O liberalismo
Inspirado nas ideias
igualitárias da revolução francesa, tem as suas raízes em movimentos filosóficos
e religiosos anteriores. Defende, por princípio, a liberdade absoluta
individual. Cada qual é o único senhor responsável dos seus direitos e
iniciativas. A função do estado será a penas garantir a ordem pública
necessária para a defesa dessas liberdades. Tal concepção levar-nos-ia
necessariamente à lei fatal da “luta
pela vida”, em que necessariamente terá de morrer o mais fraco. Aplicado ao
mundo da economia, tal príncipio reduziria o trabalho a simples mercadoria,
sujeito à lei da oferta e da procura. Favoreceria o capitalismo desenfreado em
que, segundo o princípio de que a matéria atrai a matéria na razão directa das
massas e na inversa do quadrado das distâncias, os ricos seriam cada vez mais
ricos e os pobres cada vez mais pobres, afastados de toda a capacidade de
participação. Entrando em contradição consigo mesmo, o liberalismo acaba pois
por fazer das liberdades individuais um mito e acentuar cada vez mais os
desiquilíbrios sociais.
A ideologia liberal que tem
servido um capitalismo infrene, lesivo dos direitos das classes trabalhadoras e
da dignidadede um público manipulado pelas propagandas de consumo, constitui ainda
hoje uma verdadeira ameaça. Como acentua o documento papal Octogesima Adveniens
[1],
fazendo reviver o capitalismo com novas expressões, através de empresas
multinacionais, dada a concentração e flexibilidade dos seus meios, pode levar
por diante estratégias autónomas em boa parte independentes dos poderes
públicos nacionais, pô-las fora de controlo sob o ponto de vista do bem comum,
criando assim uma nova forma abusiva de dominação económica nos campos social,
cultural e político.
A Ferraz, Cristãos e liberdades
democráticas, in BROTÈRIA, vol 99, 1974
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