2. O Activismo
O
demónio do activismo não significa ser muito activo ou muito trabalhador, ou
ter muitas ocupações e apostolados diversos. Ser activo, apostólico, não é ser
“activista” como tentação.
O
activismo produz-se na medida em que aumenta a distância e a incoerência entre
o que um apóstolo faz e diz, entre o que ele é e o que ele vive como cristão. É
verdade que na condição humana aceitamos como normal a inadequação entre o
“ser” e o “agir” mas, no caso do activismo, ela é acentuada e tende a crescer,
não a diminuir, como seria o ideal do processo cristão.
O
activismo tem muitas expressões. Uma delas é a falta de renovação na vida
pessoal do apóstolo. Neste caso, normalmente a oração é insuficiente e
deficiente. Não há momentos prolongados de silêncio e retiro. Não se cultiva o
estudo, apenas se lê. Nem sequer se deixa tempo para descansar o suficiente e
repor-se. Paralelamente, há sobrecarga de trabalho, de actividades múltiplas, e
a agenda de compromissos costuma estar cheia. O activista dá a impressão de que
é necessário, como estilo de vida, um grande volume de trabalho externo. Daí a
criação de um círculo vicioso, cuja origem – excessiva actividade ou
negligência em renovar-se – não é fácil identificar: por um lado está o aumento
de actividades que torna cada vez mais difícil tomar as medidas de renovação
interior, e que são as que conduzem ao crescimento no “ser”; por outro lado a
incapacidade (que tende a crescer) de renovar-se tende a compensar-se e
disfarçar-se com a entrega a um activismo desenfreado. Em última análise, o activismo
é a desculpa do “escapismo”.
O
activismo também se exprime numa das distorções mais radicais do apostolado:
colocar toda a alma nos meios de acção e de apostolado, no que se organiza e se
faz, esquecendo-se de Deus, quem é, afinal de contas, por quem se faz, se
organiza e se trabalha. Com isso, o apóstolo transforma-se num profissional que
multiplica iniciativas, habitualmente boas, não parando para discernir, para perguntar
a Deus se são necessárias ou oportunas ou se é preciso fazê-las agora e desta
maneira. Assim, os meios do apostolado acabam obscurecendo seu sentido e seu
fim.
Outra
expressão do demónio do activismo é não trabalhar ao ritmo de Deus,
substituindo-o pelo próprio ritmo. Isso ocorre quando se vai mais rápido ou
mais lento do que Deus. Normalmente, o activista, pelo menos num primeiro
momento, costuma pecar por aceleração. É o resultado da desproporção, sempre
existente, entre a visão e os projectos do apóstolo e a realidade das pessoas
envolvidas. O normal é que um agente de pastoral tenha mais visão que a sua
comunidade e que o seu povo, e saiba antes e melhor que eles onde e como chegar.
Além disso, as pessoas não respondem ao ritmo que a gente quer, pois o ritmo do
crescimento corresponde ao ritmo de Deus e não das nossas previsões. O ritmo de
Deus é constante, mas de um processo lento. Os seres humanos, como as plantas e
o resto da criação, não mudam e nem crescem à força, artificialmente, queimando
etapas. É preciso esperar e ter paciência sem, com isso, deixar de educar,
cultivar e exigir: é preciso ser como Deus, adequando-nos ao seu ritmo e forma
de agir e transmitir a vida.
Pedagogicamente,
esta forma de activismo pode ser desastrosa. Ao acelerar o ritmo das pessoas e
dos processos, não somente se dificulta o crescimento destas pessoas, como se
pode também destruir e “queimar” muitas delas; outras afastar-se-ão e será
muito difícil recuperálas. Em todo caso, dado o aparente fracasso de seu projecto,
o activista, uma vez tendo experimentado o demónio da impaciência apostólica,
facilmente cai na tentação do desânimo. “Aqui, com essa gente, não se pode
fazer nada”. Pois, a impaciência e o desânimo são gémeos. Ambos são filhos do
orgulho, da auto-suficiência, do esquecer que “tanto o que planta como o que
rega não são nada, e sim Deus que faz crescer” [1].
Fonte:
prebíteros
(revisão
da versão portuguesa por ama)
Este
texto é um extracto do livro do teólogo chileno segundo
galilea, Tentación y
Discernimiento, Narcea, Madrid 1991, p. 29-67.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.