Art.
11 — Se foi conveniente Cristo ser crucificado com os ladrões.
O undécimo discute-se assim. Parece
que não foi conveniente Cristo ter sido crucificado com os ladrões.
1. — Pois, diz o Apóstolo: Que união pode haver entre a justiça e a
iniquidade? Ora, Cristo nos tem sido
feito por Deus justiça, e dos ladrões é própria a iniquidade. Logo, não foi
conveniente que Cristo fosse crucificado junto com os ladrões.
2. Demais. — O Evangelho: Ainda que seja necessário morrer eu contigo,
não te negarei — diz Orígenes: Não
convinha a nenhum homem morrer com Jesus, que morreu por todos. E
comentando aquele outro lugar. - Eu estou
pronto a ir contigo, tanto para a prisão como a morrer, diz Ambrósio: A Paixão de Cristo tem imitadores, mas não
iguais. Logo, parece que era muito menos conveniente que Cristo sofresse
simultaneamente com os ladrões.
3. Demais. — O Evangelho diz num
lugar. Também os ladrões que haviam sido
crucificados com ele lhe diziam impropérios. E noutro lugar se refere que
um dos ladrões crucificados com Cristo lhe dizia: Senhor lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. Por onde se
vê que, além dos ladrões, que blasfemavam, foi crucificado com Cristo um que
não blasfemava. Logo, parece inexacto o narrado pelos evangelistas, que Cristo
foi crucificado com ladrões.
Mas, em contrário, a Escritura: E foi
posto no número dos malfeitores.
Cristo foi crucificado
entre os ladrões, por uma razão se considerarmos a intenção dos judeus, e por
outra, considerada a ordem de Deus: Assim, quanto à intenção dos judeus, crucificaram aos lados de Cristo dois
ladrões, como adverte Crisóstomo, para
que ele participasse da ignomínia deles. Contudo, àqueles ninguém se refere, ao passo que a cruz de Cristo é
honrada em toda parte. Os reis, depondo os seus diademas, assumem a cruz: no
meio das púrpuras, dos diademas, das armas, da mesa sagrada, em toda a parte do
mundo a cruz resplandece. Por outro lado, quanto à ordenação de Deus, Cristo foi crucificado entre ladrões, porque,
segundo diz Jerónimo, assim como Cristo
foi feito na cruz maldição por nós, assim, foi crucificado como criminoso entre
criminosos, para a salvação de todos. — Segundo, como diz Leão Papa, dois ladrões foram crucificados, um ao lado
direito e outro ao lado esquerdo de Cristo, a fim de que nesse espetáculo mesmo
do patíbulo se espelhasse aquela separação que ele próprio há-de fazer quando
vier a julgar os homens. E Agostinho diz: Se bem reflectires verás, que essa cruz foi um tribunal. O juiz está
posto no meio; o que acreditou foi salvo; o outro que insultou, foi condenado.
Por onde se vê o que Cristo fará um dia, dos vivos e dos mortos, colocando
aqueles à sua direita e os outros, à esquerda. — Terceiro, segundo Hilário, porque os dois ladrões, crucificados — um,
à direita, o outro à esquerda, mostram que toda a diversidade do género humano
é chamada a participar do mistério da paixão de Cristo. Mas como a divisão
entre fiéis e infiéis é correspondente aos lados direito e esquerdo, um dos
dois, o colocado à direita, foi salvo pela justificação da fé. — Quarto,
porque, como diz Beda, os ladrões
crucificados com o Senhor, simbolizam aqueles que, sob a fé e a confissão de
Cristo, sofrem a agonia do martírio, ou vivem sob as regras de uma disciplina
mais austera. E os que trabalham para a glória eterna são figurados pelo ladrão
da direita; ao passo que os de olhos postos na glória humana imitam os actos do
ladrão da esquerda.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Assim como Cristo não estava obrigado a morrer, mas sofreu a morte
voluntariamente para vencê-la com o seu poder, assim também não mereceu ser
crucificado com os ladrões, mas quis ser confundido com homens iníquos a fim de
destruir a iniquidade com a sua virtude. Donde o dizer Crisóstomo, que converter o ladrão na cruz e introduzi-lo no
Paraíso, não foi menos que fender rochedos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Não convinha que
ninguém sofresse com Cristo pela mesma causa. Por isso acrescenta Orígenes no
mesmo lugar: Todos eram pecadores e todos
tinham necessidade que um outro morresse por eles, mas não eles pelos outros.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como adverte
Agostinho, podemos entender que Mateus usou do número plural pelo singular, ao
narrar que os ladrões lhe diziam impropérios. - Ou podemos dizer segundo Jerónimo,
que a princípio tanto um como outro
blasfemavam; depois um deles, vendo os milagres, acreditou em Cristo.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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