09/12/2016

A Imaculada Conceição

A Imaculada Conceição [i]


Ontem celebrámos uma das grandes festas da Igreja e que também é, uma das maiores festas na tradição portuguesa.

As homenagens à Mãe de Deus, têm este ponto culminante na festa da Imaculada Conceição.

De todos os títulos carinhosos com que os cristãos distinguem a Virgem Maria, talvez este seja o mais expressivo e aquele que, na verdade, só a Ela se pode aplicar.

Nenhuma criatura foi, ou será, mais perfeita, cheia de virtudes e graça de Deus, é verdade, mas, além disso, Deus quis que a encarnação da Segunda Pessoa Divina, se realizasse num seio imaculado desde a sua concepção, isto é, com ausência total de pecado, mesmo, o pecado original a que toda a raça descendente de Adão e Eva está sujeita.

Quando do castigo terrível, anunciado pelo Criador aos nossos primeiros pais, castigo que mais não foi que a consequência directa do seu pecado, condoído da situação que Adão e Eva tinham irremediavelmente provocado, movido pelo Seu infinito amor pelos homens, Deus anunciou desde logo um meio - o único meio - de salvação desse castigo.

E, como o Senhor sempre cumpre as Suas promessas, criou essa excelsa criatura de forma única e perfeita, para ser a Mãe do Seu Filho estremecido, cuja missão foi exactamente, indicar esse caminho de salvação.

Toda esta extraordinária história da salvação humana é, por isso mesmo, uma história de amor; amor de Deus pelos homens.

Esta forma da Igreja celebrar os "passos" desta história de amor, tem, como nos podemos aperceber, uma consequência lógica.

O Advento, que neste momento vivemos, que é o anúncio dessa mesma salvação.
O aviso urgente que nos é feito, durante estas quatro semanas, para nos prepararmos de forma concreta - preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas [ii] - dá-nos conta, por João Baptista, da Sua eminente chegada.

Estar preparados, com o coração limpo e disponível, para ouvir o anúncio do Seu nascimento.

No meio deste tempo, surge esta festa da Imaculada que é como que uma apresentação daquela que será a portadora humana desse Deus vivo e verdadeiro que virá daqui a alguns dias.

É assim que a Igreja pretende associar, definitiva e solenemente, a Virgem Maria à salvação do homem, porque, se é verdade que Deus, na Sua omnipotência, poderia ter escolhido qualquer outra forma ou meio para essa salvação, ao fazê-lo por intermédio de uma mulher, que tinha sido também a causa primeira da queda original, demonstrou a Sua vontade de que, esta Mãe de Deus, fosse figura importante na Sua relação com os homens.

É pois, temos a certeza, muito do agrado de Nosso Senhor, todo o carinho, amor e devoção que dedicarmos à Sua e Nossa Mãe.

Além disso, Ela é o caminho natural para chegar a Jesus, a melhor mediadora e a mais competente advogada, aquela que, como excelentíssima Mãe, tentará, junto do Seu Filho, sublimar as nossas pequenas virtudes, relevando, desculpando e intercedendo pelas nossas numerosas faltas.

Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as Suas veredas. [iii]

Jesus quer, efectivamente, caminhar para nós, vir ao nosso encontro para, depois, ir connosco, juntos, até ao fim do nosso caminho.

Se essa vereda, que O conduzirá até nós, estiver atravancada com dificuldades, escolhos, obstáculos, Jesus demorará mais tempo a chegar ou, que terrível seria, nem sequer chegar a tempo.

Porque, Ele, não obstante o Seu poder infinito, não removerá um obstáculo, não afastará uma dificuldade.

Respeita muito a nossa liberdade e, por isso mesmo, espera, ansiosamente, que sejamos nós a fazê-lo.

E o que são estes obstáculos, estas dificuldades? Nada mais que os nossos defeitos, distracções, faltas de amor.

São as nossas preocupações excessivas com a vida corrente, os negócios, o trabalho, o que os outros pensam, o que os outros têm e nós não temos e gostaríamos de ter, as dissensões, as criticas, os julgamentos apressados ou pouco fundamentados, as faltas de caridade, o encolhimento ante as dificuldades, a aversão ao sacrifício à renúncia a pequenas coisas e o apego a tantas outras que, bem avaliadas, podemos perfeitamente dispensar.

Tudo isto e muito mais, como cada um de nós, no seu íntimo, muito bem sabe.

S. Josemaria escreveu:

«Não sei nada, não tenho nada, não posso nada, não valho nada» [iv]

E, ele, era um santo... e nós, acaso podemos dizer algo muito diferente?

Temos portanto que, forçosamente, diria eu, recorrer a Ela, essa querida Senhora que, embora sendo a maior e a mais excelsa de todas as criaturas, Ela própria Mãe de Deus.

Que não se importou de dar à luz num presépio, o Senhor de todas as coisas, porque, essa, foi a Vontade de Deus.

Que cumpriu os ritos da purificação exigidos pela Lei, não obstante saber-se Virgem Imaculada, porque essa, foi a Vontade de Deus.

Que arrostou com os perigos, o desconforto e incerteza de uma duríssima viagem para terra desconhecida, o Egipto, porque, essa, foi a Vontade de Deus.

Que aceitou o anonimato mais completo, durante os trinta e três anos de vida de Jesus, não obstante ser a Sua Mãe, porque, essa, foi a Vontade de Deus

Que, finalmente, viu o Seu Filho torturado e morto numa Cruz, sabendo como sabia, que Ele era a própria Segunda Pessoa divina, porque, essa, foi a Vontade de Deus.

Como não irá Ela socorrer-nos, ajudar-nos, amorosa e dedicadamente se, essa, é a Vontade de Deus?

Com esta certeza, que temos a felicidade de ter, havemos de recorrer a Ela com toda a urgência e fervor, para que nos ajude a preparar o caminho pelo qual Jesus virá, rapidamente, até ao nosso coração.

Lembremo-nos desta oração mariana que, entre muitas outras, igualmente belas, talvez melhor traduza esse anseio de auxilio:

«Lembrai-Vos ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tendo recorrido à Vossa protecção, implorado a Vossa assistência, proclamado o Vosso auxílio, fosse por Vós desamparado.
Animado eu pois, de igual confiança em Vós, Virgem entre todas singular, como Mãe recorro, gemendo sob o peso dos meus pecados me prostro aos Vossos pés.
Não desprezeis as minhas suplicas, ó Mãe do Filho de Deus Humanado, e dignai-Vos alcançar-me as promessas de Cristo. Amen[v]




[i] Palestra na Meadela, 9 de Dezembro de 1999
[ii] Cfr Mt 3, 3
[iii] Cfr Mt 3, 3
[iv] S. Josemaría, Amigos de Deus nr. 215
[v] Oração Saxum

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