Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 20, 1-31
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Evangelho: Jo 20, 1-31
1 No primeiro dia da semana, Maria
Madalena foi ao sepulcro, de manhã, sendo ainda escuro, e viu a pedra retirada
do sepulcro. 2 Correu então, e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo
a quem Jesus amava, e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos
puseram».3 Partiu, pois, Pedro com o outro discípulo e foram ao sepulcro. 4
Corriam ambos juntos, mas o outro discípulo corria mais do que Pedro e chegou
primeiro ao sepulcro. 5 Tendo-se inclinado, viu os lençóis no chão, mas não
entrou. 6 Chegou depois Simão Pedro, que o seguia, entrou no sepulcro e viu os
lençóis postos no chão, 7 e o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus, que
não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte. 8 Entrou também,
então, o outro discípulo que tinha chegado primeiro ao sepulcro. Viu e
acreditou. 9 Com efeito, ainda não entendiam a Escritura, segundo a qual Ele
devia ressuscitar dos mortos. 10 Depois os
discípulos voltaram para casa. 11
Entretanto, Maria estava da parte de fora do sepulcro a chorar. Enquanto
chorava, inclinou-se para o sepulcro 12 e viu dois anjos vestidos de branco,
sentados no lugar onde fora posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos
pés. 13 Eles disseram-lhe: «Mulher, porque choras?». Respondeu-lhes: «Porque
levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram». 14 Ditas estas palavras,
voltou-se para trás e viu Jesus de pé, mas não sabia que era Jesus. 15 Jesus
disse-lhe: «Mulher, porque choras? A quem procuras?». Ela, julgando que era o
hortelão, disse-Lhe: «Senhor, se tu O levaste, diz-me onde O puseste; eu irei
buscá-l'O». 16 Jesus disse-lhe: «Maria!». Ela, voltando-se, disse-Lhe em
hebreu: «Rabboni!», 17 Jesus disse-lhe: «Não Me retenhas, porque ainda não subi
para Meu Pai; mas vai a Meus irmãos e diz-lhes que subo para Meu Pai e vosso
Pai, para Meu Deus e vosso Deus». 18 Foi Maria Madalena anunciar aos
discípulos: «Vi o Senhor!», e as coisas que Ele lhe disse. 19 Chegada a tarde
daquele mesmo dia, que era o primeiro da semana, e estando fechadas as portas
da casa onde os discípulos se encontravam juntos, por medo dos judeus, foi
Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!». 20 Dito
isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se muito ao ver o
Senhor. 21 Ele disse-lhes novamente: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai
Me enviou, também vos envio a vós». 22 Tendo dito esta palavras, soprou sobre
eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. 23 Àqueles a quem perdoardes os
pecados, ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão
retidos». 24 Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio
Jesus. 25 Os outros discípulos disseram-lhe: «Vimos o Senhor!». Mas ele
respondeu-lhes: «Se não vir nas Suas mãos a abertura dos cravos, se não meter a
minha mão no Seu lado, não acreditarei». 26 Oito dias depois, estavam os
discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas
fechadas, colocou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». 27 Em
seguida disse a Tomé: «Mete aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos, aproxima
também a tua mão e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas fiel!». 28 Respondeu-Lhe
Tomé: «Meu Senhor e Meu Deus!». 29 Jesus disse-lhe: «Tu acreditaste, Tomé,
porque Me viste; bem-aventurados os que acreditaram sem terem visto». 30 Outros muitos prodígios fez ainda Jesus na
presença de Seus discípulos, que não foram escritos neste livro. 31 Estes,
porém, foram escritos a fim de que acrediteis que Jesus é o Messias, Filho de
Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em Seu nome.
CARTA ENCÍCLICA
DIVINIS REDEMPTORIS
DE SUA SANTIDADE
PAPA PIO XI
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS, PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS E DEMAIS ORDINÁRIOS
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
DIVINIS REDEMPTORIS
DE SUA SANTIDADE
PAPA PIO XI
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS, PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS E DEMAIS ORDINÁRIOS
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE O COMUNISMO ATEU
…/3
III - LUMINOSA
DOUTRINA DA IGREJA, OPOSTA AO COMUNISMO
Hierarquia
social e prerrogativas do Estado
33. Para assegurar esta tranquila
harmonia pela colaboração orgânica de todos, a doutrina católica confere aos
governantes tanta dignidade e autoridade, quanta é necessária para que eles com
vigilante e previdente solicitude salvaguardem os direitos divinos e humanos,
que as Sagradas Escrituras e os Padres da Igreja tanto inculcam. E neste passo
é necessário observar que erram vergonhosamente os que sem consideração
atribuem a todos os homens direitos iguais na sociedade civil e asseveram que
não existe legítima hierarquia. Sobre este ponto baste-Nos recordar as
Encíclicas do Nosso Predecessor Leão XIII, acima mencionadas, especialmente a
que trata do poder do Estado (Encíclica Diuturnum illud, 29 de j
Junho de 1881: Acta Leonis XIII,
vol. II, págs. 269-287) e a outra que
versa sobre a constituição cristã do Estado (Encíclica Immortale Dei, 1 de Novembro de 1885: Acta Leonis XIII,
vol. V, págs. 118-150). Nelas
encontram os católicos luminosamente expostos os princípios da razão e da fé,
que os tornarão aptos para as premunirem contra os erros e perigos da concepção
comunista acerca do Estado. A espoliação dos direitos e a escravização do
homem, a negação da origem primária e transcendente do Estado e do poder do
Estado, o abuso horrível do poder público ao serviço do terrorismo colectivista
são precisamente o contrário do que é conforme à ética natural e à vontade do
Criador. Tanto o homem como a sociedade civil têm origem no Criador, e foram
por Ele mutuamente ordenados um para a outra, por isso nenhum dos dois pode
furtar-se a cumprir os deveres correlativos, nem recusar ou reduzir os
direitos. O próprio Criador regulou esta mútua relação nas suas linhas
fundamentais, e é injusta a usurpação, que o comunismo se arroga, de impor, em
lugar da lei divina baseada nos imutáveis princípios da verdade e da caridade,
um programa político de partido, que promana do capricho humano e ressuma ódio.
BELEZA DESTA
DOUTRINA DA IGREJA
34. A Igreja ao ensinar esta luminosa
doutrina, não tem outro fim mais que realizar o venturoso anúncio cantado pelos
Anjos sobre a gruta de Belém, no nascimento Redentor: “Glória a Deus e...
paz aos homens” (Lc 2, 14): paz verdadeira e
verdadeira felicidade, até mesmo na terra, quanto é possível, encaminhada a
preparar a felicidade eterna, mas paz reservada aos homens de boa vontade. Esta
doutrina é igualmente distante de todos os extremos do erro como de todas as
exagerações dos partidos ou sistemas que a eles aderem, conserva sempre o
equilíbrio da verdade e da justiça, reivindica-o na teoria, aplica-o e
promove-o na prática, conciliando os direitos e os deveres de um com os dos
outros, como a autoridade com a liberdade, a dignidade do indivíduo com a do
Estado, a personalidade humana no súbdito com a representação divina no
superior, e, por conseguinte, a sujeição devida e o amor ordenado de si mesmo,
da família e da pátria, com o amor das outras famílias e dos outros povos, fundado
no amor de Deus, pai de todos, primeiro princípio e último fim. Nem separa a
justa preocupação dos bens temporais a palavra de seu divino Fundador: “Buscai
primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por
acréscimo” (Mt 6, 33), está longe de se
desinteressar das coisas humanas, de prejudicar os progressos da sociedade e de
impedir os adiantamentos materiais, que pelo contrário sustenta e promove da
maneira mais razoável e eficaz. E assim, até mesmo no campo económico-social, a
Igreja, muito embora não tenha jamais apresentado como seu um determinado
sistema técnico, por não ser essa a sua missão, fixou contudo claramente
princípios e diretivas que, prestando-se a diversas aplicações concretas
segundo as várias condições dos tempos, dos lugares e dos povos, assinalam o
caminho seguro para obter o feliz progresso da sociedade.
35. A sabedoria e suma utilidade
desta doutrina é admitida por quantos verdadeiramente a conhecem. Com
justificada razão puderam afirmar eminentes Estadistas que, depois de terem
estudado os diversos sistemas sociais, nada haviam encontrado mais sábio que os
princípios expostos nas Encíclicas Rerum Novarum e Quadragesimo anno. Até em países não católicos, e nem sequer cristãos,
se reconhece quão vantajosas são para a sociedade humana as doutrinas sociais
da Igreja, e assim, há apenas um mês, um eminente homem político, não cristão,
do Extremo Oriente, não duvidou proclamar que a Igreja com a sua doutrina de
paz e fraternidade cristã traz uma altíssima contribuição para o
estabelecimento e conservação da paz construtiva entre as nações. Mas ainda:
até os próprios comunistas, como sabemos por autênticas relações que afluem de
toda a parte a este Centro de Cristandade, se não estão ainda de todo
corrompidos, quando se lhes expõe a doutrina social da Igreja, reconhecem a sua
superioridade sobre as doutrinas dos seus caudilhos e mestres. Somente os
obcecados pela paixão e pelo ódio fecham os olhos à luz da verdade e a combatem
obstinadamente.
SERÁ VERDADE
QUE A IGREJA NÃO PROCEDEU SEGUNDO A SUA DOUTRINA?
36. Mas os inimigos da Igreja,
constrangidos embora a reconhecer a sabedoria da sua doutrina, assacam-lhe o
não ter sabido conformar os seus atos com aqueles princípios, e afirmam por
isso a necessidade de provocar outros caminhos. Quão falsa e injusta seja esta acusação,
demonstra-o toda a história do cristianismo. Para não Nos referirmos senão a um
ou outro ponto característico, foi o cristianismo o primeiro a propagar, por
uma forma e com uma amplitude e convicção desconhecidas nos séculos
precedentes, a verdadeira e universal fraternidade de todos os homens de
qualquer condição ou raça, contribuindo assim poderosamente para a abolição da
escravatura, não com revoltas sangrentas, senão pela força interna da sua
doutrina, que à orgulhosa patrícia romana fazia ver na sua escrava uma irmã em
Cristo. Foi o cristianismo, que adora o Filho de Deus feito homem por amor aos
homens e convertido em “Filho do carpinteiro”, mais ainda, “carpinteiro”
ele próprio (cfr. Mt 13, 55, Mc 6, 3),
foi o cristianismo que sublimou à sua verdadeira dignidade o trabalho manual:
aquele trabalho manual, antes tão desprezado que até o discreto Marco Túlio
Cícero, resumindo a opinião geral do seu tempo, não receou escrever estas
palavras, de que hoje se envergonharia qualquer sociólogo: “Todos os
operários se ocupam em misteres desprezíveis, pois a oficina nada pode ter de
nobre” (M.T. Cícero, De officiis, L. I, c. 42).
37. Fiel a estes princípios, a
Igreja regenerou a sociedade humana, sob a sua influência surgiram admiráveis
obras de caridade, poderosas corporações de artistas e trabalhadores de todas
as categorias. O liberalismo do século passado zombou delas, é
certo, como de velharias da Idade Média, elas, porém, impõem-se hoje à admiração
dos nossos contemporâneos que em muitos países procuram fazer reviver de algum
modo a sua ideia fundamental. E quando outras correntes entravavam a obra e
punham obstáculos ao influxo salutar da Igreja, esta até nossos dias não cessou
nunca de admoestar os extraviados. Basta recordar com que firmeza, energia e
constância o Nosso Predecessor Leão XIII reivindicou para o operário o direito
de associação, que o liberalismo dominante nos Estados mais
poderosos se obstinava em negar-lhe. E esta influência da doutrina da Igreja
ainda actualmente é maior do que parece, porque é grande e certo, posto que
invisível e difícil de medir, o predomínio das ideias sobre os factos.
38. Pode bem dizer-se com toda a
verdade que a Igreja à semelhança de Cristo, passa através dos séculos, fazendo
bem a todos. Não haveria nem socialismo nem comunismo, se os que
governam os povos não tivessem desprezado os ensinamentos e as maternais
advertências da Igreja, eles, porém, quiseram, sobre as bases do liberalismo e
do laicismo, levantar outros edifícios sociais que à primeira vista pareciam
poderosas e magníficas construções, mas bem depressa se viu que careciam de
sólidos fundamentos, e se vão miseravelmente desmoronando, um após outro, como
tem que desmoronar-se tudo quanto não se apoia sobre a única pedra angular, que
é Jesus Cristo.
NECESSIDADE DE
RECORRER A MEIOS DE DEFESA
39. Tal é, Veneráveis Irmãos, a
doutrina da Igreja, a única que, como em qualquer outro campo, assim também no
campo social, pode projetar verdadeira luz, a única doutrina de salvação em
face da ideologia comunista. Mas é necessário que esta doutrina se realize cada
vez mais na prática da vida, conforme o aviso do Apóstolo São Tiago: “Sede...
cumpridores da palavra e não simples ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1,
22), porquanto, o que na hora actual há de mais urgente é aplicar com
energia os remédios oportunos, para opor-se eficazmente à revolução ameaçadora
que se vai preparando. Alimentamos a firme confiança de que ao menos a paixão
com que dia e noite trabalham os filhos das trevas na sua propaganda materialista
e ateia logre estimular santamente os filhos da luz a um zelo igual, se não
maior, da honra da Majestade divina.
40. Que é, pois, necessário fazer,
que remédios empregar, para defender a Cristo e a civilização cristã contra
aquele pernicioso inimigo? Como um pai no seio da família, Nós quiséramos
conversar, quase na intimidade, sobre os deveres que a grande luta de nossos
dias impõe a todos os filhos da Igreja, dirigindo também a Nossa paternal
advertência aos filhos que dela se afastaram.
RENOVACÇÃO DA
VIDA CRISTÃ
Remédio
Fundamental
41. Como em todos os períodos mais
tormentosos da história da Igreja, assim hoje também o remédio fundamental é
uma sincera renovAcção da vida privada e pública, segundo os princípios do Evangelho
em todos aqueles que se gloriam de pertencer ao Rebanho de Cristo, a fim de
serem verdadeiramente o sal da terra, que preserve a sociedade humana de tal
corrupção.
42. Com sentimentos de profunda
gratidão para com o Pai das luzes, de quem desce “toda a dádiva excelente e
todo o dom perfeito” (Tg 1, 17), vemos por toda a
parte sinais consoladores dessa renovação espiritual, não só em tantas almas
singularmente escolhidas, que nestes últimos anos se têm elevado ao cume da
mais sublime santidade, e em tantas outras, cada vez mais numerosa, que
generosamente caminham para a mesma luminosa meta, mas também no reflorescimento
de uma piedade sentida e vivida, em todas as classes da sociedade, até nas mais
cultas, como pusemos em relevo no Nosso recente Motu proprio In multis solaciis, de 28 do passado Outubro, por ocasião da reorganização
da Pontifícia Academia das Ciências (A.A.S., vol. XXVIII (1936), págs.
421-424).
43. Não podemos, contudo, negar que
muito resta ainda por fazer neste caminho da renovação espiritual. Até mesmo em
países católicos, demasiados são os que são católicos quase só de nome, demasiados,
aqueles que, seguindo embora mais ou menos fielmente as práticas mais
essenciais da religião que se ufanam de professar, não se preocupam de melhor a
conhecer, nem de adquirir convicções, mais íntimas e profundas, e menos ainda
de fazer que ao verniz exterior corresponda o interno esplendor de uma
consciência recta e pura, que sente e cumpre todos os seus deveres sob o olhar
de Deus. Sabemos quanto o Divino Salvador aborrece esta vã e falaz exterioridade,
Ele que queria que todos adorassem o Pai “em espírito e verdade” (Jo 4,
23). Quem não vive verdadeira e sinceramente segundo a fé que professa,
não poderá hoje, que tão violento sopra o vento da luta e da perseguição,
resistir por muito tempo, mas será miseravelmente submergido por este novo
dilúvio que ameaça o mundo, e assim, enquanto se prepara por si mesmo a própria
ruína, exporá também ao ludibrio o nome cristão.
Desapego dos
bens terrenos
44. E neste passo queremos,
Veneráveis Irmãos, insistir mais particularmente sobre dois ensinamentos do
Senhor, que têm especial conexão com as atuais condições do género humano: o
desapego dos bens terrenos e o preceito da caridade. “Bem-aventurados os
pobres de espírito” foram as primeiras palavras que saíram dos lábios do
Divino Mestre no sermão da Montanha (Mt 5, 3). E esta lição é
mais que nunca necessária, nestes tempos de materialismo sedento de bens e
prazeres da terra. Todos os cristãos, ricos ou pobres, devem ter sempre fixo o
olhar no céu, recordando que “não temos aqui cidade permanente, mas vamos
buscando a futura” (Hbr 13, 14). Os ricos não devem
pôr nas coisas da terra a sua felicidade, nem dirigir à conquista desses bens
os seus melhores esforços, mas, considerando-se apenas como administradores que
sabem terão de dar contas ao supremo Senhor, sirvam-se deles como de meios
preciosos que Deus lhes concede para fazerem bem, e não deixem de distribuir
aos pobres o supérfluo, segundo o preceito evangélico (cfr. Lc 11,
41). Doutra forma verificar-se-á neles e em suas riquezas a severa
sentença de São Tiago Apóstolo: “Eia, pois, ó ricos, chorai, soltai gritos
por causa das misérias que virão sobre vós. As vossas riquezas apodreceram, e
os vossos vestidos foram comidos pela traça. O vosso ouro e a vossa prata
enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as
vossas carnes como um fogo. Juntastes para vós um tesouro de ira para os
últimos dias...” (Tg 5, 1-3).
45. Mas os pobres, por sua vez,
esforçando-se muito embora, segundo as leis da caridade e da justiça, por se
proverem do necessário e até mesmo por melhorarem de condição, devem também
permanecer sempre “pobres de espírito” (Mt 5, 3),
estimando mais os bens espirituais que os bens e gozos terrenos. Recordem-se,
além disso, que jamais se logrará fazer desaparecer do mundo as misérias, as
dores, as tribulações, a que estão sujeitos ainda aqueles que exteriormente
parecem mais felizes. E assim, a todos é necessária a paciência, aquela
paciência cristã que eleva o coração às divinas promessas de uma felicidade
eterna. “Sede, pois, pacientes, irmãos”, vos diremos ainda com São
Tiago, “até à vinda do Senhor. Vede como o lavrador espera o precioso fruto
da terra, tendo paciência, até que receba o (fruto) temporão e o serôdio. Sede,
pois, pacientes também vós, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do
Senhor está próxima” (Tg 5, 7-8). Só assim se
cumprirá a consoladora promessa do Senhor: “Bem-aventurados os pobres”.
E não é esta uma consolação e promessa vã, como são as promessas dos comunistas,
mas são palavras de vida, que encerram uma realidade suprema, palavras que se
verificam plenamente aqui na terra e depois na eternidade. E na verdade,
quantos pobres, nestas palavras e na esperança do reino dos céus, proclamando
já propriedade sua: “porque vosso é o reino de Deus” (Lc 6,
20), encontram uma felicidade, que tantos ricos não logram em suas
riquezas, sempre inquietos e sempre torturados como andam pela sede de possuir
ainda mais.
Caridade cristã
46. Muito mais importante ainda,
como remédio do mal de que tratamos, ou pelo menos mais directamente ordenado a
curá-lo, é o preceito da caridade. Queremos referir-Nos àquela caridade cristã
“paciente e benigna” (1 Cor 13, 4), que
evita todos os ares de protecção humilhante e qualquer aparência de ostentação,
aquela caridade, que desde os inícios do cristianismo ganhou para Cristo os
mais pobres dentre os pobres, os escravos, e testemunhamos o Nosso reconhecimento
a todos quantos nas obras de beneficência, desde as conferências de São Vicente
de Paulo até às grandes organizações recentes de assistência social, têm
exercido e exercem as obras de misericórdia corporal e espiritual. Quanto mais
experimentarem em si mesmos os operários e os pobres o que o espírito de amor,
animado pela virtude de Cristo, faz por eles, tanto mais se despojarão do
preconceito de que o cristianismo perdeu a sua eficácia e a Igreja está da
parte daqueles que exploram o seu trabalho.
47. Mas, quando vemos dum lado uma
multidão de indigentes que, por várias causas alheias à sua vontade, estão
verdadeiramente oprimidos pela miséria, e do outro lado, junto deles, tantos
que se divertem inconsideradamente e esbanjam enormes somas em futilidades, não
podemos deixar de reconhecer com dor que não é bem observada a justiça, mas que
nem sempre se aprofundou suficientemente o preceito da caridade cristã nem se
vive conforme a ele na prática cotidiana. Desejamos, portanto, Veneráveis
Irmãos, que seja mais e mais explicado por palavra e por escrito este divino
preceito, precioso distintivo deixado por Cristo a seus verdadeiros discípulos,
este preceito, que nos ensina a ver nos que sofrem a Jesus em pessoa e nos
impõe o dever de amar os nossos irmãos, como o divino Salvador nos amou a nós,
isto é, até ao sacrifício de nós mesmos e, se necessário for, até da própria
vida. Meditem, pois, todos e muitas vezes aquelas palavras consoladoras, por um
lado, mas temerosas por outro, da sentença final que pronunciará o Juiz supremo
no último dia: “Vinde benditos de meu Pai..., porque tive fome, e me destes
de comer, tive sede e me destes de beber... Em verdade vos digo que todas as
vezes que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o
fizestes” (Mt 25, 34-40). E pelo contrário: “Apartai-vos
de mim, malditos, para o fogo eterno... porque tive fome, e não me destes de
comer, tive sede, e não me destes de beber... Na verdade vos digo: todas as
vezes que o não fizestes a um destes mais pequeninos, foi a mim que o não
fizestes” (Mt 25, 41-45).
48. Para assegurar, pois, a vida
eterna, e poder eficaz mente socorrer os necessitados, é necessário voltar a
uma vida mais modesta, renunciar aos prazeres, muitas vezes até pecaminosos,
que o mundo hoje em dia oferece em tanta abundância, esquecer-se a si mesmo por
amor do próximo. Virtude divina de regeneração se encontra neste “mandamento
novo” (como lhe chamava Jesus) da caridade cristã (Jo 13,
34), cuja fiel observância infundirá nos corações uma paz interna
desconhecida do mundo, e remediará eficazmente os males que afligem a
humanidade.
Deveres de
estrita justiça
49. Mas a caridade jamais será
verdadeira caridade, se não tiver sempre em conta a justiça. O Apóstolo ensina
que “quem ama o próximo cumpre a lei”, e dá a razão: “por
quanto não cometerás adultério, não matarás, não furtarás... e qualquer outro
preceito se resume nesta fórmula: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Rom 13,
8-9). Se, pois, segundo o Apóstolo, todos os deveres se reduzem ao único
preceito da verdadeira caridade, ainda aqueles que são de estrita justiça, como
não matar, não roubar, uma caridade que prive o operário do salário a que tem
estrito direito, não é caridade mas um nome vão e uma vã aparência de caridade.
Nem o operário precisa de receber como esmola o que lhe pertence por justiça,
nem pode ninguém pretender eximir-se dos grandes deveres impostos pela justiça
com pequeninas dádivas de misericórdia. A caridade e a justiça impõem deveres,
muitas vezes acerca do mesmo objecto, mas sob aspectos diversos, e os
operários, a estes deveres que lhes dizem respeito, são juntamente muito
sensíveis, em razão da sua própria dignidade.
50. É por isso que de modo especial
Nos dirigimos a vós, patrões e industriais cristãos, cuja missão é muitas vezes
tão difícil, por carregardes com a herança dos erros de um regime econômico
iníquo que exerceu a sua ruinosa influência durante muitas gerações.
Lembrai-vos da vossa responsabilidade. Triste é dizê-lo, mas é bem verdade que
o modo de proceder de certos meios católicos contribui para abalar a confiança
dos trabalhadores na religião de Jesus Cristo. Não queriam eles compreender que
a caridade cristã exige o reconhecimento de certos direitos devidos ao
operário, e que Igreja explicitamente lhe reconheceu. Como julgar do proceder
de patrões católicos, que em algumas partes conseguiram impedir a leitura da
Nossa Encíclica Quadragesimo anno em suas igrejas patronais? Ou daqueles
industriais católicos que até hoje se têm mostrado adversários dum movimento
que o direito de propriedade, reconhecido pela Igreja, tenha sido por vezes
empregado para defraudar o operário do seu justo salário e dos seus direitos
sociais?
Justiça Social
51. Efectivamente, além da justiça
comutativa, há a justiça social que impõe, também, deveres a que nem patrões
nem operários se podem furtar. E é precisamente próprio da justiça social
exigir dos indivíduos quanto é necessário ao bem comum. Mas, assim como no
organismo vivo não se provê ao todo, se não se dá a cada parte e a cada membro
tudo quanto necessitam para exercerem as suas funções, assim também se não pode
prover ao organismo social e ao bem de toda a sociedade, se não se dá a cada
parte e a cada membro, isto é, aos homens dotados da dignidade de pessoa, tudo
quanto necessitam para desempenharem as suas funções sociais. O cumprimento dos
deveres da justiça social terá como fruto uma intensa actividade de toda a vida
económica, desenvolvida na tranquilidade e na ordem, e se mostrará assim a
saúde do corpo social, do mesmo modo que a saúde do corpo humano se reconhece
pela actividade inalterada, e ao mesmo tempo plena e frutuosa, de todo o
organismo.
52. Não se pode, porém, dizer que se
satisfez à justiça social, se os operários não têm assegurada a sua própria sustentação
e a de suas famílias com um salário proporcionado a este fim, se não se lhes
facilita o ensejo de adquirir uma modesta fortuna, prevenindo assim a praga do
pauperismo universal, se não se tomam providências a seu favor, com seguros
públicos e privados, para o tempo da velhice, da doença ou do desemprego. Numa
palavra, para repetirmos o que dissemos na Nossa Encíclica Quadragesimo anno: “A economia social estará solidamente constituída
e obterá seus fins, só quando a todos e a cada um forem subministrados todos os
bens que se podem conseguir com as forças e subsídios naturais, com a técnica,
com a organização social do factor económico Esses bens devem ser em tanta
quantidade, quanta é necessária, assim para satisfazer às necessidades e
honestas comodidades, como para elevar os homens àquela condição de vida mais
feliz, que, obtida e gozada de modo regrado e prudente, não só não é de
obstáculo à virtude, mas até a favorece poderosamente” (Encíclica Quadragesimo anno, 15 de Maio de 1931: A.A.S., vol. XXIII (1931), pág.
202).
53. Se, pois, como sucede cada vez
mais frequentemente no salariado, a justiça não pode ser observada pelos
particulares, a não ser que todos concordem em praticá-la conjuntamente,
mediante instituições que unam entre si os patrões, para evitar entre eles uma
concorrência incompatível com a justiça devida aos trabalhadores, o dever dos
empresários e patrões é sustentar e promover essas instituições necessárias,
que se tornam o meio normal para se poderem cumprir os deveres de justiça. Mas
lembrem-se também os trabalhadores dos seus deveres de caridade e justiça para
com os patrões e estejam persuadidos que assim salvaguardarão melhor até os próprios
interesses.
54. Assim, pois, se se considera o
conjunto da vida económica, - como já notamos na Nossa Encíclica Quadragesimo anno - não se conseguirá que nas relações económico-sociais
reine a mútua colaboração da justiça e da caridade, senão por meio dum corpo de
instituições profissionais e inter-profissionais sobre bases solidamente cristãs,
coligadas entre si e que constituam, sob formas diversas e adaptadas aos
lugares e circunstâncias, o que se chamava a Corporação.
ESTUDO E
DIFUSÃO DA DOUTRINA SOCIAL
55. Para dar a esta Acção social
mais eficácia, é muito necessário promover o estudo dos problemas sociais à luz
da doutrina da Igreja e difundir os seus ensinamentos sob a égide da autoridade
de Deus, constituída na mesma Igreja. Se o modo de proceder de alguns católicos
deixou a desejar no campo económico-social, isso aconteceu muitas vezes por não
conhecerem suficientemente nem meditarem o ensino dos Sumos Pontífices sobre o
assunto. Por isso, é sumamente necessário que em todas as classes da sociedade
se promova mais intensa formação social, correspondente ao diverso grau de
cultura intelectual, e se procure com toda a solicitude e empenho a mais ampla
difusão dos ensinamentos da Igreja também entre a classe operária. Iluminem-se
as mentes com a luz segura da doutrina católica e inclinem-se as vontades a
segui-la e a aplicá-la como norma recta de vida, pelo cumprimento consciencioso
dos múltiplos deveres sociais. Combata-se desse modo aquela incoerência e
descontinuidade na vida cristã, por Nós várias vezes deplorada, pela qual alguns,
enquanto aparentemente são fiéis no cumprimento dos seus deveres religiosos, no
campo do trabalho ou da indústria ou da profissão, ou no comércio, ou no
emprego, por um deplorável desdobramento de consciência, levam uma vida muito
em desarmonia com as normas tão claras da justiça e da caridade cristã, dando
assim grave escândalo aos fracos e oferecendo aos maus fácil pretexto para
desacreditarem a própria Igreja.
56. A imprensa católica pode
contribuir grandemente para esta renovação, que pode e deve, de modo variado e
atraente, procurar dar a conhecer cada vez melhor a doutrina social, informar
com exactidão, mas também com a devida amplidão, acerca da actividade dos inimigos,
referir os meios de combate que se mostraram os mais eficazes em diversas regiões,
propor ideias úteis e gritar alerta contra as astúcias e enganos com que os
comunistas procuram, e com resultado, atrair a si até homens de boa-fé.
Nota: Revisão da tradução portuguesa
por ama.
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