A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A.
O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
27 Voltaram a Jerusalém. E, andando Jesus pelo templo, aproximaram-se
d'Ele os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos, 28 e
disseram-Lhe: «Com que autoridade fazes Tu estas coisas? E quem Te deu o
direito de as fazer?». 29 Jesus disse-lhes: «Eu também vos farei uma
pergunta; respondei-Me e Eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. 30
O baptismo de João era do céu ou dos homens? Respondei-Me». 31 Mas
eles discorriam entre si: «Se respondermos que era do céu, Ele dirá: “Porque
razão, então, não crestes nele?”. 32 Responderemos que é dos homens?...».
Temiam o povo, porque todos tinham a João como um verdadeiro profeta. 33
Então responderam a Jesus: «Não sabemos». E Jesus disse-lhes: «Pois nem Eu vos
digo com que autoridade faço estas coisas».
12 1 E começou a falar-lhes por parábolas: «Um homem plantou uma vinha,
cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, edificou uma torre e arrendou-a a
uns vinhateiros, e ausentou-se daquele país. 2 Chegado o tempo,
enviou aos vinhateiros um servo para receber deles a sua parte dos frutos da
vinha. 3 Mas eles, apanhando-o, bateram-lhe, e mandaram-no embora de
mãos vazias. 4 Enviou-lhes de novo outro servo, e também a este o
feriram na cabeça, e o carregaram de injúrias. 5 Enviou de novo
outro, e mataram-no. Assim fizeram a muitos outros, dos quais bateram nuns e
mataram outros. 6 «Tendo ainda um filho muito amado, também o enviou
por último, dizendo: “Respeitarão o meu filho”. 7 Porém, aqueles
vinhateiros disseram uns para os outros: “Este é o herdeiro, vinde, matêmo-lo e
será nossa a herança”. 8 Pegaram nele, mataram-no, e lançaram-no
fora da vinha. 9 «Que fará, pois, o senhor da vinha? Virá,
exterminará os vinhateiros e dará a vinha a outros. 10 Vós nunca
lestes este passo da Escritura: “A pedra que fora rejeitada pelos que
edificavam, tornou-se pedra angular. 11 Pelo Senhor foi feito isto,
e é coisa maravilhosa aos nossos olhos”». 12 Procuravam apoderar-se
d'Ele, mas temeram o povo. Tinham compreendido bem que dissera esta parábola
contra eles. E, deixando-O, retiraram-se.
JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR
Iniciação à Cristologia
O
concílio III de Constantinopla (ano 681).
Quando
mudou a situação politico-religiosa do império convocou-se um concílio
ecuménico. Este concílio, sexto ecuménico y III de Constantinopla, condenou o
monotelismo e o monoergismo, e definiu solenemente que se «dão n’Ele (Cristo)
duas vontades naturais e duas operações naturais, sem divisão, sem mudança, sem
separação, sem confusão»[1]
Em
Constantinopla ficou claro que não é suficiente a confissão da integridade da
natureza humana de Cristo se se a considerar só como elemento passivo e inerte
nas mãos do Verbo, como uma simples fachada humana do Filho de Deus.
Este
concílio também ensinou que essas duas vontades e operações de Cristo não se
contrapõem, mas que se dão unidas: o humano está sujeito e segue o divino.
2. A vontade humana de Cristo
a) A existência de uma vontade humana de Cristo
O Verbo
assumiu uma natureza humana perfeita; e a vontade livre pertence, e de modo
essencial, á integridade e perfeição da natureza. Portanto, Jesus tem uma
vontade racional humana, a faculdade que inclina para o bem conhecida por
inteligência.
Certamente
que a pessoa é «quem» quer e actua, mas fá-lo segundo a forma e poder da sua
natureza.
Portanto,
Jesus Cristo é quem quer segundo cada uma das suas naturezas: tem um querer
divino comum com o pai e o Espírito Santo, próprio da natureza divina; e tem
outro querer humano, próprio da sua assumida natureza humana, que não partilha
com o Pai ou o Espírito Santo.
Os
monoteletistas pensavam que a humanidade de Cristo era um instrumento do Verbo
que era unicamente movido pela divindade e não se determinava por si mesmo.
E
enganavam-se, porque a humanidade de Jesus Cristo é um instrumento racional e
livre, não inerte ou inanimado, que se move segundo o sue próprio modo de ser:
move-se pela sua própria vontade humana a seguir o querer divino[2]
b) A liberdade humana de Cristo
A liberdade humana de Cristo aparece
explicitamente assinalada em alguns textos do Novo Testamento.
Por
exemplo, quando diz: «Dou a minha vida para tomá-la de novo. Ninguém ma tira,
mas sou eu que a dou livremente. Tenho poder para a dar e tenho poder para a
recuperar» (Jo 10,17-18; cf. Mc 3,13).
A
existência de uma liberdade humana também é assinalada implicitamente quando se
afirma que Jesus obedeceu a seu pai, ou que se ofereceu por nós em sacrifício
(cf. Ef 5,2), ou que mereceu por mós (cf. Flp 2,5-11); e sem liberdade não é
possível obedecer nem merecer.
O Magistério da Igreja também ensinou
expressamente a voluntariedade e a liberdade com que Cristo se entregou por nós[3].
Ora bem, que Cristo fosse livre não
significa que pudesse pecar, pois a liberdade não consiste em poder eleger o
bem ou o mal.
Assim
como o erro não aperfeiçoa a inteligência nem é conforme a ela, eleger o mal ou
pecar não aperfeiçoa a vontade nem é conforme a ela, ainda que mostre que o
homem é livre. A liberdade consiste no modo que a vontade tem de querer o bem:
em querer o bem por si mesma e não arrastada por nenhum outro factor interno ou
externo.
Como diz
São Tomás: «Livre é o que é causa de si mesmo»[4].
c) A sua livre obediência à vontade do Pai. Em
Jesus Cristo não houve oposição entre a vontade humana e a divina
O III concílio de Constantinopla confessa
que a vontade humana de Cristo sempre «segue a sua vontade divina sem lhe fazer
resistência ou oposição, mas sim, pelo contrário, está sempre subordinada a
esta vontade omnipotente»[5].
Efectivamente,
a Sagrada Escritura assinala que a vontade humana de Jesus não é outra que
cumprir o querer divino: «Baixei do céu não para fazer a minha vontade mas sim
a vontade d’Aquele que me enviou» (Jo 6,38).
Já desde
o momento de entrar neste mundo diz: «Eis-me aqui que venho (…) para fazer, oh
Deus!, a tua vontade» (Heb 10,7).
Viveu
sempre da vontade do Pai (cf. Jo 4,34; 5,30), e foi obediente até à morte, e morte
de cruz (cf. Flp 2,8). Precisamente por esta obediência livre de Jesus todos
somos justificados (cf. Rom 5,19).
Ainda que o III concílio de Constantinopla
afirme que em Jesus Cristo não houve oposição entre a vontade humana e a
divina, à primeira vista parece que houve, pelo menos no episódio da oração no
horto de Getsemani, quando Jesus diz: «Não se cumpra a minha vontade, mas a
tua» (Mt 26,39).
Para entender esta passagem, é necessário
explicar que a sua inclinação natural ou que a sua sensibilidade (a que às
vezes também chamamos «vontade»[6])
podiam apetecer algum bem diferente do querer divino, mas estavam inteiramente
submetidas a ele pelo acto livre da vontade racional (que é a faculdade que
chamamos propriamente «vontade humana»).
Isto é
manifesto quando se diz que não se faça «a minha vontade» (a vontade como
inclinação natural e sensível), «mas faça-se» este é o acto da vontade como
eleição livre e racional). «a tua» (a vontade divina) (cf. Mt 26,39).
Assim pois, «Cristo possui duas vontades
(…) não opostas, mas cooperantes, de forma que o Verbo feito carne, na sua
obediência ao Pai, tenha querido humanamente tudo o decidiu divinamente com o
Pai e o Espírito Santo para nossa salvação»[7].
3. As acções humanas de Jesus Cristo
a) A existência de uma operação humana em Cristo
Já dissemos que o monoergismo propugnava
uma só operação em Cristo, que chamava teándrica
(divino-humana); de modo que a sua humanidade seria um instrumento passivo sem
uma acção própria, como uma marioneta da divindade.
E foi
condenado no III concílio de Constantinopla que confessou «duas operações naturais sem divisão, sem comutação, sem separação,
sem confusão, no mesmo nosso Senhor Jesus Cristo, nosso verdadeiro Deus, isto
é, uma operação divina e outra operação humana»[8].
Já o tinha dito São Leão Magno a propósito
do monofisismo:
«Uma e
outra natureza operam, com comunicação da outra, o que é próprio dela: quer
dizer, que o Verbo obra o que pertence ao Verbo e carne executa o que toca à
carne»[9].
A razão é que ainda que as acções sejam das
pessoas, são-no segundo o princípio dessas operações. «E a natureza é o
princípio da operação. Por isso em Cristo não há uma só operação por ser um
único sujeito, mas duas operações porque são duas as naturezas.
Enquanto
na Santíssima Trindade, pelo contrário, não há mais que uma só operação (e não
três) por causa da unidade da natureza»[10].
A natureza humana de Cristo tem a sua
própria forma e virtude pelas quais actua do modo que lhe é próprio: sente,
conhece, quer livremente, etc. Daí que a natureza humana tenha a sua própria
operação diferente da operação divina.
b) O poder próprio, natural e sobrenatural, das
acções de Cristo homem
Qual é o poder e alcance das acções
próprias de Cristo homem? Digamos em primeiro lugar que a sua natureza humana,
como a de todo o homem, tem poder para realizar todas as acções humanas naturais: para conhecer, querer, falar,
caminhar, etc.
Mas também, como todo o homem em estado de
graça, tem o poder para realizar obras sobrenaturais:
trata-se de um poder participado pelo Espírito Santo, mas outorgado ao homem
para que este possa realizar por si mesmo obras sobrenaturais; p. ex. amar a
Deus e ao próximo, orar, obedecer ou merecer. Jesus, como homem cheio de graça
e de verdade, tinha a capacidade sobrenatural de revelar o Pai e ensinar-nos as
palavras de Deus, assim como de merecer por todos os homens e satisfazer por
todo o género humano.
Tão importante é esta capacidade
sobrenatural, que sem ela não poderíamos afirmar a realidade da obra redentora
que Jesus levou a cabo por meio dessas acções.
É de notar que todas estas acções naturais
e sobrenaturais na humanidade assumida na unidade de pessoa pelo Filho de Deus
são «próprias» da segunda pessoa da
Trindade: não são acções comuns com o Pai e o Espírito Santo.
c) O mérito das acções humanas próprias de Cristo
A condescendência divina é tal que nos
prometeu dar os bens divinos em modo de uma retribuição pelas boas acções que
realizemos em estado de graça e seguindo as inspirações do Espírito Santo, pois
torna-se mais digno para o homem ter esses bens por si mesmo, como devidos a
alguém, que recebê-los por pura dádiva.
Como as acções humanas de Cristo eram livres
e nasciam do imenso amor ao Pai que o Espírito Santo tinha infundido na sua
alma, todas elas eram meritórias,
quer dizer, eram dignas de alcançar o fim ao qual as tinha ordenado o desígnio
divino.
Assim pois, Cristo, antes da sua
Ressurreição, mereceu para si mesmo aqueles bens que ainda não possuía, como
eram a perfeita glorificação e exaltação da sua humanidade. Isto é o que a
Escritura manifesta quando diz: «humilhou-se a si mesmo fazendo-se obediente
até à morte, e morte de cruz. E por isso
Deus o exaltou» (Flp 2,9).
E Cristo também mereceu para nós a
salvação. Ainda que, em princípio, o mérito – o título para o prémio – olha só
à retribuição da pessoa que realizou determinada obra, todavia, a fé ensina-nos
que Cristo mereceu a graça para todos os homens, pois a este fim estava
ordenada a Encarnação do Verbo.
Mais
adiante, ao estudar a Paixão de Cristo, veremos melhor este ponto.
d) As acções humanas de Cristo enquanto são
instrumento da divindade
A humanidade de Cristo, além do poder
próprio que possui pela natureza ou pela graça, tem a capacidade, como toda a
criatura, de que Deus se sirva dela como instrumento para levar a cabo obras
acima do poder da sua natureza.
Assim na ordem física a divindade serviu-se de alguns gestos e palavras
humanas de Jesus para produzir milagres, que são acções admiráveis que superam
a capacidade da natureza humana e facilitam a fé dos testemunhos, tais como dar
a vista aos cegos, curar leprosos e paralíticos, ou ressuscitar mortos.
A teologia conservou o nome de teándricas, mas num claro sentido
diferente do monoergismo, para estas acções humanas de Cristo enquanto servem
de instrumento à divindade para realizar obras próprias da omnipotência divina.
Mas neste caso trata-se de duas operações naturais coordenadas para produzir
esse efeito, não se trata de uma só operação confusa, mistura de ambas[11].
Por exemplo, na cura milagrosa de um cego há uma acção própria da natureza
divina (dar-lhe a vista) que se serve da acção própria da natureza humana de
Jesus (das suas palavras e do gesto de lhe ungir os olhos).
E igualmente na ordem espiritual, mais importante, a divindade serviu-se do seu
querer humano e das suas palavras para perdoar os pecados (cf. Mt 9,6). Ainda
assim a escritura diz-nos que a sua humanidade participa do poder de comunicar
aos homens a vida eterna (cf. Jo 17,2), que é uma acção própria de Deus. E
igualmente as acções de Cristo são instrumento da divindade para comunicar a
graça a todos os homens.
Em todas estas acções a causa eficiente
principal é a natureza e o poder divino do Verbo, que tem em comum com o Pai e
o Espírito Santo; e a humanidade de Cristo é a causa instrumental.
Portanto,
estas acções não são próprias e
exclusivas do Verbo, pois nelas também intervêm as outras pessoas divinas;
p. ex. as três pessoas divinas comunicam a salvação aos homens tornando-os partícipes
da obra redentora de Cristo mediante os sacramentos.
(continua)
[1] CONC. III DE CONSTANTINOPLA, DS 556.
[3]
Cf. DS, 423, 502.
[4]
SÃO TOMÁS DE AQUINO, De Veritate, q.
24, a. 1; cf. S. Th. III,18,4.
[5]
CONC. III DE CONSTANTINOPLA, DS, 556.
[6]
V. g.: Dizemos de alguém que «fez a sua vontade», referimo-nos a que fez o que
lhe apetecia naturalmente ou guiando-se simplesmente pela sua inclinação
sensível.
[7]
CCE, 475; cf. CONC. III DE CONSTANTINOPLA, DS, 556-559.
[8] CONC. III DE
CONSTANTINOPLA, DS, 557.
[9] S. LEÃO MAGNO, DS,
294.
[10] S. TOMÁS DE AQUINO,
Compendium theologiae, cap. 212, n.
419; cf. S.Th. III,19,2, ad 3-4.
[11] Cf.
CONC. LATERANENSE, ano 649, DS, 515.
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