A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Mt 6, 5-24
5 «Quando orardes, não sejais como os
hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, a
fim de serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua
recompensa. 6 Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e,
fechada a porta, ora a teu Pai; e teu Pai, que vê o que se passa em segredo, te
dará a recompensa. 7 Nas vossas orações não useis muitas palavras
como os gentios, os quais julgam que serão ouvidos à força de palavras. 8
Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós Lho
peçais. 9 «Vós, pois, orai assim: Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o Teu nome. 10 «Venha o Teu reino. Seja feita a Tua
vontade, assim na terra como no céu. 11 O pão nosso supersubstancial
nos dá hoje. 12 Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós
perdoamos aos nossos devedores. 13 E não nos deixes cair em
tentação, mas livra-nos do mal. 14 «Porque, se vós perdoardes aos
homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará. 15
Mas, se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não perdoará as vossas
ofensas. 16 «Quando jejuais, não vos mostreis tristes como os
hipócritas que desfiguram o rosto para mostrar aos homens que jejuam. Na verdade
vos digo que já receberam a sua recompensa. 17 Mas tu, quando
jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto, 18 a fim de que não
pareça aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está presente no oculto, e
teu Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa. 19 «Não acumuleis
para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e onde os
ladrões arrombam as paredes e roubam. 20 Entesourai para vós
tesouros no céu, onde nem a ferrugem nem a traça os consomem, e onde os ladrões
não arrombam as paredes nem roubam. 21 Porque onde está o teu
tesouro, aí está também o teu coração. 22 «O olho é a lâmpada do
corpo. Se o teu olho for são, todo o teu corpo terá luz. 23 Mas, se
teu olho for malicioso todo o teu corpo estará em trevas. Se, pois, a luz que
há em ti é trevas, quão tenebrosas serão essas trevas! 24 «Ninguém
pode servir a dois senhores: porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou há-de
afeiçoar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.
CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO
LIVRO QUINTO
CAPÍTULO VI
A eloquência de Fausto
Durante os quase nove anos em que o meu espírito errante deu ouvidos aos
maniqueus, esperei ansiosamente a vinda de Fausto.
Os demais adeptos, com os quais me encontrava casualmente, embaraçados
com as objeções que eu lhes fazia, remetiam-me a ele que, à sua chegada, com
uma simples entrevista resolveria facilmente todas aquelas dificuldades, e
ainda outras maiores que me ocorressem, de maneira claríssima.
Logo que chegou, pude notar que se tratava de um homem simpático, de
fala cativante, e que expunha os temas comuns dos maniqueus, mas com muito mais
agrado que eles.
Mas, que interessava à minha sede este elegante copeiro de copos
preciosos?
Eu já tinha os ouvidos fartos daquelas teorias, e nem me pareciam
melhores por serem expostas em melhor estilo, nem mais verdadeiras pela
elegância das suas formas, nem considerava Fausto mais sábio por ter o rosto de
mais graça e sua linguagem mais finura.
Aqueles que mo haviam recomendado não eram bons juízes: tinham Fausto
como homem sábio e prudente somente porque lhes agradava sua facúndia.
Diferentes de outra espécie de homens que conheci, que tinham como
suspeita a verdade, e não se lhe renderiam se lhes fosse apresentada com
linguagem elegante e verbosa.
Mas eu, meu Deus, nessa época já tinha aprendido de ti, por caminhos
ocultos e admiráveis – e creio que eras tu que me ensinavas, porque era
verdade, e ninguém pode ser mestre da verdade senão tu, seja qual for a
instância e modo dela brilhar – já havia aprendido de ti que não se deve ter
por verdadeiro um pensamento porque expresso eloquentemente nem falso porque é
dito com rudeza, e que, pelo contrário, um pensamento não é verdadeiro por ser enunciado
com simplicidade, nem falso porque sua expressão é elegante, a sabedoria e a ignorância
são como alimentos, proveitosos ou nocivos, e as palavras, elegantes ou rudes,
como pratos preciosos ou toscos, nos quais se podem servir a ambos.
A ânsia com a qual por tanto tempo esperara por Fausto, deleitava-se
enfim com o ardor e a vivacidade de suas disputas, com os termos apropriados e
a facilidade com que lhe vinham à boca para adornar o seu pensamento.
Deleitava-me, certamente, e eu o louvava e exaltava com os outros, e muito mais
ainda do que eles.
Contudo, na reunião dos ouvintes, aborrecia-me não poder apresentar-lhe
minhas dúvidas, e dividir com ele os cuidados dos meus problemas, conferindo com
ele minhas dificuldades em forma de perguntas e respostas.
Quando, enfim, o pude fazer, acompanhado dos meus amigos, comecei a
falar-lhe em ocasião e lugar oportunos para tais discussões, apresentando-lhe
algumas objeções das que mais me preocupavam.
Vi então que se tratava de homem completamente ignorante das artes
liberais, com exceção da gramática, que conhecia de modo superficial.
Contudo como havia lido alguns discursos de Cícero, e pouquíssimos
livros de Séneca, alguns poemas e livros da seita, escritos em bom latim e com
arte, e como se exercitava todos os dias em falar, adquirira grande facilidade
de expressão, que ele tornava mais agradável e sedutora com o bom emprego de
seu talento e certa graça natural.
Não é assim como estou contando, meu Senhor e meu Deus, juiz de minha
consciência?
Diante de ti estão o meu coração e a minha memória, e que já então
guiavas no segredo oculto de tua providência, pondo diante dos meus olhos os meus
erros vergonhosos, para que os visse e odiasse.
CAPÍTULO VII
Desilusão
Por isso, logo que reconheci a sua ignorância naquelas ciências em que o
julgava grande conhecedor, comecei a desesperar de que me pudesse esclarecer e
resolver as dificuldades que me preocupavam. É bem verdade que ele podia
ignorar tais coisas e possuir a verdadeira piedade, contanto que não fosse
maniqueísta.
Os seus livros estão cheios de fábulas intermináveis acerca do céu e dos
astros, do sol e da lua, que eu já não esperava, mas que pudesse explicar tão
argutamente como eu o desejava, comparando-as com os cálculos matemáticos que
eu lera em outras partes, para ver se deveria preferir o que diziam os livros
de Manés, ou se, pelo menos, estes apresentavam demonstrações de igual valor.
Mas, quando apresentei as minhas dificuldades à sua consideração e
crítica, com grande modéstia, não se atreveu a tomar sobre si tal encargo, pois
certamente sabia que ignorava o assunto e não se envergonhava de confessá-lo.
Não pertencia à classe de charlatães que me vi obrigado muitas vezes a
suportar, que pretendiam ensinar-me tais coisas, mas não me diziam nada. Este,
pelo menos, tinha coração, senão dirigido a ti, pelo menos não era incauto
consigo mesmo. Não ignorava totalmente sua ignorância, razão pela qual não quis
meter-se temerariamente em questões de onde não pudesse sair, ou de mui difícil
retirada.
Por isso mesmo cresceu aos meus olhos, por ser a modéstia de uma alma
que se conhece muito mais bela que o saber que eu desejava, e em todas as
questões mais difíceis e subtis o encontrei sempre com igual ânimo.
Esfriado pois o meu entusiasmo pelos livros de Manés, e muito mais
desconfiado dos outros doutores maniqueus, depois que este, tão renomado, se me
havia mostrado tão ignorante em muitas das questões que me inquietavam,
continuei a tratar com ele, mas por causa de sua paixão pelas letras, que eu
ensinava então aos jovens de Cartago. Lia com ele os livros que desejava
conhecer por ter ouvido falar deles, ou os que eu considerava apropriados à sua
inteligência.
Quanto ao mais, todo o empenho que eu havia posto em progredir na seita
desapareceu por completo tão logo conheci este homem, mas não a ponto de me
separar definitivamente dela.
De facto, não achando na ocasião caminho melhor que aquele por onde
cegamente me lançara, resolvi continuar provisoriamente na mesma, até que
tivesse a fortuna de encontrar algo melhor e preferível.
Foi assim que aquele Fausto, que havia sido para muitos, laço de morte,
começava involuntária e inconscientemente a desfazer o laço que me enredara.
É que tuas mãos, meu Deus, no segredo de tua providência, não
abandonavam minha alma, e minha mãe, dia e noite, não deixava de te oferecer em
sacrifício por mim o sangue de seu coração, na forma de suas lágrimas.
E tu, Senhor, agiste comigo de modo admirável, pois isso foi obra tua,
meu Deus. Porque o Senhor é quem dirige os passos do homem e quem inspira seu
caminho.
E quem poderá dar-nos a salvação, senão tua mão, que restaura o que fez?
CAPÍTULO VIII
Viagem a Roma
Também foi obra tua o facto de me convencerem a ir a Roma, para ali
lecionar o que ensinava em Cartago.
Mas não deixarei de confessar-te o motivo que me moveu, porque também nisso
tudo se reconhece a profundidade de teu desígnio, e merece ser meditada e
exaltada tua misericórdia sempre presente.
O motivo que me levou a Roma não foram maiores lucros e maior dignidade,
como me prometiam os amigos que tal me aconselhavam – se bem que essas razões ainda
fossem importantes para mim nesse tempo – mas o principal e quase único motivo
da minha determinação era saber que os jovens de Roma eram mais sossegados nas
classes, em virtude da rigorosa disciplina a que estavam sujeitos. Não lhes era
lícito entrar desordenada e impudentemente nas aulas dos professores dos quais
não eram alunos, nem sequer eram admitidos sem licença, bem o contrário do que
acontecia em Cartago, onde a liberdade dos estudantes é tão vergonhosa e
destemperada que invadem cínica e furiosamente as aulas, perturbando a ordem
estabelecida pelos mestres em seu próprio interesse.
Além disso, com incrível insolência cometem uma quantidade de
grosserias, que deveriam ser castigadas pelas leis, se a tradição não os
protegesse. Tal costume aliás, apenas manifesta a infelicidade no caso desses
jovens, que já praticam como lícito o que jamais será permitido por tua lei
eterna. Julgam agir impunemente, quando a própria cegueira é seu maior castigo,
padecendo eles males incomparavelmente maiores do que os que causam aos outros.
Com isso vi-me obrigado, quando professor, a suportar nos outros
costumes que não quis adoptar como meus quando estudante, e por isso desejava
ir para uma cidade na qual, segundo me asseguravam, não aconteciam tais coisas.
E tu, Senhor, minha esperança e meu quinhão na terra dos vivos, a fim de
que eu mudasse de residência para a saúde de minha alma, me punhas espinhos em
Cartago, para arrancar-me dali, e deleites em Roma para atrair-me para lá.
Atraías-me por meio de homens que amavam uma vida morta, dos quais uns
agiam aqui como loucos, e outros me aliciavam alhures com bens ilusórios. E,
para corrigir os meus passos, usavas ocultamente da sua e da minha
perversidade. Porque os que perturbavam a minha paz estavam cegos por uma raiva
vergonhosa, e os que me convidavam para mudar sabiam a terra, e eu, que
detestava em Cartago uma verdadeira miséria, buscava em Roma uma falsa
felicidade.
Mas o verdadeiro motivo de eu sair de Cartago e ir para Roma só tu, ó
Deus, o sabias, sem manifestá-lo a mim nem à minha mãe, que chorou amargamente
minha partida, seguindo-me até o mar. Mas tive de enganá-la, porque me agarrava
com força, instando-me a desistir de meu propósito ou a levá-la comigo. Fingi
pois que tinha que me despedir de um amigo que eu não queria abandonar, até
que, soprando o vento, ele pudesse navegar.
Assim enganei a minha mãe, e a uma tal mãe!
Fugi, e tu também me perdoaste este pecado misericordiosamente,
salvando-me a mim, cheio de execráveis imundícies, das águas do mar para que
chegasse ás águas de tua graça. Purificado com elas, secariam os rios dos olhos
de minha mãe, com que todos os dias regava a terra diante de ti, por minha
causa.
Contudo, como se recusasse a voltar sem mim, apenas pude persuadi-la a
permanecer aquela noite em uma capela próxima a nosso navio, consagrada à
memória de São Cipriano. Mas naquela mesma noite parti às escondidas,
deixando-a orar e a chorar.
E que te pedia ela, meu Deus, com tantas lágrimas, senão que me
impedisses de navegar?
Mas tu, de visão infinitamente mais ampla, entendendo o intuito de seu
desejo, não atendeste ao que ela então te pedia, para fazer em mim aquilo que
sempre te pedia.
Soprou o vento, enfunou as nossas velas, e logo se desvaneceu do nosso
olhar a praia, onde de manhã cedo minha mãe, louca de dor, enchia de queixas e
de prantos osn teus ouvidos insensíveis.
Deixaste-me correr atrás de minhas paixões para dar fim às minhas
concupiscências, castigando com o justo flagelo da dor a saudade demasiado
carnal de minha mãe.
Ela, como todas as mães, e ainda mais que a maioria delas, desejava
manter-me junto de si, desconhecendo as grandes alegrias que lhe preparavas com
minha ausência.
Não o sabia, e por isso chorava e se lamentava, denunciando com esses
lamentos a herança que recebera de Eva, buscando em lágrimas ao que com gemidos
havia dado à luz.
Por fim, depois de ter-me chamado de mentiroso e de mau filho, pôs-se de
novo a rezar por mim e voltou para a sua vida habitual, enquanto eu me dirigia
a Roma.
(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)
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