Art. 5 ― Se a violência
causa o involuntariedade.
(Infra.
q. 73. a . 6, III Ethic., lect. I).
O
quinto discute-se assim. ― Parece que a violência não causa o involuntariedade.
1. ― Pois, voluntariedade e involuntariedade procedem da vontade. Ora, esta, como já se disse, não pode ser violentada. Logo, a violência não pode causar o involuntariedade.
2.
Demais. ― A involuntarioriedade é acompanhada de tristeza, como diz Damasceno1
e o Filósofo 2. Ora, podemos às vezes sofrer violência sem nos
contristarmos. Logo, ela não causa o involuntariedade.
3.
Demais. ― O que procede da vontade não pode ser involuntariedade. Ora, há certa
violência procedente da vontade, assim quando alguém sobe, carregando um corpo
pesado, e quando inflecte os membros contra a flexibilidade natural deles.
Logo, a violência não causa o involuntariedade.
Mas,
em contrário, diz Damasceno 3 e o Filósofo 4, que há involuntariedade
por violência.
A violência se opõe directamente ao voluntário, como também ao natural. Pois
a um e outro é comum proceder de princípio intrínseco, pela razão seguinte.
Assim como no ser carente de conhecimento, a violência causa o que vai contra a
natureza, assim, nos seres que conhecem, a violência produz o que vai contra a
vontade. Ora, assim como o que vai contra a natureza se chama inatural, assim,
o que vai contra a vontade, chama-se involuntariedade. Donde, a violência causa
a voluntariedade.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A involuntariedade opõe-se à voluntariedade,
pois, como já se disse 5, chama-se voluntário não só o acto
procedente, imediatamente, da própria vontade, mas também ao imperado por ela.
Quanto ao primeiro, a vontade não pode ser violentada, como já se disse 6,
donde, a violência não pode tornar tal acto involuntariedade. Mas, quanto ao acto
imperado, a vontade pode padecer violência e então, relativamente a tal acto, a
violência causa a voluntariedade.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Assim como se chama natural ao que é conforme a inclinação da
natureza, assim, voluntário ao que é conforme à da vontade. Ora, toma-se
natural em dupla acepção. Numa, significa o procedente da natureza como
princípio activo, assim, aquecer é natural ao fogo. Noutra, como princípio
passivo, e isso porque há, na natureza, inclinação a receber a acção de
princípio extrínseco, assim, diz-se que o movimento do céu é natural, por causa
da aptidão natural do corpo celeste a tal movimento. Embora seja motor
voluntário. E semelhantemente, voluntariedade pode ser tomada em dupla acepção.
Numa, relativa à acção, como quando alguém quer fazer alguma coisa, noutra,
relativo à paixão, como quando alguém quer sofrer alguma coisa, de outrem. Donde,
sendo a acção causada por algo exterior, e permanecendo, no que sofre, a
vontade de sofrer, não há, no caso, violento em si, porque, embora o que sofre
não contribua para a acção, contribui contudo, querendo sofrer e, por isso, não
pode ser considerado involuntariedade.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Como diz o Filósofo 7, o movimento do animal pelo qual
às vezes se move contra a inclinação natural do corpo, embora não lhe seja
natural, é contudo de certo modo natural ao animal, porque lho é o ser movido
conforme o apetite. E portanto, não há violência, absoluta, mas relativamente
falando. E, o mesmo devemos dizer, quando inflectimos os membros contra a
disposição natural. Pois isto é violento relativamente, a saber, quanto ao membro
particular, não porém absolutamente, quanto ao homem agente, em si mesmo.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
_____________________
Notas:
1. Lib. II Orth. Fid., cap.
XXIV.
2. III Ethic., lect. IV.
3. Loc. Cit.
4. Lect. I.
5. Q. 6, a. 4.
6. Ibid.
7. VIII Physic., lect. VII.
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