09/06/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)




Tempo comum X Semana


Evangelho: Mt 5, 13-16

13 «Vós sois o sal da terra. Porém, se o sal perder a sua força, com que será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e ser calcado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas no candelabro, a fim de que dê luz a todos os que estão em casa. 16 Assim brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.

Comentário:

A importância do sal foi e é enorme, diria mesmo vital para a humidade.

Os povos que vivem a grandes distâncias da orla marítima sabem bem quanto esforço e trabalho lhes é exigido para o obterem e, também o elevado preço que têm de pagar por bem tão precioso como indispensável.

Assim o cristão é, ele próprio e pelo facto de o ser, tão importante que Jesus o compara ao sal: tem de ser o tempero  indispensável na sociedade, o elemento fundamental na vida dos homens seus irmãos.

O cristão, por isso mesmo, não tem preço!

Já pensamos nisto? 

(ama, comentário, MT 5, 13-16 2014.02.09)


Leitura espiritual

  


a beleza de ser cristão

SEGUNDA PARTE

COMO SER CRISTÃOS





viii a luta ascética para a conversão

…/3
         

        3º Crescer em Caridade.

…/2
       
        «Amar a Deus e amor ao próximo são inseparáveis, são o único mandamento. Ambos vivem do Amor que vem de Deus que nos amou primeiro» [1].

        A caridade é o palpitar do espírito que há-de impregnar todas as acções do cristão.
É, certamente, «vínculo de perfeição» [2], «é a forma das virtudes: articula-as e ordena-as entre si é fonte e termo da sua prática cristã.

A caridade assegura e purifica a nossa faculdade humana de amar.
Eleva-a à perfeição natural do amor divino» [3].

        Nessa perspectiva e sabendo que a caridade é a manifestação viva da fé, o cristão acaba por se dar conta da verdade da afirmação do Apóstolo: «Tudo o que não procede da fé e pecado» [4].


***


        Crescendo na Fé, na Esperança e na Caridade, o cristão, além de manifestar que Cristo já vive nele, torna possível que o enxerto de Cristo no seu espírito se desenvolva sempre mais, viva nele mais profundamente e chegue assim a manifestar nas suas acções, nos seus pensamentos, nos seus desejos, a vida de Cristo.
Cristo converte-se para ele em «Caminho, Verdade e Vida».

        Verdade porque a fé em que Cristo é o Filho de Deus feito homem o leva a aceitar a Verdade de Deus que ilumina todos os caminhos da sua vida, todas as suas acções pessoais, familiares, sociais e que dá sentido a todo o seu viver: às suas penas e às suas alegrias, às suas doenças e dores, aos seus gozos.

        Caminho porque a esperança alimentada na Ressurreição de Cristo, que abre as portas do Céu, da Vida Eterna com e no Pai, o Filho e o Espírito, anima e sustém o seu caminhar entre os montes, vales, planícies, alegria, penas, fracassos e triunfos com que  crente se depara diariamente no seu labor de redenção.
«Tudo suporto por amor aos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus, juntamente com a glória eterna» [5].

        E Vida.
Cristo chega a ser a vida do crente - «viremos e faremos nele morada» [6], e, em razão desta vida, o crente realiza todas as suas acções movido pela caridade, pelo amor, como Cristo.
Então, ao ter sido enxertado em Cristo, o cristão chega definitivamente a poder dizer:
«Já não sou eu, é Cristo que vive em mim» [7].


ix as virtudes


        Terminámos a primeira parte destes apontamentos fazendo referência aos frutos do Espírito Santo.
Assinalámos que o seu crescimento na alma era o sinal do desenvolvimento da vida cristã no crente e a manifestação mais preclara da Graça, por a vida de Fé, Esperança e de Caridade tinha chegado a deitar raízes profundas na pessoa baptizada.

        Agora ao chegar aos últimos detalhes da luta ascética cristã, q eu vai tornando possível que a vida da Graça converta em santo o homem já cristão, temos de fazer alusão às Virtudes que também podemos considerar como frutos do desenvolvimento da Fé na inteligência, da Esperança na memória, no sentido histórico que o ser humano tem da sua vida, da Caridade na vontade.

        O que é uma Virtude?

        «A Virtude é uma disposição habitual e firme a fazer o bem.
Permite à pessoa não só realizar actos bons como também dar o melhor de si própria.
Com todas as suas forças sensíveis e espirituais a pessoa virtuosa tende para o bem, procura-o e elege-o através de acções concretas» [8].

        Tender para o bem, fazer o bem quer dizer que a pessoa está movida pela graça de Deus e a finalidade dessa tendência ao bem é desenvolver a acção da Graça em nós e, portanto, «configurar-nos com Cristo, viver com Deus»
«O objectivo de uma vida virtuosa consiste em chegar a ser semelhante a Deus» [9].[10]

        Na vida natural o homem tem tendências, impulsos que o movem a partir de dentro de si mesmo e o sustêm na procura prática do bem, tendências e impulsos que o homem guia e dirige com livre vontade.
De forma semelhante na vida pessoal cristã, enxertados como estamos na natureza divina, o homem é guiado pela Graça, pela acção do Espírito Santo que aceita em liberdade.
Assim, o cristão vai adquirindo uns hábitos em fazer o que o sustêm na procura não só de um certo bem natural como do verdadeiro e último fim da pessoa humana: Deus.

        Podemos perguntar-nos:

Para que tendem as virtudes?
A uma certa melhoria das qualidades do homem, a um certo equilíbrio e a uma excelência simplesmente humana e natural?
Já o assinalámos.
Para entender o verdadeiro sentido das virtudes na vida pessoal cristã, temos de ter presente que a sua finalidade é «configurar-nos com Cristo, fazer o possível que Cristo viva em cada cristão, que cada cristão reflicta na sua vida a vida de Cristo».

        Neste sentido, as virtudes não são simples melhorias na vida cristã do crente que se limitem ao desenvolvimento das suas qualidades humanas sem nenhuma referência à sua vida cristã.
Não.
As virtudes são uma manifestação de que Cristo vive verdadeiramente non crente.

        Rezar, comungar e, depois, não servir no trabalho os outros quer dizer simplesmente que a Graça não deitou raízes profundas no espírito do cristão, que avida de piedade que nunca se deve descuidar não deu todavia os frutos desejados.
E, por outro lado, viver a laboriosidade por si mesma ou para demonstrar a alguém do que se é capaz, não contribui em nada para o verdadeiro ser cristão de uma pessoa.

        Para ter uma perspectiva mais concreta da vida pessoal cristã, não podemos esquecer que as virtudes reflectem a vida cristã de cada um segundo a sua condição humana e sobrenatural e que cada ser humano as reflecte de forma irrepetível.
É certo que há uma série de modelos e de normas de actuação que se podem a plicar a todos os homens, a todos os crentes, mas, ao mesmo tempo, a vivência desses modelos, dessas normas é única e irrepetível em cada ser humano.

        Por exemplo, um sacerdote, um monge, uma mãe de família, um professor nas suas aulas, um profissional no seu trabalho poderão viver as mesmas virtudes, a prudência, a fortaleza, a temperança, a justiça de forma muito diferente em cada caso, sendo em todos as mesmas virtudes, os mesmos hábitos de fazer o bem.

        E, para completar a perspectiva das virtudes, é oportuno não perder de vista que ainda que se insista em que «as virtudes morais se adquirem mediante as forças humanas são o fruto e o gérmen de actos oralmente bons. Dispõem todas as potências do ser humano para se harmonizarem co o amor divino» [11].

Esse esforço do cristão para viver as virtudes está sempre acompanhado por uma certa acção da Graça nele e dá-lhe o que ele, talvez, não é de todo consciente.

        No cristão, insistimos, a «natureza humana» e a «participação na natureza divina» não actuam em paralelo.
Confluem na vontade livre do homem que junta as forças naturais e sobrenaturais, humanas e divinas nas decisões pessoais que toma para desenvolver a sua vida pessoal cristã.

        Ao mesmo tempo, e precisamente tendo em conta essa unidade radical da pessoa humana, não podemos esquecer que, por vezes, homens e mulheres crentes e pouco piedosas actuam aproveitando tendências e impulsos naturais que os levam a fazer o bem, a procurar o bem.
Ou seja, são pessoas das quais se pode dizer, sem dúvida alguma, que actuam de forma moralmente boa ainda que quase em absoluto careçam de vida de piedade.

        Não podemos esquecer o que assinalámos repetidamente ao longo destas páginas, muitos não se relacionam com Deus, são criaturas que não tiveram ensejo de escutar a palavra divina ou que a esqueceram.
Mas as suas disposições são humanamente sinceras, leais, compassivas, honradas.
E não me atrevo a afirmar quem reúne essas condições está a ponto de ser generoso com Deus porque as virtudes humanas compõem o fundamento das sobrenaturais.[12]

        Esta afirmação adquire o seu verdadeiro significado quando, considerando a unidade do ser humano, se aprecia nas acções moralmente boas que realiza a procura do bem último, Deus, que todo o ser pessoal, queira-o ou não, o pense ou não, anseia conhecer e amar.


(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)







[1] BentoXVI, Deus caritas est, n. 18
[2] Col 3, 14
[3] Catecismo, n. 1827
[4] Rom 14, 23
[5] 2 Tim 2, 10
[6] Jo 14, 23
[7] Ga 2, 20
[8] Catecismo, n. 1803
[9] São Gregóriode Nisa, beat. 1
[10] Catecismo, n. 1803
[11] Catecismo, n. 1804
[12] São Josemaria Escrivá, Amigos nde Deus, n. 74

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