26/04/2016

Os demónios do apostolado

 
2. O Activismo

O demónio do activismo não significa ser muito activo ou muito trabalhador, ou ter muitas ocupações e apostolados diversos. Ser activo, apostólico, não é ser “activista” como tentação.

O activismo produz-se na medida em que aumenta a distância e a incoerência entre o que um apóstolo faz e diz, entre o que ele é e o que ele vive como cristão. É verdade que na condição humana aceitamos como normal a inadequação entre o “ser” e o “agir” mas, no caso do activismo, ela é acentuada e tende a crescer, não a diminuir, como seria o ideal do processo cristão.

O activismo tem muitas expressões. Uma delas é a falta de renovação na vida pessoal do apóstolo. Neste caso, normalmente a oração é insuficiente e deficiente. Não há momentos prolongados de silêncio e retiro. Não se cultiva o estudo, apenas se lê. Nem sequer se deixa tempo para descansar o suficiente e repor-se. Paralelamente, há sobrecarga de trabalho, de actividades múltiplas, e a agenda de compromissos costuma estar cheia. O activista dá a impressão de que é necessário, como estilo de vida, um grande volume de trabalho externo. Daí a criação de um círculo vicioso, cuja origem – excessiva actividade ou negligência em renovar-se – não é fácil identificar: por um lado está o aumento de actividades que torna cada vez mais difícil tomar as medidas de renovação interior, e que são as que conduzem ao crescimento no “ser”; por outro lado a incapacidade (que tende a crescer) de renovar-se tende a compensar-se e disfarçar-se com a entrega a um activismo desenfreado. Em última análise, o activismo é a desculpa do “escapismo”.

O activismo também se exprime numa das distorções mais radicais do apostolado: colocar toda a alma nos meios de acção e de apostolado, no que se organiza e se faz, esquecendo-se de Deus, quem é, afinal de contas, por quem se faz, se organiza e se trabalha. Com isso, o apóstolo transforma-se num profissional que multiplica iniciativas, habitualmente boas, não parando para discernir, para perguntar a Deus se são necessárias ou oportunas ou se é preciso fazê-las agora e desta maneira. Assim, os meios do apostolado acabam obscurecendo seu sentido e seu fim.

Outra expressão do demónio do activismo é não trabalhar ao ritmo de Deus, substituindo-o pelo próprio ritmo. Isso ocorre quando se vai mais rápido ou mais lento do que Deus. Normalmente, o activista, pelo menos num primeiro momento, costuma pecar por aceleração. É o resultado da desproporção, sempre existente, entre a visão e os projectos do apóstolo e a realidade das pessoas envolvidas. O normal é que um agente de pastoral tenha mais visão que a sua comunidade e que o seu povo, e saiba antes e melhor que eles onde e como chegar. Além disso, as pessoas não respondem ao ritmo que a gente quer, pois o ritmo do crescimento corresponde ao ritmo de Deus e não das nossas previsões. O ritmo de Deus é constante, mas de um processo lento. Os seres humanos, como as plantas e o resto da criação, não mudam e nem crescem à força, artificialmente, queimando etapas. É preciso esperar e ter paciência sem, com isso, deixar de educar, cultivar e exigir: é preciso ser como Deus, adequando-nos ao seu ritmo e forma de agir e transmitir a vida.

Pedagogicamente, esta forma de activismo pode ser desastrosa. Ao acelerar o ritmo das pessoas e dos processos, não somente se dificulta o crescimento destas pessoas, como se pode também destruir e “queimar” muitas delas; outras afastar-se-ão e será muito difícil recuperá­las. Em todo caso, dado o aparente fracasso de seu projecto, o activista, uma vez tendo experimentado o demónio da impaciência apostólica, facilmente cai na tentação do desânimo. “Aqui, com essa gente, não se pode fazer nada”. Pois, a impaciência e o desânimo são gémeos. Ambos são filhos do orgulho, da auto-suficiência, do esquecer que “tanto o que planta como o que rega não são nada, e sim Deus que faz crescer” [1].

Fonte: prebíteros

(revisão da versão portuguesa por ama)

Este texto é um extracto do livro do teólogo chileno segundo galilea, Tentación y Discernimiento, Narcea, Madrid 1991, p. 29-67.



[1] Cfr. 1 Cor 3, 7

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