04/05/2015

Evangelho, comentário, L. espiritual (A beleza de ser cristão)


Semana V da Páscoa

Evangelho: Jo 14 21-26

21 Aquele que aceita os Meus mandamentos e os guarda, esse é que Me ama; e aquele que Me ama, será amado por Meu Pai, e Eu o amarei, e Me manifestarei a ele». 22 Judas, não o Iscariotes, disse-Lhe: «Senhor, qual é a causa por que Te hás-de manifestar a nós e não ao mundo?». 23 Jesus respondeu-lhe: «Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra e Meu Pai o amará, e Nós viremos a ele, e faremos nele a Nossa morada. 24 Quem não Me ama não observa as Minhas palavras. E a palavra que ouvistes não é Minha, mas do Pai que Me enviou. 25 «Disse-vos estas coisas, estando convosco. 26 Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos recordará tudo o que vos disse.

Comentário:

É interessante verificar a preocupação de Judas Tadeu em entender a missão de Jesus.
A resposta que obteve é muito simples: o Amor!
No amor a Cristo encerra-se toda a sabedoria necessária ao homem para salvar-se.

Mais tarde, os acontecimentos indicarão que, o outro Judas, o Iscariote, não apreendeu esta regra simples.

Parece manifesto que o motivo pelo qual anda com Cristo não é o amor e, quem não ama não só tem o coração fechado ao entendimento como o espírito aberto à traição.

(ama, comentário sobre Jo 14, 21-26, 2012.05.07)


Leitura espiritual

a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE



X – A santificação

…/20

        Adorar é gozar no amor da pessoa amada da verdade descoberta, conscientes que esse amor é que dá significado, sentido e conteúdo à nossa vida, que na Fé descobre a sua própria verdade.
        Adorar a Deus, que é encontrar o nosso lugar ante Ele, pela Fé leva-nos a encontrar o nosso lugar no mundo, entre os homens e as mulheres que nos rodeiam, na tarefa que desenvolvemos.
        Esta vida de Fé, ao tornar possível que nos aceitemos na plenitude da nossa condição de criaturas, abre-nos o caminho para dar o segundo passo como «novas criaturas em Cristo”; para que a graça, e com a graça o próprio Cristo Redentor se enraíze na nossa pessoa, convertendo-nos em «filhos de Deus em Cristo”: a filiação divina.
        «Esta a grande ousadia da fé cristã: proclamar o valor da dignidade da natureza humana e afirmar que, mediante a graça que nos eleva à ordem sobrenatural, formos criados para alcançar a dignidade de filhos de Deus.
        Ousadia certamente incrível, se não estivesse baseada no decreto salvador de Deus Pai e não tivesse sido confirmada pelo sangue de Cristo e reafirmada e tornada possível pela acção constante do Espírito Santo” [i].

VIDA DE ESPERANÇA

        «A esperança é a virtude teologal pela qual aspiramos ao Reino dos céus e à vida eterna como nossa felicidade, pondo a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não nas nossas forças, mas sim nos auxílios da graça do Espírito Santo”.[ii]
        O homem sabe que vive na duração do tempo e que a sua memória do passado o acompanha no presente e o projecta para o futuro.
Sabe que não pode prescindir do seu estar no tempo, viver o tempo; e ao mesmo tempo, que o seu viver não se esgota no tempo. A Esperança iluminada pela Fé, abre os horizontes da memória até à vida eterna.
Com é isto possível?
        A Fé, relacionamo-la com o amor de Deus, e pôr diante da nossa mente a realidade inefável desse Amor, manifesta à nossa vista o pecado e a desordem, o mal, que com o pecado penetrou em toda a criação e na própria vida do homem.
Coloca o homem ante a verdade da sua criação, do seu pecado, da sua redenção, da sua história.
        A história do homem não se esgota nas civilizações e culturas que vai criando no seu caminhar sobre a terra.
O homem não se compreende a si próprio pelo que faz, quer seja pessoalmente, quer seja com outros homens.
Nem a cultura nem a arte nem a civilização dão razão adequada da presença humana sobre a terra, e muito menos do seu actuar e viver com os outros homens.
        Inserida na história do homem através das civilizações, está a história de cada homem: viver com Deus – em Cristo, com Cristo por Cristo – para arrancar o pecado do seu ser, do seu actuar, do seu coração, para redimir e redimir-se.
De facto, quando em qualquer civilização o homem, e é um fenómeno mais notório e notável na nossa cultura surgida e impregnada da verdade cristã sobre o homem, encontra-se em becos sem saída, de sufoco pessoal e colectivo, clama até de modos inimagináveis pela presença de um «salvador”.

Porquê?

        O pecado, esse «mistério de iniquidade” que enche de assombro São Paulo, acompanha o homem desde a saída do paraíso. «O pecado está presente na história do homem: seria vão tentar ignorá-lo ou dar a esta obscura realidade outros nomes.
Para tentar compreender o que é o pecado, é preciso, em primeiro lugar, reconhecer o vínculo profundo do homem com Deus (que o homem descobre na resposta de Fé), porque fora desta relação, o mal do pecado não é desmascarado na sua verdadeira identidade de rejeição e oposição a Deus, ainda que continue pesando sobre a vida do homem e sobre a história”.[iii]
        Ao compreender com clareza o pecado, e o que o pecado implica, o homem adquire uma luz para realizar com mais nitidez a realidade em que vive.
Não cai na tentação de fechar os olhos ante o mal que o rodeia nem tenta explicá-lo por causas exclusivamente sociológicas, antropológicas, económico-sociais, etc., como se fosse unicamente um defeito de crescimento da consciência do homem, consequência de uma debilidade psicológica, fruto de um erro de cálculo ou o resultado evidente de uma estrutura social inadequada, etc.
        Consciente da sua relação com Deus e da sua condição de criatura, descobre no interior da sua consciência, no centro da sua pessoa, «que o pecado é um abuso da liberdade que Deus dá às pessoas criadas para que possam amá-lo e amar-se mutuamente”)[iv].
        Movido pelo amor que o conhecimento de Deus na Fé engendra no seu coração, o homem que se sabe «filho de Deus em Cristo”, que começa a viver em si mesmo a Redenção de Cristo, a «participação na natureza divina”, engendra na esperança a consciência da sua debilidade ante o pecado e, ao mesmo tempo, a consciência de o vencer «por Cristo, em Cristo e com Cristo”.
        A esperança revela ao homem, sob a luz da Fé, que o afirma que Deus é Criador e Pai, que Deus não é seu inimigo e que ele não está «condenado” a pecar. Se todavia a Graça não germinou eficazmente no seu espírito até ao grau de crescer no amor a Deus e no desejo de rejeitar o pecado com todas as suas forças; todavia impediu que não se obscureça a consciência da sua capacidade e possibilidade de pecar, e que goze de uma nova realidade que aparece mais claramente à sua vista: «Se alguém peca, temos ante o Pai um advogado, Jesus Cristo, justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados. E não só pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”.[v]
        Esta visão clara do amor e da misericórdia de Deus é fruto da Fé e da Esperança.
Um perdão de Deus que não se contrapõe à afirmação de Cristo de que veio para «trazer a paz, e não a guerra”.[vi]
A «guerra”, a «espada”, que o Senhor anuncia é a atitude contra o pecado que o homem há-de manter ao longo de toda a sua vida e que é a condição necessária para que Deus possa perdoá-lo.
De nada nos serve fugir do pecado, negar a sua existência, como fizeram os fariseus, porque então o pecado permanece sempre em nós.
        Na vida de esperança, o homem entende-se e afirma-se como criatura de Deus, como filho de Deus que caminha, guiado pelo fé, para a gida eterna, consciente que, com Cristo, em Cristo, por Cristo” vencerá o pecado e o fruto do pecado, o último inimigo, a morte.

VIDA DE CARIDADE

        «A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo e ao nosso próximo como a nós mesmos por amor de Deus”.[vii]
        «O amor de Deus derramou-se nos nossos corações por virtude do Espírito Santo, que nos foi dado”.[viii]
«Agora conheço de um modo imperfeito, mas logo conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade”.[ix]
Estes textos permitem-nos situar na perspectiva adequada para entender a caridade e a criação da graça na vontade do homem; porque somente quando a caridade informa as nossas acções poderemos verdadeiramente chamar-nos cristãos, nova criatura em Cristo: «Nós abemos que passámos da morte à vida porque amamos os irmãos.
O que não ama, permanece na morte”.[x]
No Espírito Santo que Deus derrama nos nossos corações, chegamos a vislumbrar o amor de Deus pelo homem.
Já no Antigo Testamento, Deus tinha manifestado de muitas formas o seu amor pelos homens.
As palavras ditas a Jeremias podem aplicar-se a cada um dos seres humanos: «Com amor eterno te amei, por isso te conservei na minha graça”.[xi]
Cristo deu a Redenção por concluída depois de ter manifestado ao homem – já liberto do pecado – a sabedoria sobre Deus Uno e Trino, revelando a verdade acerca do Espírito Santo.
Nessas condições, a inteligência humana podia ser iluminada para conhecer Deus, e a sua vontade podia ser fortalecida para o seguir mediante uma luz, uma força que alcançasse o homem a partir do exterior.
Todavia, não foi assim. Cristo quis ir mais longe no seu desejo de estar «com os filhos dos homens” e participar com eles dos seus desejos e dos seus cansaços, das suas penas e das suas alegrias.
As palavras do Concílio Vaticano II, às quais já nos referimos: «O Filho de Deus com a sua encarnação uniu-se, de certo modo, com todo o homem”,[xii] ajudam-nos a compreender a passagem de Jesus sobre a terra, na história do homem, para tornara a Redenção definitiva e completa.
E esta passagem é, na realidade, um permanecer para sempre. Com efeito, ao «fazer-nos partícipes da natureza divina”, e instituindo os sacramentos para que o manancial da Graça estivesse sempre presente e fluido na terra, Cristo estabelece definitivamente a sua morada na terra, sem por isso, deixar de «ascender ao Céu”.
Para conseguir o seu desejo de «recapitular nele toda a criação no céu e na terra” a para assim ver cumprida a sua oração a Deus Pai «para que todos sejam um, coo Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, para que também eles estejam em nós e o mundo acredite que Tu me enviaste” [xiii] decide tornar-nos partícipes do seu próprio ser e existir. Como?
Tendo vivido na terra durante um certo período de tempo, tomando para si a natureza humana, quer prolongar este estar presente no meio dos homens, em cada homem até ao fim dos tempos. Deste modo, além do mais, abre-nos definitivamente a perspectiva, a capacidade de nos dar-mos conta de que o nosso viver pessoal, esgotado no tempo, será eterno em Deus.

(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)





[i] Ibídem, n. 133.
[ii] Catecismo, n. 1817
[iii] Catecismo, n. 386
[iv] Catecismo, n. 387
[v] 1 Jo 2, 1-2
[vi] cfr. Mt 10, 34
[vii] Catecismo, n. 1822
[viii] Rm 5,5
[ix] 1 Cor 13, 3
[x] 1 Jo 3, 14
[xi] Jr 31, 3
[xii] Gaudium et spes, n. 22
[xiii] Jo 17, 21

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