Art.
6 — Se uma parte determinada do corpo de Cristo existiu em Adão e nos outros
patriarcas.
O sexto discute-se assim. — Parece que uma
parte determinada do corpo de Cristo existiu em Adão e nos outros patriarcas.
1. — Pois, diz Agostinho, que a carne de Cristo existiu em Adão e em
Abraão, pela sua substância corpórea. Ora, a substância corpórea é algo de
determinado. Logo, a carne de Cristo existiu em Adão e em Abraão e nos demais
patriarcas segundo uma parte determinada.
2. Demais. — O Apóstolo diz, que Cristo
foi feito do sémen de Davi segundo a carne. Ora, o sémen de Davi era algo de
determinado nele existente. Logo, Cristo existiu em David segundo algo de
determinado e, pela mesma razão, nos outros patriarcas.
3. Demais. — Cristo tem afinidade com
o género humano, pois, assumiu a carne do género humano. Ora, se essa carne de
nenhum modo existiu determinadamente em Adão, parece que não tem nenhuma
afinidade com o género humano, derivado de Adão; mas antes, com os demais seres
de que foi tirada a matéria da sua carne. Logo, parece que a carne de Cristo
existiu em Adão e nos outros patriarcas de uma determinada maneira.
Mas, em contrário, diz Agostinho: Do meio pelo qual Cristo existiu em Adão e
em Abraão e nos outros patriarcas, desse mesmo os outros homens neles
existiram; mas não inversamente. Ora, os outros homens não existiram em
Adão nem em Abraão por nenhuma determinada matéria, mas só pela origem, como se
estabeleceu na Primeira Parte. Logo, nem Cristo existiu em Adão e em Abraão de
nenhuma determinada maneira; e, pela mesma razão, nem nos outros patriarcas.
Como dissemos, a matéria do
corpo de Cristo não foi a carne nem os ossos da Santa Virgem, nem nenhuma parte
actual do corpo dela, mas o sangue, que é carne em potência. Ora, tudo o que a
Santa Virgem recebeu de seus pais existia actualmente como parte do seu corpo.
Logo, o que a Santa Virgem recebeu dos pais não foi matéria do corpo de Cristo.
Donde devemos concluir, que o corpo de Cristo não existiu em Adão e nos outros
patriarcas de nenhuma determinada maneira, de modo que alguma parte do corpo de
Adão ou de algum outro pudesse ser designada determinadamente, a ponto de se dizer
que determinadamente dessa matéria seria formado o corpo de Cristo; mas aí
existiu só pela origem, como o corpo dos outros homens. Pois, o corpo de Cristo
relaciona-se com o de Adão e dos outros patriarcas mediante o corpo de sua mãe.
Donde, o corpo de Cristo não existiu de nenhum outro modo nos patriarcas, senão
do que pelo qual ai existiu o corpo de sua mãe; e esse não existiu nos
patriarcas com nenhuma determinada matéria como assim não existiram, os corpos
dos outros homens, segundo se demonstrou na Primeira Parte.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A expressão – Cristo existiu em Adão pela sua substância corpórea — não
significa que o corpo de Cristo fosse em Adão uma substância corpórea, mas que
a substância corpórea do corpo de Cristo, isto é, a matéria que recebeu da
virgem, existiu em Adão como no seu princípio activo, e não como um principio
material. Porque a virtude geratriz de Adão e dos demais patriarcas
descendentes de Adão, até a Santa Virgem, torna apta a referida matéria para a
concepção do corpo de Cristo. Mas essa matéria não foi formada no corpo de
Cristo por uma virtude derivada do sémen de Adão. Por isso se diz, que Cristo
existiu em Adão originalmente, pela sua substância corpórea, mas não por via
seminal.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora o corpo
de Cristo não tivesse existido em Adão e nos outros patriarcas por via seminal,
contudo o corpo da Santa Virgem, concebido do sémen masculino, existiu por via
seminal em Adão e nos outros patriarcas. Por isso, mediante a Santa Virgem,
Cristo é considerado, quanto à sua carne, descendente originariamente da raça
de Davi.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo tem
afinidade com o género humano por semelhança específica. Ora, a semelhança
específica não se tunda na matéria remota, mas na matéria próxima e num
principio activo, que gera o seu semelhante específico. Assim, pois, a
afinidade de Cristo com o género humano fica suficientemente salva por ter sido
o corpo de Cristo formado do sangue da Virgem derivado originalmente de Adão e
dos demais patriarcas. Nem importa a essa afinidade a matéria de que tal sangue
foi formado, como não o importa à geração dos outros homens, como se disse na
Primeira Parte.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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