Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
31/10/2020
SACRAMENTOS
Uma consideração pessoal do autor de NUNC COEPI
Permita-se-me pôr-me assim, a nu, o que me traz ocupado nesta situação de Pandemia em que o tempo "sobra" para fazer algo com significado útil: Enviar a amigos - e não só - notas, links, mensagens, declarações... que tenho alguma presunção poderem ser de utilidade.
“Que
sou um chato, incómodo, repetitivo...”
Bom...
talvez mas se considero que ao fazê-lo
posso estar não só a prestar um "serviço" a outros como a mim próprio
porque meditei no assunto?...
(AMA,
2020)
Não basta seres bom; tens de parecê-lo
Não
basta seres bom; tens de parecê-lo. Que dirias tu de uma roseira que não
produzisse senão espinhos? (Sulco, 735)
Compreendeste
o sentido da amizade quando te sentiste como pastor de um pequeno rebanho, que
tinhas abandonado, e que procuras agora reunir novamente, disposto a servir
cada um. (Sulco, 730)
Não
podes ser um elemento passivo. Tens de converter-te em verdadeiro amigo dos
teus amigos: ajudá-los! Primeiro, com o exemplo da tua conduta. E, depois, com
o teu conselho e com o ascendente que a intimidade dá. (Sulco, 731)
Pensa
bem nisto, e age em conformidade: essas pessoas, que te acham antipático,
deixarão de pensar assim quando repararem que as amas deveras. Depende de ti. (Sulco, 734)
Consideras-te
amigo porque não dizes uma palavra má. É verdade; mas também não vejo em ti uma
obra boa de exemplo, de serviço...
–
Estes são os piores amigos. (Sulco, 740)
Leitura espiritual Outubro 31
Cartas de São Paulo
Carta
aos Hebreus 7
Cristo é Superior aos Sacerdotes Levitas -
1 Este Melquisedec, rei de Salém, sacerdote
do Deus Altíssimo, foi ao encontro de Abraão quando ele voltava da derrota
infligida aos reis e abençoou-o; 2 Abraão concedeu-lhe o dízimo de todas as
coisas; o seu nome significa, em primeiro lugar, rei de justiça, e depois, «rei
de Salém», que quer dizer «rei de paz». 3 Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem
princípio de dias nem fim de vida, assemelha-se ao Filho de Deus e permanece
sacerdote para sempre. 4 Considerai, portanto, como é grande aquele a quem o
patriarca Abraão deu o dízimo dos despojos. 5 Na verdade, também os filhos de
Levi que recebem o sacerdócio, têm ordem, segundo a Lei, para cobrar o dízimo
ao povo, isto é, aos seus irmãos, embora eles sejam também descendentes de
Abraão. 6 Mas aquele, que não era da sua descendência, cobrou o dízimo de
Abraão e abençoou o detentor das promessas. 7 Ora, sem dúvida, é o inferior que
é abençoado pelo superior. 8 Num caso, os que cobram o dízimo são homens
mortais, mas no outro, é alguém que se afirma estar vivo. 9 E, por assim dizer,
Levi, que recebe o dízimo, pagava o dízimo, na pessoa de Abraão, 10pois ele
ainda estava nas entranhas do seu antepassado quando Melquisedec veio ao seu
encontro.
Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec –
11 Ora, se a perfeição tivesse sido realizada
pelo sacerdócio levítico - sob ele o povo recebeu a Lei - que necessidade havia
de que surgisse um outro sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, e não
segundo a ordem de Aarão? 12 De facto, quando muda o sacerdócio, dá-se também,
necessariamente, a mudança da Lei. 13 Aquele de quem isto se diz pertence a
outra tribo, da qual nenhum membro fez o serviço do altar. 14 É claro que Nosso
Senhor procede de Judá, tribo acerca da qual Moisés nada disse a propósito dos
sacerdotes. 15 E isto é ainda mais evidente, quando aparece outro sacerdote à
semelhança de Melquisedec, 16 instituído, não segundo o mandamento de uma lei humana,
mas segundo o poder de uma vida indestrutível. 17 Na verdade, dele se
testemunha: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. 18 Assim,
dá-se, por um lado, a abolição do mandamento precedente, devido à sua fraqueza
e inutilidade 19 - pois a Lei nada levou à perfeição - e, por outro, a
introdução de uma esperança melhor, mediante a qual nos aproximamos de Deus. 20
E isso não foi feito sem juramento. Os outros tornavam-se sacerdotes sem
juramento, 21 mas este com um juramento daquele que lhe disse: O Senhor jurou e
não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre. 22 Por isso mesmo, Jesus se
tornou o garante de uma aliança superior. 23 Além disso, aqueles sacerdotes
eram numerosos porque a morte os impedia de continuar, 24 mas este, porque
permanece eternamente, possui um sacerdócio que não acaba. 25 Sendo assim, Ele
pode salvar de um modo definitivo, os que por meio dele se aproximam de Deus,
pois Ele está vivo para sempre, a fim de interceder por eles. 26 Tal é, com
efeito, o Sumo Sacerdote que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado
dos pecadores e elevado acima dos céus, 27 que não tem necessidade, como os
outros sacerdotes, de oferecer vítimas todos os dias, primeiro pelos seus
próprios pecados e depois pelos do povo, porque Ele o fez uma vez por todas,
oferecendo-se a si mesmo. 28 A Lei, com efeito, constitui sumos sacerdotes a
homens sujeitos à debilidade; mas a palavra do juramento, posterior à Lei,
constitui o Filho perfeito para sempre.
Cristo que passa
107
Contemplação
da vida de Cristo
É
esse amor de Cristo que cada um de nós deve se esforçar por realizar na sua
vida.
Mas
para ser ipse Christus é preciso mirar-se Nele. Não basta ter-se uma
ideia geral do espírito que Jesus viveu; é preciso aprender com Ele pormenores
e atitudes.
É
preciso contemplar a Sua vida, sobretudo para daí tirar força, luz, serenidade,
paz.
Quando
se ama alguém, deseja-se conhecer toda a sua vida, o seu carácter, para nos
identificarmos com essa pessoa.
Por isso
temos de meditar na vida de Jesus, desde o Seu nascimento num presépio até à
Sua morte e à Sua Ressurreição.
Nos
primeiros anos do meu labor sacerdotal costumava oferecer exemplares do
Evangelho ou livros onde se narra a vida de Jesus, porque é necessário que a
conheçamos bem, que a tenhamos inteira na mente e no coração, de modo que, em
qualquer momento, sem necessidade de nenhum livro, cerrando os olhos, possamos
contemplá-la como um filme; de forma que, nas mais diversas situações da nossa
vida, acudam à memória as palavras e os actos do Senhor.
Sentir-nos-emos
assim metidos na sua vida.
Na
verdade, não se trata apenas de pensar em Jesus e de imaginar aqueles
episódios; temos de meter-nos em cheio neles, como actores; temos de seguir
Cristo tão de perto como Santa Maria, sua Mãe; como os primeiros Doze; como as
santas mulheres; como aquelas multidões que se apertavam ao Seu redor.
Se
fizermos assim, se não criarmos obstáculos, as palavras de Cristo penetrarão
até ao fundo da nossa alma e transformar-nos-ão. Porque a palavra de Deus é
viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes; introduz-se até à
divisão da alma e do espírito, até às junturas e medulas; e discerne os
pensamentos e intenções do coração.
Se
queremos levar os outros homens ao Senhor, é necessário abrir o Evangelho e
contemplar o amor de Cristo.
Podíamos
fixar as cenas-cume da Paixão, porque, como Ele mesmo disse, ninguém tem maior
amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Mas também podemos
considerar o resto da sua vida, o seu modo habitual de tratar com quem se
cruzava com Ele.
Cristo,
perfeito Deus e perfeito Homem, procedeu de um modo humano e divino para fazer
chegar aos homens a Sua doutrina de salvação e para lhes manifestar o amor de
Deus.
Deus
condescende com o homem, assume a nossa natureza sem reservas, excepto no
pecado.
Dá-me
uma grande alegria considerar que Cristo quis ser plenamente homem, com carne
como a nossa.
Emociona-me
contemplar a maravilha de um Deus que ama com coração de homem.
108
Entre
tantas cenas narradas pelos Evangelistas, detenhamo-nos a considerar algumas,
começando pelos relatos do convívio de Jesus com os Doze.
O
Apóstolo João, que verte no seu Evangelho a experiência de uma vida inteira,
narra a primeira conversa com o encanto daquilo que nunca mais se pode
esquecer: «Mestre, onde moras»?
Disse-lhe
Jesus: «Vinde e vede. Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele
aquele dia».
Diálogo
divino e humano, que transformou a vida de João e de André, de Pedro, de Tiago
e de tantos outros; que preparou os seus corações para escutarem a palavra
imperiosa que Jesus lhes dirigiu junto ao mar da Galileia: «Caminhando Jesus
junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu
irmão, lançando as redes ao mar, porque eram pescadores.
E
disse-lhes: Segui-Me, e Eu farei de vós pescadores de homens. Deixando as
redes, imediatamente O seguiram».
Nos
três anos seguintes Jesus convive com os Seus discípulos, conhece-os, responde
às suas perguntas, resolve as suas dúvidas.
Sim,
é o Rabi, o Mestre que fala com autoridade, o Messias enviado por Deus; mas, ao
mesmo tempo, é acessível, próximo.
Um
dia Jesus retira-se para orar.
Os
discípulos estavam perto, olhando talvez para Ele e tentando adivinhar as suas
palavras.
Quando
regressa, um deles roga-Lhe: «Domine, doce nos orare, sicut docuit et
Ioannes discipulos suos; ensina-nos a orar, como João ensinou aos seus
discípulos».
E
Jesus responde-lhes: «Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu
nome...»
Também
com autoridade de Deus e com carinho humano recebe o Senhor os Apóstolos,
quando, assombrados pelos frutos da sua primeira missão, Lhe comentavam as
primícias do seu apostolado: «Vinde, retiremo-nos a um lugar deserto e
repousai um pouco».
Uma
cena muito similar se repete quase no final da vida de Jesus na Terra, pouco
antes da Ascensão: «Ao surgir a manhã, apresentou-Se Jesus na praia, mas os
discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes
então Jesus: Rapazes, tendes alguma coisa de comer? Aquele que tinha perguntado
como homem, fala depois como Deus: Lançai a rede à direita do barco e
encontrareis.
Lançaram-na,
pois, e mal a podiam arrastar., devido à grande quantidade de peixe.
Então
o discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro: É o Senhor».
E
Deus espera-os na margem: «Logo que saltaram para terra viram ali umas
brasas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes
Jesus: Trazei dos peixes que apanhastes agora. Simão Pedro subiu à barca e
puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixe; e,
sendo tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes, Jesus: Vinde comer.
E
nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: Quem és Tu?, sabendo que era
o Senhor.
Então
Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe».
Esta
delicadeza e carinho, manifesta-os Jesus, não só com um pequeno grupo de
discípulos, mas com todos: com as santas mulheres, com representantes do
Sinédrio, com Nicodemos e com publicamos, como Zaqueu, com doentes e com sãos,
com doutores da Lei e com pagãos, com pessoas, individualmente, e com multidões
inteiras.
Narram-nos
os Evangelhos que Jesus «não tinha onde reclinar a cabeça», mas
contam-nos também que tinha amigos queridos e de confiança, ansiosos por
recebê-Lo em sua casa.
E
falam-nos da Sua compaixão pelos enfermos, da Sua mágoa pelos que ignoram e
erram, da Sua indignação perante a hipocrisia.
Jesus
chora pela morte de Lázaro, ira-Se com os mercadores que profanam o Templo,
deixa que se enterneça o Seu coração com a dor da viúva de Naim.
109
Cada
um destes gestos humanos é gesto de Deus.
Em
Cristo habita toda a plenitude da divindade corporalmente.
Cristo
é Deus feito homem; homem perfeito; homem cabal.
E,
na Sua humanidade, dá-nos a conhecer a divindade.
Ao
recordarmos esta delicadeza humana de Cristo, que gasta a Sua vida em serviço
dos outros, fazemos muito mais do que descrever um modo possível de nos
comportarmos: estamos a descobrir Deus. Toda a actuação de Cristo tem um valor
transcendente; dá-nos a conhecer o modo de ser de Deus; convida-nos a crer no
amor de Deus, que nos criou e que quer levar-nos até à Sua intimidade.
«Manifestei
o teu nome aos homens que, do mundo, me deste.
Eram
teus e Tu deste-mos, e eles guardaram a tua palavra. Agora sabem que tudo
quanto me deste vem de Ti», exclamou Jesus na longa oração que o
Evangelista João nos conserva.
Portanto,
o convívio de Jesus com os homens não fica em meras palavras nem em atitudes
superficiais; Jesus toma a sério o homem e quer dar-lhe a conhecer o sentido
divino da sua vida.
Jesus
sabe exigir, colocar os homens perante os seus deveres, arrancar do comodismo e
do conformismo os que O escutam, para levá-los a conhecer O Deus três vezes
santo.
A
fome e a dor comovem Jesus, mas sobretudo comove-O a ignorância: «Viu Jesus
uma grande multidão e compadeceu-Se deles, porque eram como ovelhas sem pastor.
Começou então a ensiná-los demoradamente».
110
Aplicação
à nossa vida corrente
Percorremos
algumas páginas dos Santos Evangelhos para contemplar Jesus no Seu convívio com
os homens e para aprendermos a levar Cristo aos nossos irmãos, os homens, sendo
nós próprios Cristo. Apliquemos esta lição à nossa vida corrente, à vida de
cada um de nós.
Porque
a vida corrente e ordinária, a vida de cada homem entre os seus concidadãos e
seus iguais, não é coisa baixa e sem relevo; é precisamente nessas
circunstâncias que o Senhor quer que se santifique a imensa maioria dos seus
filhos.
É
necessário repetir uma e mais vezes que Jesus não se dirigiu a um grupo de
privilegiados, mas veio revelar-nos o amor universal de Deus.
Todos
os homens são amados por Deus; de todos eles espera amor, de todos, quaisquer
que sejam a sua condição, a sua posição social, a sua profissão ou oficio.
A
vida corrente e ordinária não é coisa de pouco valor; todos os caminhos da
Terra podem ser uma ocasião de encontro com Cristo, que nos chama a
identificar-nos com Ele, para realizarmos - no lugar onde estamos - a Sua
missão divina.
Deus
chama-nos através dos incidentes da vida de cada dia, no sofrimento e na
alegria das pessoas com quem convivemos, nas preocupações dos nossos
companheiros, nas pequenas coisas da vida familiar.
Deus
também nos chama através dos grandes problemas, conflitos e ideais que definem
cada época histórica, atraindo o esforço e o entusiasmo de grande parte da
Humanidade.
111
Compreende-se
muito bem a impaciência, a angústia, os inquietos anseios daqueles que, com uma
alma naturalmente cristã, não se resignam perante a injustiça individual e
social que o coração humano é capaz de criar.
Tantos
séculos de convivência dos homens entre si, e ainda tanto ódio, tanta
destruição, tanto fanatismo acumulado em olhos que não querem ver e em corações
que não querem amar!
Os
bens da Terra, repartidos entre muito poucos; os bens da cultura, encerrados em
cenáculos...
E,
lá fora, fome de pão e de sabedoria; vidas humanas - que são santas, porque vêm
de Deus - tratadas como simples coisas, como números de uma estatística!
Compreendo
e compartilho dessa impaciência, levantando os olhos para Cristo, que continua
a convidar-nos a pormos em prática o mandamento novo do amor.
Todas
as situações que a nossa vida atravessa nos trazem uma mensagem divina, nos
pedem uma resposta de amor, de entrega aos demais.
«Quando
vier o Filho do homem em toda a sua majestade, acompanhado de todos seus anjos,
há-de sentar-se então no seu trono de glória. Perante Ele reunir-se-ão todas as
nações e Ele apartará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as
ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas, e os cabritos à esquerda.
O Rei dirá então, aos da sua direita: Vinde, benditos do meu Pai, recebei em
herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive
fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e
recolhestes-Me; estava nu e vestistes-Me; adoeci e visitastes-Me, estive na
prisão e fostes ter comigo. Então os justos responder-Lhe-ão: Senhor, quando é
que Te vimos com fome e Te demos de comer, com sede e Te demos de beber? Quando
é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou nu e Te vestimos? E quando Te
vimos doente ou na prisão e fomos visitar-Te? E o Rei dir-lhes-á em resposta:
Em verdade vos digo, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos mais
pequeninos, a Mim o fizestes».
É
preciso reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos irmãos, os homens.
Nenhuma
vida humana é uma vida isolada; entrelaça-se com as demais.
Nenhuma
pessoa é um verso solto; todos fazemos parte de um mesmo poema divino, que Deus
escreve com o concurso da nossa liberdade.
Filosofia, Religião, Vida Humana.
Filosofia, Religião, Vida Humana, CV II, Liturgia,
Virtudes 23
Virtudes – Fidelidade 2
Uma força que
conquista o tempo
«Como foste fiel
no pouco, eu te confiarei muito: entra na alegria do teu Senhor» (Mt 25,21). O final da
parábola dos talentos relaciona a fidelidade com a alegria do Senhor, depois de
sublinhar a importância das coisas pequenas. A fidelidade conduz do mais
pequeno para o maior, do cuidado daquilo que nos está encomendado na terra até
à glória eterna. A fidelidade consiste no cumprimento daquilo a que a pessoa se
comprometeu; é uma virtude unida à veracidade e à fiabilidade, porque há uma
coerência entre a palavra dada por uma pessoa fiel e as suas acções. Mas a
fidelidade que abre as portas do Céu vai mais além dessa simples conformidade e
abarca a totalidade da existência: é uma virtude que se prova no tempo, a
partir da clareza da própria identidade pessoal e das relações com Deus e com
os outros. A fidelidade tem, pois, um aspecto dinâmico: a existência humana
está sujeita a mudanças e, a fidelidade, é como uma força que conquista o
tempo, não por rigidez ou inércia, mas de um modo criativo, integrando as novas
circunstâncias de cada dia no seu compromisso e dando assim continuidade,
segurança e fecundidade à existência, para entrar na felicidade do Céu.
Resumindo, “a fidelidade é a perfeição do amor” (São Josemaria,
Carta 24-III-1931, 45) e redime o tempo (Cfr. Ef 5,16).
“Quando se segue
uma chamada de Jesus Cristo, atualiza-se também uma decisão de entrega por
amor. Quando se diz que sim pela primeira vez à chamada, não se sabe tudo o que
Deus vai pedir, mas a pessoa já quer dar-se de todo e para sempre”.
A Escritura mostra
como o aspecto incondicional da fidelidade é uma resposta à fidelidade de Deus.
A Aliança com Deus, a fidelidade de Cristo, são fundamentos e modelos da
fidelidade humana. Toda a fidelidade autêntica está unida à primeira
fidelidade, a de Deus, e, por sua vez, existe uma íntima relação entre a fidelidade
a Deus e a fidelidade aos outros.
Deus tem um plano
para cada pessoa, embora esta não o conheça nem sempre tenha consciência de que
Deus premiará a fidelidade à sua vocação e missão, que faz dela um ser recreado
pela graça. “Ao vencedor darei do maná escondido; dar-lhe-ei também uma
pedrinha branca e escrito na pedrinha um nome novo, que ninguém conhece senão o
que a recebe” (Ap 2,17). Dava-se uma pedrinha branca aos vencedores dos jogos desportivos; uma
pedrinha branca servia nos tribunais para absolver o acusado; uma pedra marcada
servia como bilhete de entrada para as festas privadas. A minha fidelidade
far-me-á vencedor e permitir-me-á entrar na festa divina, purificado pela
graça: “bem-aventurados os chamados à ceia do Cordeiro” (Ap 19,9). O objecto da
minha fidelidade é participar na vida de Deus, com a plena instauração de um
Reino que é amor.
Pequena agenda do cristão
Outubro - Mês do Rosário
30/10/2020
A maior revolução de todos os tempos!
Se nós, os cristãos, vivêssemos realmente de acordo com a nossa fé, far-se-ia a maior revolução de todos os tempos! A eficácia da co-redenção depende também de cada um de nós! Pensa nisto. (Forja, 945)
Sentir-te-ás
plenamente responsável quando compreenderes que, perante Deus, só tens deveres.
Ele se encarrega de te conceder direitos! (Forja,
946)
Um
pensamento te ajudará nos momentos difíceis: quanto mais aumente a minha
fidelidade, melhor contribuirei para que os outros cresçam nesta virtude. E é
tão atraente sentir-nos apoiados uns pelos outros! (Forja, 948)
Corres
o grande perigo de te conformares com viver (ou pensar que deves viver...) como
um "bom rapaz", que se hospeda numa casa arrumada, sem problemas, e
que não conhece senão a felicidade.
Isso
é uma caricatura do lar de Nazaré. Cristo, justamente porque trazia a
felicidade e a ordem ao mundo, saiu a propagar esses tesouros entre os homens e
mulheres de todos os tempos. (Forja, 952).
Leitura espiritual Outubro 30
Cartas de São Paulo
Carta
aos Hebreus 6
1 Por isso, deixando de parte os ensinamentos
elementares sobre Cristo, elevemo-nos a coisas mais completas, sem lançar de
novo os fundamentos da conversão das obras mortas, da fé em Deus, 2 da doutrina
do baptismo, da imposição das mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo
eterno. 3 É isso que faremos, se Deus o permitir. 4 É impossível, com efeito,
que aqueles que uma vez foram iluminados, que provaram o dom celeste, que se
tornaram participantes do Espírito Santo, 5 que provaram a boa palavra de Deus
e as maravilhas do mundo futuro, 6 e que, no entanto, caíram, é impossível que
sejam de novo renovados, levados à conversão, pois por si mesmos crucificam de
novo o Filho de Deus e expõem-no ao escárnio. 7 Na verdade, a terra que absorve
a chuva que cai muitas vezes sobre ela, e produz plantas úteis para aqueles que
a cultivam, recebe a bênção de Deus; 8 mas, se produz espinhos e cardos, não
tem valor e está próxima da maldição: acabará por ser queimada. 9 Quanto a vós,
amados irmãos, e apesar de falarmos deste modo, estamos convencidos que existem
em vós coisas melhores, que conduzem à salvação. 10 De facto, Deus não é
injusto, para esquecer as vossas obras e o amor que mostrastes pelo seu nome,
pondo-vos ao serviço dos santos e servindo-os ainda agora. 11 Desejamos, porém,
que cada um de vós mostre o mesmo zelo para a plena realização da sua esperança
até ao fim, 12 de modo que não vos torneis preguiçosos, mas imiteis aqueles
que, pela fé e pela perseverança, se tornam herdeiros das promessas.
Promessa e juramento de Deus –
13 Quando Deus fez a promessa a Abraão, como
não tinha ninguém maior por quem jurar, jurou por si mesmo, 14 dizendo: Na
verdade, Eu te abençoarei e multiplicarei a tua descendência. 15 E assim,
Abraão, tendo esperado com paciência, alcançou a promessa. 16 Ora, os homens
juram por alguém maior do que eles, e o juramento é para eles uma garantia que
põe fim a toda a controvérsia. 17 Por isso, querendo Deus mostrar mais
claramente aos herdeiros da promessa que a sua decisão era imutável, interveio
com um juramento, 18 para que, graças a duas acções imutáveis, nas quais é
impossível que Deus minta, encontrássemos grande estímulo, nós os que
procurámos refúgio nele, agarrando-nos à esperança proposta. 19 Nessa esperança
temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior
do véu 20 onde Jesus entrou como nosso precursor, tornando-se Sumo Sacerdote
para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.
Cristo
que passa
102
Cristo
vive.
Esta
é a grande verdade que enche de conteúdo a nossa fé.
Jesus,
que morreu na cruz, ressuscitou; triunfou da morte, do poder das trevas, da dor
e da angústia.
Não
temais - foi com esta invocação que um anjo saudou as mulheres que iam ao
sepulcro.
«Não
temais. Procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ressuscitou; não está
aqui».
Haec est dies quam fecit Dominus, exultemus et laetemur in ea - este é o
dia que O Senhor fez; alegremo-nos.
O tempo
pascal é tempo de alegria, de uma alegria que não se limita a esta época do ano
litúrgico, mas mora sempre no coração dos cristãos.
Porque
Cristo vive.
Cristo
não é uma figura que passou, que existiu em certo tempo e que se foi embora,
deixando-nos uma recordação e um exemplo maravilhosos.
Não.
Cristo
vive.
Jesus
é Emanuel: Deus connosco.
A Sua
Ressurreição revela-nos que Deus não abandona os Seus.
«Pode
a mulher esquecer o fruto do seu seio e não se compadecer do filho das suas
entranhas? Pois ainda que ela se esquecesse, eu não me esquecerei de ti»,
havia-nos Ele prometido.
E
cumpriu a promessa.
Deus
continua a ter as Suas delícias entre os filhos dos homens.
Cristo vive na sua Igreja. «Digo-vos a verdade: convém-vos que Eu vá; porque se Eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se Eu for, enviar-vo-Lo-ei».
Esses
eram os desígnios de Deus: Jesus morrendo na Cruz, dava-nos o Espírito de
Verdade e de Vida.
Cristo
permanece na Sua Igreja: nos seus sacramentos, na sua liturgia, na sua
pregação, em toda a sua actividade.
De
modo especial, Cristo continua presente entre nós nessa entrega diária que é a
Sagrada Eucaristia.
Por
isso a Missa é o centro e a raiz da vida cristã.
Em
todas as Missas está sempre presente o Cristo total, Cabeça e Corpo.
Per
Ipsum, et cum Ipso, et in Ipso.
Porque
Cristo é o Caminho, o Mediador.
N’Ele
tudo encontramos; fora d'Ele a nossa vida torna-se vazia. Em Jesus Cristo, e
instruídos por Ele, atrevemo-nos a dizer - audemus
dicere - Pater noster, Pai nosso.
Atrevemo-nos
a chamar Pai ao Senhor dos Céus e da Terra.
A
presença de Jesus vivo na Sagrada Hóstia é a garantia, a raiz e a consumação da
Sua presença no Mundo.
103
Cristo
vive no cristão.
A fé
diz-nos que o homem, em estado de graça, está endeusado. Somos homens e
mulheres; não anjos.
Seres
de carne e osso, com coração e paixões, com tristezas e alegrias; mas a
divinização envolve o homem todo, como antecipação da ressurreição gloriosa.
Cristo
ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram. Porque, assim
como por um homem veio a morte, também veio por um homem a ressurreição.
Porque,
assim como todos morrem em Adão, assim também em Cristo todos são vivificados.
A
vida de Cristo é vida nossa, segundo o que prometera aos Seus Apóstolos no dia
da última Ceia: «Todo aquele que me ama observará os meus mandamentos, e meu
Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele morada».
O
cristão, portanto, deve viver segundo a vida de Cristo, tornando seus os
sentimentos de Cristo de tal modo que possa exclamar com São Paulo: “Non
vivo ego, vivit vero in me Christus; não sou eu quem vive; é Cristo que vive em
mim”.
104
Jesus Cristo, fundamento da vida cristã
Quis
recordar, embora brevemente, alguns dos aspectos do viver actual de Cristo - Iesus Christus heri et hodie; ipse et in saecula; Jesus Cristo é
sempre o mesmo, ontem e hoje, e por toda a eternidade - porque aí está o
fundamento de toda a vida cristã.
Se
olharmos ao nosso redor e considerarmos o decurso da história da Humanidade,
observaremos progressos, avanços: a Ciência deu ao homem uma consciência maior
do seu poder; a Técnica domina a Natureza melhor do que em épocas passadas; e
permite à Humanidade sonhar com um nível mais alto de cultura, de vida
material, de unidade.
Talvez
alguns se sintam levados a matizar este quadro, recordando que os homens
padecem agora injustiças e guerras maiores ainda do que as passadas.
E
não lhes falta razão.
Mas,
por cima dessas considerações, prefiro recordar que, no domínio religioso, o
homem continua a ser homem e Deus continua a ser Deus.
Neste
campo, o cume do progresso já se deu; é Cristo, alfa e ómega, princípio e fim.
No
terreno espiritual não há nenhuma nova época a que chegar.
Já
tudo se deu em Cristo, que morreu e ressuscitou, e vive, e permanece para
sempre.
Mas
é preciso unirmo-nos a Ele pela fé, deixando que a Sua vida se manifeste em
nós, de maneira que se possa dizer que cada cristão é, não já alter Christus,
mas ipse Christus, o próprio Cristo.
105
“Instaurare
omnia in Christo”, é
o lema que São Paulo dá aos cristãos de Éfeso: “dar forma a tudo segundo o
espírito de Jesus; colocar Cristo na entranha de todas as coisas: Si exaltatus
fuero a terra, omnia traham ad meipsum: quando Eu for levantado sobre a terra,
tudo atrairei a mim”.
Cristo,
com a Sua Encarnação, com a Sua vida de trabalho em Nazaré, com a Sua pregação
e os Seus milagres por terras da Judeia e da Galileia, com a Sua morte na Cruz,
com a Sua Ressurreição, É o centro da Criação, Primogénito e Senhor de toda a
criatura.
A
nossa missão de cristãos é proclamar essa Realeza de Cristo; anunciá-la com a
nossa palavra e com as nossas obras.
O
Senhor quer os seus em todas as encruzilhadas da Terra.
A
alguns, chama-os ao deserto, desentendidos das inquietações da sociedade humana,
para recordarem aos outros homens, com o seu testemunho, que Deus existe.
Encomenda
a outros o ministério sacerdotal.
À
grande maioria, o Senhor quere-a no mundo, no meio das ocupações terrenas.
Estes
cristãos, portanto, devem levar Cristo a todos os ambientes em que se
desenvolve o trabalho humano: à fábrica, ao laboratório, ao trabalho do campo,
à oficina do artesão, às ruas das grandes cidades e às veredas da montanha.
Gosto
de recordar a este propósito o episódio da conversa de Cristo com os discípulos
de Emaús.
Jesus
caminha junto daqueles dois homens que perderam quase toda a esperança, de modo
que a vida começa a parecer-lhes sem sentido. Compreende a sua dor, penetra nos
seus corações, comunica-lhes algo da vida que Nele habita.
Quando,
ao chegar àquela aldeia, Jesus faz menção de seguir para diante, os dois
discípulos retêm-No e quase O forçam a ficar com eles.
Reconhecem-No
depois ao partir o pão: - Exclamam «O Senhor, esteve connosco! Então
disseram um para o outro: Não é verdade que sentíamos abrasar-se-nos o coração
dentro de nós enquanto nos falava no caminho e nos explicava as Escrituras»?
Cada
cristão deve tornar Cristo presente entre os homens; deve viver de tal maneira
que todos com quem contacte sintam o bonus
odor Christi, o bom odor de Cristo, deve actuar de forma que, através das
acções do discípulo, se possa descobrir o rosto do Mestre.
106
O
cristão sabe que está enxertado em Cristo pelo Baptismo; habilitado a lutar por
Cristo pela Confirmação; chamado a actuar no mundo pela participação que tem na
função real, profética e sacerdotal de Cristo; feito uma só coisa com Cristo
pela Eucaristia, Sacramento da unidade e do amor.
Por
isso, tal como Cristo, há-de viver voltado para os outros homens, olhando com
amor para todos e cada um dos que o rodeiam, para a Humanidade inteira.
A fé
leva-nos a reconhecer Cristo como Deus, a vê-Lo como nosso Salvador, a
identificarmo-nos com Ele, actuando como Ele actuou.
O
Ressuscitado, depois de arrancar das suas dúvidas o Apóstolo Tomé,
mostrando-lhe as chagas, exclama: «Bem-aventurados os que, sem Me verem,
acreditaram».
Comenta
São Gregório Magno: Aqui fala-se de nós de um modo particular, porque nós
possuímos espiritualmente Aquele a Quem corporalmente não vimos”.
Fala-se
de nós, mas com a condição de que as nossas acções se conformem à nossa fé.
Não
crê verdadeiramente senão quem, no seu actuar, põe em prática o que crê.
Por
isso, a propósito daqueles que da fé não possuem mais do que as palavras, diz São
Paulo: “professam conhecer Deus mas negam-no com as obras”.
Não
é possível separar em Cristo o ser de Deus-Homem e a Sua função de Redentor.
O Verbo fez-Se carne e veio à Terra ut
omnes homines salvi fiant, para salvar todos os homens. Com todas as nossas
misérias e limitações pessoais, nós somos outros Cristos, o próprio Cristo, e
somos também chamados a servir todos os homens.
É
necessário que ressoe uma e outra vez aquele mandamento que continuará a ser
novo através dos séculos: escreve São João: “Caríssimos não vos
escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o
princípio. Este mandamento antigo é a palavra divina que ouvistes. E, no
entanto, falo-vos de um mandamento novo, que é verdadeiro n'Ele mesmo e em vós
porque as trevas já passaram e já resplandece a verdadeira luz. Quem diz que
está na luz e aborrece o seu irmão, ainda está nas trevas. Quem ama o seu irmão
permanece na luz e nele não há ocasião de queda. Nosso Senhor veio trazer a
paz, a boa nova, a vida a todos os homens.
Não
só aos ricos, nem só aos pobres; não só aos sábios, nem só à gente simples; a
todos; aos irmãos, pois somos irmãos, já que somos filhos de um mesmo Pai,
Deus.
Não
há, portanto, mais do que uma raça: a raça dos filhos de Deus. Não há mais que
uma cor: a cor dos filhos de Deus.
E
não há senão uma língua: a que nos fala ao coração e à inteligência, sem ruído
de palavras, mas dando-nos a conhecer Deus e fazendo que nos amemos uns aos
outros”.