Art.
4 – Se Cristo podia merecer para os outros.
O quarto procede-se assim. — Parece
que Cristo não podia merecer para os outros.
1 — Pois, diz a Escritura: A alma que pecar essa morrerá. Logo, e
pela mesma razão, a alma que merecer será remunerada. Logo, não é possível
tivesse Cristo merecido pelos outros.
2. Demais. — Todos nós participamos da
plenitude da graça de Cristo, diz o Evangelho. Ora, os outros homens, tendo a
graça de Cristo, não podem merecer pelos outros, segundo a Escritura: Se Noé, Daniel e Jó se acharem na cidade não
livrarão nem a seus filhos nem a suas filhas, mas eles livrarão as suas almas
pela sua própria justiça. Logo, também Cristo não podia merecer nada por
nós.
3. Demais. — A recompensa que merecemos é-nos devida por justiça e não por graça,
como o diz o Apóstolo. Se, pois, Cristo mereceu a nossa salvação, segue-se que
a nossa salvação não provém da graça de Deus, mas da sua justiça e que procede
injustamente com os que não salva, pois que o mérito de Cristo estende-se a
todos.
Mas, em contrário, o Apóstolo: Assim como pelo pecado de um só incorreram
todos os homens na condenação, assim também pela justiça de um só recebem todos
os homens a justificação da vida. Ora, o demérito de Adão redundou em
condenação dos outros. Logo, com maior razão, o mérito de Cristo deriva para os
demais.
Como dissemos, Cristo teve
a graça, não só como um homem particular, mas como cabeça de toda a Igreja, a
que todos estão unidos como os membros à cabeça, com o que se constitui misticamente
uma pessoa. Donde vem, que o mérito de Cristo se estende aos demais, como seus membros,
assim como num homem a acção da cabeça de algum modo pertencente a todos os
membros, pois, não sente só para si, mas por todos eles.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— O pecado de uma pessoa particular não é nocivo senão a si mesma, mas o pecado
de Adão, constituído por Deus princípio de toda a natureza, transmitiu-se aos
outros pela propagação da carne. E semelhantemente, o mérito de Cristo,
constituído por Deus, cabeça de todos os homens, quanto à graça, estende-se a
todos os seus membros.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Os outros
recebem da plenitude de Cristo, não certamente a fonte da graça, mas alguma
graça particular. Donde, não é necessário que os outros homens possam merecer para
os demais, como Cristo.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Assim como o
pecado de Adão não se transmite aos outros senão pela geração carnal, assim
também não se transmite aos outros o mérito de Cristo senão pela regeneração
espiritual, operada pelo baptismo, pelo qual nos incorporamos em Cristo,
segundo o Apóstolo: Todos os que fostes
baptizados em Cristo revestiste-vos de Cristo. E isto mesmo é uma graça, o
ser concedido ao homem regenerar-se em Cristo. E assim, a salvação do homem
provém da graça.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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