10/12/2012

Tratado da bem-aventurança 06


Questão 1: Do fim último do homem.

Art. 6 — Se tudo o que o homem quer é por causa do fim último.




(IV Sent., dist. XLIV, q. 1, a . 3, q ª 4, I Cont. Gent., cap. CI).

O sexto discute-se assim. — Parece que nem tudo o homem quer por causa do fim último.



1. — Pois, as coisas ordenadas ao último fim são consideradas sérias, sendo como que úteis. Ora, destas distinguem-se as jocosas. Logo, o que o homem faz jocosamente não o ordena ao último fim.

2. Demais. — Diz o Filósofo, que as ciências especulativas são cultivadas por si mesmas. Todavia, não se pode dizer que qualquer delas seja o último fim. Logo, nem tudo o que o homem deseja é por causa do último fim.

3. Demais — Quem ordena algo para algum fim, pensa neste, mas, nem sempre o homem pensa no último fim, em tudo o que deseja ou faz. Logo, nem tudo ele deseja ou faz por causa de tal fim.

Mas, em contrário, diz Agostinho: O fim do nosso bem é a causa de serem amadas as outras causas, porém esse fim o é por si mesmo.

Tudo quando o homem deseja há-de forçosamente desejar por causa do último fim. E isso ressalta de dupla razão. — A primeira é que tudo quanto o homem deseja está compreendido na noção de bem. E se não é desejado como bem perfeito, que é o último fim, há de necessariamente sê-lo como tendendo para esse bem, pois sempre o que é incoactivo se ordena para a própria consumação, como é patente tanto nas obras da natureza como nas da arte. E assim, toda perfeição incoactiva ordena-se à perfeição consumada, que é o último fim. — A segunda é que o último fim está para a moção do apetite como o primeiro motor para as outras moções. Ora, é manifesto que as causas segundas motoras não movem senão enquanto movidas pelo primeiro motor. Donde, os apetecíveis secundários não movem o desejo senão em ordem ao apetecível primário, que é o último fim.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — As acções deleitáveis não se ordenam a nenhum fim extrínseco, mas somente ao bem próprio daquele que se diverte, enquanto causam deleite ou descanso. Ao passo que o bem consumado do homem é o seu último fim.

E semelhantemente se deve RESPONDER À SEGUNDA OBJECÇÃO, quanto à ciência especulativa, desejada como um certo bem do especulador e compreendida no bem completo e perfeito, que é o último fim.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Não é necessário pensarmos sempre no último fim, todas as vezes que desejamos ou obramos alguma coisa. Pois, a virtude da primeira intenção, referida a tal fim, perdura no desejo de qualquer coisa, embora não se pense actualmente no último fim. Do mesmo modo que não é necessário quem anda por um caminho pensar no fim a cada passada.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.

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