Tempo comum IX Semana
Evangelho:
Mc 12 13-17
13 Enviaram-Lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que O
apanhassem em alguma palavra. 14 Chegando eles, disseram-Lhe:
«Mestre, sabemos que és verdadeiro, que não atendes a respeitos humanos; porque
não consideras o exterior dos homens, mas ensinas o caminho de Deus segundo a
verdade: É lícito pagar o tributo a César, ou não? Devemos pagar ou não?».
15 Jesus, reconhecendo a sua hipocrisia, disse-lhes: «Porque Me tentais?
Trazei-Me um denário para Eu ver». 16 Eles o trouxeram. Então
disse-lhes: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Responderam-Lhe: «De
César». 17 Então Jesus disse-lhes: «Dai, pois, a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus». E admiravam-n'O.
Comentário:
São
Marcos termina este trecho do Evangelho com uma frase surpreendente: «E admiravam-n'O»
De
facto, a resposta de Jesus é de tal forma simples e elaborada ao mesmo tempo
que não poderia ser proferida senão por Ele próprio. Encerra uma sabedoria e critério
que a tornam irrefutável e inatacável.
Mas,
também, contém uma altíssima expressão da Justiça de Deus: dar a cada um o que
lhe pertence, mesmo que seja o próprio autor da Criação.
O
Senhor não quer para Si nada que não Lhe pertença por direito e, embora seja o
Senhor de quanto existe deixa aos homens a parte que por justiça lhes é atribuída.
(ama,
comentário sobre Mc 12, 13-21, 2015.05.28)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
III a
eucaristia
…/2
Se a oração tem origem no Espírito Santo
Cristo leva-a a cabo em nós e dirige-se sempre a Deus Pai.
Nesta acção da
Trindade na sua alma o cristão situa-se ante Deus, em Deus.
Na Missa é o próprio Cristo quem nos
convida a viver com Ele o oferecimento da Sua vida, da Sua morte, da Sua
ressurreição a Deus Pai e vivemos em por Cristo, em Cristo e com Cristo por obra e graça do Espírito Santo.
Bento XVI recorda-o explicitamente:
«a liturgia
eucarística é essencialmente actio Dei
que nos une a Jesus através do Espírito» [1].
A Eucaristia é
verdadeiramente a «fonte e cume de toda a vida cristã» [2];
ou com palavras de São Josemaria Escrivá: «centro e raiz da vida interior» [3].
Assim, assente em união contínua com
Deus a vida do cristão enxertada como está em Cristo, há-de reflectir a própria
vida de Cristo tendo em conta a missão de testemunha da Ressurreição que todo o
cristão há-de viver.
O viver a
Missa torna possível que esse «mistério» do testemunho tenha lugar nas
complexidades e variedades do viver de cada cristão no seu trabalho, nas suas
relações familiares e sociais, nas suas actividades desportivas, em suma, em
todo o seu afazer que será engendrado no seu «ser cristão».
A Eucaristia é
«mistério que crer, mistério que celebrar, mistério que viver» [4],
em Cristo ressuscitado.
Como?
O crente
dispõe-se a viver a Missa pedindo perdão pelos seus pecados e ofensas a Deus.
Tal significa
que aceita com os braços abertos e o coração agradecido a redenção que Cristo
lhe oferece e está decidido a oferecer a Deus Pai, movido pelo Espírito Santo,
a vida, a morte, a ressurreição do Cristo.
O oferecimento é com Cristo, em Cristo,
por Cristo.
Ou seja, não
de fora das próprias acções que se oferecem nem da Pessoa que as oferece, como
se o crente fosse um espectador de um acontecimento de que só as consequências
o afectarão.
O crente oferece a Missa – em virtude do
seu «sacerdócio comum» como recordaremos mais adiante – como um autêntico
«actor» do acontecimento porque «celebra» a Missa com o próprio Cristo e Cristo
celebra-a no interior do espírito de cada cristão.
A missão divina a que Cristo nos chamou
requere essa união vital, forte, com Deus.
Uma união que
permita a cada cristão fazer suas as palavras de Cristo:
«Quando
elevardes o Filho do Homem conhecereis que Eu sou e que não faço nada por minha
conta mas digo o que o Pai me ensinou. O que me enviou está comigo e não me
deixa só porque eu faço sempre o que Lhe agrada» [5].
O verdadeiro sentido da Missa é poder
viver o que Cristo viveu para a redenção da morte e do pecado e abrir aos
homens as portas do Céu.
Daqui que
quando se pretende reduzir a celebração da Eucaristia à simples e singela
participação num banquete se acaba desconhecendo a verdadeira perspectiva do
viver cristão.
O crente pode
converter-se num simples convidado a presenciar uma série de acções que têm
lugar num altar, a responder umas palavras a frases que o Sacerdote diz e a ter
assim a sensação de ter cumprido com «algo» que não entende e no que tão pouco
vê particular significado.
***
Para ajudar os fiéis a penetrar no
verdadeiro sentido da celebração eucarística e para que cheguem a ser
conscientes do que está acontecendo ante o seu olhar, de forma semelhante a
como se fossem os Apóstolos a participar com Cristo na instituição da
Eucaristia, a Igreja tem-se servido, durante séculos, da consideração dos
quatro fins da Missa que a seguir veremos.
os quatro fins da celebração eucarística
Na Igreja é muito clássica a
consideração dos quatro fins pelos quais se oferece a Deus Pai a vida, a
paixão, a morte e a ressurreição de Deus Filho, movidos por Deus Espírito
Santo.
Para compreender no seu sentido genuíno
o significado destes fins temos de ter presente que a Eucaristia é uma acção de
Cristo, sacerdote e vítima, que Cristo deseja realizar sacramentalmente em nós
e connosco e que cada vez que se celebra a Santa Missa o sacerdote e cada um
dos participantes na celebração apresentam, «em Cristo, com Cristo e por
Cristo», toda a vida redentora de Cristo, a sua morte e a sua ressurreição a
Deus Pai guiados pelo Espírito Santo.
Ou seja, faz
sua a vida de Cristo e une a sua própria vida à vida de Cristo.
Cristo poderia viver e oferecer a sua
vida redentora ao Pai de uma vez por todas e, de facto, assim foi, assim é.
E, além do
mais, esse único oferecimento quis vivê-lo em união com cada ser humano e que
cada ser humano o viva com Ele.
Temos de sublinhar que a acção de Cristo
não é uma «apresentação» que Cristo faz conjuntamente com cada crente, mas que
a realiza a partir do interior de cada crente, de forma que cada cristão vive a
acção eucarística na medida em que é «o próprio Cristo», na medida e pela graça
de estar enxertado em Cristo.
Tudo isto quer significar uma realidade
difícil, certamente, de expressar porque supõe viver o facto de estar
«enxertados» em Cristo e converter toda a nossa vida em vida cristã, em vida de
Cristo.
Vivendo com
Cristo e em Cristo é como a Eucaristia leva à plenitude se ser e de sentido de
estar enxertados em Cristo.
Cada crente
nascido no Baptismo para a vida da graça, pode crescer e desenvolver-se como
«nova criatura».
«Quando participamos da Eucaristia
experimentamos a espiritualização deificante do Espírito Santo que não só nos
configura com Cristo, como acontece no Baptismo, como nos cristifica (nos
converte em Cristo) por inteiro associando-nos à plenitude de Cristo Jesus» [6].
Na Eucaristia Cristo leva a cabo a obra
que agrada a Deus «a redenção do mundo» e nós vivemo-la com Ele.
Com palavras simples podemos dizer que
Cristo quer que nós vivamos com Ele e nele toda a sua vida, paixão, morte e
ressurreição, Ele dá-se-nos como alimento na Comunhão para depois viver Ele
toda a vida de cada um de nós em nós próprios.
Talvez possamos assimilar melhor o
conteúdo destas afirmações se paramos a nossa atenção com alguma pausa nos
assim chamados fins da celebração eucarística.
Estes quatro fins são: latrêutico, propiciatório, impetratório,
eucarístico.
Ao vivê-los
tem lugar essa plenitude de união com Cristo porque nos vinculamos à vida de
Cristo, à sua missão.
Ele quer que vivamos a Eucaristia.
«Fazei isto em
minha memória»
Só em sua
memória?
O Cristo que
pronunciou estas palavras já existe de outro modo.
Deixou a
«mortalidade».
Melhor: o
mortal converteu-se em eterno, o seu corpo glorioso é o mesmo corpo mortal
glorificado.
Acaso e Senhor
quer que simplesmente recordemos os seus gestos aqui na terra?
Não.
Insistimos.
Na Eucaristia
Cristo vive com cada homem todo o seu próprio viver: a sua Encarnação, a sua
Paixão e Morte, a sua Ressurreição, a sua Ascensão ao Céu.
E todo o significado último da sua vida
pode expressar-se nestes quatro fins:
Latrêutico.
Ao oferecer o
sacrifício de Cristo, o cristão une-se ao louvor de Deus Filho a deus Pai,
louvor em que participa toda a criação porque é uma glorificação de Deus na
criação que se vê liberta do pecado e da morte, «pela manifestação dos filhos
de Deus», cada vez que se celebra a Eucaristia.
O final da oração eucarística expressa
claramente esta acção que encarna a mais completa adoração a Deus que o homem
pode viver e oferece a Deus não só a partir do seu próprio coração, mas também
do próprio seio da Trindade Beatíssima:
«Por Cristo, com Ele e nele, a Ti, Deus
Pai omnipotente na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda glória pelos
séculos dos séculos».
Vivendo a
Missa toda a vida do cristão é «adoração».
Propiciatório.
Cristo, «ao
amar-nos até ao fim» oferece-se em sacrifício por nós.
«O carácter
sacrificial da Eucaristia manifesta-se nas próprias palavras da instituição:
«Isto é o meu
Corpo que será entregue por vós» e «Este cálice é a nova Aliança do meu sangue,
que será derramado por vós» [7].
Na Eucaristia
Cristo oferece por nó o mesmo corpo que entregou na cruz e o mesmo sangue que
«derramou por muitos para remissão dos pecados» [8].[9]
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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