pelos espíritos imundos ficavam também curados.19

Comentário:

Quem são estes doze homens que Jesus escolhe? Pessoas inteligentes, de boa posição social, conhecidos pelos seus dotes de chefia e liderança?

São uns homens simples talvez com uma característica comum aos pescadores, têm paciência, estão habituados ao trabalho duro, árduo, esgotante tantas vezes sem resultado compensador. E tentam uma e outra vez, sem desanimar, sempre com a esperança renovada numa captura de peixe abundante que compense esses outros dias de pesca escassa.

Um outro, até, nem é muito bem visto pelos seus conterrâneos, a profissão que exerce – cobrador de impostos – é antipática e, não poucas vezes – leva ao aproveitamento pessoal do que lhe não pertence.
Aquele é um jovem, sem qualquer experiência da vida, com um coração puro e disponível para uma entrega sem condições.


Estoutro é alguém de uma palavra só, em quem não existe duplicidade e, até escolhe um que irá traí-lo de forma miserável.

E o que lhes destina? Conduzir a Igreja que irá fundar, desde o primeiro dia de tal forma sólida e perseverante, arrostando contra todas as dificuldades, obstáculos de toda a ordem e sacrifícios inauditos que chegaram, quase todos a dar a própria vida.

Eles deram tudo quanto tinham numa entrega sem limites, Cristo deu-lhes tudo o resto que lhes faltava para levarem a cabo a gigantesca tarefa que iria pesar sobre os seus ombros.

Sabemos muito bem que, esta escolha de Jesus se revelou um êxito. A Igreja é a prova disso, nós, todos os cristãos, somos os beneficiários dessa escolha.

(ama, comentário sobre Lc 6, 12-19, 2010.09.07)








06/09/2016

Evangelho e comentário


Tempo Comum

Evangelho: Lc 6, 12-19

«12 Naqueles dias Jesus retirou-se para o monte a orar, e passou toda a noite em oração a Deus. 13 Quando se fez dia, chamou os Seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: 14 Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro, seu irmão André, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, 15 Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Simão, chamado o Zelote, 16 Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor. 17 Descendo com eles, parou numa planície. Estava lá um grande número dos Seus discípulos e uma grande multidão de povo de toda a Judeia, de Jerusalém, do litoral de Tiro e de Sidónia, 18 que tinham vindo para O ouvir, e para ser curados das suas doenças. Os que eram atormentados pelos espíritos imundos ficavam também curados. 19 Todo o povo procurava tocá-l'O, porque saía d'Ele uma virtude que os curava a todos.»

Comentário:

Como Jesus Cristo dirá depois não foram estes doze que o escolheram para O seguir como Mestre e Senhor mas sim Ele próprio Quem os escolheu.

Não nos cabe analisar as escolhas divinas nem sequer o devemos tentar porque teremos de nos lembrar sempre que também se  Ele nos escolheu a nós não foi pelo nosso valor ou possível mérito mas porque essa foi a Sua Vontade.

(ama, comentário sobre Lc 6, 12-19, 2015.10.28)








28/10/2015

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo comum XXX Semana

São Simão e São Judas - Apóstolos

Evangelho: Lc 6, 12-19

«12 Naqueles dias Jesus retirou-se para o monte a orar, e passou toda a noite em oração a Deus. 13 Quando se fez dia, chamou os Seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: 14 Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro, seu irmão André, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, 15 Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Simão, chamado o Zelote, 16 Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor. 17 Descendo com eles, parou numa planície. Estava lá um grande número dos Seus discípulos e uma grande multidão de povo de toda a Judeia, de Jerusalém, do litoral de Tiro e de Sidónia, 18 que tinham vindo para O ouvir, e para ser curados das suas doenças. Os que eram atormentados pelos espíritos imundos ficavam também curados. 19 Todo o povo procurava tocá-l'O, porque saía d'Ele uma virtude que os curava a todos.»

Comentário:

O primeiro versículo deste trecho do Evangelho de São Lucas dá-nos que pensar!
Para encurtar raciocínios pergunta-se: Jesus Cristo sendo Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, orava a Si próprio?
Penso que a pergunta está mal colocada e não tem razão de ser. O que me parece é que o Senhor passou a noite em reflexão profunda sobre o que viria a ser a Sua acção imediata: a escolha dos Doze.
Mas… porquê? Acaso poderia ter dúvidas?

O segredo, a resposta, está no Seu desejo de dar exemplo que fique e perdure na memória de quantos conviviam com Ele.

A oração, pessoal, intensa e perseverante é fundamental – sempre – mas sobretudo quando há decisões importantes a tomar ou escolhas determinantes a fazer.

(ama, comentário sobre Lc 6 12-19, 2014.09.09)


Leitura espiritual




São Josemaria Escrivá



Temas actuais do cristianismo

78    
        
pergunta:

Quais são, em sua opinião, as funções que competem às associações ou sindicatos de estudantes?
Como devem ser as suas relações com as autoridades académicas?

resposta:

Pede-se-me um juízo sobre uma questão muito ampla.
Não vou, por isso, descer a pormenores; só algumas ideias gerais. Penso que as associações de estudantes devem intervir nas tarefas universitárias específicas.
Há-de haver representantes - eleitos livremente pelos seus colegas - que entrem em relação com as autoridades académicas, conscientes de que têm de trabalhar em uníssono, numa actividade comum.
É outra boa oportunidade de prestar um verdadeiro serviço.

É necessário um estudo que estabeleça as regras a seguir para que esta actividade se realize com eficácia, com justiça e de forma racional.
Os assuntos devem ser bem trabalhados, bem pensados; se as soluções que se propõem forem bem estudadas, nascidas do desejo de construir e não do afã de criar conflitos, adquirem uma autoridade interna que faz com que se imponham por si sós.

Para tudo isto é preciso que os representantes das associações tenham uma formação séria: que amem a liberdade dos outros em primeiro lugar e a sua própria liberdade, com a consequente responsabilidade; que não desejem o brilho pessoal nem se atribuam faculdades que não têm, mas busquem o bem da Universidade, que é o bem dos seus companheiros de estudo.
E que os eleitores escolham os seus representantes por essas qualidades e não por razões alheias à eficácia da sua Alma Mater: só assim a Universidade será o lugar de paz, remanso de serena e nobre inquietação, que facilita o estudo e a formação de todos.

79             

pergunta:

Em que sentido entende o senhor a liberdade de ensino e em que condições a considera necessária? Neste sentido, que atribuições se devem reservar ao Estado em matéria de ensino superior? Considera que a autonomia é um princípio básico para a organização da Universidade?
Poder-nos-ia indicar as linhas mestras nas quais se deve fundar o sistema de autonomia?

resposta:

A liberdade de ensino é apenas um aspecto da liberdade em geral. Considero a liberdade pessoal necessária para todos e em tudo o que é moralmente lícito.
Liberdade de ensino, portanto, em todos os níveis e para todas as pessoas!
Quer isto dizer que toda a pessoa ou associação com capacidade para tal deve ter a possibilidade de fundar centros de ensino em igualdade de condições e sem impedimentos desnecessários.

A função do Estado depende da situação social: é diferente na Alemanha ou na Inglaterra, no Japão ou nos Estados Unidos, para citar países com estruturas educacionais muito diversas.
O Estado tem evidentemente funções de promoção, de controlo, de vigilância.
E isso exige igualdade de oportunidades entre a iniciativa privada e a do Estado: vigiar não é pôr obstáculos, nem impedir ou coarctar a liberdade.

Por isso considero necessária a autonomia docente: autonomia é outra forma de dizer liberdade de ensino.
A Universidade como corporação deve ter a independência dum órgão num corpo vivo, liberdade na sua tarefa específica em favor do bem comum.

Alguns passos a dar para a efectiva realização desta autonomia podem ser: liberdade de escolha do professorado e dos administradores; liberdade para o estabelecimento dos planos de estudo; possibilidade de constituir o seu património e de o administrar. Enfim, todas as condições necessárias para que a Universidade goze de vida própria.
Tendo esta vida própria, saberá dá-la, para bem de toda a sociedade.

80    
        
pergunta:

Descobre-se na opinião estudantil uma crítica cada vez mais intensa ao sistema de cátedra universitária vitalícia.
Parece-lhe acertada esta corrente de opinião?

resposta:

Parece.
Se bem que reconheça o alto nível científico e humano do professorado espanhol, prefiro o sistema de contratar livremente os professores.
Penso que este sistema não prejudica economicamente o professor e constitui um incentivo para que o catedrático não deixe nunca de investigar e de progredir na sua especialidade.
Evita também que as cátedras sejam tidas como feudos em vez de lugares de serviço.

Não excluo que o sistema de cátedra vitalícia possa dar bons resultados nalgum país, nem que com esse sistema se verifiquem casos de catedráticos muito competentes, que fazem da sua cátedra um verdadeiro serviço à Universidade.
Mas parece-me que o sistema de contratação livre permite que estes casos sejam em maior número, até conseguir o ideal de que o sejam praticamente todos.

81
                  
pergunta:

Não é de opinião que, depois do Vaticano II, ficaram antiquados os conceitos de "colégios da Igreja", "colégios católicos", "Universidades da igreja", etc.?
Não lhe parece que tais conceitos comprometem indevidamente a Igreja ou soam a privilégio?

resposta:

Não, não me parece, se por colégios da Igreja, colégios católicos, etc., se entender o resultado do direito que a Igreja e as Ordens e Congregações religiosas têm de criar centros de ensino.
Montar um colégio ou uma universidade não é um privilégio, mas um encargo, quando se procura que seja um centro para todos, e não apenas para os que dispõem de recursos económicos.

O Concílio não pretendeu declarar superadas as instituições docentes confessionais: só quis fazer ver que há outra forma - inclusivamente mais necessária e universal, vivida há tantos anos pelos sócios do Opus Dei - de presença cristã no ensino, que é a livre iniciativa dos cidadãos católicos que têm profissões ligadas à educação, dentro e fora dos centros criados pelo Estado.
É mais uma manifestação da plena consciência que a Igreja tem, nestes tempos, da fecundidade do apostolado dos leigos.

Tenho de confessar, por outro lado, que não simpatizo com as expressões escola católica, colégios da Igreja, etc., ainda que respeite todos aqueles que pensam o contrário.
Prefiro que as realidades se distingam pelos seus frutos, não pelos seus nomes.
Um colégio será efectivamente cristão quando, sendo como os restantes e esmerando-se por progredir, realizar um trabalho de formação completa - também cristã - respeitando a liberdade pessoal e promovendo a urgente justiça social. Se faz isto realmente, o nome é de somenos.
Pessoalmente, repito, prefiro evitar esses adjectivos.


82
                  
pergunta:

Como Grão-Chanceler da Universidade de Navarra, desejaríamos que nos falasse dos princípios que a inspiraram ao fundá-la e do seu significado actual no âmbito da Universidade espanhola.

resposta:

A Universidade de Navarra surgiu em 1952 - depois de rezar durante anos e anos, sinto alegria ao dizê-lo - com a aspiração de dar vida a uma instituição universitária na qual se plasmassem os ideais culturais e apostólicos de um grupo de professores profundamente interessados na missão docente.
Desejou então - e deseja agora - contribuir, lado a lado com as outras universidades, para resolver os graves problemas educativos da Espanha e de muitos outros países que necessitam de homens bem preparados para constituírem uma sociedade mais justa.

Quando foi fundada, aqueles que a iniciaram não eram estranhos à Universidade espanhola: eram professores que se tinham formado e exercido o seu magistério em Madrid, Barcelona, Sevilha, Santiago, Granada e em várias outras universidades.
Esta colaboração estreita - atrever-me-ia a dizer que mais estreita que a que mantêm entre si universidades inclusivamente vizinhas - tem continuado, mediante frequentes intercâmbios e visitas de professores, congressos nacionais nos quais se trabalha em conjunto, etc.
O mesmo contacto se tem mantido com as melhores universidades de outros países, como foi confirmado pelo recente doutoramento honoris causa de professores da Sorbonne, Harvard, Coimbra, Munique e Lovaina.

A Universidade de Navarra tem servido também para orientar a ajuda de tantas pessoas que vêem nos estudos universitários uma base fundamental do progresso do país, quando estão abertos a todos aqueles que merecem estudar, sejam quais forem os seus recursos económicos.
É uma realidade a Associação de Amigos da Universidade de Navarra que, com a sua contribuição generosa, já conseguiu distribuir um elevado número de bolsas de estudo.
Este número aumentará cada vez mais, como aumentará a afluência de estudantes afro-asiáticos e latino-americanos.

Entrevista realizada por Andrés Garrigó, publicada em "Gaceta Universitaria" (Madrid, 5 de Outubro de 1967).

(cont)



28/10/2014

Evangelho diário, coment., leit. espiritual (História de uma alma)

Tempo comum XXX Semana

São Simão e São Judas - Apóstolos

Evangelho: Lc 6 12-19

«12 Naqueles dias Jesus retirou-se para o monte a orar, e passou toda a noite em oração a Deus. 13 Quando se fez dia, chamou os Seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: 14 Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro, seu irmão André, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, 15 Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Simão, chamado o Zelote, 16 Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor. 17 Descendo com eles, parou numa planície. Estava lá um grande número dos Seus discípulos e uma grande multidão de povo de toda a Judeia, de Jerusalém, do litoral de Tiro e de Sidónia, 18 que tinham vindo para O ouvir, e para ser curados das suas doenças. Os que eram atormentados pelos espíritos imundos ficavam também curados. 19 Todo o povo procurava tocá-l'O, porque saía d'Ele uma virtude que os curava a todos.»

Comentário:

Fica-nos sempre no espírito esta pergunta: como se explica que, o Senhor que tudo sabe, tenha escolhido como seu apóstolo alguém que haveria de o trair?

Deus sabe tudo, sem dúvida, mas nem por isso desiste do homem.

Três anos de constante companhia não foram bastantes para demover Judas do seu intento mas, o Senhor, bem o tentou até ao derradeiro momento na noite de quinta-feira. 

(ama, comentário sobre Lc 6, 12-19, 2013.10.28)


Leitura espiritual

HISTÓRIA DE UMA ALMA


Santa Teresinha do Menino Jesus


Manuscrito "A" - Parte II

…/1

Acontecia que até os próprios passeios, feitos antes de recolher-nos aos Buissonnets, me deixavam na alma um sentimento de tristeza. A família, então, já não se reunia toda, porque Papai, querendo agradar a Titio, deixava-lhe Maria ou Paulina todas as tardes de Domingo. Havia a única circunstância de que, para mim, era grande alegria poder ficar também. Gostava que assim acontecesse, mais do que ser convidada exclusivamente, porque então se ocupavam menos comigo. Meu máximo prazer era escutar tudo quanto meu Tio falava. Não apreciava, porém, que me fizesse perguntas, e sentia bastante medo, quando me punha sobre um joelho só, enquanto cantava o Barba-Azul com voz formidável... Era, pois, com satisfação que aguardava a chegada do Papai para nos buscar.

Na volta, olhava para as estrelas que cintilavam docemente, e esta vista me enlevava... Havia, sobretudo, uma constelação de pérolas de ouro que notava com alegria, por achar que tinha a forma de um T (aqui ponho mais ou menos sua forma). Fazia com que Papai a visse, dizendo-lhe que meu nome estava inscrito no Céu. Depois, não querendo ver nada desta terra mesquinha, pedia-lhe que me guiasse. Então, sem olhar onde punha os pés, erguia a cabecinha bem alto para o ar, e não me cansava de contemplar o azul do Céu estrelado! ...

Que direi de nossos serões de inverno, mormente dos de Domingo? Ah! como me era agradável, depois do jogo de damas, sentar-me com Celina nos joelhos de Papai... Como sua bela voz, entoava canções que enchiam a alma de pensamentos elevados... ou então, embalando-nos de mansinho, recitava poesias inspiradas nas verdades eternas... Depois, subíamos para fazer a oração em comum, e a rainhazinha ficava só ao pé do seu Rei, não precisando senão olhar para ele para saber como rezam os Santos... Afinal, íamos por ordem de idade dar boa-noite a Papai e receber um beijo. A rainha vinha naturalmente por última. Para a beijar, o rei tomava-a pelos cotovelos, e ela exclamava bem alto: "Boa noite, Papai, boa noite, dorme bem". Todas as noites era a mesma repetição...

Em seguida, minha mãezinha tomava-me nos braços e levava-me à cama de Celina. Então eu dizia: "Paulina, fui boazinha hoje?... Será que os anjinhos voarão em redor de mim?" A resposta era sempre que sim. Do contrário, passaria a noite toda a chorar. .. Depois de me beijar, como também o fazia minha querida madrinha, Paulina tornava a descer, e a coitada da Teresinha ficava completamente só na escuridão. Por mais que imaginasse os anjinhos a voarem em redor, o pavor logo a dominava, as trevas faziam-lhe medo, porque da cama não divisava as estrelas que fulgiam levemente...

Considero verdadeira graça que vós, minha querida Mãe, me acostumastes a vencer meus temores. De vez em quando, mandáveis-me de noite ir buscar sozinha algum objeto num cômodo distante. Se não fora tão bem orientada, teria ficado muito medrosa, ao passo que agora é realmente difícil assustar-me... Ocasiões há em que indago a mim mesma como pudestes educar-me com tanto amor e delicadeza sem me deixar baldosa; pois, a verdade é que não me deixáveis passar nenhuma imperfeição. Nunca me censuráveis sem razão de ser, como também nunca voltáveis atrás numa coisa já decidida. Sabia-o tão bem que eu não teria podido nem desejado dar um passo se mo proibistes. Até papai era obrigado a conformar-se com vossa vontade. Sem o consentimento de Paulina, não ia a passeio e quando papai dizia para eu ir eu respondia: "Paulina não quer". Então, ele ia pedir por mim. Para agradar-lhe, algumas vezes Paulina dizia sim, mas Teresinha percebia pela sua fisionomia que contra sua vontade. Punha-se a chorar sem aceitar consolo até que Paulina dissesse sim e a beijasse cordialmente.
Quando Teresinha adoecia, o que acontecia todos os invernos, não é possível dizer com que ternura era tratada. Paulina fazia-a dormir em sua cama (favor indizível) e lhe dava tudo o que ela queria. Um dia, Paulina pegou debaixo do travesseiro uma linda faquinha que lhe pertencia e, dando-a à sua filhinha, deixou-a mergulhada num deslumbramento indescritível: "Ah! Paulina", exclamou ela, "tu me amas muito para te desfazeres por mim da tua linda faquinha que tem uma estrela de madrepérola... Mas, sendo que me amas tanto, farias o sacrifício do teu relógio para eu não morrer?" "Não só para tu não morreres, daria meu relógio; mas faria logo o sacrifício dele para ficares boa logo". Ao ouvir essas palavras de Paulina, meu espanto e minha gratidão foram tantos que não sei expressá-los... No verão, às vezes, eu tinha náuseas; Paulina tratava-me ainda com ternura. Para distrair-me, o que era o melhor remédio, carregava-me num carrinho de mão em volta do jardim e, fazendo-me descer, colocava no lugar um bonito pé de margaridas que ela carregava com muita precaução até meu jardim, para onde ele era transplantado com grande solenidade...

Paulina recebia todas as minhas confidências íntimas, dissipava todas as minhas dúvidas... Uma vez, estranhei que Deus não desse glória igual no Céu a todos os eleitos e receava que não fossem todos felizes, Então, Paulina fez-me buscar o copo grande de papai e colocá-lo ao lado do meu pequeno dedal e disse para encher os dois. A seguir, perguntou-me qual dos dois estava mais cheio. Respondi que os dois estavam cheios e não podiam conter mais. Minha mãe querida fez-me então compreender que o Céu Deus dá a seus eleitos tanta glória quanto podem conter e que, assim, o último nada tem a cobiçar ou invejar do primeiro. Assim é que, pondo ao meu alcance os mais sublimes segredos, sabíeis, Madre, dar à minha alma o alimento que lhe era necessário...

Com quanta alegria via, a cada ano, chegar a atribuição de prémios pelo estudo!... Aí, como sempre, a justiça reinava e só recebia as recompensas merecidas. Sozinha, de pé no meio da nobre assembleia, ouvia minha sentença, lida pelo Rei França e de Navarra. Meu coração batia forte ao receber os prémios e a coroa... para mim, era como uma representação do juízo final!... Logo após a distribuição dos prémios, a rainhazinha tirava o vestido branco e apressavam-se em fantasiá-la para tomar parte na grande peça teatral!...

Como eram alegres essas festas familiares... Como eu estava longe, então, ao ver meu rei querido e radiante, de prever as provações que iriam visitá-lo!...

Um dia, porém, Deus mostrou-me, numa visão verdadeiramente extraordinária", a imagem viva da provação que Ele estava preparando para nós, seu cálice já enchia".

Papai estava viajando há vários dias e ainda faltavam dois para seu regresso. Era duas ou três horas da tarde, o sol brilhava e a natureza parecia em festa. Eu estava sozinha na janela de uma água-furtada que dava para o grande jardim; olhava diante de mim, a mente ocupada por pensamentos alegres, quando avistei frente à lavandaria que se encontrava logo adiante um homem vestido exactamente como papai, mesma estatura e mesmo modo de andar, apenas muito mais curvado... Sua cabeça estava coberta por uma espécie de avental de cor indefinida, de sorte que eu não podia ver-lhe o rosto. Estava com chapéu igual ao de papai. Vi-o andar em passos regulares, beirando meu jardinzinho... Logo, um sentimento de pavor sobrenatural invadiu minha alma. Num instante, imaginei que papai tivesse voltado e que se escondesse a fim de surpreender-me. Então, chamei-o em voz bem alta, com voz trémula de emoção: "Papai, Papai!..." Mas o estranho personagem não parecia ouvir-me. Continuou sua caminhada regular sem olhar para trás. Seguindo-o com os olhos, vi-o dirigir-se para o pequeno bosque que cortava ao meio a grande alameda. Esperava vê-lo aparecer do outro lado das grandes árvores, mas a visão profética esvaíra-se!... Tudo isso só durou um instante, mas gravou-se tão profundamente em meu coração que hoje, depois de quinze anos... a lembrança me é tão presente como se a visão estivesse ainda diante dos meus olhos...

Maria estava convosco, Madre, num quarto que se comunicava com aquele onde eu me encontrava. Ouvindo-me chamar por papai, sentiu impressão de pavor, percebendo que, contou-me depois, devia estar acontecendo algo extraordinário. Sem exteriorizar a sua emoção, correu junto a mim e me perguntou por que eu estava chamando papai, que fora a Alençon. Contei, então, o que acabara de ver. Para me acalmar, Maria disse que, sem dúvida, Vitória quisera pregar-me uma peça e escondera a cabeça com seu avental. Interrogada, essa afirmou não ter saído da cozinha. Aliás, eu tinha certeza de ter visto um homem que se parecia com papai. Então fomos as três ao bosque, mas como não achamos sinal nenhum da passagem de alguém dissestes-me para não mais pensar nisso...

Não mais pensar estava além do meu poder. Muitas vezes minha imaginação representou-me a cena misteriosa que eu presenciara... Muitas vezes procurei levantar o véu que me escondia o sentido, pois no fundo do meu coração conservava a convicção íntima de que essa visão possuía um sentido que havia de ser-me revelado um dia... Esse dia demorou a chegar, mas após catorze anos Deus rasgou o véu misterioso. Estando de licença com Irmã Maria do Sagrado Coração, falávamos, como sempre, das coisas da outra vida e das nossas recordações de infância, quando lembrei-lhe a visão que eu tivera na idade de 6 para 7 anos. De repente, relatando os pormenores dessa cena estranha, ambas compreendemos o que significava... Era papai, sim, que eu vira andando, curvado pela idade... Era ele carregando no seu rosto venerável, na sua cabeça branca, a marca da sua gloriosa provação... Como a Face Adorável de Jesus, velada durante sua Paixão, assim a face do seu fiel servo devia ficar velada nos dias dos seus sofrimentos, a fim de poder resplandecer na Pátria Celeste junto a seu Senhor, o Verbo Eterno!... Foi do seio dessa glória inefável onde reina no céu que nosso pai querido obteve para nós a graça de compreender a visão que sua rainhazinha tivera numa idade em que não é necessário temer a ilusão! Foi desde o seio da glória que obteve para nós esse doce consolo de podermos compreender que, dez anos antes da nossa grande provação, Deus no-la mostrou como um pai deixa seus filhos entreverem o futuro que lhes prepara e se compraz em considerar por antecipação as riquezas incalculáveis que lhes são destinadas...

Ah! por que foi a mim que Deus deu essa luz? Por que mostrou a uma criança tão nova unia coisa que ela não podia compreender, uma coisa que, se a tivesse compreendido, a teria matado de dor, por quê?... Sem dúvida, esse é mais um daqueles mistérios que só compreenderemos no céu e que nos causará uma admiração eterna!...

Como o Bom Deus é bom! ... Como põe as provações em exacta equação com a forças que nos confere. Nunca, como acabo de afirmá-lo, poderia aturar a própria ideia dos amargos sofrimentos que o futuro me reservava... Sem frémito não conseguia sequer pensar em que o Papai podia morrer... Certa vez trepara ele ao topo de uma escada de mão. Como me encontrava justamente por debaixo, gritou-me: "Arreda-te, pobre bichinho, se despenhar, esmago-te''. Ao ouvir isso, tive uma reacção interior. Em vez de afastar-me, apoiei-me contra a escada, pensando comigo: "Pelo menos, se o Papai cair, não terei a dor de vê-lo morrer, pois morrerei com ele". Não consigo exteriorizar quanto amava Papai. Tudo nele me causava admiração. Quando me explicava suas ideias (como se fora menina crescida), dizia-lhe com sinceridade que, por certo, se falasse tudo isso aos grandes homens do governo, toma-lo-iam para o constituir Rei, e que então a França seria feliz como nunca o fora antes... No fundo, porém, alegrava-me (e disso me inculpava como de um pensamento egoísta) por não haver ninguém senão eu que conhecia bem Papai. Pois, se viesse a ser Rei de França e de Navarra, sabia que se daria por infeliz, porque tal é a sorte de todos os monarcas, e sobretudo porque já não seria o meu Rei, só para mim!...

Tinha eu seis ou sete anos, quando Papai nos levou a Trouville. Jamais esquecerei a impressão que o mar me causou. Não podia coibir-me de contemplá-lo sem interrupção. Sua majestade, o bramir das ondas, tudo me falava à alma a respeito da Grandeza e do Poder do Bom Deus. Recordo-me de que, no passeio que fazíamos pela praia, um senhor e uma senhora, como me vissem a correr alegre em redor do Papai, aproximaram-se e perguntaram-lhe se eu era dele, dizendo que era uma menininha muito graciosa. Respondeu-lhes Papai que sim, mas notei que lhes deu sinal para não me elogiar... Era a primeira vez que ouvia dizer que eu era graciosa. Isto me deixou bem contente, pois não supunha que o fosse. Vós tomáveis, minha querida Mãe, tanta precaução em não permitir, junto a mim, nada que pudesse comprometer minha inocência, principalmente em não me deixar ouvir alguma palavra que insinuasse vaidade em meu coração. Como só dava atenção às vossas palavras e às de Maria (e de vossa parte nunca me dirigistes uma única lisonja), não liguei muita importância às palavras e aos olhares admirados da senhora.

Ao entardecer, à hora que o sol parece banhar-se na imensidão das ondas, deixando atrás de si um sulco luminoso, ia sentar-me sozinha com Paulina no rochedo... Então, acudia-me à lembrança a comovente história do "Sulco de ouro" Fiquei a contemplar longamente a esteira luminosa, imagem da graça a clarear a rota do barquinho de graciosa vela branca... Junto a Paulina, tomei a resolução de nunca distanciar minha alma do olhar de Jesus, a fim de que navegue tranquila em direcção da Pátria dos Céus!...

Minha vida deslizava tranquila e feliz. A afeição de que era cercada nos Buissonnets, fazia-me crescer, por assim dizer, mas não havia dúvida de que já era bem desenvolvida, para começar a conhecer o mundo e as misérias de que anda cheio...

(cont.)