Tempo comum IX Semana
Evangelho:
Mc 12 28-34
28 Então aproximou-se um dos escribas, que os tinha ouvido discutir.
Vendo que Jesus lhes tinha respondido bem, perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de
todos os mandamentos?». 29 Jesus respondeu-lhe: «O primeiro de todos
os mandamentos é este: “Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30
Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo
o teu entendimento e com todas as tuas forças”. 31 O segundo é este:
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Não há outro mandamento maior do que
estes». 32 Então o escriba disse-Lhe: «Mestre, disseste bem e com
verdade que Deus é um só, e que não há outro fora d'Ele; 33 e que
amá-l'O com todo o coração, com todo o entendimento, com toda a alma, e com
todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais que todos os
holocaustos e sacrifícios». 34 Vendo Jesus que tinha respondido
sabiamente, disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». Desde então ninguém
mais ousava interrogá-l'O.
Comentário:
Jesus Cristo faz como que uma síntese dos Mandamentos
da Lei de Deus.
Os Dez podem reduzir-se a estes dois?
Não é bem assim!
Cada Mandamento é específico e a sua observância é
obrigatória.
O que acontece é que observando aqueles dois primeiros
é possível – com verdade e são critério - praticar melhor outros.
Porquê? Porque os outros são mandamentos da Lei Natural
a observar por qualquer pessoa humana; por exemplo ninguém deve roubar ou
prejudicar intencionalmente o seu semelhante, um ateu pode muito bem
observá-los.
Mas a um baptizado acresce a responsabilidade e agrava
a sua não observância.
(ama, comentário sobre Mc 12, 28-34, 2015.03.13)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
iv o processo da conversão
…/2
Ascética
é uma palavra de origem grega que significa «preparação para algo».
Comporta,
logicamente, privações, exercícios, etc., com vista a obter um fim.
Na ascese põe-se o ênfase nos esforço
que o homem realiza para lutar contra o que pode opor-se ao seu processo de
conversão de viver mais plenamente como filho de Deus em Cristo Jesus e viver
em Cristo no seu sacerdócio, como mais adiante veremos.
Ou seja, a
conversão leva o cristão a identificar-se com Cristo, com o seu Viver e com a
sua Missão.
Para encontrar melhor este caminho e
tendo em conta que a conversão tem como finalidade que Cristo viva no crente e
o crente viva em Cristo, fazemos um precisão – antes de entrar com mais detalhe
na matéria da conversão – para sublinhar a importância de uma prática de ajuda
nessa «luta ascética» que teve grande relevância a longo do séculos e que se
mantém vigente nos momentos actuais: a
direcção espiritual.
O que é e em que consiste esta prática?
No seu encontro
com os discípulos de Emaús, Nosso Senhor Jesus Cristo explica-o claramente.
Os discípulos eram homens crentes que
ainda que tendo ouvido rumores acerca da Ressurreição se retiram do grupo dos
Apóstolos talvez sem esperança que Cristo cumpra verdadeiramente as suas
promessas.
O Senhor sai ao seu encontro.
Não interrompe
bruscamente o seu processo de abandono. Nem sequer os recrimina.
Simplesmente
põe-se a seu lado e caminha com eles.
Interessa-se
pela sua situação, a sua tristeza e ante o protesto dos dois homens e a sua
estranheza que não estivesse informado do que recentemente acontecera em
Jerusalém, começa a explicar-lhes as Escrituras recriminando-os ao mesmo tempo
pela sua dureza de coração para as entender.
Depois de algum tempo e aproximando-se
já o anoitecer, faz menção de prosseguir viajem enquanto eles se preparam para
descansar um pouco.
Aceita o
convite de ficar com eles e na conversa durante a ceia, abre-lhes
definitivamente os olhos para compreender a realidade da Ressurreição e
desaparece da sua vista.
Esta forma de actuar de Cristo é o
exemplo mais claro de uma verdadeira
direcção espiritual, ou ajuda espiritual, como queira chamar-se.
Não lhes impõe
nada nem os deslumbra com a manifestação da Verdade.
Respeita as
suas dívidas, as suas tribulações e não os liberta do seu pesar, da sua pena
sem mais nem menos.
Unicamente se
põe a seu lado, fala-lhes e esforça-se para que eles, pessoalmente e a partir
do seu interior, consigam desvelar o sentido das Escrituras que manifestam a
realidade de Cristo.
Procura com as
suas palavras provocar que o espírito dos discípulos e inflame no amor a Deus
que um dia os moveu a seguir pessoalmente Nosso Senhor Jesus Cristo.
Esse amor
tornará possível o seu arrependimento.
Cristo sabe que, salvo em casos muito
excepcionais, de nada vale uma conversação fruto de um deslumbramento
fulgurante e irresistível e que o importante e decisivo é que q luz chegue – e
penetre – suavemente no espírito e se inculque com raízes profundas na inteligência
e no coração dos homens.
O Senhor depois espera o convite para
ficar para que seja a liberdade dos discípulos que clame uma nova luz.
Uma vez
consciente que a preparação do espírito dos dois homens alcançou o grau
adequado para gozar da luz e considerada a colaboração no seu actuar que eles
manifestam ao convidá-lo a partilhar a ceia, revela-lhes o mistério da sua
Ressurreição: nesse momento os seus olhos são capazes de ver Cristo.
A oração de
petição «fica connosco» preparou o seu espírito para receber a luz da Redenção.
Essa é a
função da ajuda espiritual – a direcção espiritual – que qualquer
cristão pode receber de outro cristão qualquer, seja ou não sacerdote, como se
vive em não poucas instituições da Igreja e como João Paulo II sublinhou com
estas palavras:
«a ‘direcção
espiritual’, ou ‘diálogo espiritual’, como por vezes se lhe chama, também se
pode levar a cabo fora do sacramento da Penitência e também pelos que não estão
ordenados» [1].
Esta ajuda consiste essencialmente em
mover a sua livre vontade a manter-se firme na procura do Senhor e a não
permitir que nenhum obstáculo impeça a sua mente de iluminar-se com a luz
recebida de Deus.
Convém acrescentar um esclarecimento:
essa ajuda produz-se no seio da família de Deus que é e Igreja, quer dizer, no
âmbito da comunhão dos santos que se dá entre todos os que acreditam em Cristo.
Este é um aspecto que talvez não
sublinhamos bastante e caímos na tentação de considerar toda a ajuda espiritual
como um assunto entre quem a dá e quem a recebe.
Essa não é a
verdadeira perspectiva.
Todo o
director espiritual, por chamar-lhe assim, deve saber-se transmissor da verdade
de Cristo na Igreja.
De contrário o
seu trabalho será inútil ou nefasto.
Santo
Agostinho recorda-o com palavras muito claras:
«Quem quiser viver, tem onde viver, tem
do que viver.
Que se
aproxime, que acredite, que se deixe incorporar para ser vivificado.
Não rejeite a
companhia dos membros» [2].
Os discípulos
de Emaús compreenderam muito bem e, apenas terem reconhecido Cristo
Ressuscitado, foram diligentes a comunicar a notícia a Pedro e aos Apóstolos: à
Igreja.
Concluído este breve preâmbulo, entramos
no exame da conversão que todo o cristão está chamado a realizar em si mesmo,
com perseverança, ao longo de toda a sua vida.
v o que é verdadeiramente uma conversão?
Lembrámos que o Senhor fala sempre de
dois momentos no caminho do espírito: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.
Agora temos de acrescentar a queixa de
Deus ante os que «o honram com as palavras e o seu coração está longe dele» [3].
Nestas breves citações esconde-se todo o
significado de uma conversão: converte-se quem, arrependido dos seus pecados,
crê no Evangelho e, pela fé, dirige o seu coração em busca do Senhor, como o
cervo procura a fonte das águas.
Lembremos que a conversão de que agora
nos ocupa se realiza nos que já receberam a primeira e definitiva conversão
pelo Baptismo.
«O Baptismo é
o lugar principal da primeira e fundamental conversão.
Pela fé na Boa
Nova e pelo Baptismo renuncia-se ao mal e alcança-se a salvação, quer dizer a
remissão de todos os pecados e o dom da vida nova» [4].
Esse «dom da vida nova», a nova condição
de filhos de Deus em Cristo Jesus que o cristão recebe no Baptismo, origina no
seu espírito uma tendência espiritual para que essa «vida nova» se desenvolva e
cresça: essa é a perene conversão cristã.
O Catecismo também nos recorda com
palavras muito explícitas:
«A chamada de
Cristo à conversão continua a ressoar na vida dos cristãos.
Esta segunda
conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja que ‘recebe os pecadores
no seu próprio seio’ e que sendo santa e
ao mesmo tempo necessitada de constante purificação, procura sem cessar
a penitência a e a renovação’.
Este esforço
de conversão não é só obra humana.
É o movimento
do ‘coração contrito’ atraído e movido pela graça a responder ao amor
misericordioso de Deus que nos amou primeiro» [5].
Em seguida parece oportuno assinalar «o
que a conversa não é», para que não caíamos em engano.
A conversa não
é «alcançar um ideal», não é tampouco chegar a viver as virtudes em certo grau
de intensidade, e muito menos é libertar-nos completamente do pecado.
A conversa de que estamos tratando é o
germinar da Graça de ser «filhos de Deus em Cristo», nas nossas almas.
Um germinar
fruto da acção do Espírito Santo na alma que permite ao homem abrir-se à acção
da Graça, convencer-se do pecado e reconstruir no seu coração a verdade e o
amor [6].
Como este «germinar» nunca se conclui o
converter-se do cristão comporta a cadeia ininterrupta de conversões ao longo
da vida.
Em suma, o pôr
em prática essa segunda conversão de
que nos fala o Catecismo.
Segunda conversão que estará sempre viva na mediada
em que «procuremos Cristo».
«Arrependei-vos e acreditai no
Evangelho» [7].
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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