Art. 1 — Se as virtudes
morais devem chamar-se cardeais ou principais.
(Infra, q. 66, a. 4, III Sent.,
dist. XXXIII,
q. 2, a. 1, qa 2, De Virtut., q. 1, a. 12, ad 24, q. 5, a. 1)
O
primeiro discute-se assim. — Parece que as virtudes morais não devem chamar-se
cardeais ou principais.
1.
— Pois, coisas que se dividem por oposição existem simultaneamente por
natureza, como diz Aristóteles 1, e, portanto, uma não é a principal
em relação às outras. Ora, todas as virtudes se dividem, genericamente, por
oposição. Logo, nenhumas devem ser as principais entre elas.
2.
Demais. — O fim é mais principal que os meios. Ora, as virtudes teologais
versam sobre o fim e as morais sobre os meios. Logo, não são estas que se devem
chamar principais ou cardeais mas, aquelas.
3.
Demais. — O que é por essência é mais principal do que o que é por
participação. Ora, as virtudes intelectuais pertencem por essência à parte
racional, e as morais, só por participação, como já se disse 2.
Logo, as principais não são as virtudes morais, mas as intelectuais.
Mas,
em contrário, Ambrósio expondo o lugar — bem-aventurados os pobres de espírito
— diz: Sabemos que são quatro as virtudes cardeais, a saber: a temperança, a
justiça, a prudência, a fortaleza 3. Ora, estas são virtudes morais.
Logo, as virtudes morais são cardeais.
Quando falamos simplesmente das virtudes, entendemos falar da virtude humana.
Ora esta, como já dissemos 4, implica a noção perfeita de virtude,
que exige a rectidão do apetite, pois, ela não somente dá a faculdade de bem
agir, mas também causa o bom uso da obra. Chama-se porém virtude, na acepção
imperfeita da palavra, a que não exige a rectidão do apetite, porque só dá a
faculdade de bem agir, sem causar o bom uso da obra. Ora, é certo que o
perfeito tem primazia sobre o imperfeito. E portanto, as virtudes que implicam
a rectidão do apetite, consideram-se principais. Ora, tais são as virtudes
morais, e entre as intelectuais, só a prudência, que contudo de certo modo é
moral pela sua matéria, como do sobredito resulta 5. E portanto,
entre as virtudes morais, colocam-se as chamadas principais ou cardeais.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Quando o género unívoco se divide nas suas
espécies, as partes da divisão incluem igualmente a essência genérica, embora
pela natureza das causas seja uma espécie a principal e mais perfeita que outra,
assim, o homem em relação aos brutos. Mas, quando a divisão é de um análogo,
logo, que se predica de muitos por prioridade e posterioridade, nada impede que
uma parte da divisão seja a principal, mesmo quanto à noção comum, assim, a
substância, relativamente ao acidente, é ser de maneira principal. E tal é a
divisão das virtudes em diferentes géneros, porque o bem da razão não se
encontra em todos os casos segundo a mesma ordem.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — As virtudes teologais são superiores ao homem, como já dissemos 6.
E por isso não se chamam propriamente humanas, mas sobre-humanas ou divinas.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — As virtudes intelectuais diferentes da prudência, embora sejam
principais, em relação às virtudes morais, quanto ao sujeito, não o são contudo
quanto à noção de virtude, que respeita o bem, objecto do apetite.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1.
Praedicam. (cap. X).
2.
Q. 58, a. 3.
3.
Lib. V Super Lucam.
4.
Q. 56, a. 3.
5.
Q. 57, a. 4.
6.
Q. 58, a. 3 ad 3.
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