31/05/2016

A preocupação pode ser um pecado?

Resultado de imagem para preocupaçãoO mundo está doente, mas a maior de todas as doenças não é causada por infecções, vírus ou epidemias, muito embora também possa ser contagiosa. As doenças psicossomáticas — pressão alta, hipertensão, etc, são a marca de uma sociedade emocionalmente frustrada e mentalmente enferma. Milhões de pessoas estão sobrecarregadas com problemas de ansiedade, a preocupação é a causa de problema doméstico, fracasso comercial, injustiças sociais, e mortes prematuras.
Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. [1]

Uma das características da preocupação é sua natureza contagiosa. Vários psiquiatras creem que a preocupação é muito mais contagiosa que doenças infecciosas como a poliomielite e a difteria. A preocupação causa efeitos devastadores não apenas naqueles que a sofrem, mas em todos à sua volta.

A palavra preocupação vem da palavra grega merimnao que é uma combinação de duas palavras: – merizo que significa “dividir” e nous que significa “mente” (incluindo as faculdades perceptivas, de compreensão, sentimento, de julgamento e determinação).

A preocupação, portanto, significa “dividir a mente”. A preocupação divide a mente entre interesses dignos e pensamentos prejudiciais.

Uma pessoa com a mente dividida entre o sucesso e o fracasso, certamente vai fracassar. Uma mente dividida não atinge metas, pois a dúvida sempre dá o tom. A mente dividida é a desconfiança em si mesmo, é sentir-se incapaz, mesmo quando este alguém está plenamente qualificado para executar a tarefa.

São Tiago fala do estado infeliz da pessoa que tem a mente dividida:
O homem de ânimo fraco é inconstante em todos os seus caminhos[2].

O homem irresoluto, é inconstante nas suas emoções. É inconstante nos seus processos de pensamento. É instável nas suas decisões e nos seus julgamentos.

De certo modo, ao preocupar-se, a pessoa acusa Deus de falsidade.

Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios.” [3].
 “Tudo ele tem feito esplendidamente[4].
 “Tudo posso naquele que me fortalece[5].
“… não vos preocupeis com a vossa vida, o que comereis, nem com o vosso corpo, pelo que vestireis... o vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso[6].

A preocupação não tem em conta esta afirmações logo é hipocrisia, porque professa fé em Deus e ao mesmo tempo ataca a sua fidelidade.

Como vencer a preocupação

O objectivo deste artigo não é desenvolver um sistema de auto-ajuda, mas uma relação de mútua confiança entre nós e Deus. Somos seres com enorme carência afectiva, precisamos nos relacionar, viver em comunidade, ser parte da sociedade. Muitas vezes Deus é apenas o agente máximo da religião que praticamos, não o autor da nossa vida e o provedor de todo o meio ambiente que desfrutamos.

Deus é a pessoa mais acessível com a qual podemos contar, em todo o tempo e em qualquer momento, basta uma palavra de oração, nem que seja um gemido desesperançado, inexprimível, é suficiente para chamar à atenção do Pai em favor dos filhos.

Devemos estabelecer um equilíbrio no nosso relacionamento com Deus, fazer com que se torne uma estrada de via dupla, onde ambos possam ter livre acesso um ao outro. A confiança é a base de qualquer relacionamento, devemos confiar que nossas orações alcançam os seus objectivos e que Deus, a Seu tempo, cumprirá os desígnios e propósitos da nossa fé.

(Revisão da versão portuguesa por ama)

Fonte: Haggai, John – Como vencer a preocupação Copyright © 1981 by EDITORA VIDA




[1] (Filipenses 4,6)
[2] Tiago 1, 8
[3] Rom 8, 28
[4] Mc 7, 37
[5] Flp 4, 13
[6] Mt 6,25a, 32b

Antigo testamento / Êxodo 20

Êxodo 20

Os dez mandamentos de Deus

1 E Deus falou todas estas palavras:

2 "Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te tirou do Egipto, da terra da escravidão.

3 "Não terás outros deuses além de mim.

4 "Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra.

5 Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados dos seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações aos que me amam e obedecem aos meus mandamentos.

6 "Não tomarás em vão o nome do Senhor, o teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão.

7 "Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo.

8 Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor, o teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem os teus servos ou servas, nem os teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades.

9 Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou.

10 "Honra o teu pai e a tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá.

11 "Não matarás.

12 "Não adulterarás.

13 "Não furtarás.

14 "Não darás falso testemunho contra o teu próximo.

15 "Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem os seus servos ou servas, nem o seu boi ou jumento, nem coisa alguma que lhe pertença".

16 Vendo-se o povo diante dos trovões e dos relâmpagos, e do som da trombeta e do monte fumegando, todos tremeram assustados. Ficaram à distância e disseram a Moisés: "Fala tu mesmo connosco, e ouviremos. Mas que Deus não fale connosco, para que não morramos".

17 Moisés disse ao povo: "Não tenham medo! Deus veio prová-los, para que o temor de Deus esteja em vós e vos livre de pecar".

18 Mas o povo permaneceu à distância, ao passo que Moisés aproximou-se da nuvem escura em que Deus se encontrava.

Ídolos e altares

19 O Senhor disse a Moisés: "Diz o seguinte aos israelitas: Viram por vós mesmos que do céu lhes falei: não façam ídolos de prata nem de ouro para me representarem.

20 "Façam-me um altar de terra e nele sacrifiquem-me os vossos holocaustos e as vossas ofertas de comunhão, as vossas ovelhas e os vossos bois. Onde quer que eu faça celebrar o meu nome, virei a vós e os abençoarei.

21 Se me fizerem um altar de pedras, não o façam com pedras lavradas, porque o uso de ferramentas o profanaria.

22 Não subam por degraus ao meu altar, para que nele não seja exposta a vossa nudez.


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Doutrina – 159

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

63. Qual é o lugar do homem na criação?



O homem é o vértice da criação visível, pois é criado à imagem e semelhança de Deus.

Maio - Ave Maria - Músicas




Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo Comum

Visitação de Nossa Senhora

Evangelho: Lc 1, 39-56

39 Naqueles dias, levantando-se Maria, foi com pressa às montanhas, a uma cidade de Judá. 40 Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 Aconteceu que, logo que Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe no ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo; 42 e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre. 43 Donde a mim esta dita, que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44 Porque, logo que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino saltou de alegria no meu ventre. 45 Bem-aventurada a que acreditou, porque se hão-de cumprir as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor». 46 Então Maria disse: «A minha alma glorifica o Senhor; 47 e o meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador, 48 porque olhou para a humildade da Sua serva. Portanto, eis que, de hoje em diante, todas as gerações me chamarão ditosa, 49 porque o Todo-poderoso fez em mim grandes coisas. O Seu nome é Santo, 50 e a Sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. 51 Manifestou o poder do Seu braço, dispersou os homens de coração soberbo. 52 Depôs do trono os poderosos, elevou os humildes. 53 Encheu de bens os famintos, e aos ricos despediu de mãos vazias. 54 Tomou cuidado de Israel, Seu servo, lembrado da Sua misericórdia; 55 conforme tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». 56 Maria ficou com Isabel cerca de três meses; depois voltou para sua casa.

Comentário:

Aprenda eu, contigo, minha Mãe, a ser lesto na ajuda aos outros, pondo de lado as minhas “razões”, os incómodos, as dificuldades.

Os outros, muitos, esperam por mim, para que lhes leve a palavra do teu Filho, para que lhes explique a Sua Vida, para que os ajude a ver a Luz que trouxe ao mundo.

Que não me fique agarrado á minha suposta “importância”, de considerar que não é “digna de mim” esta ou aquela tarefa apostólica.

Tu, a Mãe de Deus, deste-me o exemplo, como em tudo.

Saiba eu, coma tua ajuda maternal, tudo fazer para o seguir.


(AMA, meditação, Enxomil, Maio 2008)


Leitura espiritual



INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

"Creio em Deus" – Hoje

SEGUNDA PARTE

JESUS CRISTO

CAPÍTULO PRIMEIRO

"Creio em Jesus Cristo seu Filho Unigénito, Nosso Senhor".

II. Jesus, o Cristo: Forma fundamental da Fé cristológica.

3. Ponto de partida da Fé: a cruz.

Para maior clareza do que se disse, daremos um passo a mais, rumo à origem do Símbolo Apostólico em geral. Hoje podemos constatar com bastante segurança, ter sido a cruz o local de origem da fé em Jesus como o Cristo, isto é, o local do nascimento da fé "cristã", em geral. O próprio Jesus não se proclamou directamente como o Cristo ("Messias"). Esta afirmação, para nós um tanto estranha, destaca-se, nesta altura, com bastante clareza, do debate tantas vezes confuso dos historiadores. Nem mesmo se poderá fugir a tal conclusão, se se lança mão de crítica adequada frente ao precipitado processo de subtracção em voga na actual pesquisa sobre Jesus. Portanto, Jesus não se proclamou claramente como Messias (Cristo) – quem o fez foi Pilatos ao aderir, por sua vez, à acusação dos judeus; cedendo à sua acusação, proclamou, nas três línguas universais de então, Jesus como o Rei (Messias, Cristo) crucificado. O título da execução, paradoxalmente, passou a ser "profissão de fé", ponto de partida e raiz da fé cristã que considera a Jesus como o Cristo: como crucificado esse Jesus é o Cristo, o rei. A Sua crucificação é a sua entronização; a sua entronização é a doação de si mesmo aos homens; é a identificação da palavra, missão e existência na entrega desta mesma existência. Sua existência é a sua palavra. Ele é palavra por ser amor. A partir da cruz, a fé compreende sempre mais que esse Jesus não somente fez e disse alguma coisa, mas que nele se identificam a missão e a pessoa, que ele é sempre o que diz. Para João bastou muito simplesmente tirar daí a última conclusão: se é assim – eis o pensamento cristológico fundamental do seu Evangelho então esse Jesus Cristo é a "Palavra"; ora, uma pessoa que não somente tem palavras, mas que é a sua própria palavra e a sua obra é o próprio Logos ("a palavra", o "sentido", a "razão"); que existe desde sempre e para sempre; que é o fundamento sobre o qual repousa o universo – se em alguma parte encontrarmos uma tal pessoa, ela será aquele sentido, aquela razão (ratio) que nos sustenta e pela qual todos subsistimos.

Eis como se desdobra a compressão a que chamamos fé: os cristãos encontram, pela primeira vez, na cruz, a identificação de pessoa, palavra e obra. E ali reconheceram o elemento propriamente decisivo diante do qual o resto passa a plano secundário. Por isso, a sua profissão de fé podia reduzir-se ao simples entrelaçamento das duas palavras "Jesus" e "Cristo" – fusão em que tudo estava expresso. Jesus é visto a partir da cruz, cuja linguagem é mais eloquente do que todas as palavras: ele é o Cristo – nada mais é preciso acrescentar. O "eu" crucificado do Senhor representa uma realidade de tal plenitude que tudo o mais pode ficar para trás. Numa segunda etapa voltou a reflectir-se sobre as palavras de Jesus, a partir da sua compreensão assim conseguida. E, admirada, a comunidade devia constatar, na palavra de Jesus, a mesma concentração sobre o seu "eu"; que também a sua mensagem, vista de trás, é tal, que conclui, que reconduz sempre a esse "eu", à identidade entre palavra e pessoa. E João podia reunir ambos os movimentos num terceiro e último passo. O seu Evangelho é, por assim dizer, a leitura da palavra de Jesus feita a partir da pessoa e da pessoa a partir da palavra. João faz a "cristologia" como profissão de fé no Cristo, como mensagem da história de Jesus e, vice-versa, faz a história de Jesus como cristologia, o que prova a plena unidade de Cristo e Jesus, que se torna e permanece constitutiva para a posterior história da fé.

4. Jesus, – o Cristo

Com tudo o que foi dito, deve ter ficado esclarecido em que sentido e até que ponto se pode acompanhar o movimento de Bultmann. Existe algo como uma concentração sobre o facto da existência de Jesus, uma fusão da realidade "Jesus" na fé em Cristo – realmente, sua palavra mais autêntica é ele próprio. Mas, não nos teremos lançado com excessiva precipitação para além da questão que Harnack fizera? Que aconteceu com a mensagem do Deus Pai, oposta à cristologia, com o amor de todos os homens que ultrapassa e vence as balizas da fé? Teria sido absorvida num dogmatismo cristológico? Nesta tentativa de descrever a fé da antiga cristandade e da Igreja de todos os tempos, não teria sido afastado e encoberto através de uma fé que esqueceu o amor, importante elemento que se manifesta na teologia liberal? Sabemos que se pode chegar a tal extremo e que na história, mais de uma vez, se chegou a tal ponto. Contudo, deve negar-se peremptoriamente que tal corresponda ao sentido daquela profissão da fé.

Porque, quem reconhecer o Cristo em Jesus, e só nele, e reconhecer a Jesus como o Cristo, quem conceber a total identidade da pessoa e obra como elemento decisivo, abandonará a exclusividade da fé e sua antítese em relação ao amor, e unirá ambos num todo que torna impensável a sua separação. O traço de união entre Jesus e Cristo, a ausência de separação de pessoa e obra, a identidade de um homem com o acto da entrega denotam também o traço de união entre amor e fé. Pois o "eu" de Jesus, a sua pessoa que agora avança até ao centro, encontra a sua peculiaridade no facto de este "eu" não se situar em nenhum isolamento autónomo, mas haurir a sua total existência do "tu" do Pai e em existir para o "vós" dos homens. Ele é identidade de Logos (verdade) e amor, e transforma o amor em Logos, em verdade da existência humana. Portanto, a fé postulada por uma cristologia assim compreendida, essencialmente tende a tomar-se a abertura universal do amor incondicional. Porque acreditar num Cristo assim compreendido significa simplesmente tornar o amor conteúdo da fé de modo que se possa dizer: amor é fé.

Tal corresponde ao painel que Jesus traçou na grande parábola do juízo final [1]: o encontro, a identificação de Cristo nos últimos dos homens, nos que necessitam do nosso auxílio, é equiparado à profissão de fé exigida pelo Senhor julgador. Portanto, crer em Cristo é o mesmo que reconhecer como sendo Cristo o homem que precisa do meu auxílio, tal como me vem ao encontro; é compreender o apelo do amor como apelo da fé. A aparente alteração do Credo cristológico na incondicionalidade do serviço e da disponibilidade humanas, que se processa em Mt 25, depois do que foi dito, nada mais é do que o irromper de uma dogmática de resto já presente; de facto, é, em verdade, a consequência do traço de união entre Jesus e Cristo ou seja, do âmago da cristologia. Porque tal traço de união – repitamo-lo – é simultaneamente o traço de união entre fé e amor. E por isso, fé que não seja amor não é, mas apenas parece, fé cristã – constatação que deve ser proclamada tanto contra o equívoco doutrinal do conceito católico da fé, como contra a secularização do amor, que se origina em Lutero, devido à exclusividade da justificação pela fé.

III. Jesus Cristo – verdadeiro Deus e verdadeiro Homem

1. Introdução ao problema

Voltemos à questão cristológica em sentido mais exacto, para que o que até aqui foi afirmado não fique como mera afirmação ou mesmo como um apelo ao que é favorável. Constatamos que a fé cristã em Jesus o afirma como sendo o Cristo, isto é: como aquele em quem pessoa e obra são idênticos. Partindo daí chegamos à unidade de fé e amor. Fora de qualquer mera ideia e de qualquer doutrina independente, a fé cristã conduz ao "eu" de Jesus, a um "eu" que é todo abertura, todo "palavra", todo "Filho". Também já consideramos que, com os conceitos "palavra" e "Filho" se deve exprimir o carácter dinâmico dessa existência, a sua pura actualitas. Jamais a palavra subsiste em si, mas vem de alguém e existe para alguém, para ser ouvida, existe para outros. Ora, Jesus existe exclusivamente nessa totalidade do "de" e "para". O mesmo descobrimos como sendo o sentido do conceito de "Filho", que conota uma tensão semelhante, entre "de" e "para". Poderíamos resumir tudo na seguinte fórmula: a fé cristã não está relacionada com ideias, mas com uma pessoa, um "eu", a saber, um "eu" que pode definir-se como palavra e Filho, ou seja, abertura total.

Isso conduz a duas consequências nas quais se revela a dramaticidade da fé em Cristo (no sentido de fé em Jesus como Cristo, isto é, como Messias) e sua necessária auto-ultrapassagem histórica até o completo escândalo da fé no Filho (como fé na autêntica divindade de Jesus). Porquanto, se for assim, se esse "eu" for crido como pura abertura, puro "estar (ou: ser) – para", como existência total vinda do Pai, se ele, com toda a sua existência, for "Filho" – actualitas do puro servir – se – expresso em outras palavras – essa existência não só tiver, mas for amor, ela não deve ser idêntica com Deus que, somente ele, é amor? E então, Jesus, o Filho de Deus, não seria Deus? Não estaria certo: "O Verbo era de Deus, e o Verbo era Deus" [2]? Entretanto, somos também obrigados a encarar a pergunta oposta: Se esse homem for totalmente o que ele faz, se ele se colocar atrás do que diz, se for completamente para os outros e, contudo, entregando-se assim, conservar-se totalmente em si, se for quem se encontrou, perdendo-se [3], não será ele o mais humano dos homens, a realização do humano de modo completo e absoluto? Teríamos então o direito de dissolver a Cristologia (tratado de Cristo) na Teologia (tratado de Deus)? Não deveríamos, antes, reclamar a Jesus apaixonadamente como homem, praticando Cristologia como Humanismo e Antropologia? Ou deveria o Homem propriamente dito ser Deus exactamente pelo facto de ser homem em todos os sentidos e Deus ser homem autêntico? Seria possível o encontro e o completo entrelaçamento do humanismo mais radical e da fé no Deus que se revela?

Ao meu ver estas questões, cujo impacto abalou a Igreja dos primeiros cinco séculos, surgem naturalmente da própria fé cristológica. A luta dramática daquelas eras em torno dessa questão conduziu à afirmação das três perguntas nos concílios de então. E é exactamente esta tríplice afirmação que cria o conteúdo e dá a configuração final e definitiva ao dogma cristológico clássico que assim apenas tentou conservar a fidelidade plena à singela profissão de fé inicial no Jesus como o "Cristo". Por outras palavras: o dogma cristológico desenvolvido reconhece que o radical "ser-Cristo" de Jesus postula a filiação e que a filiação inclui a divindade. Só interpretado assim, o dogma se conserva como expressão "lógica" – de acordo com o Logos – compreensível, enquanto a falta desta congruência leva ao mito. Contudo, o dogma reconhece com não menor decisão que Jesus, no radicalismo do seu serviço, é o mais humano dos homens, o homem verdadeiro e, deste modo, o dogma apoia a união de Teologia e da Antropologia, união em que, desde então, consiste o elemento verdadeiramente excitante da fé cristã.

Mas surge de novo uma pergunta: devendo, embora, reconhecer a irredutibilidade da lógica desenvolvida e, com isto, a consequência interna do dogma, permanece decisivo o olhar para os factos. Não nos estamos, quiçá, elevando nos ares, nas asas de um lindo sistema, deixando para trás a realidade, de modo que a inquestionável lógica do sistema de nada nos serve por lhe faltar a base? Por outras palavras, cumpre indagar se o fundamento bíblico e o que dele resulta mediante a indagação crítica dos factos nos autorizam a conceber a filiação de Jesus como o fizemos e como o realiza o dogma cristológico. A resposta de hoje, sempre mais firme e mais evidente, é "não", Muitos veem na resposta positiva uma posição pré-crítica que mal merece alguma consideração. Em oposição a isto, queria mostrar que a resposta positiva não só pode, mas deve ser dada, se não se quiser cair em banalidades racionalistas ou em ideias mitológicas de filiação que foram superadas e vencidas pela fé bíblica no Filho e pela sua interpretação na antiga Igreja.

(cont)

joseph ratzinger, Tübingen, verão de 1967.

(Revisão da versão portuguesa por ama)








[1] Mt 25,21-66
[2] Jo 1,1
[3] Cfr. Mc 8,35

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Tratado da vida de Cristo 106

Questão 46: Da Paixão de Cristo

Art. 11 — Se foi conveniente Cristo ser crucificado com os ladrões.

O undécimo discute-se assim. Parece que não foi conveniente Cristo ter sido crucificado com os ladrões.

1. — Pois, diz o Apóstolo: Que união pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ora, Cristo nos tem sido feito por Deus justiça, e dos ladrões é própria a iniquidade. Logo, não foi conveniente que Cristo fosse crucificado junto com os ladrões.

2. Demais. — O Evangelho: Ainda que seja necessário morrer eu contigo, não te negarei — diz Orígenes: Não convinha a nenhum homem morrer com Jesus, que morreu por todos. E comentando aquele outro lugar. - Eu estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como a morrer, diz Ambrósio: A Paixão de Cristo tem imitadores, mas não iguais. Logo, parece que era muito menos conveniente que Cristo sofresse simultaneamente com os ladrões.

3. Demais. — O Evangelho diz num lugar. Também os ladrões que haviam sido crucificados com ele lhe diziam impropérios. E noutro lugar se refere que um dos ladrões crucificados com Cristo lhe dizia: Senhor lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. Por onde se vê que, além dos ladrões, que blasfemavam, foi crucificado com Cristo um que não blasfemava. Logo, parece inexacto o narrado pelos evangelistas, que Cristo foi crucificado com ladrões.

Mas, em contrário, a Escritura: E foi posto no número dos malfeitores.

Cristo foi crucificado entre os ladrões, por uma razão se considerarmos a intenção dos judeus, e por outra, considerada a ordem de Deus: Assim, quanto à intenção dos judeus, crucificaram aos lados de Cristo dois ladrões, como adverte Crisóstomo, para que ele participasse da ignomínia deles. Contudo, àqueles ninguém se refere, ao passo que a cruz de Cristo é honrada em toda parte. Os reis, depondo os seus diademas, assumem a cruz: no meio das púrpuras, dos diademas, das armas, da mesa sagrada, em toda a parte do mundo a cruz resplandece. Por outro lado, quanto à ordenação de Deus, Cristo foi crucificado entre ladrões, porque, segundo diz Jerónimo, assim como Cristo foi feito na cruz maldição por nós, assim, foi crucificado como criminoso entre criminosos, para a salvação de todos. — Segundo, como diz Leão Papa, dois ladrões foram crucificados, um ao lado direito e outro ao lado esquerdo de Cristo, a fim de que nesse espetáculo mesmo do patíbulo se espelhasse aquela separação que ele próprio há-de fazer quando vier a julgar os homens. E Agostinho diz: Se bem reflectires verás, que essa cruz foi um tribunal. O juiz está posto no meio; o que acreditou foi salvo; o outro que insultou, foi condenado. Por onde se vê o que Cristo fará um dia, dos vivos e dos mortos, colocando aqueles à sua direita e os outros, à esquerda. — Terceiro, segundo Hilário, porque os dois ladrões, crucificados — um, à direita, o outro à esquerda, mostram que toda a diversidade do género humano é chamada a participar do mistério da paixão de Cristo. Mas como a divisão entre fiéis e infiéis é correspondente aos lados direito e esquerdo, um dos dois, o colocado à direita, foi salvo pela justificação da fé. — Quarto, porque, como diz Beda, os ladrões crucificados com o Senhor, simbolizam aqueles que, sob a fé e a confissão de Cristo, sofrem a agonia do martírio, ou vivem sob as regras de uma disciplina mais austera. E os que trabalham para a glória eterna são figurados pelo ladrão da direita; ao passo que os de olhos postos na glória humana imitam os actos do ladrão da esquerda.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Assim como Cristo não estava obrigado a morrer, mas sofreu a morte voluntariamente para vencê-la com o seu poder, assim também não mereceu ser crucificado com os ladrões, mas quis ser confundido com homens iníquos a fim de destruir a iniquidade com a sua virtude. Donde o dizer Crisóstomo, que converter o ladrão na cruz e introduzi-lo no Paraíso, não foi menos que fender rochedos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Não convinha que ninguém sofresse com Cristo pela mesma causa. Por isso acrescenta Orígenes no mesmo lugar: Todos eram pecadores e todos tinham necessidade que um outro morresse por eles, mas não eles pelos outros.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como adverte Agostinho, podemos entender que Mateus usou do número plural pelo singular, ao narrar que os ladrões lhe diziam impropérios. - Ou podemos dizer segundo Jerónimo, que a princípio tanto um como outro blasfemavam; depois um deles, vendo os milagres, acreditou em Cristo.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



O Rosário: manifestação de amor


Jesus Cristo e a Igreja – 117

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

III. Desenvolvimento do tema da continência na Igreja latina

O Celibato no direito canónico clássico.

…/8

A continuidade da doutrina da Igreja na Idade Moderna

Note-se também que os Padres do Concílio de Trento, não só renovaram todas as obrigações nesta matéria, mas também se recusaram a declarar a lei do celibato da Igreja Latina como uma lei puramente eclesiástica, da mesma forma que haviam negado incluir a Virgem Maria sob a lei universal do pecado original.

Mas a decisão mais radical do Concílio de Trento para salvaguardar o celibato eclesiástico foi a fundação de Seminários para a formação de sacerdotes, que foi estabelecido pelo famoso cânone 18, da Sessão XXIII, e imposta a todas as dioceses. Os jovens deveriam ser eleitos para o sacerdócio, formados e fortalecidos para o ministério nesses Seminários.

Essa decisão providencial, que tornou-se realidade progressivamente em todos os lugares, permitiu à Igreja contar com tantos candidatos celibatários para os graus superiores do sagrado ministério, que, a partir de então, se pode ir prescindindo de ordenar homens casados, o que tinha sido um desejo explícito de muitos Padres conciliares.

Desde então, a noção de celibato até então dominante e muito presente na mentalidade dos fiéis, que incluía tanto a obrigação de continência completa no uso do matrimónio contraído antes da ordenação, bem como a proibição de se contrair novas núpcias, foi restringida a esta última.
Daí procede que hoje se entenda o dever do celibato eclesiástico só como proibição de se casar.

(revisão da versão portuguesa por ama)


Bento XVI – Pensamentos espirituais 93

As mãos de Deus

Estamos num mundo de medos: medo da miséria e da pobreza, medo das doenças e dos sofrimentos, medo da solidão e da morte.

Neste nosso mundo, temos um sistema de seguros muito desenvolvido...

Sabemos, no entanto, que não há seguro que nos proteja nos momentos de sofrimento profundo nem no momento derradeiro de solidão da morte.

Nesses momentos, o único seguro que nos pode valer é o que vem do Senhor, que nos diz também a nós:

«Não temas, eu estarei sempre contigo».

Podemos cair, mas caímos sempre nas mãos de Deus, ou seja, em boas mãos.

Homilia da Missa do IV Domingo do Advento, 18.Dez.05.

(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)


Temas para meditar - 642

Justiça


A história das almas mostra a verdade destas palavras de Jesus. 

Só o Evangelho apaga a sede de verdade e de justiça que desejam os corações sinceros.


(Bíblia Sagrada, anot. pela Fac. de Teologia da Univ. de Navarra, Comentário sobre Mt 11, 29)

30/05/2016

Reflexão no Ano Jubilar da Misericórdia – 5

[i] 
Próximos do próximo

Desta vez vou “meter-me” neste trecho de São Mateus personificando a figura do Rei.

Tenho por hábito – assim me ensinou o Rei meu Pai – acudir às necessidades dos meus súbditos e, por vezes, vou algo mais além do que seria aconselhável ou, até, prudente.

Aconteceu exactamente com um homem que, sei, possuía razoáveis meios de fortuna mas que por motivos que não averiguei se viu numa situação muito delicada.

Veio à minha presença várias vezes com pedidos de ajuda que nunca lhe neguei. Concedi-lhe sempre o que me pedia.

Acontece que ontem mesmo, o meu administrador veio ter comigo para me expor um problema que me deixou… atónito.
Começou por dizer-me que o erário real estava francamente desfalcado e que os empréstimos que vinha fazendo não poderiam continuar no mesmo ritmo e, sobretudo, montantes, sob pena de correr risco de forte recessão.
Concretamente referiu-me o tal servo de que falava cuja dívida atingia a enormidade de dez mil talentos!
Rapidamente fiz as ”contas”: Dez mil talentos, uns sessenta milhões de denários!
Sendo um denário o salário diário de um trabalhador…

Tive de reconhecer que me excedera e de algum modo não fora justo para com os outros meus súbditos entregando a um o que poderia ter repartido por muitos.

Mandei chamar o homem e, sem mais, disse-lhe que era tempo de me devolver o que lhe emprestara.
A reacção foi surpreendente: disse-me pura e simplesmente que não tinha como pagar-me.
Perguntei-lhe o que fizera com tanto dinheiro que lhe emprestara para reconstruir a sua vida, mas… não me deu resposta.

Ao meu ouvido o administrador dizia-me que este súbdito não era muito boa pessoa, descurava os seus deveres até para com a família e, tudo isto porque tinha o terrível vício da avareza. No fim e ao cabo o dinheiro que eu lhe dava graciosamente servia para empresta-lo a outros cobrando juros elevadíssimos, praticando uma usura miserável com o que não era de facto seu.

Fiquei naturalmente indignado e lavrei uma sentença que, em suma, decretava que se vendesse quanto tinha, se apreendessem todos os seus bens, se necessário vendessem a mulher e os filhos até reunir a quantia em dívida.

Mas o desgraçado – não posso chamar-lhe outra coisa – lavado em lágrimas e gemendo pediu-me encarecidamente que lhe desse um pouco mais de tempo, que conseguiria resolver a sua vida e reunir o necessário para satisfazer a dívida.

Tive pena do pobre homem, é verdade! Senti uma enorme pena de uma pessoa que, não obstante a sua má conduta, talvez merecesse que lhe concedesse o que me pedia.

Mas eu tinha bem a noção da enormidade da dívida e que nunca lhe seria possível devolver-me o que lhe emprestara.

Assim, para acabar com o assunto e na esperança que realmente se corrigisse, perdoei-lhe toda a dívida e mandei-o embora em paz.

Confesso que fiquei muito contente com a minha decisão, afinal de que me serve ser Rei se não posso fazer o que quero com o que é meu?

(ama, reflexões no Ano Jubilar da Misericórdia – 5)




[i] Mt 18,21-35

21 Então, aproximando-se d'Ele Pedro, disse: «Senhor, até quantas vezes poderá pecar meu irmão contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?». 22 Jesus respondeu-lhe: «Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23 «Por isso, o Reino dos Céus é comparável a um rei que quis fazer as contas com os seus servos. 24 Tendo começado a fazer as contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos. 25 Como não tivesse com que pagar, o seu senhor mandou que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo o que tinha, e se saldasse a dívida. 26 Porém, o servo, lançando-se-lhe aos pés, suplicou-lhe: “Tem paciência comigo, eu te pagarei tudo”. 27 E o senhor, compadecido daquele servo, deixou-o ir livre e perdoou-lhe a dívida. 28 «Mas este servo, tendo saído, encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários e, lançando-lhe a mão, sufocava-o dizendo: “Paga o que me deves”. 29 O companheiro, lançando-se-lhe aos pés, suplicou-lhe: “Tem paciência comigo, eu te pagarei”. 30 Porém ele recusou e foi mandá-lo meter na prisão, até pagar a dívida. 31 «Os outros servos seus companheiros, vendo isto, ficaram muito contristados e foram referir ao seu senhor tudo o que tinha acontecido. 32 Então o senhor chamou-o e disse-lhe: “Servo mau, eu perdoei-te a dívida toda, porque me suplicaste. 33 Não devias tu também compadecer-te do teu companheiro, como eu me compadeci de ti?”. 34 E o seu senhor, irado, entregou-o aos guardas, até que pagasse toda a dívida. 35 «Assim também vos fará Meu Pai celestial, se cada um não perdoar do íntimo do seu coração ao seu irmão»

Nota: Este trecho do Evangelho escrito por São Mateus também poderia ser o Evangelho “oficial” do Ano Jubilar da Misericórdia.

De facto, a parábola proferida por Jesus Cristo, põe-nos perante um autêntico quadro ou, melhor, perante um filme que se desenrola aos nossos olhos prendendo-nos a atenção e excitando os nossos sentidos.

São Josemaria recomendou: aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como um personagem mais. [i]

É isso mesmo que me proponho fazer.

Sob o Título: “Próximos do próximo (sugerido por um bom amigo) vou tentar personificar alguns dos personagens da parábola e, também, introduzir-me nela como observador directo.