A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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1 «Em verdade, em verdade vos digo que quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. 2 Aquele que entra pela porta é pastor das ovelhas. 3 A este o porteiro abre e as ovelhas ouvem a sua voz, ele as chama pelo seu nome e as tira para fora. 4 Quando as tirou para fora, vai à frente delas e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz. 5 Mas não seguem o estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos». 6 Jesus disse-lhes esta alegoria, mas eles não compreenderam o que lhes dizia. 7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo que Eu sou a porta das ovelhas. 8 Todos os que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. 9 Eu sou a porta; se alguém entrar por Mim, será salvo, entrará e sairá e encontrará pastagens. 10 O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que elas tenham vida e a tenham abundantemente. 11 Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas. 12 O mercenário, o que não é pastor, de quem não são próprias as ovelhas, vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge - e o lobo arrebata e dispersa as ovelhas -, 13 porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. 14 Eu sou o bom pastor; conheço as Minhas ovelhas e as Minhas ovelhas conhecem-Me. 15 Como o Pai Me conhece, assim Eu conheço o Pai; e dou a Minha vida pelas Minhas ovelhas. 16 Tenho outras ovelhas que não são deste redil; importa que Eu as traga; elas ouvirão a Minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor. 17 Se o Pai Me ama, é porque dou a Minha vida para outra vez a assumir. 18 Ninguém Ma tira, mas Eu a dou por Mim mesmo e tenho poder de a dar e tenho poder de a retomar. Este é o mandamento que recebi de Meu Pai». 19 Por causa destas palavras originou-se um novo desacordo entre os judeus.20 Muitos deles diziam: «Ele está possesso do demónio e louco! Porque estais a ouvi-l'O?». 21 Outros diziam: «Estas palavras não são de quem está possesso do demónio! Porventura pode o demónio abrir os olhos aos cegos?».
VIDA
CAPÍTULO
30.
13. Ter, pois, conversação
com alguém, é pior; porque o demónio incute um espírito tão desabrido de ira,
que me parece a todos quereria comer, sem poder fazer mais nada. Alguma coisa
parece, no entanto, que faço em me ir à mão, ou fá-lo o Senhor em ter de Sua
mão a quem assim está, para que não diga nem faça contra seus próximos coisa
que os prejudique e em que ofenda a Deus.
Pois ir ao confessor, o
certo é que muitas vezes me acontecia isto que direi. Embora sendo tão santos
como são os que neste tempo tratei e trato, me diziam palavras e me ralhavam
com uma aspereza tal, que depois, quando eu lhas repetia, eles mesmos se
espantavam e me diziam que mais não estava em sua mão. Porque, ainda que propusessem
a si mesmos não o fazer de outras vezes, quando tivesse semelhantes trabalhos
de corpo e de alma, porque ficavam depois com compaixão e até escrúpulo, e se
determinavam a consolar-me com piedade, não podiam. Não diziam eles palavras
más - digo em que ofendessem a Deus -, mas as mais desabridas que se sofriam
num confessor. Deviam pretender mortificar-me, e embora outras vezes gostava e
estivesse para o sofrer, então tudo me era tormento.
Pois dá-me também para
recear que os engano, e ia então a eles e avisava-os muito deveras que se
acautelassem de mim, que poderia ser que os enganasse. Bem via eu que, com
advertência, não o faria, nem lhes diria mentira, mas tudo me era causa de
temor. Um deles me disse uma vez, pois entendeu a tentação, que não me
afligisse, porque embora eu quisesse enganá-lo, senso tinha ele pára não se
deixar enganar. Deu-me isto muita consolação.
14. Algumas vezes - e
quase habitualmente, pelo menos o mais frequente -, em acabando de comungar,
descansava; e até algumas vezes, em chegando ao Sacramento, logo no mesmo
momento ficava tão bem de alma e corpo, que eu me espantava. Não parece senão
que, num instante, se desfazem todas as trevas da alma, e desponta o sol,
conhecendo então as tontarias em que tinha estado metida.
Outras vezes, com uma só
palavra que me dizia o Senhor, como: Não estejas aflita; não tenhas medo - como
já deixei dito de outra vez ou com ver alguma visão -; ficava de todo sã, como
se nunca tivesse tido nada. Regalava-me com Deus, queixava-me a Ele, como consentia
que tantos tormentos padecesse. Mas tudo isso era bem pago, pois que quase
sempre vinham depois em grande abundância as mercês.
Não me parece senão que a
alma sai como o ouro do crisol, mais afinada e clarificada para ver em si o
Senhor. E assim se fazem depois pequenos estes trabalhos, apesar de parecerem
incomportáveis, è se desejam tornar a padecer, se o Senhor disso mais Se há-de
servir. E, ainda que haja mais tribulações e perseguições, conquanto se passem
sem ofender o Senhor e de as padecer por Ele, tudo é para maior lucro, embora
eu não os leve como se hão-de levar, senão muito imperfeitamente.
15. Outras vezes me vinham
e vêm tribulações de outro género, que de todo em todo me parece que se me tira
a possibilidade de pensar coisa boa, nem desejá-la fazer, e só me fica a alma e
o corpo de todo inútil e pesado; mas não tenho com isto essas outras tentações
e desassossegos, a não ser um desgosto, sem entender de quê, e nada me contenta
a alma. Procurava então fazer boas obras exteriores para me ocupar um tanto à
força, e reconheço bem o pouco que é uma alma quando se esconde a graça. Não me
causava isto muita pena, porque, o ver assim minha baixeza, me dava alguma
satisfação.
16. Outras vezes, acho-me
de modo que tão-pouco posso pensar coisa ordenada a respeito de Deus, nem de
bem que vá com algum assento, nem ter oração, ainda que esteja em solidão; mas
sinto que O conheço. O entendimento e a imaginação entendo eu que é o que aqui
me prejudica, pois a vontade me parece que está boa e disposta para todo o bem.
Este entendimento, porém, está tão perdido que não parece senão um louco
furioso que ninguém consegue atar, nem sou senhora de o fazer estar quedo,
sequer o tempo dum Credo. Algumas vezes me rio e conheço minha miséria, fico a
olhar para ela e deixo-a a ver o que faz; e -glória a Deus nunca - por
maravilha - vai a coisa má, mas sim indiferente: se há alguma coisa a fazer
aqui, ali ou acolá. Conheço, então, melhor a grandíssima mercê que me faz o
Senhor quando está atado este louco em perfeita contemplação. Vejo o que seria
se me vissem neste desvario as pessoas que me têm por boa. Tenho grande lástima
de ver a alma em tão má companhia. Desejo vê-la com liberdade, e assim digo ao
Senhor: quando, Deus meu, chegarei finalmente a ver a minha alma toda unida em
Vosso louvor, de modo a que Vos gozem todas as potências? Não permitais já,
Senhor, que seja assim despedaçada, que não parece senão que cada pedaço anda
disperso por seu lado.
Isto, padeço eu muitas
vezes. Algumas bem entendo que faz muito ao caso a pouca saúde corporal.
Recordo-me muito do dano que nos fez o primeiro pecado e que daqui nos vem,
penso eu, o sermos incapazes de gozar de tanto bem em um ser, e devem ser os
meus que, se eu não tivesse cometido tantos, estaria com mais inteireza no bem.
17. Passei também outro
grande trabalho pois, como me parecia entender todos os livros que lia, que
tratam de oração, e que o Senhor já me tinha dado aquilo, achei que não tinha
necessidade deles e assim não os lia, mas sim, vidas de santos, porque como eu
me vejo tão falha no que eles serviam a Deus, isto parece que me aproveita e
anima. Parecia-me pouca humildade pensar que já tinha chegado a ter aquela
oração; e como não podia conseguir de mim mesma pensar outra coisa, dava-me
isto muita pena, até que letrados e o bendito Frei Pedro de Alcântara me
disseram que não fizesse caso. Bem vejo eu que, no servir a Deus, ainda não
comecei - embora no fazer-me Sua Majestade mercês seja como aos muito bons - e
que sou a mesma imperfeição, a não ser nos desejos e em amor, pois nisto bem
vejo me favoreceu o Senhor, para que O possa servir em alguma coisa. Bem me
parece a mim que O amo, mas as obras me desconsolam e as muitas imperfeições
que veio em mim.
18. Outras vezes dá-me uma
tontice de alma -digo eu que é-, pois, nem bem nem mal me parece que faço,
senão andar na peugada das pessoas, como dizem; sem pena nem glória, nem lhe dá
vida, nem morte, nem prazer, nem pesar. Nem parece que se sinta nada. Parece-me
a mim que anda a alma como um jumentinho que pasta, que se sustenta porque lhe
dão de comer e come quase sem o sentir. É que, neste estado, a alma não deve
estar sem comer algumas grandes mercês de Deus, pois em vida tão miserável não
lhe pesa viver e leva isto com igualdade de ânimo, mas não se sentem movimentos
nem efeitos para que a alma o entenda.
19. Parece-me agora a mim
que é como um navegar com o vento muito sereno, que se anda muito sem entender
como. Nestas outras maneiras são tão grandes os efeitos, que a alma vê quase
logo sua melhoria, porque fervem os desejos e nunca acaba a alma de se
satisfazer. Isto têm os grandes ímpetos de amor, que tenho dito, a quem Deus os
dá. É como umas fontezitas que eu tenho visto manar, que nunca cessam de fazer
mover a areia para cima.
Bem natural me parece este
exemplo ou comparação das almas que aqui chegam; sempre está bulindo o amor e
pensando que fará. Não cabe em si, como na terra parece que não cabe aquela
água, senão que a lança de si. Assim está a alma muito habitualmente, que não
sossega nem cabe em si com o amor que tem; já ele a tem embebida em si.
Quereria que outras bebessem, pois a ela não lhe faz falta, para que a
ajudassem a louvar a Deus. Oh! quantas vezes me recordo da água viva de que
falou o Senhor à Samaritana! E assim sou muito afeiçoada àquele Evangelho, e
certo é que, sem entender como agora este bem, já o era desde muito criança e
suplicava muitas vezes ao Senhor que me desse daquela água e, onde eu estava sempre,
tinha um quadro, de quando o Senhor chegou ao poço, com este letreiro: ?Domine,
da mihi aquam?.
20. Parece também como um
fogo que é grande e, para que não se apague, é preciso que tenha que queimar.
São assim as almas que digo. Ainda que fosse muito à sua custa, quereriam
trazer lenha para que não cessasse este fogo. Eu sou tal que, até com palhas
que pudesse lançar nele, me contentaria. E assim me acontece algumas e muitas
vezes: umas, eu me rio e outras me aflijo muito. O movimento interior incita-me
a que sirva em algo - já que não sou para mais - em pôr ramitos e flores em imagens,
em varrer, em compor um oratório, em umas coisitas tão baixas que me fazia
confusão. Se fazia ou faço alguma penitência, era tudo pouco e de maneira que,
a não aceitar o Senhor a vontade, via que era sem nenhum préstimo, e eu mesma
me ria de mim.
Pois não têm pouco
trabalho as almas a quem Deus dá, por Sua bondade, este fogo de Seu amor em
abundância, se lhes faltarem forças corporais para fazer alguma coisa por Ele.
É uma pena bem grande; porque, como lhe faltam forças para deitar alguma lenha
neste fogo e ela morre para que não se apague, parece-me que dentro de si ela
se consome e se faz cinza e desfaz em lágrimas e se queima; e é grande
tormento, embora saboroso.
21. Louve muito e muito ao
Senhor a alma que chegou aqui e a quem Ele dá forças corporais para fazer
penitência, ou lhe deu letras e talentos e liberdade para pregar e confessar e
levar almas a Deus, que não sabe nem entende o bem que tem, se não chegou a
experimentar o que é não poder nada no serviço do Senhor e receber sempre
muito. Seja bendito por tudo e dêem-Lhe glória os anjos. Amen.
22. Não sei se faço bem em
escrever tantas minudências. Como V. Mercê me tornou a mandar que não se me
desse nada de me alongar, nem deixasse nada por dizer, vou tratando com clareza
e verdade tudo que me recordo. E não pode deixar de ficar muito por dizer,
porque teria de gastar muito mais tempo, e tenho tão pouco como tenho dito, e
porventura para não tirar nenhum proveito.
santa
teresa de jesus
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