Art. 6 — Se tudo o que o homem quer é por causa do fim último.
(IV Sent., dist. XLIV, q. 1, a
. 3, q ª 4, I Cont. Gent., cap. CI).
O
sexto discute-se assim. — Parece que nem tudo o homem quer por causa do fim
último.
1. — Pois, as coisas ordenadas ao último fim são consideradas sérias, sendo como que úteis. Ora, destas distinguem-se as jocosas. Logo, o que o homem faz jocosamente não o ordena ao último fim.
2.
Demais. — Diz o Filósofo, que as ciências especulativas são cultivadas por si
mesmas. Todavia, não se pode dizer que qualquer delas seja o último fim. Logo,
nem tudo o que o homem deseja é por causa do último fim.
3.
Demais — Quem ordena algo para algum fim, pensa neste, mas, nem sempre o homem
pensa no último fim, em tudo o que deseja ou faz. Logo, nem tudo ele deseja ou
faz por causa de tal fim.
Mas,
em contrário, diz Agostinho: O fim do nosso bem é a causa de serem amadas as
outras causas, porém esse fim o é por si mesmo.
Tudo quando o homem deseja há-de forçosamente desejar por causa do último
fim. E isso ressalta de dupla razão. — A primeira é que tudo quanto o homem
deseja está compreendido na noção de bem. E se não é desejado como bem
perfeito, que é o último fim, há de necessariamente sê-lo como tendendo para
esse bem, pois sempre o que é incoactivo se ordena para a própria consumação,
como é patente tanto nas obras da natureza como nas da arte. E assim, toda
perfeição incoactiva ordena-se à perfeição consumada, que é o último fim. — A
segunda é que o último fim está para a moção do apetite como o primeiro motor
para as outras moções. Ora, é manifesto que as causas segundas motoras não
movem senão enquanto movidas pelo primeiro motor. Donde, os apetecíveis secundários
não movem o desejo senão em ordem ao apetecível primário, que é o último fim.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — As acções deleitáveis não se ordenam a nenhum
fim extrínseco, mas somente ao bem próprio daquele que se diverte, enquanto
causam deleite ou descanso. Ao passo que o bem consumado do homem é o seu
último fim.
E
semelhantemente se deve RESPONDER À SEGUNDA OBJECÇÃO, quanto à ciência
especulativa, desejada como um certo bem do especulador e compreendida no bem
completo e perfeito, que é o último fim.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Não é necessário pensarmos sempre no último fim, todas as vezes
que desejamos ou obramos alguma coisa. Pois, a virtude da primeira intenção,
referida a tal fim, perdura no desejo de qualquer coisa, embora não se pense actualmente no último fim. Do mesmo modo que não é necessário quem anda por um
caminho pensar no fim a cada passada.
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