A
VOZ DO MAGISTÉRIO
«A chegada dos Magos do
Oriente a Belém, para adorar o recém-nascido Messias, é o sinal da manifestação
do Rei universal aos povos e a todos os homens que procuram a verdade. É o
início de um movimento oposto ao de Babel: da confusão à compreensão, da
dispersão à reconciliação. Descobrimos assim um vínculo entre a Epifania e o
Pentecostes: se o nascimento de Cristo, que é a Cabeça, é também o nascimento
da Igreja, Seu corpo, vemos nos Magos os povos que se agregam ao resto de
Israel, anunciando o grande sinal da "Igreja poliglota", realizado
pelo Espírito Santo cinquenta dias depois da Páscoa.
O amor fiel e tenaz de Deus,
que nunca falta à sua aliança de geração em geração. É o "mistério"
do qual fala São Paulo nas suas Cartas, também no trecho da Carta aos Efésios
há pouco proclamado: o Apóstolo afirma que "por revelação me foi dado
conhecer o mistério que acabo de vos expor" [i] e
encarregou-se de o dar a conhecer.
Este "mistério" da
fidelidade de Deus constitui a esperança da história. Sem dúvida, ele é
contrastado por impulsos de divisão e de subjugação, que dilaceram a humanidade
por causa do pecado e do conflito de egoísmos. A Igreja está, na história, ao
serviço deste "mistério" de bênção para a humanidade inteira. Neste
mistério da fidelidade de Deus, a Igreja desempenha plenamente a sua missão
unicamente quando reflecte em si mesma a luz de Cristo Senhor, e assim ajuda os
povos do mundo no caminho da paz e do progresso autêntico (...).
Com Jesus Cristo a bênção de
Abraão estendeu -se a todos os povos, à Igreja universal como novo Israel que
acolhe no seu seio a humanidade inteira. Contudo, também hoje continua em
muitos sentidos a ser verdade o que dizia o profeta: "a noite cobre a
terra" e a nossa história. De facto, não se pode dizer que a globalização
seja sinónimo de ordem mundial, pelo contrário. Os conflitos pela supremacia
económica e pelo monopólio dos recursos energéticos, hídricos e das
matérias-primas tornam difícil o trabalho de quantos, a todos os níveis, se
esforçam por construir um mundo justo e solidário.
Há necessidade de uma
esperança maior, que permita preferir o bem comum de todos ao luxo de poucos e
à miséria de muitos. "Esta grande esperança só pode ser Deus... não um
deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano"[ii]: o
Deus que se manifestou no Menino de Belém e no Crucificado-Ressuscitado.»
Bento
XVI (século XXI). Excertos da homilia na solenidade da Epifania, 6-I-2008.
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