Questão 26: Do amor.
Art.
3 ― Se o amor é o mesmo que a dilecção.
(I
Sent., dist. X, Expos. Litt., III, dist.
XXVII, q. 2, a . 1, De Div. Nom., cap. IV, lect IX).
O terceiro discute-se assim. ― Parece
que o amor é o mesmo que a dilecção.
1. ― Pois, diz Dionísio, que o amor está para a dilecção como quatro para duas vezes dois e o rectilíneo, para o que tem linhas rectas 1. Ora, estas expressões são idênticas. Logo, idênticos também hão-de ser o amor e a dilecção.
2. Demais. ― Os movimentos apetitivos
diferem pelos seus objectos. Ora, o objecto da dilecção e do amor é o mesmo.
Logo, aquela e este identificam-se.
3. Demais. ― Se dilecção e o amor
diferem em algo, há-de ser sobretudo porque a dilecção deve ser tomada no bom
sentido e o amor, no mau, segundo disseram alguns, conforme refere Agostinho 2.
Ora, não diferem de tal modo, pois, como diz Agostinho no mesmo passo, Sagrada
Escritura emprega ambos esses vocábulos tanto no bom como no mau sentido. Logo,
o amor e a dilecção não diferem, como conclui Agostinho no passo citado,
dizendo que não é uma coisa o amor e outra, a dilecção.
Mas, em contrário, diz Dionísio, que
certos Santos consideram mais divino o nome de amor que o de dilecção 3.
Há quatro nomes que se
empregam para significarem de certo modo o mesmo: amor, dilecção, caridade e
amizade, que contudo diferem no seguinte. A amizade, segundo o Filósofo 4,
é um quase hábito, o amor, porém, e a dilecção empregam-se para significar acto
ou paixão, ao passo que caridade é usada em ambos esses sentidos. ― Estes três
vocábulos todavia exprimem um mesmo acto, mas diversamente. Assim, o mais geral
deles é o amor, pois toda dilecção ou caridade a ele se reduz, mas não
inversamente, assim, a dilecção acrescenta-lhe a eleição precedente, como o
próprio nome o indica. Donde, a dilecção não pertence ao concupiscível, mas
exclusivamente à vontade, e só é própria da natureza racional. A caridade por
sua vez acrescenta ao amor uma certa perfeição, enquanto, como o nome por si o
está indicando, temos em grande preço o que amamos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
― Dionísio refere-se ao amor e à dilecção enquanto existentes no apetite
intelectivo, e nesse caso identificam-se.
RESPOSTA À SEGUNDA. ― O objecto do
amor é mais geral que o da dilecção, porque tem maior extensão, como se disse.
RESPOSTA À TERCEIRA. ― O amor não
difere da dilecção como o bem difere do mal, mas no sentido supra-referido.
Contudo, na potência intelectiva, um e outro se identificam, e nesse sentido é
que escreve Agostinho, no passo citado, acrescentando por isso logo depois: a
vontade recta é o amor bom e, a perversa, o mau. Como porém o amor, paixão do
concupiscível, inclina muitos para o mal, isto deu lugar a que alguns
introduzissem a diferença supra-mencionada.
RESPOSTA À QUARTA. ― Alguns disseram
que, mesmo na própria vontade, o nome de amor é mais divino que o de dilecção,
por implicar uma certa paixão, principalmente quando pertencente ao apetite
sensitivo, ao passo que a dilecção pressupõe o juízo da razão. O homem porém
pode tender a Deus pelo amor, antes, passivamente, quase atraído pelo próprio
Deus, do que levado pela razão própria, e isso inclui a ideia de dilecção, como
dissemos. Donde, mais divino que esta é o amor.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1.
IV De div. nom., lect. IX.
2.
XIV De civ. Dei, cap. VII.
3.
IV De div. nom., lect. IX.
4.
VIII Ethic., lect. V.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.