A Imaculada Conceição
[i]
Ontem
celebrámos uma das grandes festas da Igreja e que também é, uma das maiores
festas na tradição portuguesa.
As
homenagens à Mãe de Deus, têm este ponto culminante na festa da Imaculada
Conceição.
De todos
os títulos carinhosos com que os cristãos distinguem a Virgem Maria, talvez
este seja o mais expressivo e aquele que, na verdade, só a Ela se pode aplicar.
Nenhuma
criatura foi, ou será, mais perfeita, cheia de virtudes e graça de Deus, é
verdade, mas, além disso, Deus quis que a encarnação da Segunda Pessoa Divina,
se realizasse num seio imaculado desde a sua concepção, isto é, com ausência
total de pecado, mesmo, o pecado original a que toda a raça descendente de Adão
e Eva está sujeita.
Quando
do castigo terrível, anunciado pelo Criador aos nossos primeiros pais, castigo
que mais não foi que a consequência directa do seu pecado, condoído da situação
que Adão e Eva tinham irremediavelmente provocado, movido pelo Seu infinito
amor pelos homens, Deus anunciou desde logo um meio - o único meio - de
salvação desse castigo.
E,
como o Senhor sempre cumpre as Suas promessas, criou essa excelsa criatura de
forma única e perfeita, para ser a Mãe do Seu Filho estremecido, cuja missão
foi exactamente, indicar esse caminho de salvação.
Toda
esta extraordinária história da salvação humana é, por isso mesmo, uma história
de amor; amor de Deus pelos homens.
Esta
forma da Igreja celebrar os "passos" desta história de amor, tem,
como nos podemos aperceber, uma consequência lógica.
O Advento, que neste momento
vivemos, que é o anúncio dessa mesma salvação.
O
aviso urgente que nos é feito, durante estas quatro semanas, para nos
prepararmos de forma concreta - preparai
o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas [ii]
- dá-nos conta, por João Baptista, da Sua eminente chegada.
Estar
preparados, com o coração limpo e disponível, para ouvir o anúncio do Seu
nascimento.
No meio
deste tempo, surge esta festa da Imaculada que é como que uma apresentação
daquela que será a portadora humana desse Deus vivo e verdadeiro que virá daqui
a alguns dias.
É
assim que a Igreja pretende associar, definitiva e solenemente, a Virgem Maria
à salvação do homem, porque, se é verdade que Deus, na Sua omnipotência,
poderia ter escolhido qualquer outra forma ou meio para essa salvação, ao
fazê-lo por intermédio de uma mulher, que tinha sido também a causa primeira da
queda original, demonstrou a Sua vontade de que, esta Mãe de Deus, fosse figura
importante na Sua relação com os homens.
É
pois, temos a certeza, muito do agrado de Nosso Senhor, todo o carinho, amor e
devoção que dedicarmos à Sua e Nossa Mãe.
Além
disso, Ela é o caminho natural para chegar a Jesus, a melhor mediadora e a mais
competente advogada, aquela que, como excelentíssima Mãe, tentará, junto do Seu
Filho, sublimar as nossas pequenas virtudes, relevando, desculpando e
intercedendo pelas nossas numerosas faltas.
Preparai
os caminhos do Senhor, endireitai as Suas veredas. [iii]
Jesus
quer, efectivamente, caminhar para nós, vir ao nosso encontro para, depois, ir
connosco, juntos, até ao fim do nosso caminho.
Se
essa vereda, que O conduzirá até nós, estiver atravancada com dificuldades,
escolhos, obstáculos, Jesus demorará mais tempo a chegar ou, que terrível
seria, nem sequer chegar a tempo.
Porque,
Ele, não obstante o Seu poder infinito, não removerá um obstáculo, não afastará
uma dificuldade.
Respeita
muito a nossa liberdade e, por isso mesmo, espera, ansiosamente, que sejamos
nós a fazê-lo.
E o
que são estes obstáculos, estas dificuldades? Nada mais que os nossos defeitos,
distracções, faltas de amor.
São
as nossas preocupações excessivas com a vida corrente, os negócios, o trabalho,
o que os outros pensam, o que os outros têm e nós não temos e gostaríamos de
ter, as dissensões, as criticas, os julgamentos apressados ou pouco
fundamentados, as faltas de caridade, o encolhimento ante as dificuldades, a
aversão ao sacrifício à renúncia a pequenas coisas e o apego a tantas outras
que, bem avaliadas, podemos perfeitamente dispensar.
Tudo
isto e muito mais, como cada um de nós, no seu íntimo, muito bem sabe.
S.
Josemaria escreveu:
«Não
sei nada, não tenho nada, não posso nada, não valho nada» [iv]
E,
ele, era um santo... e nós, acaso podemos dizer algo muito diferente?
Temos
portanto que, forçosamente, diria eu, recorrer a Ela, essa querida Senhora que,
embora sendo a maior e a mais excelsa de todas as criaturas, Ela própria Mãe de
Deus.
Que
não se importou de dar à luz num presépio, o Senhor de todas as coisas, porque,
essa, foi a Vontade de Deus.
Que
cumpriu os ritos da purificação exigidos pela Lei, não obstante saber-se Virgem
Imaculada, porque essa, foi a Vontade de Deus.
Que
arrostou com os perigos, o desconforto e incerteza de uma duríssima viagem para
terra desconhecida, o Egipto, porque, essa, foi a Vontade de Deus.
Que
aceitou o anonimato mais completo, durante os trinta e três anos de vida de
Jesus, não obstante ser a Sua Mãe, porque, essa, foi a Vontade de Deus
Que,
finalmente, viu o Seu Filho torturado e morto numa Cruz, sabendo como sabia,
que Ele era a própria Segunda Pessoa divina, porque, essa, foi a Vontade de
Deus.
Como
não irá Ela socorrer-nos, ajudar-nos, amorosa e dedicadamente se, essa, é a
Vontade de Deus?
Com
esta certeza, que temos a felicidade de ter, havemos de recorrer a Ela com toda
a urgência e fervor, para que nos ajude a preparar o caminho pelo qual Jesus
virá, rapidamente, até ao nosso coração.
Lembremo-nos
desta oração mariana que, entre muitas outras, igualmente belas, talvez melhor
traduza esse anseio de auxilio:
«Lembrai-Vos ó puríssima Virgem Maria, que
nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tendo recorrido à Vossa protecção,
implorado a Vossa assistência, proclamado o Vosso auxílio, fosse por Vós
desamparado.
Animado eu pois, de igual
confiança em Vós, Virgem entre todas singular, como Mãe recorro, gemendo sob o
peso dos meus pecados me prostro aos Vossos pés.
Não desprezeis as minhas
suplicas, ó Mãe do Filho de Deus Humanado, e dignai-Vos alcançar-me as
promessas de Cristo. Amen.»[v]
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