Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mt 5, 33-48; 6, 1-4
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Evangelho: Mt 5, 33-48; 6, 1-4
33 «Igualmente ouvistes que foi dito aos
antigos: “Não perjurarás, mas guardarás para com o Senhor os teus juramentos”. 34
Eu, porém, digo-vos que não jureis de modo algum, nem pelo céu, porque é o
trono de Deus; 35 nem pela terra, porque é o escabelo de Seus pés;
nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande rei. 36 Nem jurarás
pela tua cabeça, pois não podes fazer branco ou preto um só dos teus cabelos. 37
Seja o vosso falar: Sim, sim; não, não. Tudo o que passa disto, procede do
Maligno. 38 «Ouvistes que foi dito: “Olho por olho e dente por
dente”. 39 Eu, porém, digo-vos que não resistais ao homem mau; mas,
se alguém te ferir na tua face direita, apresenta-lhe também a outra; 40
e ao que quer chamar-te a juízo para te tirar a túnica, cede-lhe também a capa.
41 Se alguém te forçar a dar mil passos, vai com ele mais dois mil. 42
Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem deseja que lhe emprestes. 43
«Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. 44
Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, e
orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. 45 Deste modo sereis
filhos do vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o sol sobre maus e
bons, e manda a chuva sobre justos e injustos. 46 Porque, se amais
somente os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos
também o mesmo? 47 E se saudardes somente os vossos irmãos, que
fazeis de especial? Não fazem também assim os próprios gentios? 48
Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito
6 1 «Guardai-vos de fazer as
boas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles. De contrário
não tereis direito à recompensa do vosso Pai que está nos céus. 2
«Quando, pois, dás esmola, não faças tocar a trombeta diante de ti, como fazem
os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em
verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. 3 Mas, quando
dás esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, 4
para que a tua esmola fique em segredo, e teu Pai, que vê o que fazes em
segredo, te pagará.
PONTIFÍCIO CONSELHO «JUSTIÇA E PAZ»
COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
CAPÍTULO
III
A
PESSOA E OS SEUS DIREITOS
I. DOUTRINA SOCIAL E
PRINCÍPIO PERSONALISTA
105
A Igreja vê no homem, em cada homem, a imagem do próprio Deus vivo; imagem que
encontra e é chamada a encontrar sempre mais profundamente plena explicação de
si no mistério de Cristo, Imagem perfeita de Deus, revelador de Deus ao homem e
do homem a si mesmo. A este homem, que recebeu do próprio Deus uma incomparável
e inalienável dignidade, a Igreja se volta e rende-lhe o serviço mais alto e
singular, chamando-o constantemente à sua altíssima vocação, para que dela seja
cada vez mais consciente e digno. Cristo, o Filho de Deus, «com a Sua
encarnação, num certo sentido, se uniu a cada homem» [197]; por isso a Igreja
reconhece como sua tarefa fundamental fazer com que tal união se possa
continuamente actuar e renovar. Em Cristo Senhor, a Igreja indica e entende,
ela mesma em primeiro lugar, percorrer a via do homem [198], que convida a
reconhecer em toda e qualquer pessoa, próxima ou distante, conhecido ou
desconhecido, e sobretudo no pobre e em quem sofre, um irmão «pelo qual Cristo
morreu» (1 Cor 8,11; Rm 14, 15) [199].
106
Toda a vida social é expressão do seu inconfundível protagonista: a pessoa
humana. De tal facto a Igreja sempre soube, amiúde e de muitos modos, fazer-se
intérprete autorizada, reconhecendo e afirmando a centralidade da pessoa humana
em todo âmbito e manifestação da sociabilidade: «A sociedade humana é objecto
da doutrina social da Igreja, visto que ela não se encontra nem fora nem acima
dos homens socialmente unidos, mas existe exclusivamente neles e, portanto,
para eles» [200]. Este importante reconhecimento encontra expressão na
afirmação de que «longe de ser o objecto e o elemento passivo da vida social»,
o homem, pelo contrário, «é, e dela deve ser e permanecer, o sujeito, o
fundamento e o fim» [201]. Nele, portanto, tem origem a vida social, a qual não
pode renunciar a reconhecê-lo seu sujeito activo e responsável e a ele deve ser
finalizada toda e qualquer modalidade expressiva da sociedade.
107
O homem, tomado na sua concretude histórica, representa o coração e a alma do
ensinamento social católico [202]. Toda a doutrina social se desenvolve, efectivamente,
a partir do princípio que afirma a intangível dignidade da pessoa humana [203].
Mediante as multíplices expressões dessa consciência, a Igreja entendeu, antes
de tudo, tutelar a dignidade humana perante toda tentativa de tornar a propor imagens
redutivas e distorcidas; ademais, ela tem repetidas vezes denunciado as muitas
violações de tal dignidade. A história atesta que da trama das relações sociais
emergem algumas dentre as mais amplas possibilidades de elevação do homem, mas
aí se aninham também as mais execráveis desconsiderações da sua dignidade.
II. A PESSOA HUMANA «IMAGO
DEI»
a) Criatura à imagem de
Deus
108.
A mensagem fundamental da Sagrada Escritura anuncia que a pessoa humana é
criatura de Deus (cf. Sal 139, 14-18) e identifica o elemento que a caracteriza
e distingue no seu ser à imagem de Deus: «Deus criou o homem à sua imagem;
criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher» (Gén 1, 27). Deus põe a
criatura humana no centro e no vértice da criação: no homem (em hebraico
«Adam»), plasmado com a terra «adamah», Deus insufla-lhe pelas narinas o hálito
da vida (cf. Gén 2, 7). Portanto, «por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano
tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas uma coisa, mas alguém. É capaz de
conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com
outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com o seu Criador, a
oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu
lugar» [204].
109
A semelhança com Deus põe à luz o facto de que a essência e a existência do
homem são constitucionalmente relacionadas com Deus do modo mais profundo [205].
É uma relação que existe por si mesma, não começa, por assim dizer, num segundo
momento e não se acrescenta a partir de fora. Toda a vida do homem é uma
pergunta e uma busca de Deus. Esta relação com Deus pode ser tanto ignorada
como esquecida ou removida, mas nunca pode ser eliminada. Dentre todas as
criaturas, com efeito, somente o homem é «“capaz” de Deus» («homo est Dei
capax») [206]. O ser humano é um ser pessoal criado por Deus para a relação com
Ele, que somente na relação pode viver e exprimir-se e que tende naturalmente para
Ele [207].
110
A relação entre Deus e o homem reflecte se na dimensão relacional e social da
natureza humana. O homem, com efeito, não é um ser solitário, mas «por sua
natureza íntima um ser social» e «sem relações com os outros não pode nem viver
nem desenvolver seus dotes» [208]. Em relação a isso é muito significativo o facto
que Deus criou o ser humano como homem e mulher (cf. Gn 1, 27) [209]. Muito eloquente
é, efectivamente, «aquela insatisfação que se apodera da vida do homem no Éden,
quando lhe resta como única referência o mundo vegetal e animal (cf. Gn 2, 20).
Somente a aparição da mulher, isto é, de um ser que é carne da sua carne e osso
dos seus ossos (cf. Gn 2, 23) e no qual vive igualmente o espírito de Deus
Criador, pode satisfazer a exigência de diálogo inter-pessoal, tão vital para a
existência humana. No outro, homem ou mulher, reflecte Se o próprio Deus, abrigo
definitivo e plenamente feliz de toda a pessoa» [210].
111
O homem e a mulher têm a mesma dignidade e são de igual nível e valor [211],
não só porque ambos, na sua diversidade, são imagem de Deus, mas ainda mais
profundamente porque é imagem de Deus o dinamismo de reciprocidade que anima o ‘nós’
do casal humano [212]. Na relação de comunhão recíproca, homem e mulher
realizam-se a si próprios profundamente, redescobrindo-se como pessoas através
do dom sincero de si [213]. Seu pacto de união é apresentado nas Sagradas
Escrituras como uma imagem do Pacto de Deus com os homens (cf. Os 1-3; Is 54;
Ef 5, 21-33) e, ao mesmo tempo, como um serviço à vida [214]. O casal humano
pode participar, assim, da criatividade de Deus: «Deus os abençoou:
“Frutificai, disse Ele, e multiplicai-vos, enchei a terra”» (Gén 1, 28).
112
O homem e a mulher estão em relação com os outros antes de tudo como guardiões de sua vida [215]. «E ao homem pedirei conta da alma do homem, seu irmão» (Gn
9, 5), reafirma Deus a Noé após o dilúvio. Nesta perspectiva, a relação com
Deus exige que se considere a vida do homem sagrada e inviolável [216]. O
quinto mandamento «Não matarás» (Ex 20, 13; Dt 5, 17) tem valor porque só Deus
é Senhor da vida e da morte [217]. O respeito que se deve à inviolabilidade e à
integridade da vida física tem o seu cume no mandamento positivo: «Amarás o teu
próximo como a ti mesmo» (Lv 19, 18), com que Jesus Cristo obriga a
responsabilizar-se pelo próximo (cf. Mt 22, 37-40; Mc 12, 29-31; Lc 10, 27-28).
113
Com esta particular vocação para a vida, o homem e a mulher encontram-se também
diante de todas as outras criaturas. Eles podem e devem submetê-los ao próprio
serviço e usufruir delas, mas o seu senhorio sobre o mundo exige o exercício da
responsabilidade, não é uma liberdade de desfrute arbitrário e egoístico. Toda
a criação, na verdade, tem o valor de «coisa boa» (cf. Gén 1, 10.12.18.21.25)
aos olhos de Deus, que é o seu Autor. O homem deve descobrir e respeitar este
valor: é este um desafio maravilhoso à sua inteligência, que o deve elevar como
uma asa [218] rumo à contemplação da verdade de todas as suas criaturas, ou
seja, daquilo que Deus viu de bom nelas. O Livro da Génese ensina, efectivamente,
que o domínio do homem sobre o mundo consiste em dar nome às coisas (cf. Gn 2,
19-20): com a denominação o homem deve reconhecer as coisas por aquilo que são
e estabelecer com cada uma delas uma relação de responsabilidade [219].
114
O homem está em relação também consigo mesmo e pode reflectir sobre si próprio.
As Sagradas Escrituras falam, nesse sentido, do coração do homem. O coração
designa precisamente a interioridade espiritual do homem, ou seja, aquilo que o
distingue de todas as outras criaturas: com efeito, «todas as coisas que Deus
fez são boas, a seu tempo. Ele pôs, além disso, no seu coração [dos homens], a
duração inteira, sem que ninguém possa compreender a obra divina de um extremo
ao outro» (Ecl 3, 11). O coração indica, ao fim e ao cabo, as faculdades
espirituais mais próprias do homem, que são suas prerrogativas, enquanto criado
à imagem do seu Criador: a razão, o discernimento do bem e do mal, a vontade
livre [220]. Quando escuta a aspiração profunda do seu coração, o homem não
pode deixar de fazer próprias as palavras de Santo Agostinho: «Criastes-nos
para Vós, Senhor, e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em Vós»
[221].
b) O drama do pecado
115
A admirável visão da criação do homem por parte de Deus é incindível do quadro
dramático do pecado das origens. Com uma afirmação lapidar o apóstolo Paulo
sintetiza a narração da queda do homem contida nas primeiras páginas da Bíblia:
«por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte» (Rom 5, 12).
O homem, contra a proibição de Deus, se deixa seduzir pela serpente e deita a
mão à árvore da vida caindo em poder da morte. Com esse gesto o homem tenta
forçar o seu limite de criatura, desafiando Deus, único Senhor do homem e fonte
da vida. Um pecado de desobediência (cf. Rm 5, 19) que separa o homem de Deus [222].
Da
Revelação sabemos que Adão, o primeiro homem, com a transgressão do mandamento
de Deus, perde a santidade e a justiça em que estava constituído, recebidas não
somente para si, mas para toda a humanidade: «ao ceder ao Tentador, Adão e Eva
cometem um pecado pessoal, mas este pecado afecta a natureza humana, que vão
transmitir em um estado decaído. É um pecado que será transmitido por
propagação à humanidade inteira, isto é, pela transmissão de uma natureza
humana privada da santidade e da justiça originais» [223].
116
Na raiz das lacerações pessoais e sociais, que ofendem em vária medida o valor
e a dignidade da pessoa humana, encontra-se uma ferida no íntimo do homem: «À
luz da fé chamamos-lhe pecado, começando pelo pecado original, que cada um traz
consigo desde o nascimento, como uma herança recebida dos primeiros pais, até
aos pecados que cada um comete, abusando da liberdade própria» [224]. A consequência
do pecado, enquanto acto de separação de Deus, é precisamente a alienação, isto
é, a ruptura do homem não só com Deus, como também consigo mesmo, com os demais
homens e com o mundo circundante «a ruptura com Deus desemboca dramaticamente
na divisão entre os irmãos. Na descrição do “primeiro pecado”, a ruptura com
Javé despedaçou, ao mesmo tempo, o fio da amizade que unia a família humana; tanto
assim que as páginas do Génesis que se seguem nos mostram o homem e a mulher,
como que a apontarem com o dedo acusador um contra o outro; depois o irmão que,
hostil ao irmão, acaba por tirar-lhe a vida. Segundo a narração dos factos de
Babel, a consequência do pecado é a desagregação da família humana, que já
começara com o primeiro pecado e agora chega ao extremo na sua forma social» [225].
Reflectindo sobre o mistério do pecado não pode deixar de considerar-se esta
trágica concatenação de causa e de efeito.
117
O mistério do pecado se compõe de uma dúplice ferida, que o pecador abre no seu
próprio flanco e na relação com o próximo. Por isso se pode falar de pecado
pessoal e social: todo o pecado é pessoal sob um aspecto; sob um outro aspecto,
todo o pecado é social, enquanto e porque tem também consequências sociais. O
pecado, em sentido verdadeiro e próprio, é sempre um acto da pessoa, porque é
um acto de liberdade de um homem, individualmente considerado, e não
propriamente de um grupo ou de uma comunidade, mas a cada pecado se pode
atribuir indiscutivelmente o carácter de pecado social, tendo em conta o facto
de que «em virtude de uma solidariedade humana tão misteriosa e imperceptível
quanto real e concreta, o pecado de cada um se repercute, de algum modo, sobre
os outros» [226]. Não é todavia legítima e aceitável uma acepção do pecado
social que, mais ou menos inconscientemente, leve a diluir e quase a eliminar a
sua componente pessoal, para admitir somente as culpas e responsabilidades
sociais. No fundo de cada situação de pecado encontra-se sempre a pessoa que
peca.
118
Alguns pecados, ademais, constituem, pelo próprio objecto, uma agressão directa
ao próximo. Tais pecados, em particular, qualificam-se como pecados sociais. É
igualmente social todo o pecado cometido contra a justiça, quer nas relações de
pessoa a pessoa, quer nas da pessoa com a comunidade, quer, ainda, nas da
comunidade com a pessoa. Todo o pecado é social contra os direitos da pessoa
humana, a começar pelo direito à vida, incluindo a do nascituro, ou contra a
integridade física de alguém; todo o pecado contra a liberdade de outrem,
especialmente contra a suprema liberdade de crer em Deus e de adorá-l’O; todo o
pecado contra a dignidade e a honra do próximo. Social é todo o pecado contra o
bem comum e contra as suas exigências, em toda a ampla esfera dos direitos e
dos deveres dos cidadãos. Enfim, é social aquele pecado que «diz respeito às
relações entre as várias comunidades humanas. Estas relações nem sempre estão
em sintonia com o desígnio de Deus, que quer no mundo justiça, liberdade e paz
entre os indivíduos, os grupos, os povos» [227].
119
As consequências do pecado alimentam as estruturas de pecado, que se radicam no
pecado pessoal e, portanto, estão sempre coligadas aos actos concretos das
pessoas, que as introduzem, consolidam e tornam difíceis de remover. E assim se
reforçam, se difundem e se tornam fontes de outros pecados, condicionando a
conduta dos homens [228]. Trata-se de condicionamentos e obstáculos que duram
muito mais do que as acções feitas no breve arco da vida de um indivíduo e que
interferem também no processo de desenvolvimento dos povos, cujo atraso ou
lentidão devem ser julgados também sob este aspecto [229]. As acções e as
atitudes opostas à vontade de Deus e ao bem do próximo e as estruturas a que
elas induzem parecem ser hoje sobretudo duas: «por outro lado, a sede do poder,
com o objectivo de impor aos outros a própria vontade. A cada um destes comportamentos
pode juntar-se, para os caracterizar melhor, a expressão: “a qualquer preço”» [230].
c) Universalidade do pecado
e universalidade da salvação
120
A doutrina do pecado original, que ensina a universalidade do pecado, tem uma
importância fundamental: «Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós
mesmos, e a verdade não está em nós» (1 Jo 1, 8). Esta doutrina induz o homem a
não permanecer na culpa e a não tomá-la com leviandade, buscando continuamente
bodes expiatórios nos outros homens e justificações no ambiente, na
hereditariedade, nas instituições, nas estruturas e nas relações. Trata-se de
um ensinamento que desmascara tais engodos.
A
doutrina da universalidade do pecado, todavia, não deve ser desligada da
consciência da universalidade da salvação em Jesus Cristo. Se dela isolada,
gera uma falsa angústia do pecado e uma consideração pessimista do mundo e da
vida, que induz a desprezar as realizações culturais e civis dos homens.
121
O realismo cristão vê os abismos do pecado, mas na luz da esperança, maior do
que todo e qualquer mal, dada pelo acto redentor de Cristo que destruiu o
pecado e a morte (cf. Rm 5, 18-21; 1 Cor 15, 56-57): «Nele, Deus reconciliou o
homem consigo» [231]. Cristo, Imagem de Deus (cf. 2 Cor 4, 4; Col 1, 15), é
Aquele que ilumina plenamente e leva ao cumprimento a imagem e semelhança de
Deus no homem. A Palavra que se fez homem em Jesus Cristo é desde sempre a vida
e a luz do homem, luz que ilumina todo homem (cf. Jo 1, 4.9). Deus quer no
único mediador Jesus Cristo, Seu Filho, a salvação de todos os homens (cf. 1 Tm
2,4-5). Jesus é, ao mesmo tempo, o Filho de Deus e o novo Adão, ou seja, o novo
homem (cf. 1 Cor 15, 47-49; Rm 5,14): «Cristo, novo Adão, na mesma revelação do
mistério do Pai e do seu amor, manifesta perfeitamente o homem ao próprio homem
e descobre-lhe a sublimidade da sua vocação» [232]. Nele fomos predestinados por
Deus para sermos «conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o
primogénito entre uma multidão de irmãos» (Rm 8,29).
122
A nova realidade que Jesus nos dá não se enxerta na natureza humana, não se lhe
acresce a partir de fora: é, antes, aquela realidade de comunhão com o Deus
trinitário para a qual os homens desde sempre são orientados no mais profundo
do seu ser, graças à sua semelhança de criatura com Deus; mas trata-se também de
uma realidade que eles não podem alcançar somente com as próprias forças.
Mediante o Espírito de Jesus Cristo, Filho encarnado de Deus, no qual tal
realidade de comunhão é já realizada de modo singular, os homens são acolhidos
como filhos de Deus (cf. Rm 8, 14-17; Gal 4,4-7). Por meio de Cristo,
participamos da natureza de Deus, que se doa infinitamente mais «do que tudo
quanto pedimos ou entendemos» (Ef 3,20). O que os homens já receberam não é
senão uma antecipação ou um «penhor» (2 Cor 1, 22; Ef 1,14) daquilo que obterão
completamente somente diante de Deus, visto «face a face» (1 Cor 13,12), ou
seja, um penhor da vida eterna: «Ora, a vida eterna consiste em que te conheçam
a Ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste» (Jo 17, 3).
123
A universalidade desta esperança inclui, ademais dos homens e das mulheres de
todos os povos, também o céu e a terra: «Que os céus, das alturas, derramem o
seu orvalho, que as nuvens façam chover a vitória; abra-se a terra e brote a
felicidade e ao mesmo tempo faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa
de tudo isso» (Is 45, 8). Segundo o Novo Testamento, com efeito, a criação
inteira juntamente com toda a humanidade aguardam o Redentor: submetida à
caducidade, avança plena de esperança, entre gemidos e dores de parto,
esperando ser libertada da corrupção (cf. Rm 8, 18-22).
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________________________
Notas:
[197] Concílio Vaticano II, Const.
past. Gaudium et spes, 22: AAS 58 (1966) 1042.
[198] Cf. João Paulo II, Carta encicl.
Redemptor hominis, 14: AAS 71 (1979) 284.
[199] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 1931.
[200] Congregação para a Educação
Católica, Orientações para o estudo e o ensino da Doutrina Social na formação
sacerdotal, 35: Tipografia Poliglota Vaticana, Cidade do Vaticano 1988, p. 35.
[201] Pio XII, Radiomensagem (24 de Dezembro de 1944), 5: AAS 37 (1945)
12.
[202] Cf. João Paulo II, Carta encicl.
Centesimus annus, 11: AAS 83 (1991) 807.
[203] Cf. João XXIII, Carta encicl.
Mater et Magistra: AAS 53 (1961) 453, 459.
[204] Catecismo da Igreja Católica,
357.
[205] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 356. 358.
[206] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, título do cap. 1º, secção 1ª, parte 1ª;Concílio Vaticano II, Const.
past. Gaudium et spes, 12: AAS 58 (1966)
1034; João Paulo II, Carta encicl. Evangelium vitae, 34: AAS 87 (1995) 440.
[207] Cf. João Paulo II, Carta encicl.
Evangelium vitae, 35: AAS 87 (1995) 440-441; Catecismo da Igreja Católica,
1721.
[208] Concílio Vaticano II, Const.
past. Gaudium et spes, 12: AAS 58 (1966) 1034.
[209] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 369.
[210] João Paulo II, Carta encicl.
Evangelium vitae, 35: AAS 87 (1995) 440.
[211] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 2334.
[212] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 371.
[213] Cf. João Paulo II, Carta às
famílias Gratissimam sane, 6. 8. 14. 16. 19-20: AAS 86 (1994) 873-874. 876-878.
893- 896. 899-903. 910-919.
[214] Cf. Concílio Vaticano II, Const.
past. Gaudium et spes, 50: AAS 58 (1966) 1070-1072.
[215] Cf. João Paulo II, Carta Encicl.
Evangelium vitae, 19: AAS 87 (1995) 421-422.
[216] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 2258.
[217] Cf. Concílio Vaticano II, Const.
past. Gaudium et spes, 27: AAS 58 (1966) 1047-1048; Catecismo da Igreja
Católica, 2259-2261.
[218] Cf. João Paulo II, Carta Encicl.
Fides et ratio. Prólogo: AAS 91 (1999) 5.
[219] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 373.
[220] Cf. João Paulo II, Carta Encicl.
Evangelium vitae, 34: AAS 87 (1995)
438-440.
[221] S. Agostinho, Confissões, 1, 1:
PL 32, 661: «Tu excitas, ut laudare te delectet; quia fecisti nos ad te, et
inquietum est Cor nostrum, donec requiescat in te».
[222] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 1850.
[223] Catecismo da Igreja Católica,
404.
[224] João Paulo II, Exort. apost.
Reconciliatio et paenitentia, 2: AAS 77 (1985) 188; cf. Catecismo da Igreja
Católica, 1849.
[225] João Paulo II, Exort. apost.
Reconciliatio et paenitentia, 15: AAS 77 (1985) 212-213.
[226] João Paulo II, Exort. apost.
Reconciliatio et paenitentia, 16: AAS 77 (1985) 214. O texto explica, ademais,
que esta lei da descida, e esta comunhão no pecado, em razão da qual uma alma
que se rebaixa pelo pecado arrasta consigo a Igreja, e, de certa maneira, o
mundo inteiro, corresponde uma lei de elevação, o profundo e magnífico mistério
da Comunhão dos Santos, graças à qual se pode dizer que cada alma que se eleva,
eleva o mundo.
[227] João Paulo II, Exort. apost.
Reconciliatio et paenitentia, 16: AAS 77 (1985) 216.
[228] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 1869.
[229] Cf. João Paulo II, Carta encicl.
Sollicitudo rei socialis, 36: AAS 89 (1988) 561-563.
[230] João Paulo II, Carta encicl.
Sollicitudo rei socialis, 37: AAS 89 (1988) 563.
[231] João Paulo II, Exort. apost.
Reconciliatio et paenitentia, 10: AAS 77 (1985) 205.
[232] Concílio Vaticano II, Const.
past. Gaudium et spes, 22: AAS 58 (1966) 1042.
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