S.
Josemaria indica uma experiência com a qual é fácil identificar-se: "Os
assuntos fervilham-me na cabeça nos momentos mais inoportunos...", dizes.
Por isso te recomendei que procurasses conseguir uns tempos de silêncio
interior... e a guarda dos sentidos externos e internos. [i].
Para conseguir um recolhimento que leve a envolver as potências na tarefa que
realizamos, e assim poder santificá-la, é preciso exercitar-se na guarda dos
sentidos. E isto aplica-se de modo especial ao uso dos recursos informáticos,
que ‒ como todos os bens materiais ‒ se devem empregar com moderação.
A
virtude da temperança é uma aliada para conservar a liberdade interior ao
movimentar-se pelos ambientes digitais. Temperança é senhorio [ii],
porque ordena as nossas inclinações para o bem no uso dos instrumentos com que
contamos. Leva a agir de maneira que se empreguem retamente as coisas, porque
se lhes dá o seu justo valor, de acordo com a dignidade de filhos de Deus.
Se
quisermos acertar na escolha de aparelhos electrónicos, na contratação de
serviços, ou, mesmo, ao utilizar um recurso informático gratuito, é lógico que
consideremos o seu atractivo ou utilidade, mas também verificar se corresponde
a um estilo temperado de viver: isto leva-me a aproveitar mais o tempo, ou
vai-me causar distracções inoportunas? As funcionalidades adicionais justificam
uma nova compra, ou é possível continuar a utilizar o aparelho que já possuo?
O
ideal da santidade implica ir mais além do que é meramente lícito ‒ se se pode…
‒ para perguntar-se: isto, aproximar-me-á mais de Deus? Dá muita luz aquela
resposta de São Paulo aos de Corinto: «Tudo me é lícito». Mas nem tudo me
convém. «Tudo me é lícito». Mas não me deixarei dominar por nada [iii].
Esta afirmação de autodomínio do Apóstolo tem nova actualidade, quando
consideramos alguns produtos ou serviços informáticos que, ao procurar uma
recompensa imediata ou relativamente rápida, estimulam a repetição. Saber pôr
um limite ao seu uso evitará fenómenos como a ansiedade ou, em casos extremos,
uma espécie de dependência. Pode servir-nos neste campo aquele breve conselho: Acostuma-te
a dizer que não [iv],
atrás do qual se encontra uma chamada a lutar com sentido positivo, como o
próprio S. Josemaria explicava: Porque desta vitória interna sai a paz para o
nosso coração, e a paz que levamos para os nossos lares – cada um, ao seu – e a
paz que levamos à sociedade e ao mundo inteiro [v].
O
uso das novas tecnologias dependerá das circunstâncias e necessidades próprias.
Por isso, neste âmbito cada um ‒ ajudado pelo conselho dos outros ‒ deve
encontrar a sua medida. Deve-se sempre perguntar se o uso é moderado. As
mensagens, por exemplo, podem ser úteis para manifestar proximidade a um amigo,
mas se fossem tão numerosas que implicassem interrupções contínuas no trabalho
ou no estudo, é porque, provavelmente, estaríamos a cair na banalidade e na
perda de tempo. Neste caso, o autodomínio ajudar-nos-á a vencer a impaciência e
a deixar a resposta para mais tarde, de modo que possamos ocupar-nos de uma
actividade que exigia concentração, ou, simplesmente, prestar atenção a uma
pessoa com quem estávamos a conversar.
Certas
atitudes ajudam a viver a temperança neste âmbito. Por exemplo, conectar o
acesso às redes a partir de uma hora determinada, fixar um número de vezes por
dia para olhar para a conta de uma rede social ou para ver o correio
eletrónico, desligar os dispositivos à noite, evitar o seu uso durante as
refeições e nos momentos de maior recolhimento, como são os dias dedicados a um
retiro espiritual. A Internet pode consultar-se em momentos e locais
apropriados, de modo a não se colocar numa situação de navegar pela internet
sem um objectivo concreto, com o risco de deparar com conteúdos que contradizem
uma postura cristã da vida ou, pelo menos, perder o tempo com trivialidades.
O
convencimento de que as nossas aspirações mais elevadas estão para além das
satisfações rápidas que nos poderia dar um click, dá sentido ao esforço por
viver a temperança. Através desta virtude, forja-se uma personalidade sólida e
a vida ganha então as perspectivas que a intemperança esbate; ficamos em
condições de nos preocuparmos com os outros, de compartilhar com todos o que nos
pertence, de nos dedicarmos a tarefas grandes [vi].
j.c. vásconez
‒ r. valdés
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