Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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1 Naquele tempo, o tetrarca Herodes
ouviu falar da fama de Jesus, 2 e disse aos seus cortesãos: «Este é
João Baptista, que ressuscitou dos mortos, e por isso se operam por meio dele
tantos milagres». 3 Porque Herodes tinha mandado prender João, e
tinha-o algemado e metido no cárcere, por causa de Herodíades, mulher de seu
irmão Filipe. 4 Porque João dizia-lhe: «Não te é lícito tê-la por
mulher». 5 E, querendo matá-lo, teve medo do povo, porque este o
considerava como um profeta. 6 Mas, no dia natalício de Herodes, a
filha de Herodíades bailou no meio dos convivas e agradou a Herodes. 7
Por isso ele prometeu-lhe com juramento dar-lhe tudo o que lhe pedisse. 8
E ela, instigada por sua mãe, disse: «Dá-me aqui num prato a cabeça de João
Baptista». 9 O rei entristeceu-se, mas, por causa do juramento e dos
comensais, ordenou que lhe fosse entregue. 10 E mandou degolar João
no cárcere. 11 A sua cabeça foi trazida num prato e dada à jovem, e
ela levou-a à mãe. 12 Chegando os seus discípulos levaram o corpo e
sepultaram-no; depois foram dar a notícia a Jesus. 13 Tendo Jesus
ouvido isto, retirou-Se dali numa barca para um lugar solitário afastado; mas
as turbas, tendo sabido isto, seguiram-n'O das cidades, a pé. 14 Ao
sair da barca, viu Jesus uma grande multidão, e teve compaixão e curou os seus
enfermos. 15 Ao cair da tarde, aproximaram-se d'Ele os discípulos,
dizendo: «Este lugar é deserto e a hora é já adiantada; deixa ir esta gente,
para que, indo às aldeias, compre de comer». 16 Mas Jesus
disse-lhes: «Não têm necessidade de ir; dai-lhes vós mesmos de comer». 17
Responderam-Lhe: «Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes». 18
Ele disse-lhes: «Trazei-mos cá». 19 E depois de ter mandado à
multidão que se sentasse sobre a relva, tomou os cinco pães e os dois peixes,
levantou os olhos ao céu, pronunciou a bênção e, partindo os pães, deu-os aos
discípulos, e os discípulos à multidão. 20 Comeram todos, e
saciaram-se; e recolheram doze cestos cheios dos bocados que sobejaram. 21
Ora o número dos que tinham comido era de uns cinco mil homens, sem contar
mulheres e crianças.
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO NONO
CAPÍTULO V
O conselho de Ambrósio
Terminadas as férias, informei os milaneses que providenciassem para seus
estudantes outro vendedor de palavras, visto que determinara consagrar-me ao
teu serviço, e mesmo porque não podia mais exercer aquela profissão pela
dificuldade de respirar e pelas dores que sentia no peito.
Também comuniquei por escrito a teu bispo e santo bispo Ambrósio, os
meus antigos erros, a minha intenção actual, para que me indicasse o que
deveria ler de preferência em tuas Escrituras, a fim de me preparar e dispor
melhor para receber tão grande graça.
Ele indicou-me o profeta Isaías, creio que porque anuncia mais claramente
que os demais o Evangelho e vocação dos gentios.
Contudo, nada tendo compreendido na primeira leitura, e julgando que
toda a obra era assim, decidi voltar a ela quando estivesse mais familiarizado
com a palavra do Senhor.
CAPÍTULO VI
Baptismo de Agostinho. Seu filho Adeodato
Chegado o tempo em que convinha inscrever-nos para receber o baptismo,
deixamos o campo, e voltamos para Milão.
Alípio também quis renascer em ti comigo, já revestido de humildade tão
conforme os teus sacramentos. Era tão enérgico domador do seu corpo, que
caminhava com os pés descalços, com insólita coragem, sobre o chão gelado da
Itália.
Juntamos também a nós o jovem Adeodato, filho carnal do meu pecado, a
quem dotaste de grandes qualidades. Tinha cerca de quinze anos, mas pelo seu
talento ultrapassava já muitos homens maduros e doutos. Confesso-te que eram
dons teus, meu Senhor e meu Deus, criador de todas as coisas, tão poderoso para
corrigir nossas deformidades, pois este menino nada havia de meu, senão o meu
pecado. Se o criei na tua disciplina, foste tu, e mais ninguém, quem no-lo inspirou.
Sim, confesso que eram dons teus.
Há um livro meu que se intitula O Mestre, no qual Adeodato
dialoga comigo.
Tu sabes que todos os pensamentos ali manifestados são dele quando tinha
dezasseis anos. Notei ainda nele muitas outras qualidades maravilhosas,
admirado com a sua inteligência. Mas quem, além de ti, poderia ser o autor
dessas maravilhas? Cedo o arrebataste desta terra, e a lembrança dele se torna
mais tranquila, nada mais tendo a temer pela sua infância, pela sua
adolescência ou por toda a sua vida adulta. Associamo-lo a nós como irmão na
graça, para educá-lo em tua lei.
Fomos baptizados, e os remorsos da nossa vida passada afastaram-se de
nós.
Naqueles dias eu não me fartava de considerar a grandeza dos teus
desígnios para a salvação do género humano, pela inefável doçura que sentia.
Quanto chorei ao ouvir, profundamente comovido, os teus hinos e cânticos que
ressoavam suavemente em tua Igreja!
Penetravam aquelas vozes nos meus ouvidos, e destilavam a verdade em meu
coração.
Acendia-se em mim um afecto piedoso, corriam-me lágrimas dos olhos, e o
pranto consolava-me.
CAPÍTULO VII
O canto dos fiéis.
Os corpos de São Gervásio e de São Protásio
Não havia muito tempo que a igreja de Milão começara a adoptar essa
prática consoladora e edificante do canto, com grande regozijo dos fiéis, que
uniam num só coro as vozes e o coração. Havia um ano, ou pouco mais, que
Justina, mãe do imperador Valentiniano, ainda menor, seduzida pelos arianos,
perseguia, por causa da sua heresia, o teu servo Ambrósio. O povo fiel passava
as noites na igreja, disposto a morrer com o seu bispo.
Nesse meio estava minha mãe, tua serva, uma das primeiras no zelo dessas
inquietações e vigílias, não vivendo senão de orações. Nós, apensar de ainda
frios, sem o calor de teu Espírito, sentíamo-nos comovidos pela perturbação e
consternação da cidade.
Foi então que se fixou o costume de cantar hinos e salmos, como se faz
no Oriente, para que os fiéis não se consumissem no tédio e na tristeza. Desde
esse dia esse costume manteve-se, e no resto do mundo, quase todas as tuas
comunidades de fiéis passaram a adotá-lo.
Foi também nessa época que revelaste em sonho ao bispo Ambrósio o lugar
em que jaziam ocultos os corpos dos mártires Gervásio e Protásio, que durante
muito tempo, conservastes intactos no tesouro dos teus segredos, a fim de
revelá-los no momento oportuno para refrear o furor de uma mulher, embora
imperatriz.
Com efeito, depois de descobertos e desenterrados, ao serem transladados
com as honras convenientes para a basílica ambrosiana, alguns possessos,
atormentados pelos espíritos imundos, foram curados, conforme confissão dos
próprios demónios. Também um cidadão, cego havia muitos anos, e muito conhecido
na cidade, perguntou a razão daquele alvoroço e alegria populares, informado,
pediu a seu guia que o levasse até ás relíquias. Lá chegando, obteve permissão
para tocar com um lenço o ataúde dos teus santos, cuja morte havia sido
preciosa a teus olhos. Feito isto, aplicou o lenço aos olhos, que imediatamente
se abriram.
A noticia do milagre logo se propagou, e imediatamente se ouviram teus
louvores com fervor, e o coração da tua inimiga, sem se converter à tua fé,
reprimiu contudo o furor da perseguição.
Graças te dou, meu Deus!
De onde e para onde guiaste a minha memória, para que também te
confessasse estes acontecimentos que, embora grandes, eu já havia esquecido e
omitido?
Todavia, quando assim exalava o odor de teus perfumes, eu ainda não
corria atrás de ti.
Eis que redobrava minhas lágrimas ao ouvir os teus cânticos.
Outrora eu suspirava por ti, e enfim respirava o pouco ar de uma choça
de feno. [1]
CAPÍTULO VIII
MÓNICA
Tu, que fazes morar na mesma casa os que têm coração unânime, trouxeste
para junto de nós Evódio, jovem do nosso município que, militando como agente
de negócios do imperador, se convertera e recebera o baptismo antes de nós,
abandonara a milícia do século, alistando-se na tua.
Estávamos juntos, e juntos pensávamos viver o nosso santo propósito.
Buscávamos um lugar onde nos pudéssemos instalar mais comodamente para te
servir e juntos rumávamos para a África quando, chegando a Óstia, na foz do
Tibre, faleceu minha mãe.
Passo em silêncio muitas coisas, porque tenho pressa. Recebe as minhas
confissões e acções de graças, meu Deus, pelas inúmeras bondades que não
menciono aqui. Mas não quero calar o que brota da minha alma a respeito desta
tua serva, que me gerou na carne para a luz temporal, e no coração para a luz
eterna. Não referirei as suas qualidades, nem a si mesma se havia educado.
Foste tu quem a educaste, nem seu pai, nem sua mãe sabiam o que viria a
ser aquela a quem geraram. A disciplina do teu Cristo, a doutrina do teu Filho
único educaram-na no teu temor numa família fiel, digno membro de tua Igreja.
Nem ela mesma enaltecia o zelo da mãe em educá-la, quanto o de uma velha
serva, que carregara seu pai quando menino, como hoje as meninas maiores
costumam carregar as crianças, às costas.
Estas recordações, a sua idade avançada e hábitos exemplares asseguravam-lhe
naquela casa cristã o respeito dos seus amos. Ela própria cuidava solicitamente
das meninas que lhe haviam sido confiadas, ora repreendendo-as quando fosse o
caso, com santa e enérgica
severidade, ora instruindo-as com discreta prudência. Afora do horário
em que tomavam uma sóbria refeição à mesa de seus pais, ainda que tivessem
muita sede, nem água permitia que elas bebessem, precavendo com isso um mau
costume. E acrescentava este sábio aviso:
“Agora bebeis água, porque não tendes como beber vinho, mas quando
estiverdes casadas, donas da despensa e da adega, deixareis a água, mas
continuará o hábito de beber”.
E unindo assim o conselho à autoridade, refreava os apetites daquela
tenra idade, e acostumava aquelas jovens à temperança, para que não tivesse
desejo do que não lhes convinha.
No entanto – como a tua serva me contou a mim, seu filho – insinuou-se
nela certo gosto pelo vinho. Julgando-a menina sóbria, os seus pais a escolheram,
como era costume, para tirar o vinho do tonel. Mergulhava a caneca pela parte
superior do recipiente e, antes de passar o vinho para a garrafa, sorvia com a
ponta dos lábios um pouquinho, era-lhe impossível beber mais, porque o vinho
lhe repugnava. Não fazia isto movida pela inclinação à embriaguez, mas pela exuberância
juvenil, que se manifestava em movimentos, em brincadeiras, e que na meninice costumam
ser reprimidos pela autoridade severa dos mais velhos. Mas, acrescentando todos
os dias uns goles àqueles goles – pois quem descuida das coisas pequenas pouco
a pouco cai nas maiores – acostumou-se a esvaziar avidamente copos quase cheios
de vinho puro.
Onde estava então a prudente anciã, e sua severa proibição?
Mas que remédio curaria um mal oculto se a tua medicina, Senhor, não
velasse sobre nós?
Na ausência do pai, da mãe e das amas, estavas lá tu que nos criaste,
que nos chamas, e que por meio dos que nos educam fazes o bem para a salvação
das almas.
Que fizeste então, meu Deus?
Como a socorreste?
Como a curaste?
Fizeste sair de outra pessoa, segundo as tuas secretas providências, um
sarcasmo duro e pungente como ferro medicinal, para curar de um só golpe aquela
gangrena.
A criada que costumava acompanhá-la à adega, discutindo com a sua jovem
senhora, como às vezes acontece, estando as duas a sós, lançou-lhe em rosto sua
intemperança, chamando-a insultuosamente de bêbada. Ferida por esse sarcasmo, a
jovem reconheceu a fealdade daquele hábito, reprovou-o, e no mesmo instante o
abandonou.
Assim como muitas vezes as lisonjas dos amigos nos pervertem, assim os
insultos dos inimigos nos corrigem.
Mas não é o bem que nos fazem por seu intermédio que retribuis, mas a intenção
com que o fazem. Aquela criada zangada pretendia ofender sua jovem senhora, e
não corrigi-la, e se o fez às escondidas foi só por força da circunstância do
lugar e tempo, ou para que não viesse a sofrer por denunciar tão tarde o
costume da sua senhora.
Mas, tu, Senhor, governador do céu e da terra, que desvias para os teus
desígnios as águas da torrente e regulas o curso turbulento dos séculos,
curaste a loucura de uma alma com a insânia de outra.
Por isso ninguém, ao considerar o caso, atribua a seu poder pessoal o
mérito de ter corrigido com as suas palavras a alguém cuja emenda deseja
conseguir.
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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