A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 4, 43-54
43 Passados dois dias, partiu Jesus dali
para a Galileia. 44 Porque o mesmo Jesus tinha afirmado que um
profeta não é respeitado na sua própria pátria. 45 Tendo chegado à
Galileia receberam-n'O bem os galileus porque tinham visto todas as coisas que
fizera em Jerusalém durante a festa; pois também eles tinham ido à festa. 46
Foi, pois, novamente a Caná da Galileia, onde tinha convertido a água em vinho.
Havia em Cafarnaum um funcionário real, cujo filho estava doente. 47
Este, tendo ouvido dizer que Jesus chegara da Judeia à Galileia, foi ter com
Ele e pediu-Lhe que fosse a sua casa curar o filho que estava a morrer. 48
Jesus disse-lhe: «Vós, se não virdes milagres e prodígios não acreditais». 49
O funcionário real disse-Lhe: «Senhor, vem antes que o meu filho morra». 50
Jesus disse-lhe: «Vai, o teu filho vive». Deu o homem crédito ao que Jesus lhe
disse e partiu. 51 Quando já ia para casa, vieram os criados ao seu
encontro dizendo que o filho vivia. 52 Perguntou-lhes a hora em que
o doente se sentira melhor. Disseram-lhe: «Ontem, à hora sétima, a febre
deixou-o». 53 Reconheceu então o pai ser aquela mesma a hora em que
Jesus lhe dissera: «Teu filho vive». Acreditou ele, assim como toda a sua família.
54 Foi este o segundo milagre que Jesus fez depois de ter vindo da
Judeia para a Galileia.
VIDA
CAPÍTULO
19.
12. Pois se tendo oração e
leitura - conhecendo verdades e o ruim caminho que levava -e importunando
muitas vezes ao Senhor com lágrimas, era tão ruim que não me podia valer, afastada
disto, metida em passatempos com muitas ocasiões e poucas ajudas - e ouso até
dizer nenhuma, a não ser para me ajudar a cair - que esperava senão isso?
Creio que merece muito
diante de Deus um frade de São Domingos; grande letrado, que me despertou deste
sono. Fez-me comungar, como creio ter dito, de quinze em quinze dias. Foi menos
então o mal. Comecei a cair em mim; embora não deixasse de fazer ofensas ao
Senhor. Como, porém, não tinha perdido o caminho, caindo e levantando-me, ia
por ele, embora pouco a pouco; e quem não deixa de andar e vai para a frente,
ainda que tarde, sempre chega. Perder o caminho não me parece ser outra coisa
senão deixar a oração. Deus nos livre disso, por Quem Ele é.
13. Fica daqui entendido -
e note-se isto muito, por amor do Senhor que, embora uma alma chegue a receber
de Deus tão grandes mercês na oração, não fie de si, pois pode cair, nem se
meta de nenhuma maneira em ocasiões de queda. Olhe-se muito a isto, que importa
muito. Pois, embora a mercê tenha sido certamente de Deus, o demónio pode
depois causar aqui enganos: aproveitando-se o traidor da mesma mercê naquilo
que lhe é possível e enganar a pessoas não crescidas nas virtudes, nem
mortificadas, nem desapegadas. É que não ficam aqui fortalecidas tanto quanto
baste - como depois direi para se meterem em ocasiões e perigos, por grandes
que sejam os desejos e determinações que tenham... É excelente doutrina esta;
não é minha, senão ensinada por Deus, e assim quisera que pessoas ignorantes,
como eu, a soubessem. Porque, ainda quando uma alma se ache neste estado, não
há-de confiarem si mesma para sair a combater; já fará muito em se defender.
Aqui tem necessidade de armas para se defender dos demónios e não tem ainda
forças para pelejar contra eles e os trazer debaixo dos pés, como fazem os que
estão no: estado que depois direi.
14. Este é o engodo com
que o demónio colhe a alma: como esta se vê tão chegada a Deus e. a diferença
que há entre os bens do Céu e os da terra e vê o amor que o Senhor lhe tem
mostrado, nasce-lhe desse amor e confiança e segurança de não decair do que
goza. Parece-lhe antever claro o prémio e que já não lhe é possível deixar o
que, até nesta vida, é tão deleitoso e suave, por coisa tão baixa e vil como é
o deleite cá de baixo.
Com esta confiança faz-lhe
o demónio perder a pouca que há-de ter em si, e -como digo - mete-se em perigos
e começa, com bom zelo, a dar a fruta sem conta nem medida, julgando que não
tem já nada a temer de si mesma. E isto não é soberba - pois bem percebe que de
si mesma não pode nada - senão pela muita confiança em Deus, mas sem discrição.
Não olha a que ainda tem fracas asas. Pode sair do ninho e Deus tira-a dele
para fora, mas ainda não é para voar; porque as virtudes não estão fortes, nem
tem experiência para enfrentar os perigos, nem sabe o mal que faz em confiar em
si.
15. Isto foi o que a mim
me arruinou. E para isto, como para tudo, há grande necessidade de mestre e
trato com pessoas espirituais. Bem creio eu que alma que Deus traz a este
estado - se ela não deixa de todo em todo a Sua Majestade -, Ele não a deixará
de favorecer nem a deixará perder. Mas quando cair, como tenho dito, olhe, olhe
por amor do Senhor, não a engane o demónio levando-a a deixar a oração -como
fez a mim - por uma falsa humildade, como já tenho dito e muitas vezes o
quisera dizer.
Confie na bondade de Deus,
que é maior de que todos os males que podemos fazer e não se lembra da nossa
ingratidão, quando, reconhecendo o que somos, queremos voltar à Sua amizade.
Nem se recorda das mercês que nos tem feito para por elas nos castigar; antes
ajudam a, perdoar-nos mais depressa, como a gente que já era de Sua casa e tem
comido - como dizem - o seu pão.
Lembrem-se das Suas
palavras e vejam o que fez comigo: mais me cansei eu de O ofender, que Sua
Majestade de me perdoar. Nunca Ele se cansa de dar nem se podem esgotar Suas
misericórdias; não nos cansemos nós de receber.
Seja bendito para sempre,
ámen, e louvem-nO todas as criaturas.
CAPÍTULO
20.
Trata da diferença que há entre a união e arroubamento. Declara o que é
arroubamento e diz alguma coisa sobre o bem que existe na alma que o Senhor,
pela Sua bondade, faz chegar a Ele. Enumera os efeitos que produz. É muito para
admirar.
1. Quereria eu saber
declarar, com o favor de Deus, a diferença que há a entre união e arroubamento.
Arroubamento ou rapto ou o que chamam voo de espírito ou arrebatamento, é tudo
o mesmo. Digo que estes diferentes nomes são tudo uma e mesma coisa e também se
chama êxtase. É grande a vantagem que leva à união; seus efeitos são muito
maiores e realiza outras muitas operações. É que a união parece princípio, meio
e fim; e assim é quanto ao interior; mas tal como estes outros favores são iras
em mais alto grau, assim também produz efeitos interior e exteriormente.
Declare isto o Senhor, como tem feito no demais, porque certo é que, se Sua
Majestade não me tivesse dado a entender o modo e maneira de poder dizer alguma
coisa disto, eu não o saberia.
2. Consideremos agora que
esta última água, de que falamos, é tão Copiosa que, se não fora não o
consentir a vida temporal, poderíamos crer que está connosco, aqui nesta terra,
esta nuvem da soberana Majestade. Mas, quando agradecemos este grande bem,
acorrendo com obras, conforme as nossas forças, o Senhor colhe e levanta a
alma, digamos agora, à maneira como as nuvens colhem os vapores da terra. Tenho
ouvido assim isto: as nuvens ou o sol colhem os vapores, e sobe a nuvem ao céu.
Assim, Deus levanta a alma toda e leva-a consigo e começa-lhe a mostrar coisas
do reino que lhe tem preparado. Não sei se quadra a comparação, mas é, de
facto, assim que isto se passa.
3. Nestes arroubamentos,
parece que a alma não anima o corpo; e assim, este sente, muito ao vivo,
faltar-lhe o calor natural e vai-se esfriando, embora seja com grandíssima
suavidade e deleite. Aqui não há meio algum para se poder resistir. Na união,
como estamos em terreno nosso, temos meios para isso; embora seja com custo e à
força, pode-se quase sempre resistir. Aqui, não só as mais das vezes nenhum
remédio há, senão que muitas, sem prevenção do pensamento, sem nenhuma ajuda
nossa, vem um ímpeto tão acelerado e forte, que sentis e vedes levantar-se esta
nuvem ou esta águia caudalosa e colher-vos em suas asas.
4. E digo que se entende e
vos vedes levar e não sabeis para onde. É que, embora seja com deleite, a
fraqueza da nossa natureza faz-nos temer ao princípio. É preciso ser alma
determinada e animosa - muito mais do que para o que já ficou dito - para
arriscar tudo, venha o que vier, e abandonar-se nas mãos de Deus e ir, de bom
grado, aonde nos levarem, pois vos levam por mais que vos pese. E é em tanto
extremo, que muitas vezes quisera eu resistir e emprego todas as minhas forças,
em especial algumas quando é em público e outras a sós, temendo ser enganada.
Em algumas podia eu algo; porém, com grande quebrantamento, como quem peleja
com um homenzarrão forte, ficava eu depois cansada. Outras, era impossível
resistir, senão que me levava a alma e quase de ordinário a cabeça ia atrás
dela sem eu a poder deter e algumas vezes todo o corpo a ponto de o levantar.
5. Isto tem sido poucas
vezes. Uma delas foi quando estávamos todas juntas no coro, e indo a comungar,
estando de joelhos. Deu-me isto grandíssima pena, pois me parecia coisa muito
extraordinária e logo haveria de ser muito notada. Assim mandei às irmãs -
porque foi agora depois que tenho ofício de prioresa - que não o dissessem. De
outras vezes, em começando a ver que o Senhor ia fazer o mesmo, estendia-me no
chão e aproximavam-se a deter-me o corpo e, no entanto, não deixava de se ver.
Uma delas foi estando presente senhoras principais, pois era a festa do Orago,
durante o sermão. Supliquei muito ao Senhor que jamais quisesse dar-me mercês
que tivessem manifestações exteriores; porque eu já estava cansada de andarem
tanta conta e aquela mercê podia-ma fazer o Senhor sem que se percebesse.
Parece que, por Sua bondade, foi servido de me ouvir, pois nunca até agora a
tenho tido; verdade é que foi há pouco. É assim que me parecia, quando queria
resistir, que desde a sola dos pés me levantavam forças tão grandes que não sei
a que as comparar. Eram com muito mais ímpeto que estas outras coisas de
espírito de que tenho falado e assim ficava feita em pedaços; porque é grande
peleja. Enfim, de pouco aproveita quando o Senhor quer, pois não há poder
contra o Seu poder. Outras vezes é Ele servido em contentar-se com que vejamos
que nos quer fazer a mercê e que não falha por parte de Sua Majestade.
Resistindo-se por humildade, deixa os mesmos efeitos como se de todo se
consentisse.
7. Naqueles a quem faz
isto, grandes são os efeitos. O primeiro é mostrar-se o grande poder do Senhor
e como, da nossa parte, não temos nenhum, quando Sua Majestade quer, para deter
o corpo - e tão-pouco a alma - nem somos senhores dele. Mas, por muito que nos
pese, vemos que há alguém superior e que estas mercês são dadas por Ele e que,
por nós mesmos, não podemos nada em nada. Imprime-se muita humildade. E até
confesso que me fez grande temor ao princípio, e grandíssimo, ver-se assim
levantar um corpo da terra, embora o espírito o leve atrás de si e seja com
grande suavidade, se não se resiste. Não se perdem os sentidos; eu, pelo menos,
estava em mim, de maneira que podia compreender que era levada. Mostra a
majestade de quem pode fazer aquilo, que se eriçam os cabelos e fica um grande
temor de ofender a tão grande Deus. Este envolto em grandíssimo amor que se
cobra de novo a quem vemos que o tem tão grande, a um verme tão podre, que
parece não se contentar com levar a Si tão deveras a alma, senão que também
quer o corpo, ainda que tão mortal e de terra tão suja, como se tornou por
tantas ofensas.
8. Também deixa um
desapego estranho que eu não saberei dizer como é. Parece-me poder dizer que é
de algum modo diferente; digo que é mais que estas outras coisas de mero
espírito. Porque embora se esteja, quanto ao espírito, com todo o desapego das
coisas, aqui parece que o Senhor quer que até o corpo o ponha por obra. Cria-se
uma estranheza nova para com as coisas da terra, que torna a vida muito mais
penosa.
9. Depois dá um pesar que
nem a podemos atrair nem, uma vez que veio, se pode afastar. Muito quisera eu
dar a entender esta grande pena e creio que não poderei, mas alguma coisa direi
se souber. Há-de notar-se que estas coisas, que agora digo, são muito lá para o
fim, depois de todas as visões e revelações que mais adiante descreverei; e no
tempo em que costumava ter oração na qual o Senhor me dava tão grandes gostos e
regalos, agora, ainda que isto não cesse algumas vezes, o mais frequente e o
mais habitual é esta pena que agora direi.
Ora é maior, ora menor. De
quando é maior quero eu agora falar, porque, mais adiante; falarei destes
grandes ímpetos que me aconteciam quando o Senhor me quis dar os arroubamentos,
os quais não têm - a meu parecer - tanta comparação com isto como uma coisa
muito corporal com uma muito espiritual e creio que não ó encareço muito. É que
parece que aquela pena - embora a sinta a alma - é em companhia do corpo; ambos
parecem participar dela, mas não com o extremo do desamparo desta.
Para isto - como tenho
dito - não pomos nada da nossa parte. Assim muitas vezes, a desoras, vem um
desejo que não sei como se move, e deste desejo que penetra toda a alma num
momento, ela começa a afligir-se tanto que sobe muito acima de si e de todo o
criado. Põe-na Deus tão alheia a todas as coisas que, por muito que se esforce,
nenhuma lhe parece haver sobre a terra que a acompanhe, nem ela o quisera,
senão morrer naquela soledade. Se lhe falam e se ela quiser empregar toda a sua
força para responder, de pouco lhe aproveita, porque o seu espírito, por mais
que ela faça, não se aparta daquela soledade.
E, apesar de me parecer
que Deus está então longíssimo, às vezes Ele comunica as Suas grandezas do modo
mais estranho que se pode pensar. Assim, nem se sabe dizer, nem creio que o
acreditará nem compreenderá quem não houver passado por isso; porque não é
comunicação para consolar, senão para mostrar a razão que a alma tem de se
afligir por estar ausente do Bem que em Si possui todos os bens.
santa
teresa de jesus
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