06/12/2012

CULTIVAR A FÉ 16


Uma pedagogia da fé na família - a propósito de alguns ensinamentos de S. Josemaria …/11

Educação para a santidade.

As virtudes humanas.

Outro aspecto central da orientação que Josemaria dá à formação cristã é a importância atribuída às virtudes humanas. Gostava de empregar o adjectivo humanas para sublinhar que se tratam de hábitos que honram a pessoa que os tem, que estão na base do comportamento livre e que “alguns têm, mesmo sem conhecer Cristo”
[i].

Neste mundo, muitos não privam com Deus; são criaturas que talvez não tenham tido ocasião de ouvir a palavra divina ou que a esqueceram. Mas as suas disposições são humanamente sinceras, leais, compassivas, honradas. Atrevo-me a afirmar que quem reúne essas condições está a ponto de ser generoso com Deus, porque as virtudes humanas constituem o fundamento das sobrenaturais
[ii].

Consequentemente, para a actuação cristã as virtudes humanas e as sobrenaturais exigem-se reciprocamente, sendo as primeiras a base das segundas. É difícil exercitar, por exemplo, a fortaleza sobrenatural se humanamente faltam os hábitos de domínio de si próprio, ou a prudência cristã se naturalmente se é leviano.

Por outro lado, as virtudes humanas, num cristão, convertem-se em sobrenaturais quando são vivificadas pela caridade e podem ser desenvolvidas com a ajuda da graça divina
[iii]. Para a formação das virtudes na vida familiar há que ter presente que, como adverte o Romano Pontífice, “por uma espécie de osmose, os filhos incorporam às suas vidas e à sua personalidade aquilo que respiram no ambiente do lar, como fruto das virtudes que os pais cultivaram nas suas próprias vidas. O melhor modo de esculpir as virtudes no coração dos filhos é oferecer-lhas gravadas na vida dos pais. Virtudes humanas e virtudes cristãs, em harmoniosa e forte unidade, tornam amável o ideal contemplado nos pais, e estimulam os filhos a empreender a sua conquista” [iv].

Uma vida virtuosa é atraente. Mas S. Josemaria reconhecia que entre os cristãos nem sempre é assim.

“Talvez tenhais observado (…) tantos e tantos que se dizem cristãos – porque foram baptizados e recebem outros Sacramentos –, mas que se mostram desleais, mentirosos, insinceros, orgulhosos... E caem de repente. Parecem estrelas que brilham durante alguns momentos no céu e, de súbito, despenham-se irremediavelmente. Se aceitarmos a nossa responsabilidade de filhos de Deus, saberemos que Ele quer que sejamos muito humanos. A cabeça pode tocar o céu, mas os pés assentam na terra, com segurança. O preço de se viver cristãmente não é nem deixar de ser homem nem abdicar do esforço por adquirir essas virtudes que alguns têm, mesmo sem conhecerem Cristo. O preço de todo o cristão é o Sangue redentor de Nosso Senhor, que nos quer – insisto – muito humanos e muito divinos, com o empenho diário de O imitar, pois é perfectus Deus, perfectus homo
[v].

michele dolz, publicado em Romana, n. 32 (2001), 2011.09.12

Nota: Revisão gráfica por ama.



[i] S. Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 75.
[ii] S. Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 74.
[iii] “Não basta essa capacidade pessoal: ninguém se salva sem a graça de Cristo” (S. Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 75).
[iv] João Paulo II, Discurso aos participantes na IV Assembleia geral do Conselho Pontifício para a Família, sobre o tema: O sacramento do matrimónio e a missão educativa, 10-X-1986, n. 5; AAS 79 (1987) 286-290.
[v] S. Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 75.

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