10/12/2012

A experiência da dor 8


Profissionais em contacto com a dor

Um médico, ao ler o Evangelho, não pode evitar aperceber-se da profunda compaixão de Jesus quando se aproximava dos doentes, tomando Ele a iniciativa para ir ao seu encontro e atendendo sempre as suas súplicas. No entanto, o Senhor pôs uma condição: fé, uma fé humana e sobrenatural n’Ele.

Quando no Evangelho aquele pai pergunta porque é que os Apóstolos não tinham podido curar o seu filho Jesus responde que a causa é a sua falta de fé [i]. Atualmente, os médicos esquecem com frequência a necessidade fundamental de estabelecer uma relação de verdadeira confiança com os seus doentes. Estes vêem-se estimulados a pôr a sua confiança mais nos medicamentos do que na pessoa que lhos administra. A burocratização inapropriada na prática médica pode efetivamente destruir a relação médico-doente e reduzi-la a um mero intercâmbio de informação e prescrições, onde as estatísticas tomam o lugar da comunicação interpessoal.

São Josemaria Escrivá recordava aos médicos a dimensão única que possui a sua relação pessoal com o doente, e estimulava-os a evitar cair na rotina no seu trabalho. Incitava-os a manter o seu coração em sintonia com o coração de Deus. Não se tratava de sentimentalismo, mas da forte convicção de que não se pode exercer a profissão médica como se fosse qualquer outra profissão, nem sequer movido meramente pelo amor à ciência.

Numa ocasião, algumas enfermeiras perguntaram-lhe como podiam melhorar no seu trabalho, e ele respondeu: «Necessitamos de muitas enfermeiras cristãs. O vosso trabalho é um sacerdócio, muito mais do que o trabalho de um médico. Disse muito mais porque vós tendes a delicadeza, a proximidade de estar sempre perto do doente. Creio que para ser enfermeira, se requer uma verdadeira vocação cristã. Para aperfeiçoar essa vocação, requer-se estar cientificamente preparado e ter uma grande delicadeza» [ii].

Noutra oportunidade, explicou ainda mais este ponto de vista: «Que Deus vos abençoe! Pensai que estais a cuidar da Sagrada Família de Nazaré e que a pessoa doente á Jesus [...] Ou pensai que é a Sua Mãe. Tratai-os com amor, com cuidado, com delicadeza. Assegurai-vos de que não necessitem de nada, especialmente de ajuda espiritual [...] Rezo por vós porque penso no bem ou no mal que podeis fazer. A uma pessoa que está espiritualmente preparada, pode-se-lhe falar do seu estado com franqueza. Mas se não é esse o caso, deveis aproveitar qualquer oportunidade para os ajudar a recorrer à Confissão e a receber a Comunhão. E chegará o momento em que a pessoa que está doente, desejará que se lhe diga que vai para o Céu. Eu próprio conheço alguns exemplos muito bonitos» [iii].

Mais de uma vez, S. Josemaria sublinhou a dimensão sacerdotal deste trabalho: «Impressiona-me quando me dizem algo que muitos de vós já conheceis. Os médicos devem fazer o que fazem os bons confessores, mas na esfera material. Os médicos devem não só preocupar-se com o estado físico do doente mas também da sua alma» [iv].

p. binetti, 2012.09.07



[i] Cfr. Mt. XVII, 14-20.
[ii] Cfr. G. HERRANZ, Sem medo à vida…, cit., p. 159.
[iii] Cfr. G. HERRANZ, Sem medo à vida…, cit., p. 161.
[iv] Cfr. G. HERRANZ, Sem medo à vida…, cit., p. 159.

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