Ontem,
ao fim da tarde, fui mais uma vez abordado por um sujeito que amiúde me pede
ajuda.
Com
brusquidão respondi-lhe mais ou menos:
‘Mas
ó homem! Ainda há dois dias te dei cinco euros! Disseste que estavas com fome e
querias comer qualquer coisa’.
Respondeu-me:
‘Sim,
é verdade, mas sabe, olhe que comi como um senhor! Os cinco euros deram para
duas sopas e uma sandes das grandes.’
Disse-lhe:
‘Pois
ainda bem ao menos ficaste satisfeito. E, agora, que é que queres mais?’
Com
toda a naturalidade disse-me:
‘Bem…
já lá vão dois dias e hoje estou outra vez com fome, mas… atalhou rapidamente hoje
dois euritos chegam, como uma sandes e já está.’
Com
toda rapidez transferi do meu bolso para a sua mão as moedas que tinha comigo.
Ele nem contou mas eu calculo que deveriam ser uns três euros, mais ou menos.
‘Olha,
agora vê lá! Eu não posso estar a dar-te dinheiro todos os dias.’
‘Eu
sei… eu sei… também não lhe peço todos os dias pois não? Muito obrigado.’
E agora: que é que eu faço? Que é que
eu digo?
Não
faço nada! Não digo nada!
Que
posso eu fazer? Que posso eu dizer?
Sim,
todos os dias eu janto confortavelmente sem parcimónia nem – muitas vezes –
contenção.
Não
me preocupa minimamente o que irei jantar amanhã ou noutro dia qualquer.
No
frigorífico há sempre algo disponível.
Pois…
mas o Victor – assim se chama o sujeito – não tem frigorífico e, mesmo que
tivesse seria perfeitamente inútil porque não teria nada para colocar lá
dentro.
Esta
situação incomoda-me, entristece-me.
E agora: que é que eu faço? Que é que
eu digo?
Ocorre-me,
então, que pelo menos, posso dizer:
‘Senhor, olha que o Victor também é
Teu filho!
AMA,
cenas da vida corrente, Outubro 2018
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