28/03/2021

Doutrina

 

A oração

 

2. Conteúdos da oração

 

Adoração e louvor.

 

É parte essencial da oração reconhecer e proclamar a grandeza de Deus, a plenitude do seu ser, a infinidade da sua bondade e do seu amor. Pode chegar-se ao louvor a partir da consideração da beleza e magnitude do universo, como acontece em múltiplos textos bíblicos (cf. por exemplo, Sl 19; Si 42, 15-25; Dn 3, 32-90) e em numerosas orações da tradição cristã [1]; ou a partir das obras grandes e maravilhosas que Deus faz na história da salvação, como sucede no Magnificat (Lc 1, 46-55), ou nos grandes hinos paulinos (ver, por exemplo, Ef 1, 3-14); ou de pequenos factos e inclusive de minudências em que se manifesta o amor de Deus.

Em todo o caso, o que caracteriza o louvor é que nele o olhar vai directamente para o próprio Deus, tal como é em si, na sua perfeição ilimitada e infinita. “O louvor é a forma de oração que mais imediatamente reconhece que Deus é Deus! Canta-O por Si próprio, glorifica-O, não tanto pelo que Ele faz, mas sobretudo porque ELE É” (Catecismo , 2639). Está por isso intimamente unida à adoração, ao reconhecimento, não só intelectual mas existencial, da pequenez de tudo o criado, em comparação com o Criador e, em consequência, à humildade, à aceitação da indignidade pessoal diante de quem nos transcende até ao infinito; à maravilha que causa o facto desse Deus a quem os anjos e o universo inteiro rende reverência, se tenha dignado não só a olhar para o homem, mas a habitar no homem, mais ainda, a encarnar.

Adoração, louvor, petição, acção de graças resumem as disposições de fundo que informam a totalidade do diálogo entre o homem e Deus. Seja qual for o conteúdo concreto da oração, quem reza fá-lo sempre, de uma forma ou de outra, explícita o implicitamente, adorando, louvando, suplicando, implorando ou dando graças a esse Deus que reverencia, que ama e em que confia. Importa reiterar, também, que os conteúdos concretos da oração poderão ser muito variados. Por vezes, socorremo-nos da oração para considerar passagens da Escritura, para aprofundar alguma verdade cristã, para reviver a vida Cristo, para sentir a proximidade de Santa Maria... Noutras, iniciar-se-á a partir da própria vida para tornar Deus participante das alegrias e afãs, ambições e problemas que a existência traz consigo, ou para encontrar apoio ou consolo, ou para examinar diante de Deus o próprio comportamento e fazer propósitos e tomar decisões, ou mais simplesmente para comentar, com quem sabemos que nos ama, os acontecimentos do dia.

Encontro entre o crente e Deus em quem se apoia e por quem se sabe amado, a oração pode incidir sobre a totalidade dos acontecimentos que conformam a existência e sobre a totalidade dos sentimentos que o coração pode experimentar. «Escreveste-me: “orar é falar com Deus. Mas, de quê?” — De quê?! D’Ele e de ti; alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas!; e acções de graças e pedidos; e Amor e desagravo. Em duas palavras: conhecê-Lo e conhecer-te – ganhar intimidade!”.[2] Seguindo uma e outra via, a oração será sempre um encontro íntimo e filial entre o homem e Deus, que fomenta o sentido da proximidade divina e leva a viver cada dia da existência cara a Deus.

 

José Luis Illanes

 

Bibliografía básica:

- Catecismo da Igreja Católica, 2558-2758.

Leituras recomendadas:

- S. Josemaria, Homilias «O triunfo de Cristo na humildade»; «A Eucaristia, mistério de fé e de amor»; «A Ascensão do Senhor aos céus»; «O Grande Desconhecido» e «Por Maria, a Jesus»,em Cristo que passa , 12-21, 83-94, 117-126, 127-138 y 139-149. Homilias «A intimidade com Deus»; «Vida de oração» e «Rumo à santidade» , em Amigos de Deus , 142-153, 238-257, 294-316.

- J. Echevarría, Itinerários de vida cristã, Diel, Lisboa 2006, pp. 105-120.

- J.L. Illanes, Tratado de teología espiritual, Eunsa, Pamplona 2007, pp. 427-483.

- M. Belda, Guiados por el Espíritu de Dios. Curso de Teología Espiritual, Palabra , Madrid 2006, pp. 301-338.



[1] Remissão para dois dos mais claros e conhecidos: os “Louvores ao Deus Altíssimo” e o “Cântico do irmão sol” de São Francisco de Assis.

[2] São Josemaria, Caminho, 91.

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