A
VOZ DOS PADRES
«Na minha opinião, é
evidente que não se tratava de uma estrela habitual; mais ainda, não foi uma verdadeira
estrela, mas uma força invisível que tomou a aparência de estrela, o que se
prova, antes de mais nada pela rota que seguiu. Efectivamente, não há nenhuma
estrela que siga o caminho que aquela seguiu. O sol, a lua e todos os astros,
vemos que se movem de oriente para ocidente; aquela, pelo contrário, seguia de
norte para sul, que é a posição da Pérsia em relação à Palestina.
Em segundo lugar, o mesmo se
pode demonstrar pelo tempo. Porque não só aparecia durante a noite, mas em
pleno dia e no pleno esplendor do sol. Não há estrela que tenha tal virtude;
não a tem nem a própria lua, que, mesmo ultrapassando por tantos graus a todas
as estrelas, mal começam a brilhar os raios do sol, esconde-se e desaparece.
Pelo contrário, a estrela dos Magos, pela superioridade do seu brilho, venceu
os próprios raios solares e brilhava no meio da sua luz.
Terceira prova: a estrela
dos Magos aparecia e ocultava-se. Efectivamente, durante a viagem até à
Palestina, a estrela foi-os guiando; depois, mal chegaram a Jerusalém,
ocultou-se-lhes. E por fim, quando, informado Herodes sobre a finalidade da sua
vinda, partiram, mostrou-se-lhes de novo. Tudo isto não é próprio do movimento
de uma estrela, mas de um poder muito racional. Era uma estrela que não tinha
rumo próprio, mas que, quando os Magos tinham que andar, movia-se ela; quando
tinham que parar, parava, acomodando-se sempre ao que convinha. Era como a
coluna de nuvem que guiava os judeus pelo deserto, através da qual, segundo
lhes convinha, montavam ou moviam o seu acampamento.
A quarta prova evidente é a
maneira como lhes mostrou o lugar onde se encontrava o Menino. Efectivamente,
não lho mostrou parando nas alturas, pois ter-lhes-ia sido impossível
distingui-lo deste modo, mas descendo até lá. Compreendereis perfeitamente que
um lugar tão pequeno, uma pobre cabana possivelmente, ou menos do isso ainda,
como é natural, o corpinho de um menino pequenino, não é possível que uma
estrela o indique (...). Que é, com efeito, o que o evangelista deu a entender
quando disse: e eis que a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles,
até que, chegando ao lugar onde estava o Menino, parou[i].
Já vedes, pois, por quantos
argumentos se prova que esta estrela não foi uma estrela habitual, e que não
apareceu porque assim o exigira o horóscopo profano».
São
João Crisóstomo (séc. IV). Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, VI.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.