Semana V da Páscoa
Evangelho:
Jo 14 21-26
21 Aquele que aceita os Meus
mandamentos e os guarda, esse é que Me ama; e aquele que Me ama, será amado por
Meu Pai, e Eu o amarei, e Me manifestarei a ele». 22 Judas, não o Iscariotes,
disse-Lhe: «Senhor, qual é a causa por que Te hás-de manifestar a nós e não ao
mundo?». 23 Jesus respondeu-lhe: «Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra e
Meu Pai o amará, e Nós viremos a ele, e faremos nele a Nossa morada. 24 Quem
não Me ama não observa as Minhas palavras. E a palavra que ouvistes não é
Minha, mas do Pai que Me enviou. 25 «Disse-vos estas coisas, estando convosco.
26 Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, vos ensinará
todas as coisas, e vos recordará tudo o que vos disse.
Comentário:
É interessante verificar a preocupação de
Judas Tadeu em entender a missão de Jesus.
A resposta que obteve é muito simples: o Amor!
No amor a Cristo encerra-se toda a sabedoria
necessária ao homem para salvar-se.
Mais tarde, os acontecimentos indicarão que, o
outro Judas, o Iscariote, não apreendeu esta regra
simples.
Parece manifesto que o motivo pelo qual anda
com Cristo não é o amor e, quem não ama não só tem o coração fechado ao
entendimento como o espírito aberto à traição.
(ama, comentário sobre Jo
14, 21-26, 2012.05.07)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
X – A santificação
…/20
Adorar é gozar no amor da pessoa amada
da verdade descoberta, conscientes que esse amor é que dá significado, sentido
e conteúdo à nossa vida, que na Fé descobre a sua própria verdade.
Adorar a Deus, que é encontrar o nosso
lugar ante Ele, pela Fé leva-nos a encontrar o nosso lugar no mundo, entre os
homens e as mulheres que nos rodeiam, na tarefa que desenvolvemos.
Esta vida de Fé, ao tornar possível que
nos aceitemos na plenitude da nossa condição de criaturas, abre-nos o caminho
para dar o segundo passo como «novas criaturas em Cristo”; para que a graça, e
com a graça o próprio Cristo Redentor se enraíze na nossa pessoa,
convertendo-nos em «filhos de Deus em Cristo”: a filiação divina.
«Esta a grande ousadia da fé cristã:
proclamar o valor da dignidade da natureza humana e afirmar que, mediante a
graça que nos eleva à ordem sobrenatural, formos criados para alcançar a
dignidade de filhos de Deus.
Ousadia certamente incrível, se não
estivesse baseada no decreto salvador de Deus Pai e não tivesse sido confirmada
pelo sangue de Cristo e reafirmada e tornada possível pela acção constante do
Espírito Santo” [i].
VIDA DE ESPERANÇA
«A esperança é a virtude teologal pela qual aspiramos ao
Reino dos céus e à vida eterna como nossa felicidade, pondo a nossa confiança
nas promessas de Cristo e apoiando-nos não nas nossas forças, mas sim nos
auxílios da graça do Espírito Santo”.[ii]
O homem sabe que vive na duração do tempo e que a sua memória
do passado o acompanha no presente e o projecta para o futuro.
Sabe
que não pode prescindir do seu estar no tempo, viver o tempo; e ao mesmo tempo,
que o seu viver não se esgota no tempo. A Esperança iluminada pela Fé, abre os
horizontes da memória até à vida eterna.
Com
é isto possível?
A Fé, relacionamo-la com o amor de Deus, e pôr diante da nossa
mente a realidade inefável desse Amor, manifesta à nossa vista o pecado e a
desordem, o mal, que com o pecado penetrou em toda a criação e na própria vida
do homem.
Coloca
o homem ante a verdade da sua criação, do seu pecado, da sua redenção, da sua
história.
A história do homem não se esgota nas civilizações e culturas
que vai criando no seu caminhar sobre a terra.
O
homem não se compreende a si próprio pelo que faz, quer seja pessoalmente, quer
seja com outros homens.
Nem
a cultura nem a arte nem a civilização dão razão adequada da presença humana
sobre a terra, e muito menos do seu actuar e viver com os outros homens.
Inserida na história do homem através das civilizações, está
a história de cada homem: viver com Deus – em Cristo, com Cristo por Cristo –
para arrancar o pecado do seu ser, do seu actuar, do seu coração, para redimir
e redimir-se.
De
facto, quando em qualquer civilização o homem, e é um fenómeno mais notório e
notável na nossa cultura surgida e impregnada da verdade cristã sobre o homem,
encontra-se em becos sem saída, de sufoco pessoal e colectivo, clama até de
modos inimagináveis pela presença de um «salvador”.
Porquê?
O pecado, esse «mistério de iniquidade” que enche de assombro
São Paulo, acompanha o homem desde a saída do paraíso. «O pecado está presente
na história do homem: seria vão tentar ignorá-lo ou dar a esta obscura
realidade outros nomes.
Para
tentar compreender o que é o pecado, é preciso, em primeiro lugar, reconhecer o
vínculo profundo do homem com Deus (que o homem descobre na resposta de Fé),
porque fora desta relação, o mal do pecado não é desmascarado na sua verdadeira
identidade de rejeição e oposição a Deus, ainda que continue pesando sobre a
vida do homem e sobre a história”.[iii]
Ao compreender com clareza o pecado, e o que o pecado implica,
o homem adquire uma luz para realizar com mais nitidez a realidade em que vive.
Não
cai na tentação de fechar os olhos ante o mal que o rodeia nem tenta explicá-lo
por causas exclusivamente sociológicas, antropológicas, económico-sociais,
etc., como se fosse unicamente um defeito de crescimento da consciência do
homem, consequência de uma debilidade psicológica, fruto de um erro de cálculo
ou o resultado evidente de uma estrutura social inadequada, etc.
Consciente da sua relação com Deus e da sua condição de criatura,
descobre no interior da sua consciência, no centro da sua pessoa, «que o pecado
é um abuso da liberdade que Deus dá às pessoas criadas para que possam amá-lo e
amar-se mutuamente”)[iv].
Movido pelo amor que o conhecimento de Deus na Fé engendra no
seu coração, o homem que se sabe «filho de Deus em Cristo”, que começa a viver
em si mesmo a Redenção de Cristo, a «participação na natureza divina”, engendra
na esperança a consciência da sua debilidade ante o pecado e, ao mesmo tempo, a
consciência de o vencer «por Cristo, em Cristo e com Cristo”.
A esperança revela ao homem, sob a luz da Fé, que o afirma
que Deus é Criador e Pai, que Deus não é seu inimigo e que ele não está
«condenado” a pecar. Se todavia a Graça não germinou eficazmente no seu
espírito até ao grau de crescer no amor a Deus e no desejo de rejeitar o pecado
com todas as suas forças; todavia impediu que não se obscureça a consciência da
sua capacidade e possibilidade de pecar, e que goze de uma nova realidade que
aparece mais claramente à sua vista: «Se alguém peca, temos ante o Pai um advogado,
Jesus Cristo, justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados. E não só pelos
nossos, mas também pelos de todo o mundo”.[v]
Esta visão clara do amor e da misericórdia de Deus é fruto da
Fé e da Esperança.
Um
perdão de Deus que não se contrapõe à afirmação de Cristo de que veio para
«trazer a paz, e não a guerra”.[vi]
A
«guerra”, a «espada”, que o Senhor anuncia é a atitude contra o pecado que o
homem há-de manter ao longo de toda a sua vida e que é a condição necessária
para que Deus possa perdoá-lo.
De
nada nos serve fugir do pecado, negar a sua existência, como fizeram os
fariseus, porque então o pecado permanece sempre em nós.
Na vida de esperança, o homem entende-se e afirma-se como
criatura de Deus, como filho de Deus que caminha, guiado pelo fé, para a gida
eterna, consciente que, com Cristo, em Cristo, por Cristo” vencerá o pecado e o
fruto do pecado, o último inimigo, a morte.
VIDA DE CARIDADE
«A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus
sobre todas as coisas por Ele mesmo e ao nosso próximo como a nós mesmos por
amor de Deus”.[vii]
«O amor de Deus derramou-se nos nossos corações por virtude
do Espírito Santo, que nos foi dado”.[viii]
«Agora
conheço de um modo imperfeito, mas logo conhecerei como sou conhecido. Agora
permanecem a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade”.[ix]
Estes
textos permitem-nos situar na perspectiva adequada para entender a caridade e a
criação da graça na vontade do homem; porque somente quando a caridade informa
as nossas acções poderemos verdadeiramente chamar-nos cristãos, nova criatura
em Cristo: «Nós abemos que passámos da morte à vida porque amamos os irmãos.
O
que não ama, permanece na morte”.[x]
No
Espírito Santo que Deus derrama nos nossos corações, chegamos a vislumbrar o
amor de Deus pelo homem.
Já
no Antigo Testamento, Deus tinha manifestado de muitas formas o seu amor pelos
homens.
As
palavras ditas a Jeremias podem aplicar-se a cada um dos seres humanos: «Com
amor eterno te amei, por isso te conservei na minha graça”.[xi]
Cristo
deu a Redenção por concluída depois de ter manifestado ao homem – já liberto do
pecado – a sabedoria sobre Deus Uno e Trino, revelando a verdade acerca do
Espírito Santo.
Nessas
condições, a inteligência humana podia ser iluminada para conhecer Deus, e a
sua vontade podia ser fortalecida para o seguir mediante uma luz, uma força que
alcançasse o homem a partir do exterior.
Todavia,
não foi assim. Cristo quis ir mais longe no seu desejo de estar «com os filhos
dos homens” e participar com eles dos seus desejos e dos seus cansaços, das
suas penas e das suas alegrias.
As
palavras do Concílio Vaticano II, às quais já nos referimos: «O Filho de Deus
com a sua encarnação uniu-se, de certo modo, com todo o homem”,[xii]
ajudam-nos a compreender a passagem de Jesus sobre a terra, na história do
homem, para tornara a Redenção definitiva e completa.
E
esta passagem é, na realidade, um permanecer para sempre. Com efeito, ao
«fazer-nos partícipes da natureza divina”, e instituindo os sacramentos para
que o manancial da Graça estivesse sempre presente e fluido na terra, Cristo
estabelece definitivamente a sua morada na terra, sem por isso, deixar de
«ascender ao Céu”.
Para
conseguir o seu desejo de «recapitular nele toda a criação no céu e na terra” a
para assim ver cumprida a sua oração a Deus Pai «para que todos sejam um, coo
Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, para que também eles estejam em nós e o mundo
acredite que Tu me enviaste” [xiii]
decide tornar-nos partícipes do seu próprio ser e existir. Como?
Tendo
vivido na terra durante um certo período de tempo, tomando para si a natureza
humana, quer prolongar este estar presente no meio dos homens, em cada homem
até ao fim dos tempos. Deste modo, além do mais, abre-nos definitivamente a
perspectiva, a capacidade de nos dar-mos conta de que o nosso viver pessoal,
esgotado no tempo, será eterno em Deus.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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