Art. 7 ― Se a memória intelectiva é
potência diferente do intelecto.
(Infra,
q. 23, a. 7, ad 3; I Send., dist. III, q. 4, a. 1; II Cont. Gent., cap. LXXIV;
De Verit., q. 10, a. 3).
O
sétimo discute-se assim. ― Parece que uma potência é a memória intelectiva e
outra, o intelecto.
1.
― Pois, Agostinho compreende na mente a memória, a inteligência e a vontade.
Ora, é manifesto que a memória é uma potência diferente da vontade. Logo,
semelhantemente, também do intelecto.
2.
Demais. ― O fundamento da distinção das potências da parte sensitiva é idêntico
ao da distinção das potências da parte intelectiva. Ora, a memória, na parte
sensitiva, é potência diferente do sentido, como antes já se disse (q. 78,
a. 4). Logo, a memória da parte intelectiva é uma potência diferente do
intelecto.
3.
Demais. ― Segundo Agostinho, a memória, a inteligência e a vontade são iguais
entre si, nascendo uma, da outra. Ora, isso não poderia ser, se a memória fosse
a mesma potência que o intelecto. Logo, não é a mesma potência.
Mas,
em contrário. ― A memória é, por natureza, o tesouro ou o lugar conservativo
das espécies. Ora, essa função o Filósofo atribui ao intelecto, como já se
disse (a. 6). Logo, na parte intelectiva, a memória não é potência
diferente do intelecto.
Como já ficou dito antes (q. 77, a. 3), as potências da alma distinguem-se
pelos, aspectos diversos dos objectos, porque o de cada potência consiste em
ser ordenada para seu objecto próprio. Ora, como também já se disse antes (Ibid.,
ad 4), desde que se ordene por essência a algum objecto, conforme o
aspecto comum deste, nenhuma potência poderá ser diversificada pelas variadas
diferenças particulares. Assim, a potência visiva, que diz respeito ao seu objecto,
conforme a noção de colorido, não se diversifica pelas noções de branco e
preto. Ora, o, objecto do intelecto cai sob o aspecto comum de ente; pois, o
intelecto possível é o princípio pelo qual a alma se torna em todas as causas.
Por onde, a diferença do intelecto possível não se diversifica por nenhuma
diferença entitativa.
Porém,
diversifica-se a potência do intelecto agente da do intelecto possível. Porque
em relação ao mesmo objecto, é necessário que um princípio seja potência ativa,
que actualiza o objecto, e outro, potência passiva, que é movido pelo objecto atualizado.
E, assim, a potência activa está para o seu objecto como o ser em acto para o
ser em potência; porém, a potência passiva está para o seu objecto, inversamente,
como ser em potência para o ser em acto. E portanto, não pode haver no
intelecto nenhuma outra diferença de potências, a não ser a de intelecto
possível e intelecto agente. Por onde é claro, que a memória não é potência
diferente do intelecto. Porém, é da essência da potência passiva conservar, bem
como receber.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Embora se diga que a memória, a inteligência e
a vontade são três potências, contudo, não está conforme a intenção de
Agostinho, que diz expressamente: se tomamos a memória, a inteligência e a
vontade, como sempre presentes à alma, que sejam objectos de cogitação, quer
não, então se incluem na memória. Porém, agora refiro-me à inteligência pela
qual inteligimos, cogitando; e vontade, amor ou dileção, a que une a sobredita
prole e parentela. Por onde se vê que Agostinho não toma essas três atividades
como potências; mas entende por memória a retenção habitual da alma; por
inteligência, o acto do intelecto; por vontade, o acto da vontade.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O pretérito e o presente podem ser as próprias diferenças
diversificadas das potências sensitivas; não, porém, das potências
intelectivas, pela razão sobredita (a. 6, ad 2).
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― A inteligência nasce da memória, como o acto, do hábito e, deste
modo, também se iguala com ela; não se iguala, porém, como uma potência com outra.
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