Deus Pai Rafael Sanzio |
1. Com efeito, as coisas que procedem de Deus se parecem com Ele, daí que do primeiro ente derivam todos os entes, e do primeiro bem, todos os bens. Ora, entre as obras de Deus, nada há de totalmente simples. Logo, Deus não é totalmente simples.
2. Além disso, tudo o que há de melhor há-de ser atribuído a Deus. Ora, entre nós, as coisas compostas são melhores que as simples; como os corpos mistos com respeito aos elementos, e os elementos às suas partes. Logo, não se deve dizer de Deus que seja totalmente simples.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, Agostinho afirma: “que Deus é verdadeira e sumamente simples”.
1. Pelo que precede. Como em Deus não há composição nem de partes quantitativas, pois não é um corpo; nem de forma e de matéria, nem distinção de natureza e supósito; nem de essência e ser; nem composição de género e diferença, nem de sujeito e de acidente, fica claro que Deus não é composto de nenhuma maneira, mas totalmente simples.
2. Porque todo composto é posterior a seus componentes e dependente deles. Ora, Deus é o primeiro ente, como já foi demonstrado (q.2 a.3).
3. Porque todo composto tem uma causa. Assim as coisas que por si são diversas não conformam uma unidade, a não ser por uma causa que as unifique. Ora, Deus não tem causa, como foi demonstrado (q.2 a.3), sendo a primeira causa eficiente.
4. Porque em todo composto, há de existir potência e ato, o que não há em Deus, porque, ou uma das partes é ato em relação à outra, ou pelo menos as partes se encontram todas em potência com respeito ao todo.
5. Porque todo composto é algo que não coincide com qualquer de suas partes. Isto é manifesto nas totalidades formadas de partes dessemelhantes: parte nenhuma do homem é o homem, e nenhuma parte do pé é o pé. Por outro lado, nas totalidades de partes semelhantes, embora algo que se diz do todo, se diga da parte, por exemplo: uma parte do ar é ar, uma parte da água é água, no entanto, algo diz do todo que não convém a alguma das partes; assim se toda água mede dois côvados, não se segue que cada parte também o meça. Por conseguinte, em todo composto existe algo que com ele não se identifica. Embora isso se possa dizer do que tem forma, a saber, que nele existe algo que não é ela (como em algo branco existe algo que não é da razão de branco), contudo, na forma nada existe de estranho. Daí que, como Deus é forma, melhor dizendo, é o mesmo ser, de maneira nenhuma pode ser composto. Hilário assinala essa razão em seu livro A Trindade quando diz: “Deus, que é poder, não comporta fraquezas; sendo luz, não admite obscuridade”.
Suma Teológica I, q.3 a.7
Quanto às objecções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. O que procede de Deus a Ele se assemelha, como os efeitos da causa primeira a ela se assemelham. Ora, pertence à razão de ser causado ser composto de alguma maneira, porque pelo menos seu ser é distinto de sua essência, como se verá (q. 50 a.2).
2. Para nós, os compostos são melhores do que os simples, porque a perfeição da bondade da criatura não se encontra em um único simples, mas em muitos; ao passo que a perfeição da bondade divina se encontra em um único simples, como se verá (q. 4, a.2).
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