01/01/2014

Tratado das virtudes em geral 32


Questão 61: Da distinção entre as virtudes cardeais.
Art. 2 — Se são quatro as virtudes cardeais.

(Infra, q. 66, a. 4, III Sent., dist, XXXIII, q. 2, a. 1, qª 3, De Virtut., q. 1, a. 12, ad 25, q. 5, a. 1, II Ethic., lect. VIII).

O segundo discute-se assim. — Parece que não são quatro as virtudes cardeais.

1. — Pois, a prudência é directiva das outras virtudes morais, como do sobredito resulta 1. Ora, o que dirige tem primazia sobre os dirigidos. Logo, só a prudência é a virtude principal.

2. Demais. — As virtudes principais são de certo modo morais. Ora, as operações morais nós as ordenamos pela razão prática e pelo apetite reto, como já se disse 2. Logo, só há duas virtudes cardeais.

3. Demais. — Entre as todas virtudes uma é mais principal que outra. Mas para ser uma virtude principal não é preciso que ela o seja em relação a todas, senão só em relação a algumas. Logo, são muito mais as virtudes principais.

Mas, em contrário, diz Gregório: Nas quatro virtudes se manifesta toda a estrutura das boas obras 3.

O número, num caso concreto, pode ser considerado em relação aos princípios formais ou aos sujeitos. E de ambos os modos há quatro virtudes cardeais.

Pois, o princípio formal da virtude, de que agora tratamos, é o bem da razão, que pode ser considerado sob duplo aspecto. Ou enquanto consistente na própria consideração da razão, e então a prudência é a virtude principal, ou, enquanto à ordem da razão é relativa a algum objecto. E isto será ou relativamente às obras, e então há lugar para a justiça, ou às paixões, e então é necessário haver duas virtudes. Pois é necessário estabelecer a ordem da razão relativamente às paixões, levando-se em conta a repugnância por elas opostas à razão, o que se pode dar de dois modos. Primeiro, quando a paixão impele a algo de contrário à razão, e nesse caso é necessário uma virtude que a reprima, e tal é a temperança. Depois, quando a paixão afasta do que a razão dita, como o temor dos perigos ou dos trabalhos, e então é necessária uma virtude pela qual o homem se firme, para não recuar, naquilo que é racional, e isso designa a fortaleza.

E semelhantemente, quanto aos sujeitos encontramos o mesmo número. Pois, as virtudes de que ora tratamos têm quádruplo sujeito: o racional por essência, que a prudência aperfeiçoa, e o racional por participação que comporta tríplice divisão: à vontade, sujeito da justiça, o concupiscível, sujeito da temperança, e o irascível, sujeito da fortaleza.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A prudência é, absolutamente, a mais principal dentre as virtudes. Mas há outras consideradas principais, cada uma em seu género.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O racional por participação comporta tríplice divisão, como já se disse.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Todas as demais virtudes, das quais uma é mais principal que a outra, se reduzem às quatro preditas, quanto ao sujeito e quanto às razões formais.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 58, a. 4.
2. VI Ethic. (lect. II).
3. II Moral. (cap. XLIX).


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