Vol. 2
LIVRO XI
CAPÍTULO XXXIV
Julgam alguns que, na criação do firmamento, os anjos são designados com o nome de águas separadas, julgando outros que as águas não foram separadas.
Pensaram alguns que com o nome de águas foram de certo modo designados os povos angélicos e que foi este o significado da frase:
Assim, os anjos seriam colocados acima do firmamento e abaixo dele as águas visíveis ou a multidão dos anjos maus ou toda a raça humana. Se assim foi, então já não se vê quando teriam sido criados os anjos, mas sim quando foram separados. Alguns negam (opinião sem fundamento e a mais perversa e ímpia) que as águas tenham sido criadas por Deus porque em parte nenhum a está escrito Deus disse: façam-se as águas! Com a mesma falta de fundamento poderiam também dizer isso da Terra: efectivamente, em parte nenhuma se lê disse Deus: faça-se a Terra! Mas está escrito, dizem eles:
Então, está aí compreendida a água pois sob o mesmo nome estão compreendidas uma e outra. Com efeito, como se lê num Salmo:
Mas os que pretendem que, sob o nome de águas que estão sobre os Céus, se quer designar os anjos, são impressionados pelo peso dos elementos e, por isso, pensam que a natureza fluida e pesada das águas não pode estabelecer-se nos lugares superiores do Mundo. Segundo undo este raciocínio, se esses pudessem fazer um homem não colocariam na cabeça a pituíta que em grego se chama φλέγμα e que ocupa o lugar das águas entre os elementos do nosso corpo. Com efeito, a cabeça é a sede deste flegma, conforme a obra tão bem ordenada de Deus, mas de tal forma absurda, segundo as conjecturas esses tais, que se não o soubéssemos e se estivesse escrito no Génesis que Deus colocou um humor fluido, frio, e por isso pesado, na região mais alta do corpo hum ano, estes pesadores de elementos recusar-se-iam absolutamente a admiti-lo; e se reconhecessem a autoridade da Escritura, julgariam que por tal seria necessário entender um a coisa totalmente diferente.
Mas se com cuidado sondássemos e discutíssemos tudo o que nesse livro sagrado se contém acerca da criação do mundo, muito haveria para dizer e seria preciso que nos afastássemos demasiadamente do plano da nossa obra — e já tratámos do que nos pareceu suficiente acerca destas sociedades de anjos, diversas e contrárias entre si, nas quais se encontram as origens das duas cidades, mesmo nas coisas humanas, de que estou decidido a voltar a falar. Mas já é tempo de acabarmos também com este livro.
(cont)
(Revisão da versão portuguesa por ama)
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