29.
Fixemos os nossos olhos na história da Igreja, onde nunca faltaram homens e
mulheres que foram instrumentos nas mãos de Deus para dar um novo impulso e vitalidade
à fé do povo cristão em tempos de dificuldade. Penso no exemplo do nosso
Fundador. S. Josemaria meditou muito sobre a figura e a resposta dos nossos
predecessores na fé. Por isso, como o patriarca Abraão, o nosso Padre
abandonou os seus projectos nobres e, obediente à voz divina, tornou-se um
peregrino de todos os caminhos do mundo, para ensinar aos seus irmãos e irmãs
uma doutrina «velha como o Evangelho e como o Evangelho nova» [50]:
que Deus nos chama a todos a ser santos no trabalho e nas circunstâncias da
vida vulgar, no meio das realidades temporais. Foi um homem, um sacerdote, de
fé e de esperança: virtudes que, com a caridade, o Senhor infundiu com
crescente intensidade na sua alma. Ao cultivar essa fé gigante e essa grande
esperança, alcançou a capacidade para levar a cabo a missão que tinha recebido,
e hoje são inumeráveis, como as estrelas do céu, e como a areia na praia do mar
(Gn 22, 17), as pessoas de diferentes idades, raças e condições que se
alimentam desse espírito e procuram assim a glória de Deus.
A
vida de S. Josemaria manifesta que cada dia pode e deve ser o nosso tempo de
fé, de esperança, de amor, sem concessões ao egoísmo. Convém, pois, que nos
perguntemos como se manifestam as virtudes teologais na nossa conduta diária:
se sabemos reconhecer a mão providente do nosso Pai Deus em todas as
circunstâncias, tanto nas que se apresentam com um aspeto favorável como
naquelas que parecem adversas; isto é, se estamos firmemente persuadidos de que
ómnia possibília credénti (Mc 9, 23), que tudo é possível ao que crê, apesar da
falta de méritos pessoais e de meios humanos; se somos otimistas no apostolado,
com um otimismo sobrenatural baseado na convicção de que, como afirma o
Apóstolo, ómnia possum in eo, qui me confórtat (Fl 4, 13), tudo podemos em
Cristo, que é a nossa fortaleza.
Talvez
possamos concluir que ainda não nos exercitamos com suficiente intensidade
nessas virtudes. Devemos, então, aplicar as considerações de S. Josemaria:
«Falta-nos fé. No dia em que vivermos esta virtude – confiando em Deus e na sua
Mãe –, seremos valentes e leais. Deus, que é o Deus de sempre, fará milagres
pelas nossas mãos.
–
Dá-me, ó Jesus, essa fé que de verdade desejo! Minha Mãe e Senhora minha, Maria
Santíssima, faz com que eu creia!» [51].
O
nosso Padre implorou muitas vezes para si, para os seus numerosos filhos e
filhas e para todos os cristãos o crescimento nas virtudes teologais: adauge
nobis fidem, spem, caritatem!, aumenta-nos a fé, a esperança e o amor, rezava
todos os dias, pedindo-o também, sem palavras, com o coração, enquanto
levantava a Hóstia e o cálice na Santa Missa. Movia-o o único fim de ser melhor
servidor e de que fossemos melhores servidores de Deus e das almas, em qualquer
hora e situação. Nisto reside, insisto, a causa para que o caminhar da Igreja
se encha de novos frutos, agora e sempre. Como escreve o Papa: «desejamos que
este Ano suscite, em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com
renovada convicção, com confiança e esperança [52].
Descobrir
novamente os conteúdos da fé professada, acrescenta o Papa, é um compromisso
que cada crente deve assumir, sobretudo neste Ano. Não foi sem razão que, nos
primeiros séculos, os cristãos eram obrigados a aprender de memória o Credo. É
que este servia-lhes de oração diária, para não esquecerem o compromisso
assumido com o Batismo» [53].
Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et
Operis Dei
Nota: Publicação devidamente
autorizada
____________________
Notas:
[50]
S. Josemaria, Instrução, 19-III-1934, n. 45.
[51]
S. Josemaria, Forja, n. 235.
[52]
Bento XVI, Carta Apost. Porta fídei, 11-X-2011, n. 9.
[53]
Bento XVI, Carta Apost. Porta fídei, 11-X-2011, n. 9.
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