Um médico, ao ler o Evangelho, não pode evitar aperceber-se da profunda compaixão de Jesus quando se aproximava dos doentes, tomando Ele a iniciativa para ir ao seu encontro e atendendo sempre as suas súplicas. No entanto, o Senhor pôs uma condição: fé, uma fé humana e sobrenatural n’Ele.
Quando
no Evangelho aquele pai pergunta porque é que os Apóstolos não tinham podido
curar o seu filho Jesus responde que a causa é a sua falta de fé [i].
Atualmente, os médicos esquecem com frequência a necessidade fundamental de
estabelecer uma relação de verdadeira confiança com os seus doentes. Estes
vêem-se estimulados a pôr a sua confiança mais nos medicamentos do que na
pessoa que lhos administra. A burocratização inapropriada na prática médica
pode efetivamente destruir a relação médico-doente e reduzi-la a um mero
intercâmbio de informação e prescrições, onde as estatísticas tomam o lugar da
comunicação interpessoal.
São
Josemaria Escrivá recordava aos médicos a dimensão única que possui a sua
relação pessoal com o doente, e estimulava-os a evitar cair na rotina no seu
trabalho. Incitava-os a manter o seu coração em sintonia com o coração de Deus.
Não se tratava de sentimentalismo, mas da forte convicção de que não se pode
exercer a profissão médica como se fosse qualquer outra profissão, nem sequer
movido meramente pelo amor à ciência.
Numa
ocasião, algumas enfermeiras perguntaram-lhe como podiam melhorar no seu
trabalho, e ele respondeu: «Necessitamos de muitas enfermeiras cristãs. O vosso
trabalho é um sacerdócio, muito mais do que o trabalho de um médico. Disse
muito mais porque vós tendes a delicadeza, a proximidade de estar sempre perto
do doente. Creio que para ser enfermeira, se requer uma verdadeira vocação
cristã. Para aperfeiçoar essa vocação, requer-se estar cientificamente preparado
e ter uma grande delicadeza» [ii].
Noutra
oportunidade, explicou ainda mais este ponto de vista: «Que Deus vos abençoe!
Pensai que estais a cuidar da Sagrada Família de Nazaré e que a pessoa doente á
Jesus [...] Ou pensai que é a Sua Mãe. Tratai-os com amor, com cuidado, com
delicadeza. Assegurai-vos de que não necessitem de nada, especialmente de ajuda
espiritual [...] Rezo por vós porque penso no bem ou no mal que podeis fazer. A
uma pessoa que está espiritualmente preparada, pode-se-lhe falar do seu estado
com franqueza. Mas se não é esse o caso, deveis aproveitar qualquer
oportunidade para os ajudar a recorrer à Confissão e a receber a Comunhão. E
chegará o momento em que a pessoa que está doente, desejará que se lhe diga que
vai para o Céu. Eu próprio conheço alguns exemplos muito bonitos» [iii].
Mais
de uma vez, S. Josemaria sublinhou a dimensão sacerdotal deste trabalho:
«Impressiona-me quando me dizem algo que muitos de vós já conheceis. Os médicos
devem fazer o que fazem os bons confessores, mas na esfera material. Os médicos
devem não só preocupar-se com o estado físico do doente mas também da sua alma»
[iv].
p. binetti, 2012.09.07
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