IV. PAULO PRISIONEIRO
DE CRISTO [i]
Capítulo 23
Paulo perante o
Sinédrio
1Paulo fitou os membros do Sinédrio e disse: «Irmãos,
tenho procedido para com Deus, até hoje, com absoluta rectidão de consciência.»
2Mas o Sumo Sacerdote Ananias ordenou aos seus assistentes
que lhe batessem na boca. 3Então, Paulo disse-lhe: «Deus te baterá, a ti,
parede branqueada! Tu sentas-te para me julgares de acordo com a lei, e mandas
bater-me, violando a lei?» 4Os assistentes disseram-lhe: «Tu insultas o Sumo
Sacerdote de Deus?» 5Paulo respondeu: «Não sabia, irmãos, que era o Sumo
Sacerdote. Realmente está escrito: ‘Não dirás mal do chefe do teu povo.’»
6Sabendo que havia dois partidos no Sinédrio, o dos saduceus e o dos fariseus,
Paulo bradou diante deles:
«Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus, e é pela
nossa esperança, a ressurreição dos mortos, que estou a ser julgado.» 7Estas
palavras desencadearam um conflito entre fariseus e saduceus e a assembleia
dividiu-se, 8porque os saduceus negam a ressurreição, assim como a existência
dos anjos e dos espíritos, enquanto os fariseus ensinam publicamente o
contrário. 9Estabeleceu-se enorme gritaria, e alguns escribas do partido dos
fariseus ergueram-se e começaram a protestar com energia, dizendo: «Não
encontramos nada de mau neste homem. E se um espírito lhe tivesse falado ou
mesmo um anjo?»
10A discussão redobrou de violência, a tal ponto que o
tribuno, receando que Paulo fosse despedaçado por eles, mandou descer a tropa
para o arrancar das mãos deles e reconduzi-lo à fortaleza.
11Na noite seguinte, o Senhor apresentou-se diante dele e
disse-lhe: «Coragem! Assim como deste testemunho de mim em Jerusalém, assim é
necessário que o dês também em Roma.»
Conjura dos judeus
contra Paulo
12Logo que amanheceu, os judeus reuniram-se e juraram,
sob pena de anátema, não comer nem beber enquanto não matassem Paulo. 13Eram
mais de quarenta os que tinham feito essa conjura. 14Foram ter com os sumos
sacerdotes e com os Anciãos e disseram-lhes: «Jurámos, sob pena de anátema, não
comer nada enquanto não matarmos Paulo. 15Agora, de acordo com o Sinédrio, ide
solicitar ao tribuno que o mande comparecer diante de vós, sob pretexto de
examinardes o seu caso mais profundamente. E nós estamos prontos a suprimi-lo
durante o trajecto.»
16Mas o filho da irmã de Paulo teve conhecimento da
cilada. Correu à fortaleza, entrou e preveniu Paulo. 17Paulo chamou um dos
centuriões e disse-lhe: «Leva este rapaz ao tribuno, porque tem uma coisa a
comunicar-lhe.» 18O centurião tomou-o, pois, consigo, levou-o ao tribuno e
disse: «O preso Paulo chamou-me e pediu-me que te trouxesse este rapaz, pois
tem uma coisa a dizer-te.»
19O tribuno tomou o rapaz pela mão e, retirando-se à
parte, perguntou-lhe: «Que tens a comunicar-me?» 20Ele respondeu: «Os judeus
combinaram pedir-te que mandes comparecer Paulo, amanhã, diante do Sinédrio,
sob pretexto de uma averiguação mais completa do seu caso. 21Não acredites em
nada disso, pois mais de quarenta deles preparam-lhe uma cilada e juraram, sob
pena de anátema, não comer nem beber, enquanto o não matarem. Agora, estão
preparados e aguardam apenas a tua autorização.» 22Então, o tribuno despediu o
rapaz, recomendando-lhe: «Não digas a ninguém que me revelaste estas coisas.»
Paulo conduzido a
Cesareia
23Depois, mandou chamar dois centuriões e disse-lhes:
«Tende preparados, desde as nove horas da noite, duzentos soldados, setenta
cavaleiros e duzentos lanceiros, para irem a Cesareia. 24Preparai, igualmente,
montadas para Paulo, a fim de ser conduzido são e salvo ao governador Félix.» 25E
escreveu uma carta nestes termos:
26«Cláudio Lísias, ao Excelentíssimo Governador Félix,
saudações! 27Este homem foi preso pelos judeus, e pretendiam matá-lo, quando
apareci com a tropa e o libertei, por saber que era cidadão romano. 28Querendo
inteirar-me do que o acusavam, mandei-o comparecer diante do Sinédrio.
29Verifiquei que o incriminavam a propósito de questões relativas à lei deles,
mas não havia qualquer delito que merecesse a morte ou os grilhões. 30Tendo
sido avisado de que planeavam uma conspiração, cujo fim seria assassiná-lo,
enviei-to imediatamente e notifiquei aos seus acusadores que deviam ir
declarar, na tua presença, as queixas contra ele. Adeus.»
31De
acordo com as ordens recebidas, os soldados tomaram Paulo consigo,
conduziram-no, de noite, a Antipátrides. 32No dia seguinte, deixaram os
cavaleiros seguir com ele e regressaram à fortaleza. 33Ao chegarem a Cesareia,
os cavaleiros entregaram a carta ao governador e apresentaram-lhe também Paulo.
34O governador leu a carta e informou-se de que província era ele. Ouvindo que
era da Cilícia, 35declarou: «Ouvir-te-ei, quando chegarem os teus acusadores.»
E ordenou que o guardassem no pretório de Herodes.
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