Visitação
de Nossa Senhora
Porque
o Anjo te disse que tua prima Isabel – aquela quem consideravam estéril -
estava esperando um filho, não pensaste em mais nada e puseste-te a caminho
para a visitar.
Porque
era necessário acompanhá-la nos últimos tempos da gravidez. Isabel já não era
jovem e seria bem-vinda a presença de uma jovem dedicada para auxiliar nas
complicações de uma gravidez for a de tempo.
Porque
era necessário estares presente em tão extraordinário acontecimento noticiado
por um Anjo do Senhor. O mesmo Anjo que te tinha anunciado que serias Mãe do
Salvador.
Porque
talvez conviesse o sacrifício e incómodos de uma viagem longa, para pensar mais
profundamente em todas as maravilhas que te tinham acontecido. Sentias já o teu
Filho no teu seio e isto era indubitavelmente obra misteriosa e magnifica de
Deus.
Talvez
quisesses falar com o teu primo Zacarias que, sendo sacerdote, poderia aclarar
um pouco todo o misterioso futuro que se descrevia nas Escrituras. Talvez por
restes motivos todos mas, estou certo, que não pensaste me mais nada senão em
ser útil e prestável a uma família que precisava dos teus préstimos.
E
tudo se desvaneceu perante a recepção de Isabel. As palavras que te dirigiu. O
estremecimento de João no seio de sua mãe.
Tudo
se torna claríssimo como água. A Vontade de Deus é agora mais nítida mais
transparente.
E
rompes num canto maravilhoso de acção de graças e louvor, de humildade e
entrega.
Não
pedes nada, não desejas nada. Sabes perfeitamente que não precisarás de coisa
alguma, nunca, porque Deus proverá tudo quanto precisares.
E o
Senhor ouve da tua boca o Magnificat [1] esplendoroso
que para sempre ficará gravado na história do povo de Deus e será repetidamente
cantado pela legião enorme dos Seus filhos.
Só
tu, Virgem Maria, poderias ter reunido com tanta simplicidade e candura um hino
de louvor e submissão ao Criador. Um hino onde se espelham as certezas todas,
todos os caminhos que Deus manda trilhar para que a Sua Vontade seja cumprida.
Que
coração poderia albergar tais sentimentos?
Que
alma saberia elevar-se de tal forma?
Que
ser humano poderia alguma vez, louvar e enaltecer o seu Criador de forma tão
perfeita?
Sabendo,
Senhora, que já eras a Mãe do próprio Deus, sabendo tu, Senhora, que o
salvador, Rei dos Reis, habitava já no teu seio, não te exaltas nem envaideces,
antes te envaideces exaltas por o Senhor fazer o que quer, como, quando e com
quem quer.
Quando
dizes que serás aclamada por todas as gerações não o dizes por ti, mas porque
sabes que, ao fazê-lo, essas gerações aclamarão a Mãe de Deus.
Dás
a Deus o que seria legítimo, humanamente falando, julgar teu.
Sabes
que Jesus é realmente o Filho de Deus e que foste apenas o instrumento de que
Deus Se serviu para dar corpo substancial à Sua Vontade.
Não
te ocorre um momento que tens o mais pequeno mérito em tal maravilha, ou que
não o mereces. Não passa tudo da Vontade do Senhor e não te compete saber ou
indagar, porquê tu, Maria.
Ah!,
minha Senhora, como tua prima deve ter gozado com a tua visita, como devem ter
sido extraordinariamente leves e felizes os tempos que ali passaste.
Ajuda-me também a mim a
compreender que não tenho que pensar ou discutir ou indagar a Vontade do
Senhor. Que sou um instrumento muito rudimentar de que Deus se serve, apenas
para ser servido e, ao fazê-lo, saiba eu também louvar e enaltecer o Deus que
me criou e me governa, porque a Sua Vontade é a única vontade que reconheço e a
minha felicidade será dar-lhe cumprimento total.
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