05/12/2012

CULTIVAR A FÉ 15


Uma pedagogia da fé na família - a propósito de alguns ensinamentos de S. Josemaria …/10

Educação para a santidade.

O primado da graça.

E chegamos assim ao verdadeiro fundamento da formação cristã segundo S. Josemaria Escrivá: a filiação divina. Deus criou-nos para nos dar gratuitamente uma dignidade superior, estritamente sobrenatural: ser filhos adoptivos, filhos no Filho, membros da família do Pai, Filho e Espírito Santo: domestici Dei [i]]. “O modo em que Deus nos constitui membros da sua família – escreve F. Ocáriz comentando os ensinamentos de S. Josemaria – é pois um muito concreto: a filiação. Esta familiaridade divina não é, em nós, uma simples questão moral, um simples comportamento, mas, antes, fundamenta-se numa real transformação –e levação, adopção –, pois «a fé diz-nos que o homem, em estado de graça, está endeusado» (Cristo que passa, n. 103), quer dizer, metido verdadeiramente em Deus, introduzido a participar da vida divina; dessa Vida que são as Processões eternas da Santíssima Trindade (…). Não só Deus, num esbanjamento de bondade, quer que o tratemos como um pai, mas num esbanjamento incomparavelmente maior do seu amor, adopta-nos como seus filhos” [ii].
Assim escreve S. João: “Vede que amor por nós teve o Pai, querendo que nos chamemos filhos de Deus e o sejamos de verdade” [iii]. S. Josemaria fez da filiação divina o fundamento da vida espiritual. Nos seus ensinamentos este não é um aspecto mais, mas, sim, o enquadramento transversal e omni-compreensivo.

“A piedade que nasce da filiação divina é uma atitude profunda da alma, que acaba por informar toda a existência: está presente em todos os pensamentos, em todos os desejos, em todos os afectos. Não tendes visto como, nas famílias, os filhos, mesmo sem repararem, imitam os pais: repetem os seus gestos, seguem os seus costumes, se parecem com eles em tantos modos de comportar-se?

Pois o mesmo acontece na conduta de um bom filho de Deus. Chega-se também, sem se saber como nem por que caminho, a esse endeusamento maravilhoso que nos ajuda a olhar os acontecimentos com o relevo sobrenatural da fé; amam-se todos os homens como o nosso Pai do Céu os ama e – isto é o que mais importa – consegue-se um brio novo no esforço quotidiano para nos aproximarmos do Senhor. As misérias não têm importância, insisto, porque estão ao nosso lado os braços amorosos do nosso Pai Deus para nos levantar”
[iv].

Falando aos pais dizia que o ponto principal da formação cristã dada aos seus filhos era o conhecimento de Deus como Pai. E não deveria ser difícil aos pais que são amados pelos seus filhos a transposição do modelo filial, do natural ao sobrenatural.

michele dolz, publicado em Romana, n. 32 (2001), 2011.09.12

Nota: Revisão gráfica por ama.



[i] Ef 2, 19.
[ii] F. Ocáriz, Naturaleza, Gracia y Gloria, Eunsa, Pamplona 2000, pp. 183-184 (capítulo La filiación divina, realidad central en la vida y en la enseñanza de Mons. Escrivá de Balaguer). «A nossa relação com as três pessoas divinas é uma relação baseada na nossa participação na filiação de Cristo por iniciativa de Pai, que quer fazer-nos filhos no Filho, e pela infusão do Espírito, o qual nos assimila a Cristo enquanto Filho» (J. A. Sayés, La gracia de Cristo, BAC, Madrid 1993, p. 283).
[iii] 1 Jo 3, 1.
[iv] S. Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 146.

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