Questão
109: Da ordem dos anjos
maus.
O
quarto discute-se assim. — Parece que os bons anjos não têm superioridade sobre
os maus.
1.
— Pois, a superioridade, nos anjos, baseia-se sobretudo na iluminação. Ora, os anjos
maus, sendo trevas, não são iluminados pelos bons. Logo, estes não têm
superioridade sobre aqueles.
2.
Demais. — O que os súbditos fazem de mal é atribuído à negligência do chefe.
Ora, os demónios fazem muito mal. Se, pois, estão sujeitos ao governo dos bons
anjos, resulta que há nestes alguma negligência, o que é inadmissível.
3.
Demais. — A superioridade dos anjos resulta da ordem da natureza, como se disse
antes (a. 2). Ora, se como comumente se diz, os demónios decaíram,
das várias ordens, muitos deles são superiores, na ordem da natureza, a muitos
bons anjos. Logo, estes não têm superioridade sobre todos os maus.
Mas,
em contrário, diz Agostinho: o espírito, transviado da vida racional e pecador,
é governado pelo de vida racional, pio e justo. E Gregório: chamam-se
potestades os anjos a cujo império estão sujeitas as virtudes adversas.
Toda a ordem da superioridade está primária e originalmente em Deus; e é
participada pelas criaturas, conforme o grau em que se aproximam de Deus.
Assim, as mais perfeitas e mais próximas de Deus têm influência sobre as
outras. Ora, a máxima perfeição, e que mais aproxima de Deus, é a das criaturas
que o fruem, como os santos anjos, e dessa perfeição estão privados os demónios.
Donde, os bons anjos têm superioridade sobre os maus, que são governados por
eles.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Os anjos santos revelam aos demónios muitas
coisas dos mistérios divinos, quando a divina justiça exige que algumas coisas
se façam pelos demónios, quer para punição dos maus, quer para exercitação dos
bons; assim como nas coisas humanas, os assessores do juiz revelam aos algozes
a sentença do mesmo. E tais revelações, referidas aos anjos reveladores, são iluminações,
porque eles as ordenam para Deus. Não o são, porém, em relação aos demónios,
que assim não as ordenam, senão à satisfação da iniquidade própria.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Os santos anjos são ministros da divina sabedoria. Donde, assim
como esta permite que certos males sejam feitos pelos anjos maus ou pelos
homens, por causa do bem que deles venha, assim, os anjos bons não coíbem
totalmente os maus de fazerem o mal.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — O anjo inferior, na ordem da natureza, governa os demónios,
embora superiores, nessa ordem; porque a virtude da divina justiça, a que
inerem os bons anjos, é mais poderosa que a virtude natural angélica. Por isso,
entre os homens, o espiritual julga todas as coisas, como diz a Escritura (1
Cor 11, 15). E o filósofo diz, que o virtuoso é a regra e a medida de
todos os actos humanos.
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