Art. 6 — Se é mais para temer aquilo que não tem remédio.
O
sexto discute-se assim. — Parece que não é mais para temer aquilo que não tem
remédio.
1. — Pois, para haver temor é preciso reste alguma esperança de salvação, como se disse 1. Ora, quando o mal não tem remédio não há nenhuma esperança de salvação. Logo, os males dessa natureza não são temidos de modo nenhum.
2.
Demais — Não podemos dar nenhum remédio ao mal da morte, pois por força da só
natureza não podemos voltar da morte à vida. Entretanto a morte não é o que
mais tememos, como diz o Filósofo 2. Logo, não é o que não tem
remédio o que mais tememos.
3.
Demais — O Filósofo diz: o diuturno não é melhor do que o que dura só um dia,
nem o perpétuo é melhor que o não-perpétuo 3. Logo, pela mesma
razão, nem pior. Ora, o que não tem remédio não difere dos outros males senão
pela diuturnidade ou perpetuidade. Logo, não são, por isso, piores ou mais
temíveis.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo: o temível se torna mais terrível quando, cometida
à falta, não podemos corrigi-la, ou quando não há remédio, ou, pelo menos,
remédio fácil 4.
O objecto do temor é o mal. Donde, tudo o que aumenta este aumenta também
aquele. Ora, o mal pode aumentar não só especificamente, mas também quanto às
circunstâncias, como do sobredito resulta 5. Ora, dentre estas, a
diuturnidade, ou ainda, a perpetuidade são as que mais concorrem para o seu aumento.
Pois, o que está no tempo é de certo modo medido pela duração temporal. Logo,
se sofrer alguma coisa num determinado tempo é um mal, sofrê-la em tempo duplo
é considerado duplo mal. E por esta razão, sofrer esse mesmo mal, num tempo
infinito, i. é, sofrê-lo perpetuamente, implica de certo modo um aumento
infinito. Ora, os males que, uma vez sucedidos, não podem ter remédio, ou que
não o tem fácil, são considerados como perpétuos ou diuturnos. Donde, tornam-se
especialmente temidos.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Há para o mal um duplo remédio. — Um que
impede o mal futuro de vir a realizar-se. E, eliminado o remédio, elimina-se a
esperança e por consequência o temor. Por isso não tratamos aqui desse remédio.
— O outro remédio, é o que remove o mal actual. E é deste que agora tratamos.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Embora a morte seja um mal irremediável, contudo não a tememos se
não está iminente, como já dissemos 6.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — No passo aduzido o Filósofo trata do bem em si, que é específico.
Ora, em tal sentido, o bem não se torna maior pela diuturnidade ou
perpetuidade, mas pela sua natureza mesma.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1.
Q. 42, a. 2.
2. II Rhetoric. (cap. V).
3. I Ethic. (lect. VII).
4. II Rhetoric. (cap. V).
5. Q. 18, a. 3.
6.
Q. 42, a. 2.
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