Quarta-Feira
(Coisas muito simples, curtas,
objectivas)
Propósito: Simplicidade e modéstia.
Senhor, ajuda-me a ser simples, a
despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos
meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.
Lembrar-me: Do meu Anjo da Guarda.
Senhor, ajuda-me a
lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão
excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas
alegrias e entristece-se com as minhas faltas.
Anjo da minha
Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu in-
teresse
e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser
tão
mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.
Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus
ontem?
|
Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
30/04/2014
Pequena agenda do cristão
Vidas de Santos
Nota
Histórica
Nasceu
perto de Alessândria (Itália) no ano 1504. Entrou na Ordem dos Pregadores e
ensinou Teologia. Consagrado bispo e elevado a cardeal, foi finalmente eleito
papa em 1566. Continuou decididamente a reforma da Igreja, iniciada no Concílio
Tridentino, promoveu a propagação da fé e reformou o culto divino. Morreu no
dia 1 de Maio de 1572.
Ressurreição
Ressuscitou! – Jesus ressuscitou. Não está no sepulcro. A Vida
pôde mais do que a morte. Apareceu a Sua Mãe Santíssima. – Apareceu a Maria de
Magdala, que está louca de amor. – E a Pedro e aos demais Apóstolos. – E a ti e
a mim, que somos Seus discípulos e mais loucos do que Madalena! Que coisas Lhe
dissemos!
Que nunca morramos pelo pecado; que seja eterna a nossa ressurreição
espiritual. – E, antes de terminar a dezena, beijaste as chagas dos Seus pés...
e eu, mais atrevido, – por ser mais criança – pus os meus lábios no Seu lado
aberto. (Santo Rosário, 1º mistério de glória)
O dia do triunfo de Nosso Senhor, da sua Ressurreição, é
definitivo. Onde estão os soldados que a autoridade tinha posto? Onde estão os
selos que tinham colocado sobre a pedra de sepulcro? Onde estão os que
condenaram o Mestre? Onde estão os que crucificaram Jesus?... Ante a sua
vitória, produz-se a grande fuga dos pobres miseráveis. Enche-te de esperança:
Jesus Cristo vence sempre. (Forja,
660)
Instaurare omnia in Christo, é o lema que S. Paulo dá aos cristãos
de Éfeso: dar forma a tudo segundo o espírito de Jesus; colocar Cristo na
entranha de todas as coisas: Si exaltatus fuero a terra, omnia traham ad
meipsum: quando Eu for levantado sobre a terra, tudo atrairei a mim. Cristo,
com a sua Encarnação, com a sua vida de trabalho em Nazaré, com a sua pregação
e os seus milagres por terras da Judeia e da Galileia, com a sua morte na Cruz,
com a sua Ressurreição, é o centro da Criação, Primogénito e Senhor de toda a
criatura.
A nossa missão de cristãos é proclamar essa Realeza de Cristo; anunciá-la
com a nossa palavra e com as nossas obras. O Senhor quer os seus em todas as
encruzilhadas da Terra. A alguns, chama-os ao deserto, desentendidos das
inquietações da sociedade humana, para recordarem aos outros homens, com o seu
testemunho, que Deus existe. Encomenda a outros o ministério sacerdotal. À
grande maioria, o Senhor quere-a no mundo, no meio das ocupações terrenas.
Estes cristãos, portanto, devem levar Cristo a todos os ambientes em que se
desenvolve o trabalho humano: à fábrica, ao laboratório, ao trabalho do campo,
à oficina do artesão, às ruas das grandes cidades e às veredas da montanha.
Gosto de recordar a este propósito o episódio da conversa de
Cristo com os discípulos de Emaús. Jesus caminha junto daqueles dois homens que
perderam quase toda a esperança, de modo que a vida começa a parecer-lhes sem
sentido. Compreende a sua dor, penetra nos seus corações, comunica-lhes algo da
vida que Nele habita. Quando, ao chegar àquela aldeia, Jesus faz menção de
seguir para diante, os dois discípulos retêm-No e quase O forçam a ficar com
eles. Reconhecem-No depois ao partir o pão: – O Senhor, exclamam, esteve
connosco! Então disseram um para o outro: Não é verdade que sentíamos abrasar-se-nos
o coração dentro de nós enquanto nos falava no caminho e nos explicava as
Escrituras? Cada cristão deve tornar Cristo presente entre os homens; deve
viver de tal maneira que todos com quem contacte sintam o bonus odor Christi, o
bom odor de Cristo, deve actuar de forma que, através das acções do discípulo,
se possa descobrir o rosto do Mestre. (Cristo que passa, 105)
Temas para meditar 91
Hedonismo
Quatro séculos antes de Cristo, já Aristipo de Cirene elaborava o primeiro esboço de moral hedonista, que é, afinal, o avesso da verdadeira moral. Para Aristipo, o bem supremo é o prazer. É ele, portanto, a regra única e inapelável da acção. Como nos simples animais, afinal, que não conhecem princípios superiores, visto não possuírem o espírito. Mas, porque o possuí, deve o homem dominar e dirigir, para o seu fim último, não só tudo quanto é inferior a ele, mas também quanto é inferior nele. De resto, mesmo no animal, nunca o prazer tem o carácter de fim. Ora, no hedonismo, seja qual for a forma que ele assuma na história, o prazer é, não só o fim, mas o fim supremo do homem. Como todos os hedonistas, porém, esquece Aristipo que também o prazer, como meio que é, ordenado a fins superiores, deve ser moralizado.
Quatro séculos antes de Cristo, já Aristipo de Cirene elaborava o primeiro esboço de moral hedonista, que é, afinal, o avesso da verdadeira moral. Para Aristipo, o bem supremo é o prazer. É ele, portanto, a regra única e inapelável da acção. Como nos simples animais, afinal, que não conhecem princípios superiores, visto não possuírem o espírito. Mas, porque o possuí, deve o homem dominar e dirigir, para o seu fim último, não só tudo quanto é inferior a ele, mas também quanto é inferior nele. De resto, mesmo no animal, nunca o prazer tem o carácter de fim. Ora, no hedonismo, seja qual for a forma que ele assuma na história, o prazer é, não só o fim, mas o fim supremo do homem. Como todos os hedonistas, porém, esquece Aristipo que também o prazer, como meio que é, ordenado a fins superiores, deve ser moralizado.
(A. Veloso, BROTÉRIA, Vol. LXX, nr. 6, nr. 666)
Tratado dos vícios e pecados 75
Art.
6 — Se a morte e as demais misérias do corpo são naturais ao homem.
(IIª-IIªª,
q. 164, a. 1, ad 1; II Sent., dist. XXX, q. 1, a. 1; III. Dist. XVI q. 1. a. 1;
IV, dist. XXXVI, a. 1, ad 2; IV Cont. Gent., cap. LII; De Malo, q. 5. a. 5; Ad
Rom., cap. V, lect III; Ad Hebr., cap. IX, lect. V).
O sexto discute-se assim. — Parece que
a morte e as demais misérias do corpo são naturais ao homem.
1. — Pois, o corruptível difere
genericamente do incorruptível, como diz Aristóteles. Ora, o homem é do mesmo género
que os brutos, que são naturalmente corruptíveis. Logo, também ele é
naturalmente corruptível.
2. Demais. — Tudo o que é composto de
princípios contrários é corruptível, quase tendo em si mesmo a causa da
corrupção própria. Ora, tal é o corpo humano. Logo ele é naturalmente
corruptível.
3. Demais. — O quente naturalmente
consome o húmido. Ora, a vida humana conserva-se pelo calor e pela humidade. E
como as operações vitais se exercem pelo acto do calor natural, como diz
Aristóteles, resulta que a morte e as demais misérias do corpo são naturais ao
homem.
Mas, em contrário. — 1. Tudo o natural
ao homem foi Deus quem o fez. Ora, Deus não fez a morte, como diz a Escritura
(Sb 1, 13). Logo, ela não é natural ao homem.
2. Demais. — O conforme à natureza não
pode ser considerado pena nem mal, a todo ser é conveniente o que lhe é
natural. Ora, a morte e as demais misérias do corpo são a pena do pecado
original, como já se disse (a. 5). Logo, não são naturais ao homem.
3. Demais. — A matéria proporciona-se
à forma, e todas as coisas, ao seu fim. Ora, o fim do homem é a bem-aventurança
perpétua, como já se disse (q. 2, 7; q. 5, a. 3-4). E também a forma do corpo
humano é a alma racional, que é incorruptível, como já se demonstrou na
Primeira Parte (q. 75, 6). Logo, o corpo humano é naturalmente incorruptível.
Podemos considerar um ser
corruptível de dois modos: relativamente à natureza universal, e à particular.
— A natureza particular é a virtude activa e conservativa própria do ser. E
sendo assim, toda corrupção e deficiência é contra a natureza, como diz
Aristóteles; pois, a virtude referida busca a existência e a conservação do ser
a que pertence.
Por outro lado, a natureza universal é
a virtude activa existente num princípio universal da natureza, p. ex., em
algum dos corpos celestes ou em alguma substância superior, o que leva alguns a
darem a Deus a denominação de natureza naturante. E essa virtude busca o bem e
a conservação do universo, exigindo esta última que se alternem a geração e a
corrupção das coisas. E sendo assim, as corrupções e as deficiências dos seres
são naturais; não certamente pela inclinação da forma, princípio da existência
e da perfeição; mas pela da matéria, atribuída proporcionalmente a uma
determinada forma, conforme a distribuição do agente universal. E embora toda
forma tenda a perdurar no ser, o quanto possível perpetuamente, contudo nenhuma
forma de ser corruptível pode conseguir a perpetuidade de existência. Excepto a
alma racional, por não estar, como as outras formas, sujeita de modo nenhum à
matéria corpórea; antes, é dotada da sua actividade imaterial própria, como já
demonstramos na Primeira Parte (q. 75, a. 2). Donde, quanto à sua forma, é
natural ao homem, mais que aos outros seres corruptíveis, a incorrupção. Mas
como essa forma está ligada à matéria, composta de princípios contrários, da
inclinação da matéria resulta a corruptibilidade do todo. E a esta luz, o homem
é naturalmente corruptível, segundo a natureza da matéria, abandonada a si
mesma, e não segundo a natureza da forma.
Ora, as três primeiras objecções fundam-se
na matéria; e as outras três, na forma. Por onde, para solvê-las, devemos
considerar que a forma do homem, a alma racional, é, pela sua
incorruptibilidade, proporcionada ao seu fim, que é a felicidade perpétua. O
corpo humano porém, corruptível, considerado na sua natureza, é de certo modo
proporcionado à sua forma, e naturalmente, outro, não. Pois, podemos levar em
conta, em qualquer matéria, uma dupla condição: escolhida pelo agente, e a não
escolhida, por se fundar na condição natural da matéria. Assim, o ferreiro,
para fazer uma faca, escolhe matéria dura e dúctil, capaz de adelgaçar-se e
tornar-se apta à incisão. E nessas condições o ferro é matéria proporcionada à
faca. Mas, pela sua natural disposição, o ferro é frágil e contrai a ferrugem;
e essa disposição não a escolhe o artífice, antes a repudiaria, se pudesse. Donde,
tal disposição da matéria não é proporcionada à intenção do artífice nem ao fim
da arte. Semelhantemente, o corpo humano é pela sua compleição equilibrada, a
matéria escolhida pela natureza para órgão convenientíssimo ao tacto e às
outras potências sensitivas e motoras. Mas é corruptível, por causa da condição
da matéria. E essa corruptibilidade a natureza não a escolheu; antes, se
pudesse, escolheria matéria incorruptível. Deus porém, a quem está sujeita toda
a natureza, supriu, na instituição do homem, essa deficiência da natureza,
dando ao corpo uma certa incorruptibilidade, pelo dom da justiça original, como
dissemos na Primeira Parte (q. 97, a. 1). E por isso se diz que Deus não fez a
morte, e que a morte é a pena do pecado.
Donde é clara a RESPOSTA ÀS OBJECÇÕES.
.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Evangelho do dia, comentário e Leitura espiritual (Humildade)
Tempo de Páscoa
II Semana
|
Vd santos do dia (nesta página)
Evangelho: Jo 3,
16-21
16
«Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu Seu Filho Unigénito, para
que todo aquele que crê n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porque
Deus não enviou Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo
seja salvo por Ele. 18 Quem n'Ele acredita, não é condenado, mas quem não
acredita, já está condenado, porque não acredita no nome do Filho Unigénito de
Deus. 19 A condenação é por isto: A luz veio ao mundo e os homens amaram mais
as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. 20 Porque todo aquele
que faz o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de que não sejam
reprovadas as suas obras; 21 mas aquele que procede segundo a verdade, chega-se
para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas segundo
Deus».
Comentário:
E perigoso!
Triste
porque, sem luz não vemos por onde vamos e não podemos ser vistos. Ficamos
assim, erráticos e sozinhos.
Perigoso, porque
muito dificilmente evitaremos obstáculos perigosos ou precipícios mortais.
Sem luz
ficamos nas trevas e, nas trevas não há vida!
(ama, comentário sobre Jo
3, 16-21, 2012.03.18)
Humildade
A
humildade mantém a direção da intencionalidade pessoal de fundo para o valor e
para o amor, sem o qual até o que aparentemente é virtude pode não o ser na
realidade.
1. A humildade como
virtude moral
As
virtudes morais são hábitos que gravam firmemente, na pessoa que as possui, os
critérios reguladores das tendências humanas, de modo que os impulsos e os atos
que procedem delas, nem excedam nem fiquem abaixo da medida requerida para o
bem próprio e o bem dos outros. Como a sobriedade regula a tendência para a
alimentação, e a castidade modera a tendência sexual, a humildade regula duas
importantes tendências do indivíduo: a necessidade de reconhecimento e de
estima dos outros, e o sentimento do próprio valor (autoestima) 1.
São duas tendências que fazem parte da condição humana: existem em todo o ser
humano, e não se podem nem devem suprimir-se, como também não é possível
eliminar a alimentação e a tendência sexual. A sua real educação é extremamente
importante para preservar o equilíbrio e o crescimento moral pessoal e,
indiretamente, a boa ordem das relações interpessoais, pois as injustiças, a
violência, os fracassos matrimoniais e os conflitos no campo profissional, para
citar só alguns exemplos, são frequentemente consequência do orgulho, da
suscetibilidade, ou do rancor. Também nas relações do homem com Deus a
humildade desempenha um papel importante: a vida espiritual pressupõe uma ideia
adequada da posição que o homem tem perante Deus.
A
humildade tem sido muitas vezes mal interpretada e até considerada uma
qualidade negativa e desprezível, própria de moral de escravos, ou o resultado
do ressentimento dos fracos. Que alguém queira fazer passar por humildade
formas falsas de compensar debilidades e desequilíbrios, é de facto
perfeitamente possível, como é possível que se pretendam disfarçar
comportamentos viciosos sob o nome de qualquer outra virtude (a prepotência
pode dissimular-se sob o aspeto da dignidade ou da justiça e a cobardia como
bondade, etc.). Mas isso, nada tem a ver com la humildade que responde à
inegável necessidade de regular e educar duas tendências fundamentais que tem
todo o ser humano.
2. Importância e tarefas
da humildade
É
possível investigar, historicamente e também a partir da análise teórica, qual
tem sido a situação da humildade fora do cristianismo. Na antiguidade pagã a
humildade era mais vista como um vício que como uma virtude, embora haja
algumas exceções. Mas deixando de lado essa questão, é preferível parar para
mostrar quais são as suas raízes antropológicas, antes de ver as formas
próprias da humildade como virtude cristã.
A
regulação ética das duas tendências a que se refere a humildade, consiste em
ajustá-las à realidade de cada pessoa, considerando-a em si mesma ou vista no
seu ambiente familiar, profissional e social, mas também na sua relação com
Deus. Aristóteles assim o vê quando escreve: O que merece e pretende coisas
pequenas, é modesto (...). Aquele que, sendo indigno, se julga a si mesmo digno
de coisas grandes, é vaidoso (...) O que se julga menos digno do que vale, é
pusilânime (fraqueza de ânimo ou cobardia), quer seja muito ou regular o que
mereça, ou pouco e creia que merece ainda menos 2. O importante não
é aspirar a muito ou a pouco, mas em cada caso ao que é razoável segundo uma
apreciação objetiva e serena da realidade, não forçada pela paixão.
A
humildade é importante, não tanto por realizar positivamente alguma das
dimensões do bem humano, mas porque a ela lhe corresponde proteger as
realizações do conhecimento, do amor, do trabalho, etc., de deformações, que
podem privá-las do seu verdadeiro valor. O orgulhoso é egocêntrico e
dificilmente é capaz de amar verdadeiramente; vê o trabalho profissional apenas
como uma forma de autoafirmação, e não como uma modalidade de
auto-transcendência que enriquece o mundo e contribui para o bem dos outros
É
natural no homem a capacidade de olhar para si mesmo, como se olha para alguém
que é portador de um valor. Do ponto de vista evolutivo, a percepção do próprio
valor passa através do julgamento que merecemos ante os nossos semelhantes
(pais, amigos, etc.). O ser humanos precisa de um certo reconhecimento alheio,
e isso reflete a tendência que chamamos necessidade de autoestima. Com o
desenvolvimento psicológico e moral, a pessoa, mesmo sem poder, nem dever, ser
completamente indiferente às reações que o nosso ser ou o nosso comportamento
causam nos outros, adquire uma maturidade de avaliação suficiente para formar
uma imagem realista de si mesma e do próprio valor (autoestima), conhecendo as
qualidades positivas e negativas, o que se é, e o que se pode chegar a ser. Na
medida em que o sentimento do próprio valor depende de um juízo próprio,
objetivo e realista, a pessoa pode representar adequadamente as suas relações
com os outros (dependência - independência, liberdade - autoridade, etc.).
A
deterioração da razoável direção (da humildade) pode afectar as duas tendências
mencionadas: a necessidade de estima, quando a pessoa não adquire um
distanciamento suficientemente equilibrado do julgamento dos outros; a autoestima
quando, mesmo dispondo de suficiente autonomia de julgamento, este baseia-se
sobre uma percepção pouco realista do próprio valor, seja por excesso, seja por
defeito.
A
dependência excessiva do julgamento dos outros dá origem a fenómenos como a ânsia
de notoriedade, vaidade, teimosia e rigidez, isolamento, simulação de doença,
etc. Todos eles implicam sofrimento para quem o padece, e muitas vezes, também
para os outros. O desejo de notoriedade é típico de uma personalidade frágil e
imatura que precisa de sentir-se, constantemente, aprovada e elogiada por
aqueles que estão à sua volta. Busca satisfazer essa necessidade por todos os
meios ao seu alcance: usa os seus bens, e instrumentaliza o seu saber e o seu
trabalho, para conseguir o prestígio e a estima pública; ou quer dar que falar,
mediante condutas chamativas ou mesmo absurdas; ou busca a aprovação do grupo,
aceitando as ideias e os costumes dominantes, embora contrários às suas
próprias convicções profundas. Outras vezes opta pela vaidade, ou seja,
aparenta o que não é, adotando com esse objetivo comportamentos falsos ou pouco
autênticos. Quando tem de trabalhar sob a autoridade de outros, ou em estreita
colaboração com eles, chama a atenção sobre si mesmo mediante a teimosia, a
intransigência ou a rigidez. Em casos extremos, busca a atenção ou o afeto dos
outros, simulando uma doença e estando conscientes da astúcia, ou perdendo até
essa consciência (fenómenos do tipo histérico). Quem sofre estas deformações
acaba por arruinar as suas relações sociais e a sua sensibilidade ante os
valores objetivos. A pessoa está sempre ocupada consigo mesma, porque o seu
desordenado desejo de estima é insaciável. No outro extremo, tão pouco seria
justo que uma pessoa não fosse suficientemente sensível ante as reações que
produz nos outros, o que levaria a contínuas faltas de atenção, de respeito ou
de educação.
O
segundo problema ocorre quando o sentimento de autoestima depende de uma
avaliação autónoma, mas não suficientemente realista. Surgem então os sentimentos,
bastante irracionais de inferioridade e insegurança num extremo, ou no outro
extremo de orgulho e autossuficiência. A personalidade do orgulhoso é diversa
da condicionada pelo afã de notoriedade. Por detrás deste último fenómeno,
apesar das aparências, esconde-se uma personalidade frágil e pobre, que
frequentemente se tortura com comparações e invejas. O orgulhoso tem por sua
vez uma personalidade dura, geradora de conflitos, com frequência agressiva ou
violenta: julga tudo e todos (espírito crítico); pensa que tem sempre razão;
sente-se superior a tudo e a todos; talvez recompense quem se lhe submete, mas
dificilmente ama e se entrega a alguém; e apesar de temido dificilmente pode
ser amado. Apenas se admira e respeita a si mesmo: tende para o narcisismo. O
orgulhoso é muitas vezes susceptível ou arrogante. Tem conflitos com os outros
e com a própria realidade, porque o seu nível de aspirações é superior às suas
verdadeiras capacidades. Às vezes, as suas capacidades são realmente elevadas,
mas falta-lhe a sabedoria para governar e evitar o que lhe vai subindo à
cabeça.
Esta
breve descrição mostra a importância da humildade para o equilíbrio e
desenvolvimento pessoal, e também a sua dificuldade. A humildade mantém a
direção da intencionalidade pessoal de fundo para o valor e para o amor, sem o
qual até o que aparentemente é virtude pode não o ser na realidade. A
dificuldade da humildade está em que as tendências que regula não se podem
suprimir nem dominar com a vontade. Devem ser educadas, ou seja, ajustadas à
realidade e abertas à participação, ao serviço e ao amor. Não é possível
deixar, completamente, de se olhar a si mesmo, mas pode aprender-se a fazê-lo
com uma mistura de realismo e sentido de humor, sobretudo sem que se oculte a
percepção do que está fora e do que está por cima de nós, pois nessa dimensão
adquire sentido tanto o que somos como o que não somos.
3. A virtude cristã da
humildade
Não
é possível deter-se no estudo dos muitos aspetos em que a humildade aparece no
Antigo Testamento. A ideia predominante está ligada à profissão da fé em Deus,
que nas suas intervenções na história dos homens abate os soberbos, enquanto
escolhe e resgata os humildes e os que foram humilhados. É a ideia que
reaparece no cântico de la Mãe de Jesus: o Senhor olhou para sua pobre serva,
manifestou o poder do seu braço, desconcertou os corações dos soberbos.
Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes 3, assim como
na Primeira Carta de S. Pedro e na de S. Tiago 4. Mas a razão de
fundo dos ensinamentos do Novo Testamento sobre a humildade está em que Jesus
Cristo andou pelos caminhos da humildade; que Ele mesmo Se propõe como exemplo
quando diz: recebei a minha doutrina, porque Eu sou manso e humilde de coração 5,
e que S. Pablo ilustra no hino de la Carta aos Filipenses 6. Esta
dinâmica de humilhação e exaltação inspira os ensinamentos do Senhor quando
convida a não escolher para si os primeiros lugares 7, na parábola
do fariseu e do publicano 8, na exortação para sermos como meninos9,
em diversos discursos polémicos contra os chefes do povo 10, e na
recomendação de servir aos demais e não se deixar servir por eles 11.
O
critério, segundo o qual a virtude cristã da humildade regula as tendências
humanas de que vimos falando, continua a ser o da verdade. A humildade não
tolera a falsidade acerca das próprias qualidades positivas ou negativas. Mas à
luz dos ensinamentos do Senhor é possível compreender com maior exactidão qual
é a nossa verdadeira posição ante Deus e ante os demais. O cristão está bem
consciente de que tudo recebeu gratuitamente de Deus, tanto o ser e a vida,
como a justiça e a graça. Com a sua doutrina acerca da justificação, S. Paulo
põe em evidência que, vendo as coisas em toda a sua profundidade, não existe em
nós nenhuma verdadeira justiça, senão aquela pela qual Deus mesmo nos faz
justos por meio de Jesus Cristo. Nada temos que não tenhamos recebido 12.
Somente nos podemos gloriar da Cruz de Cristo 13. Quaisquer que
sejam as nossas obras, corresponde-nos assumir diante de Deus uma atitude, de
profunda adoração e de amorosa gratidão, porque só em virtude da sua gratuita
ação salvífica em Cristo podemos ser por Ele aceites. Qualquer atitude
presumida e de autossuficiência nos privaria da sua graça e deixar-nos-ia
encerrados na nossa pobre miséria. A humildade vem a ser assim a outra face do
amor de Deus, a da caridade. O orgulhoso nem ama a Deus, nem consegue receber o
amor que Deus lhe dá. Deo omnis gloria: para Deus toda a glória; isso significa
que nada temos de bom que não venha de Deus, Verdade e Amor subsistente.
A
humildade ensinada pelo Senhor é também o outro lado da caridade para com o
próximo. Quem está consciente de ser nada diante da majestade de Deus, evita o
orgulho e o desprezo dos outros, sabe compreender os outros, incluindo os seus
erros. Somente alguém que pensa que nunca se equivocou, se horroriza com os
erros dos outros (se os outros fossem como eu, as coisas não iriam tão mal). A
humildade é em todo o caso verdade, verdadeiro conhecimento de si mesmo, e por
isso não impede reconhecer as boas qualidades que se possuem, mas leva a não
esquecer que foram recebidas de Deus como dons para pôr generosamente ao
serviço dos outros. O Senhor condena a falsa humildade de quem esconde o
talento recebido 14, que se devia ter feito frutificar ao serviço de
Deus e dos demais. Essa fecundidade chega através da direção espiritual, onde o
Espirito Santo modela a alma: sicut lutum in manus figuli 15 (como o
barro nas mãos do oleiro). Os ensinamentos de S. Paulo acerca dos fortes e dos
débeis na fé e na ciência 16 mostram, eloquentemente, que as
próprias qualidades e até o bem precioso da legítima liberdade cristã, não se
hão-de ver como barreira que nos protege das exigências dos demais, mas como um
recurso que se põe gostosamente ao seu serviço. Cristo carregou sobre si o peso
dos nossos pecados, entregando a sua vida por nós, e também assim nos deu o
exemplo da humildade de coração.
Em
termos práticos a humildade tem múltiplas manifestações, que não é possível
tratar aqui em detalhe. Sobre elas escreveram coisas de grande valor os Padres
da Igreja, os Santos e os que se têm ocupado ao longo da história da teologia
espiritual. Para concluir estas reflexões, limitar-nos-emos a reproduzir uma
página de S. Josemaria Escrivá, cuja eloquência torna inútil quaisquer
comentário. Deixa-me que te recorde, entre outros, alguns sinais evidentes de
falta de humildade:
-
pensar que o que fazes ou dizes está mais bem feito ou mais bem dito do que o
que os outros fazem ou dizem;
-
querer levar sempre a tua avante;
-
discutir sem razão ou, quando a tens, insistir com teimosia e de maus modos;
-
dar a tua opinião sem ta pedirem ou sem a caridade o exigir;
-
desprezar o ponto de vista dos outros;
-
não encarar todos os teus dons e qualidades como emprestados;
-
não reconhecer que és indigno de toda a honra e estima, inclusive da terra que
pisas e das coisas que possuis;
-
citar-te a ti mesmo como exemplo nas conversas;
-
falar mal de ti mesmo, para fazerem bom juízo de ti ou te contradizerem;
-
desculpar-te quando te repreendem;
-
ocultar ao Director algumas faltas humilhantes, para que não perca o conceito
que faz de ti;
-
ouvir com complacência quem te louva, ou alegrar-te por terem falado bem de ti;
-
doer-te que outros sejam mais estimados do que tu;
-
negar-te a desempenhar ofícios inferiores;
-
procurar ou desejar singularizar-te;
- insinuar na conversa palavras de louvor
próprio, ou que dão a entender a tua honradez, o teu engenho ou destreza, o teu
prestígio profissional...;
- envergonhar-te por careceres de certos
bens... 17.
a. rodríguez
luño
2012/03/16
29/04/2014
Morte de Jesus na Cruz
Textos de S. Josemaria sobre o 5º mistério
doloroso
Jesus Nazareno, Rei dos Judeus, já tem preparado o trono
triunfador. Tu e eu não O vemos contorcer-Se, ao ser pregado; sofrendo tudo
quanto se pode sofrer, estende os braços num gesto de Sacerdote Eterno... Os
soldados tomam as vestes e fazem quatro partes. – Para não dividirem a túnica,
sorteiam-na entre eles para ver a quem caberá. – E assim, uma vez mais, se
cumpre a Escritura que diz: Repartiram entre si as Minhas vestes e lançaram
sortes sobre elas (Jo XIX, 23 e 24).
Já está no alto. – E, junto de seu Filho, ao pé da Cruz, Santa
Maria... e Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. E João, o discípulo que
Ele amava, Ecce mater tua! – Aí tens a tua Mãe! Dá-nos a Sua Mãe por Mãe nossa.
Tinham-Lhe oferecido antes vinho misturado com fel, mas, tendo o
provado, não o bebeu (Mt XXVII, 34). Agora tem sede... de amor, de almas.
Consummatum est. – Tudo está consumado (Jo XIX, 30). Menino pateta, olha: tudo
isto..., tudo isto sofreu por ti... e por mim. – Não choras?
Agora crucificam o Senhor e, junto d'Ele, dois ladrões, um à
direita e outro à esquerda. Entretanto, Jesus diz:
– Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc XXIII, 34).
Foi o Amor que levou Jesus ao Calvário. E, já na Cruz, todos os
Seus gestos e todas as Suas palavras são de amor, de amor sereno e forte.
Com gesto de Sacerdote Eterno, sem pai nem mãe, sem genealogia
(cfr. Heb VII, 3), abre os Seus braços à humanidade inteira.
Juntamente com as marteladas que pregam Jesus, ressoam as palavras
proféticas da Escritura Santa: trespassaram as Minhas mãos e os Meus pés,
contaram todos os Meus ossos. E eles mesmos olham para Mim e contemplam (SI
XXI, 17-18).
– Ó Meu Povo! Que te fiz Eu ou em que te contristei? Responde-Me
(Miq VI, 3) !
E nós, despedaçada a alma pela dor, dizemos sinceramente a Jesus:
sou Teu e entrego-me a Ti e cravo-me na Cruz gostosamente, sendo, nas
encruzilhadas do mundo, uma alma entregue a Ti, à Tua glória, à Redenção, à
co-redenção da humanidade inteira
(Via Sacra, 11ª estação)
Tenho ainda a propor-vos uma outra consideração: devemos lutar sem
descanso por fazer o bem, precisamente por sabermos que nos é difícil, a nós,
homens, decidirmo-nos a sério a exercer a justiça, e é muito o que falta para
que a convivência terrena esteja inspirada pelo amor e não pelo ódio ou pela
indiferença. Não esqueçamos também que, mesmo que consigamos atingir um estado
razoável de distribuição dos bens e uma harmoniosa organização da sociedade,
não há-de desaparecer a dor da doença, da incompreensão ou da solidão, a dor da
experiência dos nossas próprias limitações.
Em face dessas penas, o cristão só tem uma resposta autêntica, uma
resposta definitiva: Cristo na Cruz, Deus que sofre e que morre, Deus que nos
entrega o seu Coração, aberto por uma lança, por amor a todos. Nosso Senhor
abomina as injustiças e condena quem as comete. Mas, como respeita a liberdade
das pessoas, permite que existam. Deus Nosso Senhor não causa a dor das
criaturas, mas tolera-a como parte que é – depois do pecado original – da
condição humana. E, no entanto, o seu Coração, cheio de amor pelos homens,
levou-O a tomar sobre os seus ombros, juntamente com a Cruz, todas essas
torturas: o nosso sofrimento, a nossa tristeza, a nossa angústia, a nossa fome
e sede de justiça.
A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de fáceis consolações.
Começa logo por ser uma doutrina de aceitação do sofrimento, inseparável de
toda a vida humana. Não vos posso esconder – e com alegria pois sempre preguei
e procurei viver a verdade de que, onde está a Cruz está Cristo, o Amor – que a
dor apareceu muitas vezes na minha vida; e mais de uma vez tive vontade de
chorar. Noutras ocasiões, senti crescer em mim o desgosto pela injustiça e pelo
mal. E soube o que era a mágoa de ver que nada podia fazer, que, apesar dos
meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar aquelas situações
iníquas.
Quando vos falo de dor, não vos falo apenas de teorias. Nem me limito
a recolher uma experiência de outros, quando vos confirmo que, se sentis,
diante da realidade do sofrimento, que a vossa alma vacila algumas vezes, o
remédio que tendes é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que
as aflições hão-de ser santificadas, se vivermos unidos à Cruz.
Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, se convertem em
reparação, em desagravo, em participação no destino e na vida de Jesus, que
voluntariamente experimentou, por amor aos homens, toda a espécie de dores,
todo o género de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado,
insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o
abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da
morte. Ainda agora, Cristo continua a sofrer nos seus membros, na Humanidade
inteira que povoa a Terra e da qual Ele é Cabeça e Primogénito e Redentor.
A dor entra nos planos de Deus. Ainda que nos entendê-la, é esta a
realidade. Também Jesus, como homem, teve dificuldade em admiti-la: Pai, se é
possível, afasta de Mim este cálice! Não se faça, porém, a minha vontade, mas a
tua! . Nesta tensão entre o sofrimento e a aceitação da vontade do Pai, Jesus
vai serenamente para a morte, perdoando aos que O crucificaram.
Ora, esta aceitação sobrenatural da dor pressupõe, por outro lado,
a maior conquista. Jesus, morrendo na Cruz, venceu a morte. Deus tira da morte
a vida. A atitude de um filho de Deus não é a de quem se resigna à sua trágica
desventura; é, sim, a satisfação de quem já antegoza a vitória. Em nome desse
amor vitorioso de Cristo, nós, os cristãos, devemos lançar-nos por todos os
caminhos da Terra, para sermos semeadores de paz e de alegria, com a nossa
palavra e nossas obras. Temos de lutar – é uma luta de paz – contra o mal,
contra a injustiça, contra o pecado, para proclamarmos assim que a actual
condição humana não é a definitiva; o amor de Deus, manifestado no Coração de
Cristo, conseguirá o glorioso triunfo espiritual dos homens. (Cristo que passa, 168)
Subscrever:
Mensagens (Atom)