05/01/2012

Tratado De Deo Trino 51

Art. 3 – Se os nomes essenciais, como o de Deus, se predicam das três Pessoas no singular ou plural.
(I Sent., dist. IX, q. 1, art. 2).

Ora, as três Pessoas têm todas as três a divindade. Logo, as três Pessoas são três Deuses.O terceiro discute-se assim. – Parece que os nomes essenciais, como o de Deus, não se pre­dicam das três Pessoas, no singular, mas no plural.

1. – Pois, assim como homem significa o que tem humanidade, assim Deus, o que tem a divindade. 
2. Demais. – Diz a Escritura (Gn 1, 1): No princípio criou Deus o céu e a terra, estando no texto hebraico Elohim, que se pode interpretar como deuses ou juízes. O que é dito assim, por causa da pluralidade das Pessoas. Logo, as três Pessoas são vários deuses e não um só Deus.

3. Demais. – O vocábulo coisa, empregue em sentido absoluto, parece significar a substância. Ora, esse vocábulo predica-se no plural, das três Pessoas. Assim, diz Agostinho: As coisas de que devemos gozar são o Pai, o Filho e o Espírito Santo [1]. Logo, também os outros nomes essenciais podem predicar-se no plural, das três Pessoas.

4. Demais. – Assim como Deus significa o que tem a divindade, assim Pessoa significa que subsiste em alguma natureza intelectual. Ora, dizemos três Pessoas. Logo, pela mesma razão, podemos dizer três Deuses.

Mas, em contrário, a Escritura (Dt 6, 4): Ouve Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.

Dos nomes essenciais, uns exprimem a essência, substantivamente, outros, porém, adjectivamente. Os primeiros predicam-se das três Pessoas só no singular e não no plural; porém os segundos dos três se predicam no plural.

E a razão é que os nomes substantivos significam a substância de uma coisa; porém os adjectivos, o acidente, inerente ao sujeito. Ora, a substância, tendo o ser por si, também por si tem a unidade ou a multiplicidade; e por isso, a singularidade ou a pluralidade do nome substantivo é considerada em relação à forma significada pelo nome. Os acidentes, porém, existindo num sujeito, também deste recebem a unidade ou a multiplicidade. Por isso, nos adjectivos, consideram-se a singularidade e a pluralidade relativamente aos supostos.

Ora, nas criaturas, uma mesma forma não tem vários supostos senão pela unidade da ordem; assim, a forma da multidão ordenada. Por onde, os nomes que significam essa forma, sendo substantivos e empregues no singular, predicam-se de vários; não, porém, se fossem adjectivos. Assim, dizemos que muitos homens são um colégio, um exército ou um povo; mas dizemos que vários homens são colegiados. Ora, em Deus, a essência divina é expressa, como se disse [2], em sentido formal; pois, é simples e soberanamente una, como demonstramos [3]. Por onde, os nomes que significam substantivamente a essência divina, predicam-se das três Pessoas no singular e não no plural. E é a razão de dizermos, que Sócrates, Platão e Cícero são três homens; e não que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três deuses, senão um só. Porque nos três supostos da natureza humana há três humanidades; ao contrário, nas três Pessoas só há uma essência divina. Mas os nomes, que significam a essência, como adjectivos, predicam-se das três Pessoas no plural, por causa da pluralidade dos supostos. Pois, adjectivamente, dizemos três existentes, três sábios, ou três eternos, incriados e imensos. Substantivamente, porém, dizemos, como Atanásio diz no Símbolo, um incriado, imenso e eterno [4].

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Embora signifique o que tem a divindade, contudo o nome de Deus também tem outra significação, pois é empregado substantivamente, ao passo que a expressão – tem a divindade – o é adjectivamente. Por onde, embora sejam três os que têm a divindade, daí não se segue a existência de três deuses.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Línguas diversas têm modo diverso de falar. Por isso, onde os Gregos dizem três hipóstases, por causa da pluralidade dos supostos, os Hebreus dizem Elohim no plural. Nós, porém, não dizemos, no plural, nem deuses nem substâncias, para não referirmos a pluralidade à substância.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O nome de coisa pertence aos transcendentais. Por isso, enquanto implica relação, predica-se de Deus no plural; mas, quando significa substância, no singular, Por isso, diz Agostinho, no mesmo lugar, que a mesma Trindade é uma realidade suma.

RESPOSTA À QUARTA. – A forma significada pelo nome de pessoa não é a essência ou a natureza, mas a personalidade. Por onde, sendo três as personalidades, i. e, três propriedades pessoais, no Pai, no Filho e no Espírito Santo, dos três se predicam não no singular mas, no plural.

SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,




[1] De doctr. Christ., L. I, c. 5.
[2] a. 2
[3] Q. 3, a. 7; q. 11, a. 4
[4] In Symbolo Quicumque

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