06/12/2012

Tratado da bem-aventurança 02




Questão 1: Do fim último do homem.

Art. 2 — Se agir para um fim é próprio da natureza racional.



(Infra. q. 12, a . 5, II Cont. Gent., cap. XXIII, cap. I, II, XVI, De Pot., q. 1 a .5, q. 3, a . 15, V Metaph., lect. XVI).

O segundo discute-se assim. — Parece que agir para um fim é próprio da natureza racional.



1. — Pois o homem, a quem é próprio agir para um fim, não age nunca para um fim desconhecido. Ora, há muitos seres que não conhecem o fim, ou porque carecem absolutamente de conhecimento, como as criaturas insensíveis, ou porque, como os brutos, não apreendem a noção de fim. Donde se conclui que é próprio da natureza racional agir para um fim.

2. — Demais. Agir para um fim é ordenar para este a própria acção, o que é obra da razão, e portanto não convém aos seres que dela carecem.

3. — Demais. O bem e o fim são o objecto da vontade. Ora, a vontade está na razão, como diz Aristóteles. Logo, agir para um fim é próprio só da natureza racional.

Mas, em contrário, o Filosofo prova que não só o intelecto, mas também a natureza, age para um fim.

Todos os agentes agem necessariamente para um fim. Ora, eliminada a primeira, de várias causas ordenadas umas com as outras, é necessário que sejam também essas outras eliminadas. Ora, a primeira de todas as causas é a final, pois, a matéria não busca a forma senão quando movida pelo agente, nada passando por si da potência para o acto. O agente porém só move visando um fim, pois se não fosse determinado a certo efeito não produziria antes um de preferência a outro. Ora, para produzir um determinado efeito, é necessário que seja determinado a algo certo como natureza de fim. E esta determinação, operada na natureza racional pelo apetite racional chamado vontade, o é, nos outros seres, pela inclinação natural denominada apetite natural.

Deve contudo considerar-se, que um ser tende para um fim pela sua acção ou pelo seu movimento, de duplo modo: movendo-se por si mesmo para o fim, como o homem, ou movido por outro, ao modo da seta tendendo para um fim determinado, movida pelo arqueiro, que dirige para ele a sua acção. Donde, os seres dotados de razão a si mesmos se movem para o fim, por terem o domínio dos seus actos pelo livre arbítrio, faculdade da vontade e da razão. Ao passo que os privados dela tendem ao fim por inclinação natural, como que movidos por outro e não por si mesmos, por não conhecerem a noção de fim. E portanto, não podem ordenar nada para um fim, mas somente são para este ordenados por outro, pois toda a natureza está para Deus como o instrumento para o agente principal, conforme já se estabeleceu.

Donde, é próprio da natureza racional tender para o fim, como conduzindo-se ou dirigindo-se para ele. Ao passo que a natureza irracional, como levada ou conduzida por outro, quer seja o fim apreendido, como pelos brutos dotados de conhecimento, quer não apreendido, como se dá com os seres totalmente dele privados.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O homem conhece o fim quando age para ele, por si mesmo, mas quando levado ou conduzido por outro. p. ex., quando age por império de outrem, ou quando movido por impulso de outrem, não é necessário que conheça o fim. E isso dá-se com as criaturas irracionais.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Ordenar para o fim é próprio de quem por si mesmo se dirige para ele. Ao passo que ser ordenado para o fim é próprio de ser, que para o mesmo é levado por outro, o que pode convir à natureza irracional, mas proveniente de um ser dotado de razão.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O objecto da vontade é o fim e o bem universais. Donde, por não serem capazes de apreender o universal, os seres privados de razão e de intelecto não podem ter vontade, senão apenas o apetite natural ou sensitivo determinado a um bem particular. Ora, é claro que as causas particulares são movidas pela causa universal, assim, o governador da república, que visa o bem comum, move pelo seu império todas as funções particulares dela. Donde e necessariamente, todos os seres privados de razão hão-de ser movidos, para fins particulares, por alguma vontade racional, que alcance o bem universal e que é a vontade divina.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.

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