TEMA
16. Creio na ressurreição da carne e na vida eterna 3
3. A vida eterna em
comunhão íntima com Deus
Ao
criar e redimir o homem, Deus destinou-o à eterna comunhão com Ele, aquilo que
São João chama a “vida eterna”, ou o que se costuma chamar o “Céu”. Assim,
Jesus comunica a promessa do Pai aos seus: «muito bem, servo bom e fiel, já que
foste fiel nas pequenas coisas, entra no gozo do teu Senhor» (Mt 25,21).
A vida eterna não é como «uma sucessão contínua de dias do calendário, mas algo
parecido com o instante repleto de satisfação, onde a totalidade nos abraça e
nós abraçamos a totalidade. Seria o instante de mergulhar no oceano do amor
infinito, no qual o tempo – o antes e o depois – já não existe. Podemos somente
procurar pensar que este instante é a vida em sentido pleno, um incessante
mergulhar na vastidão do ser, ao mesmo tempo que ficamos simplesmente inundados
pela alegria» 5.
A
vida eterna é que dá sentido à vida humana, ao empenho ético, à entrega generosa,
ao serviço abnegado, ao esforço por comunicar a doutrina e o amor de Cristo a
todas as almas. A esperança cristã no céu não é individualista, mas referida a
todos 6. Com base nesta promessa, o cristão pode estar firmemente
convencido de que “vale a pena” viver a vida cristã em plenitude. «O céu é o
fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de
felicidade suprema e definitiva» (Catecismo, 1024); assim o exprimiu
Santo Agostinho nas Confissões: «Fizestes-nos, Senhor, para ti, e o nosso
coração está inquieto até descansar em ti» 7. A vida eterna, com
efeito, é o objecto principal da esperança cristã.
«Os
que morrem na graça e na amizade de Deus e estiverem perfeitamente purificados,
viverão para sempre com Cristo. Serão para sempre semelhantes a Deus, porque O
verão “tal como Ele é” (1 Jo 3,2), “face a face” (1 Co 13,12)»
(Catecismo, 1023). A teologia denominou este estado de “visão
beatífica”. «Em virtude da sua transcendência, Deus não pode ser visto tal como
é, senão quando Ele próprio abrir o seu mistério à contemplação imediata do
homem e lhe der capacidade para O contemplar» (Catecismo, 1028). O
céu é a máxima expressão da graça divina.
Por
outro lado, o céu não consiste numa pura, abstracta e imóvel contemplação da
Trindade. Em Deus o homem poderá contemplar todas as coisas que, de algum modo,
fazem referência à sua vida, gozando delas e, em especial, poderá amar os que
amou no mundo com um amor puro e perpétuo. «Nunca esqueçais que depois da morte
vos receberá o Amor. E no amor de Deus encontrareis, além do mais, todos os
amores limpos que tenhais tido na terra» 8. O gozo do céu chega ao
seu cume pleno com a ressurreição dos mortos. Segundo Santo Agostinho, a vida
eterna consiste num descanso eterno e numa deliciosa e suprema actividade 9.
Que
o Céu dure eternamente não significa que nele o homem deixe de ser livre. No
céu, o homem não peca, não pode pecar, porque, vendo Deus face a face, vendo-O,
além do mais, como fonte viva de toda a bondade criada, na realidade não quer
pecar. Livre e filialmente, o homem salvo ficará em comunhão com Deus para sempre.
Com isso, a sua liberdade alcançou a sua plena realização.
A
vida eterna é o fruto definitivo da doação divina ao homem. Por isso, tem algo
de infinito. No entanto, a graça divina não elimina a natureza humana, nem no
seu ser, nem nas suas faculdades, nem a sua personalidade, nem o que tenha
merecido durante a vida. Por isso, há distinção e diversidade entre aqueles que
gozam da visão de Deus, não quanto ao objecto, que é o próprio Deus,
contemplado sem intermediários, mas quanto à qualidade do sujeito: «quem tem
mais caridade participa mais da luz da glória e verá mais perfeitamente a Deus
e será feliz» 10.
paul o’callaghan
Bibliografia
básica:
Catecismo
da Igreja Católica, 988-1050.
Leituras
recomendadas:
João
Paulo II, Catequese sobre o Credo IV: Credo en la vida eterna, Palabra, Madrid
2000 (audiências de 25-V-1999 a 4-VIII-1999).
Bento
XVI, Enc. Spe Salvi, 30-XI-2007.
São
Josemaria, Homilia «A esperança do cristão», em Amigos de Deus, 205-221.
(Resumos da Fé cristã: © 2013,
Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
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Notas
4 Bento XVI, Enc. Spe Salvi,
30-XI-2007, 45.
5 Ibidem, 12.
6 Cf. Ibidem, 13-15, 28, 48.
7 Santo Agostinho, Confissões, 1, 1,
1.
8 São Josemaria, Amigos de Deus, 221.
9 Cf. Santo Agostinho, Epistulae, 55,
9.
10 São Tomás, Summa Theologiae, I, q.
12, a. 6, c.
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