29/11/2012

CULTIVAR A FÉ 9


Uma pedagogia da fé na família - a propósito de alguns ensinamentos de S. Josemaria …/4

Educação para a santidade.

Recordávamos antes a admiração de S. Josemaria pelo standard formativo dos primeiros cristãos, que tinha como objectivo a santidade, a plena identificação com Cristo. S. Paulo assinala dois pólos entre os quais se desenvolve qualquer formação cristã autêntica. Na Carta aos Romanos, falando da constrição da lei e da liberdade que Cristo nos ganhou, diz: “se o que eu não quero é que faço (…) não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim. Sim, eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita coisa boa; pois o querer está ao meu alcance, mas realizar o bem, isso não”
[i]. É o drama da natureza caída e da impossibilidade de acções santas sem a graça. Sob o ponto de vista formativo recorda o absurdo (e os danos) de toda a educação moral que não tenha em conta a debilidade que temos para fazer o bem – debilidade causada pelo pecado –, e prescinda da graça [ii]. Encontramos o outro pólo na célebre passagem da Carta aos Gálatas, insistentemente citado por S. Josemaria: “Já não sou que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que vivo agora na carne vivo-a na fé do Filho de Deus” [iii]. É a vida de Cristo no fiel, na qual a actuação moral é a consequência.

A carta aos Gálatas pode ler-se, na minha opinião, como carta magna dos educadores cristãos. Conceitos como a “a vida em Cristo”, “ser filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo”, “estar chamados à liberdade”, vão muito mais além do simples cumprimento de preceitos ou códigos morais, e recordam aos formadores que o cristianismo não é uma moral nem uma filosofia de vida, mas uma vida, a vida de Cristo em nós. Por isto Paulo exclama na mesma epístola: “meus filhos, por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme entre vós!”
[iv]. Nisto consiste a santidade. E pelo mesmo motivo Paulo adverte contra a tentação de uma orientação formativa empequenecida e, no fundo, mundana: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba. Pois o que um homem semear, também o há-de colher: quem semear na própria carne, da carne colherá a corrupção; quem semear no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna” [v]. A redução das expectativas na educação familiar (consequência da lógica do “semear na carne”) é o que S. Josemaria costumava chamar “o fracasso de Cristo nas famílias cristãs”, famílias que não sabem reconhecer nem aceitar os dons de Deus, por exemplo a vocação dos filhos para uma missão na Igreja (como o chamamento ao sacerdócio ministerial) ou simplesmente o convite divino a assumir coerentemente a vocação à santidade e ao apostolado recebido no baptismo.

michele dolz, publicado em Romana, n. 32 (2001), 2011.09.12

Nota: Revisão gráfica por ama.



[i] Rm 7, 16-18.
[ii] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 407.
[iii] Gal 2, 20.
[iv] Gal 4, 19.
[v] Gal 6, 7-8.

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