Filosofia e Religião, Vida Humana
O marxismo
O segundo conceito erróneo de democracia é o
que nos vem do sistema marxista. Concedendo igualmente, como o faz o
capitalismo, o primado ao factor económico, apregoa a socialização dos bens como
único processo de libertação de todas as “alienações”. A sociedade, segundo os
seus princípios, está dividida em duas classes: os exploradores e os
explorados. A daqueles constituem-na s detentores dos bens de produção; a
destes, as classes trabalhadoras.
O falso pressuposto baseia-se na teoria da
“mais valia” de Marx. Segundo Carlos Marx, o trabalhador produz mais do que
gasta. Pagando o empresário apenas o que o trabalhador gasta, apropria-se
indevidamente da mais valia do trabalho “não pago”. Segundo ele, assim
se formaa o “capital”. Logicamente a partir deste princípio, o marxismo nega a
legitimidade da propriedade privada, pois ela não viria a ser mais do que um
roubo praticado contra os trabalhadores.
Para realizar os seus intentos, propõe-se o
marxismo a conquista revolucionária do poder e a instauração da ditadura do
proletariado. Dentro da sua lógica, o sistema marxista levaria ao
desaparecimento das restantes alienações, entre as quais se contam a do estado
e da religião.
Neste conceito de democracia, afirma-se
realmente que o poder vem do povo, mas entende-se por povo apenas as massas
trabalhadoras. Delas emergem os militantes e os quadros do partido. Conscientes
do sentido fatal da história, estão dispostos a realizá-lo integralmente empenhando-se
para isso na activação da luta de classes. O marxismo torna-se assim uma
verdadeira ditadura de pertido único que é fonte e aparelho de todo o poder. A
estruturação faz-se principalmente, a partir da células de base. Por um
processo selectivo ascendente, vão-ze promovendo os mais representativos e que
são tidos como os que melhor encarnam a ideologia.. Segundo tal princípio, os
que se encontram em níveis superiores são os que melhor servem a pressuposta
causa do povo. A eles se deve, pois, uma obediência incondicional.
Mais opressor que o primeiro, tal sistema
merece um juízo mais rigoroso. Como escreve Paulo VI, o materialismo ateu, a
maneira como absorve a liberdade individual na sociedade, despersonalizando o
homem, negando toda e qualquer transcedência a si mesmo e às leis da história
fazem com que o sistemaseja uma tomada de posição que se opões radicalmente, ou
pelo menos contradiz os ponstos fundamentais da fé dos cristãos e da concepção
filosófica do homem. (cf. O. A. 26)
Quanto aos socialismos, porém, que hoje nos
podem bater à porta, nem todos estão dominados por estas ideologias
inaceitáveis. Um discernimento se torna necessário em cada caso concreto. Só
então será possível ver o grau de adesão e compromisso permitido aos cristãos.
Sê-lo-á, na medida em que se encontrarem salvaguardados os valores da
liberdade, responsabilidades pessoasi e abertura espiritual, que permitam o
desabrochar integral do homem (cf. O. A. 31).
(A Ferraz, Cristãos e
liberdades democráticas, BROTÈRIA, Vol. 99, 1974)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.